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METODOLOGIA DA PESQUISA José Luís Bizelli

Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Araraquara Curso de Pós- Graduação Lato Sensu em Governança Pública e Novos Arranjos de Gestão. METODOLOGIA DA PESQUISA José Luís Bizelli . Metodologia da Pesquisa.

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METODOLOGIA DA PESQUISA José Luís Bizelli

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  1. Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de AraraquaraCurso de Pós- Graduação Lato Sensu em Governança Pública e Novos Arranjos de Gestão METODOLOGIA DA PESQUISA José Luís Bizelli

  2. Metodologia da Pesquisa • Para sobreviver e facilitar a sua existência, o ser humano confrontou-se permanentemente com a necessidade de dispor do saber. A construção do saber foi elaborada numa trajetória longa, cujo resultado, nas sociedades modernas, consolidou a pesquisa científica como o meio mais eficaz de produzir conhecimento.

  3. Meios de produzir conhecimento • Nas sociedades contemporâneas, coexistem, porém, muitos meios de produzir conhecimento: • O saber espontâneo: no afã de conhecer o funcionamento das coisas, para melhor controlá-las e fazer melhores previsões, inúmeros conhecimentos foram adquiridos a partir da experiência pessoal (a criança e o fogão: melhor não tocá-lo).

  4. Meios de produzir conhecimento • O saber intuitivo: a percepção imediata de fenômenos que se repetem acaba gerando explicações espontâneas, ou seja, o que conhecemos como senso comum ou o simples bom senso. Expressões que visam explicações simples de fenômenos observáveis e repetitivos, não deixam de construir saberes, mas perpetuam, muitas vezes, contradições: “Diga-me com quem andas e te direi quem és” versus “Os opostos se atraem”; “Tal pai, tal filho” versus “Pai avarento, filho pródigo”.

  5. Meios de produzir conhecimento • O saber tradicional: ao se divulgar, compartilhar, as explicações do “senso comum” passa-se a elaborar a tradição. Em família ou em comunidade, a tradição lega conhecimentos úteis baseados em uma concepção de que o presente reproduz o passado e garante a imutabilidade futura. A tradição dita o que se deve conhecer e como se comportar frente aos fatos: quando semear ou colher; como conviver em sociedade, como curar certas doenças, etc.

  6. O saber tradicional • A autoridade: sem provas metodicamente elaboradas, autoridades se encarregam da transmissão da tradição. Igreja católica versus uniões incestuosas = regras do casamento. A autoridade visa atingir a obediência: • A atores: padres, médicos, bruxos, professores, pais, ... • A instituições: igrejas, escolas, ... • Obs: o valor do saber imposto repousa no consentimento da pessoa que o recebe, dada a confiança que deposita naquele que o veicula.

  7. O saber tradicional • Nível / Entidade FAMÍLIA ESCOLA AMIZADES IGREJA • muita influência82% 78% 61% 63% • pouca influência11% 14% 20% 18% • alguma influência04% 06% 10% 10% • nenhuma influência02% 02% 07% 07% • não sabe 01% ---- 02% ---- • FONTE: revista Veja n° 42, de 22/10/97.

  8. O saber tradicional • “O principal modo de transmissão do saber, na instituição escolar, assemelha-se, ao mesmo tempo, ao da tradição e ao da autoridade. Autoridades escolheram o saber que parece útil ou necessário a transmitir aos membros da sociedade; saber já construído oferecido aos estudantes, sem que esses sejam convidados a determinar o sentido e os limites de cada um deles. Desse modo, por exemplo, a escola ensina habitualmente apenas uma única interpretação de um fato histórico, mesmo podendo haver várias. É que a interpretação escolhida pareceu preferível às autoridades responsáveis pelo sistema escolar ou por aqueles que nele intervêm por diversas razões. • No entanto, a escola tem por missão ensinar, além disso, o modo de construção do saber, de modo que os estudantes também aprendam os princípios de sua validade e se tornem progressivamente capazes de julgar o saber oferecido e, até, eventualmente, de preferir outro e de construir, por si mesmos, um saber diferente.” (Laville & Dionne, 1999: 21)

  9. O saber racional • O saber racional: os seres humanos sentiram a fragilidade do conhecimento espontâneo, intuitivo e tradicional, buscando um saber que pudesse ser metodologicamente elaborado. Seguiu-se uma longa trajetória

  10. O saber racional • Os filósofos: na Grécia Antiga surge forte a desconfiança em relação às explicações baseadas nos deuses, na magia e na superstição. Platão e Aristóteles desenvolvem instrumentos da lógica, separando o sujeito do conhecimento do objeto a ser conhecido e determinando as relações que se estabelecem entre ambos. Noções importantes se firmam: causalidade, dedutibilidade, modelagem do mundo real e interpretação. Com a Idade Média toda reflexão é posta sob a égide da doutrina eclesiástica. O Renascimento traz consigo tanto a alquimia quanto o empirismo de Francis Bacon: “Nossa maior fonte, da qual devemos tudo esperar, é a estreita aliança destas duas faculdades: a experimental e a racional, união que ainda não foi formada.” O pensamento moderno começa a se objetivar: observa-se a realidade (empirismo) e coloca-se a explicação à prova (experimentação). Formula-se o raciocínio hipotético-dedutivo que utiliza-se do método científico na sua forma experimental: observação, experimentação e mensuração. Mais do que encontrar uma explicação, passa a ser necessário enunciar o princípio que a fundamenta: Newton e as maçãs = Lei da Gravidade.

  11. O saber racional • A ciência: o Século das Luzes (XVIII) traz consigo um aprofundamento do conhecimento nas ciências naturais. Mas é o século XIX que faz triunfar o pensamento científico: ciência e tecnologia encontram-se. A pesquisa fundamental vai ganhando força na pesquisa aplicada. Agricultura, manufatura, comunicações, saúde passam a ser abordados tecnicamente dentro da cidade produzida. Por que não aplicar todo esse método para resolver os problemas no plano social?

  12. O saber racional • Ciências humanas e positivismo: até o século XIX, as ciências humanas pareciam estar mais afetas às explicações dos filósofos. As idéias dos pensadores do século XVIII (universalidade de direitos, igualdades liberdades sociais e econômicas, contrato social entre dirigentes e povos, livre arbítrio) tinham influenciado inclusive as revoluções burguesas. No entanto, a pretensão do século XIX era conhecer o homem e a sociedade de forma tão confiável quanto a aplicada à natureza. As ciências humanas construirão o seu saber através do positivismo, que congrega

  13. O saber racional: Ciências humanas e positivismo • o empirismo: conhecer é um exercício que deve partir da percepção da realidade. Crenças, valores e idéias inatas tomam o aspecto de matéria suspeita. • a objetividade: o sujeito do conhecimento não deve influenciar o seu objeto. Procedimentos devem ser adotados para eliminar-se ou reduzir-se ao mínimo os efeitos não controlados da experimentação. • a experimentação: a observação de um fenômeno leva o observador a construir uma hipótese, a qual será testada pela experimentação, demonstrando ou não a sua precisão. • a validade: a experimentação é controlada e seus resultados são matematicamente mensurados. A ciência positiva é portanto passível de quantificação, podendo ser reproduzida nas mesmas condições, permitindo a validação dos resultados e a sua generalização.

  14. O saber racional: Ciências humanas e positivismo • a formulação de leis e de previsões: os seres humanos estariam submetidos a leis naturais (determinismo). A partir do conhecimento dessas leis seria possível prever comportamentos e gerenciá-los cientificamente. Augusto Comte: “olhar todos os fenômenos como sujeitos a leis invariáveis”. Claude Bernard: “Todas as ciências raciocinam igualmente e têm o mesmo objetivo. Todas desejam chegar ao conhecimento da lei dos fenômenos de modo a poder prevê-los, alterá-los ou dominá-los”.

  15. A crise do positivismo • as ciências naturais e as ciências humanas tratam de fenômenos totalmente diferentes. Algumas das dificuldades em tratar questões vinculadas ao comportamento humano

  16. A crise do positivismo • a complexidade: diante de fenômenos complexos, nos quais se cruzam dimensões econômicas, políticas e sociais, como “considerar os fatos sociais como coisas” (Durkheim)? Como submeter tais fatos à experimentação, já que essa exige a identificação de variáveis que ao interagirem explicam o fenômeno? Em um sistema multi-variável, como separar as variáveis para saber exatamente a sua influência nos resultados verificados? Além disso o ser humano é ativo e livre reavaliando o tempo todo suas próprias idéias, opiniões, preferências, valores, ambições, visão de mundo, conhecimentos, etc. A natureza humana não é previsível. Os seres humanos reagem diferentemente a um estímulo violento, enquanto as maçãs de Newton atendem sempre à mesma Lei da Gravidade Universal.

  17. A crise do positivismo • o pesquisador é um ator: não só os objetos a serem observados são atores dotados de vontade, mas o pesquisador também está sujeito ao seu pensar, agir e reagir, exercendo, assim, sua influência sobre a análise. Claude Bernard: “O observador deve ser o fotógrafo do fenômeno ... Deve observar sem qualquer idéia preconcebida; a mente do observador deve ficar passiva, ou seja, calar-se ...”. O observador dos fenômenos sociais não pode ter essa objetividade: ele é um ator envolvido.

  18. A crise do positivismo • a medida do verdadeiro: se o sujeito e o objeto do conhecimento são capazes de um comportamento voluntário e consciente, a medida do verdadeiro difere da obtida em ciências naturais, ou seja, pode variar mesmo sendo construída com prudência e método. O determinismo e as leis da natureza, conceitos caros ao positivismo, aplicam-se mal em ciências humanas. Em ciências humanas devemos construir o conhecimento de forma não exclusiva ou absoluta, mas a partir de teorias suficientemente gerais para serem aplicadas ao conjunto das situações análogas. Além disso, a generalização dos resultados da experimentação – a lei – não é comumente possível, já que a reprodução controlada do processo, não é passível de sofrer verificação. Quando sujeito e objeto são livres e podem mudar o curso da experimentação, quando as medidas não podem ser objetivas, o verdadeiro passa a ser relativo e provisório. Enfraquece-se, assim; o poder explicativo do positivismo.

  19. Revisando conceitos nas ciências naturais No início do século XX, as ciências naturais também sofriam as limitações provocadas pelo positivismo: • o empirismo difícil: dada a dificuldade de conhecer empiricamente certos elementos constitutivos da natureza, como por exemplo o átomo, uma interpretação construída na mente do pesquisador substitui o conhecimento objetivo: temos uma teoria sobre o átomo.

  20. Revisando conceitos nas ciências naturais • a teoria: o conhecimento obtido permanece até ser contestado por outras interpretações dos fatos. Assim, a teoria aceitou reconhecer numerosos elementos do átomo muito antes de sua existência ter sido demonstrada experimentalmente. • teoria, lei e previsão: em uma teoria – mesmo que a prova pareçaincompleta ou por vir – um fato pode ser aceitável e, assim, o princípio positivista da validação do saber, conseqüência da possibilidade de reproduzir a experiência nas mesmas condições com os mesmos resultados, perde a sua relevância. Aceita-se que uma teoria seja adequada, embora provisória: verificações posteriores poderão ou não dar-lhe maior validade. A busca obstinada da lei natural (determinismo) não é mais a ambição das ciências naturais.

  21. Revisando conceitos nas ciências naturais • objetividade e subjetividade: a objetividade deixa de estar relacionada com a causa última encontrada na natureza a ser revelada pelo pesquisador. O papel do pesquisador é reconhecido e carregado de subjetividade, embora esta última seja racional, controlada e desvendada. A objetividade passa a estar relacionada mais com o sujeito pesquisador e seu procedimento do que com o objeto da pesquisa.

  22. Realinhando a ciência Modernamente podemos dizer que as ciências naturais e as ciências humanas, em seus procedimentos, partilham, essencialmente, as mesmas preocupações: 1) centrar a pesquisa na compreensão de problemas específicos; 2) assegurar, pelo método de pesquisa, a validade da compreensão; 3) superar as barreiras que poderiam atrapalhar a compreensão.

  23. Realinhando a ciência • A compreensão: a idéia cerne para o realinhamento das ciências humanas é a de contribuir para o entendimento de problemas, estejam eles ligados à falta de conhecimento sobre a temática – pesquisa fundamental – ou estejam eles relacionados a intervenções eventuais – pesquisa aplicada. No intuito de não reduzir ou deformar o problema, busca-se a multicausalidade, ou seja, a interação e conjugação de múltiplos fatores.

  24. Realinhando a ciência • Objetividade e objetivação: as compreensões que resultam em dadas situações são relativas e afetadas pelo escolher e interpretar do pesquisador. Um pesquisador escolhe um tema e produz um livro a respeito do tema escolhido. Sua pesquisa percorreu milhares de informações sobre o assunto que foram cuidadosamente selecionadas, confrontadas, escolhidas e interpretadas. Outro pesquisador poderia ter escolhido e interpretado de forma diferente o mesmo tema. O que garante então o valor do conhecimento produzido? A objetivação. No positivismo, a busca das leis fundamentais imutáveis garantia as explicações seguras e gerais. Saberes que se declaram interpretações não podem ter tamanha pretensão, o que tem retirado a força da idéia de existência de uma lei na ciência moderna em favor da idéia de teoria. A interpretação não possibilita, necessariamente, um procedimento experimental, quantificador ou reprodutível. A mente do pesquisador efetua as escolhas e as interpretações segundo a objetivação: o pesquisador toma metodologicamente consciência dos fatores que o levaram a escolha e a interpretação e racionaliza esses fatores; a comunidade científica, por sua vez, espera que nos resultados apresentados pelo pesquisador haja a indicação de todos os procedimentos que indiquem a validade do conhecimento produzido. A objetividade então estaria garantida pela objetivação da subjetividade.

  25. Realinhando a ciência • Multidisciplinaridade: a mudança de foco da ciência, ao passar da busca das leis fundantes para abordagem de problemas de pesquisa, levou a comunidade científica a se incomodar com as divisões dos saberes. A abordagem de um problema tem que ser sistêmica. Dada a dificuldade de implementar um programa sistêmico de pesquisa, o mais comum é adotar uma abordagem multidisciplinar, o que significa adotar uma abordagem que utilize o campo conceitual de diversas disciplinas dentro das ciências humanas. Cada vez mais se afirma, assim, equipes multidisciplinares de pesquisa.

  26. Realinhando a ciência • O método: o ponto de partida é o problema a ser resolvido. O pesquisador percebe um problema e supõe uma solução possível, ou seja, uma explicação racional da situação a ser compreendida ou aperfeiçoada: a hipótese. Muitas podem ser as hipóteses possíveis, mas o pesquisador centra-se na que lhe parece mais profícua. Para comprovar a hipótese o pesquisador deve ir a realidade e verificá-la. As informações colhidas na realidade devem indicar as conclusões do trabalho científico. As conclusões não são mais absolutas que a hipótese formulada, mas se o pesquisador as considera válidas submete-as à comunidade científica. Ao submetê-las dirá quais são as delimitações do problema, como as percebeu, por que sua hipótese é legítima e o procedimento que adotou para verificar sua hipótese e chegar às suas conclusões. Cada pessoa então poderá julgar o saber produzido e sua credibilidade. Assim se dá a objetivação que hoje está no centro do método científico.

  27. O método

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