E N D
O teólogo fica confuso quando para para pensar neste título consagrado pela ladainha de Nossa Senhora: Mãe do Criador. Não seria finalmente um exagero? Chamar Maria de sempre virgem, mãe de Deus, imaculada e assunta aos céus, tudo bem… mas Mãe do Criador? Não seria colocar Maria acima de Deus? Como uma simples criatura poderia ser declamada mãe do Criador?
Na verdade este é um título que segue a mesma lógica de “Mãe de Deus”. Você lembra que a liturgia começou a invocar Maria com este título e depois os teólogos acabaram descobrindo que realmente isso é correto, pois não existe separação entre a natureza humana e divina de Jesus Cristo. Justamente a união entre o divino e o humano, sem separação nem confusão, foi o que tornou possível a nossa salvação. Deus pisou o nosso chão.
Amou com coração humano para que pudéssemos fazer parte de um amor divino. Chamar Maria de Mãe de Deus não é mais do que professar a fé na solidariedade de Deus que assumiu a nossa carne no ventre de Maria, para a nossa salvação. Na verdade não é um elogio à menina de Nazaré. É uma profissão de fé em Jesus salvador. Maria não poderia ser a mãe de apenas uma parte de Jesus Cristo..
Seria separar o humano e o divino. Deus é tão humano em Jesus Cristo, que Maria pode ser chamada de Mãe de Deus. Da mesma maneira, não podemos separar as três pessoas da Santíssima Trindade. Não são três Deuses. É um Deus em três pessoas. Este assunto já deu pano pra manga e esquentou a cabeças dos santos e teólogos mais geniais da história..
Conta-se que Santo Agostinho levou a vida inteira para escrever seu famoso livro sobre a Trindade. No final ele confessa: “Não consegui dizer muitas coisas, mas não posso deixar de refletir, pois se Deus me fez pensante, pensar é um jeito de louvar o Criador”. Depois de suas reflexões poucas coisas descobrimos de novo. Mas sabemos bem que Deus não é solitário.
Ele é solidário. Deus é comunhão. Deus é família. É relação de amor: O Pai é o amante, o Filho é o amado, e o Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. Os três são uma unidade inseparável. Alguém até já falou de Tri-unidade. Quando a ladainha chama Maria de “Mãe do Criador”, reconhece de um modo poético esta unidade na Trindade.
Não seria correto dizer que apenas o “Filho” foi gerado no ventre de Maria. Seria imaginar a possibilidade do Filho de Deus estar separado do Pai e do Espírito. Na conversa que Maria teve com o anjo Gabriel foi revelado: “Aquele que nascer de ti será chamado Filho do Deus Altíssimo”.
E o modo também: “O Espírito Santo te cobrirá com sua sombra”. A Trindade encontrou abrigo em Maria quando ela disse: “Eis aqui a serva do Senhor”. O Verbo, por meio do qual todas as coisas foram feitas é pronunciado novamente e se faz carne e habita entre nós (Jo 1,14). Este mistério se repete em cada um de nós que somos batizados.
Nos tornamos “templos do Espírito Santo”, uma casa aonde habita Deus. A teologia chama isto de “mistério da inabitação” da Trindade em nós. É preciso dizer também que a criação não foi um gesto acontecido a bilhões de anos e que acabou. Nada disso. Deus cria a cada instante por meio de seu Verbo e de seu Espírito.
Estas são as duas mãos do Pai Criador. A criação é o primeiro gesto salvífico de Deus e a salvação em Jesus Cristo é uma nova criação. Em Cristo somos recriados. Nele o que era velho passou e nos tornamos novas criaturas. Maria participa ativamente desta nova criação. Podemos cantar a invocação da ladainha que chama Maria de Mãe do Criador, sem medo de estarmos proferindo uma heresia. Mas sempre é bom lembrar que estes títulos, mais do que elogios à Maria, são fórmulas inteligentes que apontam para Deus.
Texto – Pe. Joãozinho – Música – Ave Maria F. P. Tosti – Imagens – Google Formatação – Altair Castro