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História dos Portugueses no Mundo (2012/2013) Aula n.º 6

História dos Portugueses no Mundo (2012/2013) Aula n.º 6 «Descobrimento» e Presença Portuguesa na África Ocidental III Os Contactos Culturais com os Povos da África Negra. As Primeiras I mpressões

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História dos Portugueses no Mundo (2012/2013) Aula n.º 6

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  1. História dos Portugueses no Mundo • (2012/2013) • Aula n.º 6 • «Descobrimento» e Presença Portuguesa na África Ocidental III • Os Contactos Culturais com os Povos da África Negra

  2. As Primeiras Impressões Quando os portugueses começaram a contactar com o interior da costa ocidental africana constataram, não só a islamização de algumas áreas, mas ainda a existência de outros povos que rotulam de idólatras, gentios e pagãos. Além da religião e da cor da pele, os navegadores começaram a registar outros aspectos culturais, tais como a alimentação, o vestuário, a habitação, os meios de defesa e a organização social. Também os negros encaravam os homens brancos com receio, embora com um misto de curiosidade. Vindos do mar, os brancos surgiam como seres estranhos e superiores, talvez espíritos com intuitos malfazentes. Por isso, muitas vezes, evitavam-se os contactos pessoais, como acontecia na Costa de Arguim. Estabelecia-se o «comércio mudo» que, de resto, já era praticado pelos povos locais.

  3. Dificuldades de penetração no interior • Factores diversos dificultavam a entrada dos portugueses no interior do continente africano, tais como: • Extensas manchas de floresta virgem; • Emboscadas dos povos locais; • Ataques de animais ferozes; • Picadas de cobras e insectos; • Clima doentio; • Doenças tropicais; • Os escassos recursos humanos e materiais constituíram um sério obstáculo à colonização do continente africano no século XV. No entanto, conhecem-se exemplos de alguns que, mais afoitos, percorreram o sertão e navegaram pelos rios da Guiné.

  4. Os «lançados» ou «tangomãos» Portugueses que tinham, por diversas razões, (naufrágios, deixados pela Coroa, degredados fugidos, etc.) ficado isolados em África. A vida num meio totalmente diferente implicava a adaptação física e psicológica às condições geográficas e sócio-culturais, daí resultando a integração dos «lançados» no quotidiano dos negros da Guiné, de acordo com os costumes e leis locais. A união com as mulheres nativas facilitava-lhes o relacionamento com chefes das tribos, a quem os lançados chegam a servir de «conselheiros» ou curandeiros. Os documentos da época denunciam o carácter marginal destes «aventureiros» de corpos tatuados que, praticando a poligamia, vivem do comércio – a actividade que escolheram e que os naturais lhes permitiram. No entanto, a diversidade de origens – náufragos, hominizia- dos, degredados, judeus – não permite defini-los, como um grupo sócio-económico organizado.

  5. Os «lançados» originam as primeiras formas de miscigenação do continente africano, sendo a sua presença responsável pela criação de uma língua franca – crioulo – que, pouco e pouco, se vai enriquecendo com a entrada de novas palavras portuguesas. Nos contactos com as tribos do interior, os «lançados» divulgaram ainda técnicas e produtos; gradualmente, a casa rectangular substituiu a cubata circular indígena; a dieta alimentar adoptou, também, novos produtos de origem vegetal.

  6. O Reino do Congo Entre as diversas áreas do continente africano merece particular atenção o Congo que Luís Vaz de Camões assinalou como «mui grande Reino… por nós já convertido à fé de Cristo». De facto, a vontade de evangelizar estabeleceu-se visivelmente a partir do Golfo da Guiné. Desde então, os navegadores assinalavam a passagem pela costa africana com padrõesou inscrições onde se associam os símbolos portugueses e cristãos. Inscrições de Ielala a 150 Km da Foz do Rio Congo (Zaire). «Aqui chegaram os navios do esclarecido rei D. João II, Diogo Cão…»

  7. A chegada dos homens brancos despertou nos naturais curiosidade e fascínio: sendo encarados como seres superiores. A satisfação com que é vista a partida de alguns príncipes indígenas, em companhia de Diogo Cão no regresso a Portugal, excedeu as expectativas portuguesas. Redobrava-se o entusiasmo, já que a presença portuguesa pretendia organizar-se nesse espaço em torno de dois objectivos: fazer comércio e expandir o cristianismo. Data de 1491 a primeira expedição missionária à capital do reino do Congo, mais tarde designada de São Salvador (actualmente território angolano). Integraram-na, além de frades dominicanos, «representantes» da Coroa, carpinteiros e pedreiros que, em «embaixada», procuraram o estabelecimento de boas relações de amizade e aliança entre o rei de Portugal e o monarca do Congo. Nos primeiros tempos, apenas uma minoria deteve um relacionamento privilegiado com os brancos, aceitaram os seus usos e iniciaram o domínio da escritas nas escolas de «ler e escrever» que os missionários dirigiram. Com uma certa dose de orgulho os grande da corte do reino do Congo adoptaram uma outra maneira de viver, concretamente no vestuário «à portuguesa».

  8. Homens e mulheres envergavam capas, calçados e jóias numa atitude de vaidade e ostentação que os portugueses gostavam de fomentar. A missionação constituiu uma outra vertente dos contactos com os povos autóctones, uma prática que envolvia não só o acto de transmitir princípios religiosos, mas também a alteração de costumes; a monogamia, o uso do vestuários e outras maneiras de viver. Parecia difícil a acção evangelizadora, dada a complexidade do cristianismo, uma religião de dogmas, mistérios e valores morais muito diferentes dos africanos. Por outro lado, a atitude dos missionários não facilitava a integração, visto desconhecerem totalmente os fenómenos religiosos dos povos bantos, tomando os seus amuletos como deuses. Mas apesar disso, operava-se um processo confuso de assimilação, onde as imagens dos santos se associavam aos «amuletos», usados como instrumentos mágico-religiosos que, regra geral, os negros penduravam à entrada das sanzalas. Formas semelhantes de aceitação manifestaram-se no culto dos antepassados; em muitas sepulturas foram encontradas ar- mas portuguesas do século XVI, jóias, crucifixos de latão, imagens de Maria e dos santos, em especial de Santo António.

  9. A incorporação destes elementos originaram formas de sincretismo, isto é, a simbiose de valores religiosos e culturais próprios com outros estranhos, neste caso, cristãos. A linguística registou, também, a síntese dessas relações culturais, designamente na onomástica. Os nomes nativos substituíram-se pela onomástica cristã, ainda que «congolozada». Palavras portuguesas passaram para o vocabulário do Congo, como por exemplo: Ndomanuéle (D. Manuel) – qualifica a inteligência rápida (atribui-se a uma criança esperta). Ndolumingu (Ndo + Lumingu = Dom Domingo) Ndo e ndopa = dom e dona

  10. As Relações de Portugal com Angola As relações entre Portugal e Angola pareciam configurar-se no modelo do Congo. No entanto, abandonado o projeto de mera exploração comercial optou-se, em 1575, pela conquista e pela colonização. Missionários e outros dirigentes da expansão portuguesa convenceram-se na necessidade destes meios (conquista e colonização) para realizar a evangelização e aproveitamento das potencialidades da terra. A presença portuguesa em Angola dificilmente poderia impor-se pela força dada a insuficiência de meios militares e o reduzido número de soldados. Assim, desde os tempos de Paulo Dias de Novais – o primeiro capitão do donatário – assistiu-se ao estabelecimento de alianças com os senhores locais e também à participação de negros ao lado dos conquistadores portugueses. Estas circunstâncias favoreceram a miscigenação que alcançou em Angola proporções notáveis, dada a escassez de mulheres brancas e a facilidade com que os portugueses se uniam às nativas.

  11. Com os cruzamentos étnicos decorreu a integração cultural, contando-se, entre os seus agentes, conquistadores, comerciantes e missionários. Luanda constituiu o principal centro económico e administrativo, fixando-se aí a maioria dos portugueses. A capital viu nascer as primeiras construções em pedra e cal, símbolo da entrada de novas técnicas e valores culturais. De facto a colonização confinava-se a uma pequena parte das margens do rios Quanza, Bengo e Lucala. Nessas terras cultivavam-se espécies autóctones e portuguesas, às quais se juntaram produtos de origem americana como milho, tabaco e mandioca. A evangelização seguiu um processo lento, apontando-se como explicação, entre outros factores, a instabilidade militar, os rigores do clima, o número reduzido de missionários, o desconhecimento das línguas nativas e a dificuldade de transmitir a complexidade da religião cristã. Embora alguns padres encarrassem a docilidade dos negros de Angola, já outros viam neles uma má índole e a prática de costumes, nomeadamente a poligamia, como obstáculos à cristianização.

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