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“Rogai uns pelos outros” (Tg 5,16). “Aquele que perscruta os corações sabe qual é a intenção do Espírito: com efeito é segundo Deus que o Espírito intercede pelos santos” (Rm 8,27).
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“Rogai uns pelos outros” (Tg 5,16). • “Aquele que perscruta os corações sabe qual é a intenção do Espírito: com efeito é segundo Deus que o Espírito intercede pelos santos” (Rm 8,27). • “Quem condenará? Jesus Cristo morreu, não só, mas ressuscitou, ele que está à direita de Deus e intercede por nós!” (Rm 8,34; cf. Is 53,12).
Intercessão é uma experiência humana. A referência à mãe é muito próxima do nosso cotidiano. • Quando precisamos de um intercessor? • Aquela ou aquele que vive uma verdadeira relação filial sabe que o amor de mãe é incondicional.
- Qual o objetivo do evangelho de João: “ Estes [sinais] foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20,31). - No fim do século I, a comunidade joanina vive uma forte crise de fé.
No evangelho de João não aparece o nome de Maria, ele emprega mãe de Jesus ou mulher. O principal interesse do evangelho de João é apresentar Jesus como o Filho de Deus. Bodas de Caná – o enfoque principal é cristológico (2,11).
As últimas palavras da mãe neste evangelho é o apelo que ela faz aos servos: “Fazei tudo o que ele vos disser” (2,5). Expressão que ecoa a aliança do Sinai. Ex 19,8: “Tudo o que Javé nos disse, nós o poremos em prática”. Ex 24,3: “Todas as palavras que Javé disse, nós as poremos em prática”. Ex 24,7: “Tudo o que Javé disse, nós o poremos em prática, nós o ouviremos”.
Esta fórmula também é usada no contexto de renovação da aliança (Js 24,24; Esd 10,12; Ne 5,12). Qual a intenção do autor deste evangelho ao retomar o esquema da aliança? Caná é como um novo Sinai. É uma nova aliança. Parceiros: Jesus, a Mãe e os discípulos.
A Mãe personifica o povo de Israel em um contexto de Aliança. Nos lábios da mãe é colocada a profissão de fé que o povo pronunciou no Sinai. Os discípulos representam a nova comunidade. Princípio dos sinais em Caná = anuncia a substituição da antiga aliança Antiga Aliança = fundada na Lei. Nova Aliança = fundada no amor.
Caná está localizada na parte montanhosa da Galileia. Lugar clássico dos que faziam oposição contra o regime que dominava em Jerusalém. Caná vem do verbo hebraico qanah, cujo sentido é adquirir, criar. Pode ser que a escolha seja simbólica: “povo adquirido por Deus” (Ex 15,16; Dt 32,6; Sl 72,4). Jesus se dirige à sua mãe chamando-a de “mulher” (2,4).
Tradição bíblico-judaica: a Sião = mulher. Com a mãe, mulher da aliança, inicia-se o tempo messiânico, ponto de partida da nova Aliança de Deus com a humanidade. A mãe, a samaritana, Maria Madalena e a mulher que dá a luz no contexto da ceia são chamadas de “mulher”. O termo “mulher” sempre é usado no sentido de figura representativa.
Mãe = o Israel fiel. Samaritana = a esposa que é convidada a voltar ao primeiro amor. Maria Madalena = a nova comunidade. A mulher que dá a luz = a nova comunidade que sofre dor, perseguição e morte, mas dá a luz para o mundo. Voltando às bodas de Caná, a referência ao terceiro dia é importante. É o início da manifestação da glória de Jesus cujo auge é a cruz e a ressurreição
Terceiro dia = sugere o dia da manifestação de Deus. Outro detalhe que podemos observação é o paralelo que existe entre as expressões: a mãe de Jesus estava lá e havia lá seis talhas de pedra (2,1.6). O vinho era conservado em ânforas de terracota ou em odres de pele. Talhas de pedra eram próprias para a purificação.
De um lado, o povo de Israel = mãe. De outro, a Lei, simbolizada pelas seis talhas de pedra. O evangelho de João apresenta seis festas (2,13; 5,1; 6,4; 7,2; 10,22; 11,55). Festas e talhas estão vazias. As autoridades judaicas transformaram as festas do povo em momento de exploração e opressão. A mãe lhe disse: “eles não têm vinho”. Ela expõe a situação... Nada pede.
Vinho é sinal de amor e de alegria. Nestas núpcias, que representam a antiga aliança, não existe relação de amor entre Deus e o povo. As festas tornaram-se momentos de exclusão, controladas pelo sistema do puro e do impuro. A mãe sabe que o Deus de Israel é fiel e que seu amor não acabou. Ela espera a nova aliança (Jr 31,31). A mãe não dirige ao chefe do banquete.
“Que há entre mim e ti? Não chegou a minha hora” (2,4) A resposta de Jesus expressa a não existência ou ruptura de relações. Necessidade de tomar distância, de romper com o passado. A aliança fundada na Lei não será integrada na nova. Em João, Jesus se distancia da Lei. A mãe, Israel, espera no Messias.
A mãe faz um apelo para que os servos confiem: “Fazei tudo o que ele vos disser”. A água se transformará em vinho fora das talhas. Símbolo da água. O verbo “tirar” usa-se comumente para tirar água do poço. Talhas têm relação com o poço = símbolos para a Lei de Moisés. Quantidade: 480 a 720 litros.
A abundância é significativa, pois o banquete se realiza num lugar pobre. No texto, os servos não são qualificados de douloi, mas com o termo diakonoi (Jo 12,26; Mc 9,35; 10,43; Fl 1,1), que pode representar um ofício cristão. O mestre-sala, o encarregado do banquete, não está informado da falta de vinho. Ele é representante das elites dirigentes.
Na fala do mestre-sala, as autoridades reconhecem que a proposta da comunidade é melhor. A sensibilidade, o amor, a solidariedade e o serviço dão sentido à vida das pessoas. São as mulheres que articulam este novo jeito de viver. São elas que ajudam a construir novas relações.
Princípio dos sinais em Caná da Galileia (2,11). Início da hora de Jesus. Em que consiste esta hora? Este é conceito chave no evangelho de João que designa o tempo decisivo da revelação. A hora começa em Caná e continua durante a vida toda de Jesus e o auge é a cruz e a ressurreição. No contexto de aliança, a mãe convida os servos à obediência.
A obediência dos servos em Caná (2,8.9) graças a atitude da mãe torna-se símbolo do novo serviço. Caná não é só o primeiro dos sinais, mas é o princípio. Em todos, prevalecerá o amor: “amou-os até o extremo” (13,1). Fazei tudo o que ele vos disser... É uma convocação para os servos. É um convite para voltarem a Jesus e eles o fazem em força do testemunho da Mãe.
Sem abandonar a sua posição de mãe, Maria de Nazaré junta-se a suas irmãs: a samaritana Maria de Betânia Marta de Betânia Maria de Mágdala E um grande número de mulheres, lembradas e esquecidas, como discípulas exemplares: reconhecidas pelo amor e pelo testemunho de Cristo que elas dão.
A Mãe pede mais vinho na festa de núpcias – reflete a mulher que gosta de celebrar. É uma porta-voz dos desprivilegiados e dos pobres. É a presença de uma testemunha apostólica que leva outros a Cristo. Esta é uma memória que impulsiona a vocação das mulheres na igreja e no mundo, em reciprocidade com os homens que hoje vivem a fé cristã.
O episódio das bodas de Caná nos remete para outro texto do evangelho: “Perto da cruz de Jesus permaneciam de fé a sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria de Clopas, e Maria de Mágdala. Vendo assim a sua mãe, e perto dela o discípulo a quem ele amava, Jesus disse à sua mãe: ‘Mulher, eis aí o teu filho’. A seguir, disse ao discípulo: ‘Eis aí a tua mãe’. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa” (19,25-27)
Mt 27,55-56: “Grande número de mulheres estava ali, olhando de longe (....). Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu”. Mc 15,40: “Estavam ali alguma mulheres olhando de longe; entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé”. Lc 23,49: “Todos os conhecidos de Jesus bem como as mulheres que acompanhavam desde a Galileia, ficaram à distância, olhando essas coisas”.
Os sinóticos não mencionam a mãe de Jesus. João situa as testemunhas ao pé da cruz, e não apenas observando de longe. As mulheres estavam presentes e os evangelhos enfatizam que os discípulos homens fugiram. Não há espaço para um discípulo masculino amado e fiel. O discípulo amado não é um dos Doze. Ele é a testemunha que garante o entendimento de Jesus.
A mãe é figura representativa do Israel fiel às promessas. A mesma representatividade é utilizada na cena de Cafarnaum (2,12): a mãe aparece na companhia dos irmãos de Jesus e de seus irmãos. Ao culminar a hora de Jesus, este resto de Israel é integrado na nova comunidade. A nova comunidade reconhecerá sua origem no Antigo Israel e este a reconhecerá na comunidade nova a sua verdadeira descendência.
Aos pés da cruz, a mãe representa fidelidade: o Israel que espera o cumprimento das promessas. Na cruz, a mãe aceita um messias que invalidou a concepção de rei terreno. Ela será acolhida na nova comunidade. Na cruz, duas mulheres: a mãe representa a antiga aliança, o resto de Israel. Maria Madalena, a comunidade da nova aliança.
A expressão: “eis” indica uma revelação que deve seguir. A mãe e o discípulo olharam um pelo outro em um novo relacionamento. Eles simbolizam o nascimento de uma nova família de fé, fundada no seguimento de Jesus e de seu Deus. Se a passagem bíblica não é histórica e a presença da mãe de Jesus e do discípulo amado reflete a teologia de João, isso realça a importância de Maria para a comunidade joanina.
A mãe é lembrada como discípula exemplar e testemunha apostólica: Jesus se dirige primeiro à mãe com o termo “mulher”. De acordo com At 1,14-15: a mãe estava presente nas origens da comunidade cristã: “Todos unânimes, eram assíduos à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus”. A mãe é companheira viva e atuante na nova comunidade.
De muitas formas, a mãe continua viva em nosso meio... Para finalizar, podemos tomar emprestada as palavras dos poetas e cantores: “Sou romeiro e no seu dia, na multidão, mãe querida, ajoelho-me e rezo... Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Glória, de Lourdes, de Nazaré, Virgem Santa da saúda, da boa nova e da fé (....) Minha mãe, nossa senhora, somou todos filhos seus” (Roberto Carlos)
Ou ainda repetir: “Sou caipira, Pirapora, Nossa Senhora de Aparecida, ilumina a mina escura e funda o trem da minha vida” (....). Como eu não sei rezar, só queria mostrar meu olhar, meu olhar, meu olhar... (Renato Teixeira).