461 likes | 847 Views
GUIA TEÓRICO DO ALFABETIZADOR. Miriam Lemle *. Doutora em Lingüística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é professora titular e coordenadora do Laboratório CLIPSEN - Computações Lingüísticas: Psicolingüística e Neurofisiologia - UFRJ. Mônica Theodoro Maria de Jesus
E N D
GUIA TEÓRICO DO ALFABETIZADOR Miriam Lemle * Doutora em Lingüística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é professora titular e coordenadora do Laboratório CLIPSEN - Computações Lingüísticas: Psicolingüística e Neurofisiologia - UFRJ Mônica Theodoro Maria de Jesus Fernanda Gonçalves Patrícia Otoni Júnia Campolina Maria Cecília Vanesca Rosa Sabrina Baeta
Cap. 3. A alfabetização: • Característica essencial de todo sistema alfabético de escrita: • os segmentos gráficos representam segmentos de som. • “O aprendiz capta a idéia de que cada letra é símbolo de um som e cada som é simbolizado por uma letra” p.16 “Pobre Alfabetizando! As coisas que acontecem entre sons e letras são um pouco mais complicadas”... p.16
As complicadas relações entre sons e letras: • Correspondência Biunívoca: • “um elemento de um conjunto corresponde a apenas um elemento de outro conjunto”p.17 • A correspondência é de um para um: No dialeto carioca
O QUE É UM FONEMA? • Em lingüística fonema é uma unidade de som caracterizada por um dado feixe de traços distintos ( características de som) • Representação da unidade: (/ /) • AS RELAÇÕES ENTRE SONS E LETRAS: • POLIGAMIA: Sons casados com letras diferentes. • Som da vogal [i] • - Posição de sílaba tônica – escrita pela letra i • Ex: vida, saci, rio • Sílaba átona final de palavra – corresponde letra e • Ex: vale, corre,morte
2. POLIANDRIA: Letras casadas com sons diferentes. • Letra l • - Pronunciada com som de consoante lateral – diante de uma vogal • Ex: lata, bola • - Em posição final de palavra- diante de uma consoante, corresponde ao som vogal [u] (dialeto carioca) • Ex: sal, anzol, jornal • Ditongação de todas as vogais tônicas localizadas na última sílaba de uma palavra, se uma consoante vem depois: • Ex: (dialeto carioca) (dialeto paulista) • rapaz – [rapais] mesmo – [meizmo] • luz – [luis] rosto – [roisto]
AS MAIS IMPORTANTES CORRESPONDÊNCIAS MÚLTIPLAS: • QUADRO 2 : Entre letras e sons.
Obs. “Esses quadros não esgotam a informação sobre relações som-letra e letra som previsíveis pela posição nem são verdadeiros para todos os falantes do Brasil”.p.22 3. CONCORRÊNCIA:é a mais difícil. - Por que duas letras estão aptas a representar o mesmo som, no mesmo lugar. (não em lugares diferentes como já vimos) Ex: . Letra s – representa o mesmo som de [z] entre duas vogais mesa reza azar casar . Letras c – ç e ss – usados entre vogais para representar o mesmo som [s] posseiro roceiro passo laço caçado cassado
QUADRO 4: visão dos principais casos da situação de concorrência.
A primeira etapa da alfabetização: a teoria • do casamento monogâmico entre sons e letras. • De acordo com a autora o aluno em sua 1ª etapa de alfabetização compreende a escrita de uma forma ideal e perfeita, considerando que cada letra tem seu som e que cada som tem sua letra. Nesse momento constrói-se a hipótese de monogamia sobre a escrita. • CONSIDERA-SE QUE ESSA 1ª ETAPA DEVE CONSTITUIR-SE DE 2 MOMENTOS: • 1º momento - trabalhar com as letras que representam sempre a mesma unidade fonêmica: as consoantes p, b, t, d, f, v e a vogal a. • 2º momento – trabalhar com letras menos virtuosas, que dependendo de sua posição podem representar diferentes sons. Entretanto o trabalho com essas letras deve ser feito em contextos mais gerais. A letra l, por exemplo, deve entrar no contexto de início de sílaba, com seu som de consoante lateral, mas não no contexto de fim de sílaba, em que soa como [u].
É preciso considerar que não dá para resguardar o aluno por muito tempo das complicações da escrita. As palavras vão chegar de todos os cantos e se as letras “indesejadas” aparecerem precipitadamente, será preciso adiantar também a explicação de que essas letras podem ter sons diferenciados dependendo de sua posição. • Segunda etapa da alfabetização: a teoria da poligamia com restrições de posição. • Rejeição da hipótese de monogamia na escrita. • Construção da hipótese de poligamia condicionada pela posição. • Compreensão de que os sons de algumas letras podem variar de acordo com a sua posição na palavra. • A exposição das letras que possuem essa variação deve ser feita de forma sistemática. A autora propõe atividades de pesquisas em jornais, revistas e embalagens com a finalidade de encontrar os diferentes casos de posição e som das letras.
Quando o alfabetizando não consegue passar para essa etapa ele acaba cometendo várias falhas típicas de leitura e escrita: • Pronúncia artificial das palavras, com a escansão de letra. Assim todo o é lido com o som de [o], mesmo os que estão no fim das palavras. • Transcrição de todos os sons pelas letras correspondentes em seu valor fonético típico. Assim a palavra pato é escrita como patu.
A terceira etapa: as partes arbitrárias do sistema. *Esta terceira etapa dura toda vida. Ninguém escapa de um momento de insegurança sobre ortografia correta de uma palavra rara. Quando mais de uma letra pode, na mesma posição, representar o mesmo som, a opção pela letra correta em uma palavra é, em termos puramente fonológicos, inteiramente arbitraria. Exemplo: Rosa, que se escreve com s, poderia igualmente ser aceita com z.*As partes arbitrária do sistema estão relacionadas neste caso ao tipo de situação de idiossincrasia, em que duas ou mais letras rivalizam na simbolização de um mesmo som na mesma posição.
* Diante das indagações dos alunos sobre o porque desta arbitrariedade o alfabetizador deverá responder que há casos, na nossa língua, em que duas letras deferentes fazem o mesmo trabalho de representar o mesmo som. Seria conveniente da um pouquinho de informação histórica para tentar consolá-lo. O alfabetizador pode conduzir o alfabetizando, organizadamente, a saber exatamente quais são os contextos em que duas ou mais letras concorrem na representação do mesmo som. É possível fazer isso pelo método da pesquisa. Outro procedimento que se pode adotar para ajudar a fixação desse tipo de conhecimento é depreender palavras de letras de musicas ou de poesias conhecidas, procurando saber com que letras essa palavra é representada na escrita. Recomendasse que o professor não deve dar muita importância a erros de escrita dessa espécie. A preocupação com a ortografia não deve crescer a ponto de inibir a expressão escrita da criança.
Variação dialetal e arbitrariedades nas relações entre sons e letras É uma falha profissional, um professor compartilhar preconceitos e dar mostras em assumir maneiras de valorizar e desvalorizar as características da fala das pessoas. Mereço um “bejo”? Não é “bejo” é “beijo”!
A quarta etapa: um pouco de morfologia. * Nesta etapa é possível fazer o alfabetizando avançar mais um passo: perceber sa regularidade ligadas á morfologia das palavras. *Podemos economizar muito a nossa memória se prestarmos atenção aos sufixos que entram na formação das palavras. *Por exemplo, se soubermos que o sufixo - eza, que forma substantivos a partir de adjetivos, é escrito com z e não com s permite acertar automaticamente a escrita da palavra, ao se reconhecer os sufixos. Observe como o sufixo eza é comum na língua:Belo - belezaMole - molezaCerto - certezapobre - pobreza* Vale a pena dedicar bastante tempo ao estudo dos sufixos, pois deste modo o alfabetizando poderá reconhecê-los nas palavras novas com que for se defrontando, e acertará na escrita.
Há, também, prefixos cuja identificação ajuda a fixar a grafia correta. • Por exemplo: • Com o prefixo des- • Desfazer, desmanchar e deslocar • Com prefixo dis- • Distorcer, distensão e discutir • Como prefixo ex- • Expulsar, e excomungar • * No quadro 5, temos um resumo dos sufixos e dos prefixos mais importantes para a ortografia, pois são aqueles cujos sons poderiam, sem erro de posicionamento das letras, ser escritos com outras letras.
Quadro 5 – Identificação de afixos visando à fixação de generalizações
*Para conduzir o alfabetizando no caminho do conhecimento dessas unidades menores da língua, não é preciso condená-lo ao tédio de decorar listas de sufixos e prefixos. Mais uma vez pode-se simular a pesquisa, incentivando a aluno a procurar afixos em textos de leitura, em textos produzidos por eles mesmos, em letras de músicas entre outras sugestões. * É importante que o professor tenha alguma informação sistemática sobre a estrutura morfológica das palavras em português e, também, algum conhecimento sobre a história da língua.
A avaliação das falhas de escrita - “Podemos utilizar a avaliação dos erros para diagnosticar em qual etapa do processo de aquisição o aluno se encontra” p.39-40
a) Falhas de primeira ordem: • leitura lenta, soletração de cada sílaba. • escrita com repetições e/ou omissões de letras, trocas na ordem e/ou no formato das letras. • falhas decorrentes da incapacidade de classificar algum traço distintivo do som. • - Exemplos: • meeu (meu), trs (três), ppai (pai), pita (fita)
b) Falhas de segunda ordem: • leitura: pronuncia cada letra escandindo-a no seu valor central • a escrita é como uma transcrição fonética da fala • - Exemplos: • matu (mato), bodi (bode), tenpo (tempo), falão (falam)
c) Falhas de terceira ordem: • leitura: é capaz de pronunciar as palavras de maneira natural • escrita: falhas limitadas às trocas entre letras concorrentes • - Exemplos: • trese (treze), xinelo (chinelo), puresa (pureza), sal (sal), craro (claro) • * “Será alfabetizado aquele em cuja escrita só restarem falhas de terceira ordem, que serão superadas gradativamente, com a prática da leitura e da escrita”. p.41
“O professor só deve cobrar do aluno tarefas compatíveis com a etapa de saber atingida!” p.42
Dificuldades de aprendizagem... A área da educação nem sempre é cercada somente por sucessos e aprovações. Muitas vezes, no decorrer do ensino, nos deparamos com problemas que deixam os alunos paralisados diante do processo de aprendizagem, assim são rotulados pela própria família, professores e colegas. É importante que todos os envolvidos no processo educativo estejam atentos a essas dificuldades, observando se são momentâneas ou se persistem há algum tempo. As dificuldades podem advir de fatores orgânicos ou mesmo emocionais e é importante que sejam descobertas a fim de auxiliar o desenvolvimento do processo educativo, percebendo se estão associadas à preguiça, cansaço, sono, tristeza, agitação, desordem, dentre outros, considerados fatores que também desmotivam o aprendizado.
DISLEXIA:é a dificuldade que aparece na leitura, impedindo o aluno de ser fluente. • DISGRAFIA:normalmente vem associada à dislexia, porque se o aluno faz trocas e inversões de letras conseqüentemente encontra dificuldade na escrita. • DISCALCULIA:é a dificuldade para cálculos e números. • DISLALIA:é a dificuldade na emissão da fala, apresenta pronúncia inadequada das palavras. • DISORTOGRAFIA:é a dificuldade na linguagem escrita e também pode aparecer como conseqüência da dislexia. • TDAH:O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um problema de ordem neurológica, que trás consigo sinais evidentes de inquietude, desatenção, falta de concentração e impulsividade. • Por Jussara de Barros • (texto adaptado) – retirado da internet em 20/05/2009 às 17:00h. • www.brasilescola.com/educacao/dificuldades-aprendizagem.htm
A metodologia – considerações críticas. • MÉTODO SINTÉTICO: LETRAS-SONS-COMPOSIÇÃO DE SÍLABAS E PALAVRAS • MÉTODO ANALÍTICO: PALAVRAS OU FRASES-LETRAS- SONS • DECODIFICAÇÃO PELA ORDEM: LETRAS-SONS-SENTIDO
Cap. 4. A variação na língua falada e a unidade da língua escrita: • As línguas mudam. A língua portuguesa e a 6ª no mundo em número de falantes • A língua falada por uma pessoa torna –se parte de sua identidade • Latim clássico • Latim vulgar
Appendix Probi Recomendações: ansa non asa (asa ) Vinea non vinia (vinho) Rivus non rius (rio ) Nossa língua é continuação do latim vulgar. III sec. d.C., Appendix Probi, Napoli - Itália, Biblioteca Nacional.
O mecanismo de mudança na forma das palavras. • As mudanças acontecem com o passar das gerações. • Exemplos : • Aestivum >estio • Fugitivum >fugidio • bovem > boe > boi
Os efeitos das mudanças na estrutura da língua. As mudanças que ocorrem nas palavras podem ser divididos em dois momentos: 1°) Determinado grupo social articula com maior ou menor força alguns sons em algumas palavras. Essa variação na maneira de articular as palavras não é uma mudança na estrutura da língua e sim na qualidade de sua pronúncia. 2°) Somente quando uma nova geração necessita aprender a língua de sua gente e absorve mentalmente a maneira como a palavra é pronunciada é que ocorre a mudança em sua forma. O léxico mental dessa geração é diferente da anterior, pois o mesmo é construído a partir dos dados fonéticos que lhe forem apresentados. Entretanto, ocorre um conflito entre a forma de escrever e pronunciar algumas palavras que corresponderia a feita mentalmente pela nova geração e a ortografia oficial da língua.
Exemplo: Supressão do fonema /d/ em algumas palavras: d > Ø / depois de nasal
Os efeitos das mudanças na estrutura da língua: Quando ocorre de representantes de determinadas palavras serem alteradas, sendo pronunciadas com elevado grau de afrouxamento e se aproximando de um outro fonema, estes representantes fendem-se com os representantes do novo fonema. Dessa forma o novo fonema adquiriu novos representantes, mas também perdeu os seus antigos, devido ao excessivo afrouxamento articulatório que os levaram a fundir- se com o zero. p1 p2 p3 b1 b2 b3 u1 u2 Capillu> cabelo caballu> cavalo rivu > rio Lupu > lobo habere > haver bove > boi Esse rodízio de cisões e de fusões fonêmicas é o mecanismo básico do processo de mudança na forma das palavras.
No rodízio de formas pode acontecer: ● Mudança apenas na representação fonêmica da palavra e permanência no conjunto de traços distintivos pelos quais os fonemas se distinguem uns dos outros. ● O fim de determinado traço distintivo. ● A extinção de um dado fonema. ● A mudança da chamada fonotática da língua. ● Determinada categoria gramatical da língua deixe de existir caso sua manifestação formal seja uma entidade fônica que chegue a zero.
A relação entre língua falada e língua escrita: A distância entre língua falada e língua escrita pode ser melhor compreendida quando percebemos a necessidade de comunicação entre comunidades diversas. Língua escrita → alcance de comunicação bem amplo Língua escrita conservadora Lingüística Social Motivos
ATIVIDADE EM SALA: • CADA GRUPO PROCURAR IDENTIFICAR OS ERROS DE ESCRITA NAS FRASES ABAIXO: • Um dia eu vi um cachorro com gato na boca é jogol • na lata de licho. Fim • A bida é paravive felis. Muito felis e susego. • Eu vivo béi e alimento. • 3) O gato comeu o peixe • O xalé é de xaxá • O gato comeu o rato • 4) Era uma vez um passarinho. • não sabia voar. E um dia. • Ele foi tentanda até conseguir com a ajuda de seus amiguinhos e ele ficou muito alegri
5) Era uma vez estava en minha casa e o saci apareceu e me deu um susato quando olhei para traz e ele desapareceu. 6) Ozologicu onti nos foi no zologicu ageti fomus de onibus ispeciau vimus muintos bixos o maior era os elefati. (Bruna, 6 anos, Escola do Sesiminas, Bairro Palmital, BH/MG)
GUIA TEÓRICO DO ALFABETIZADOR Miriam Lemle * Doutora em Lingüística pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente é professora titular e coordenadora do Laboratório CLIPSEN - Computações Lingüísticas: Psicolingüística e Neurofisiologia - UFRJ Mônica Theodoro Maria de Jesus Fernanda Gonçalves Patrícia Otoni Júnia Campolina Maria Cecília Vanesca Rosa Sabrina Baeta