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Mario de Andrade . Poesia e Prosa . Mário de Andrade (1893-1945). - Um dos responsáveis da SAM. - Formação em Música e folclore. - Tinha o projeto de renovação artística, cultural e política. Papa do modernismo. Poesia. Há uma Gota de Sangue em cada Poema (1917)
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Mario de Andrade Poesia e Prosa
Mário de Andrade (1893-1945) • - Um dos responsáveis da SAM. • - Formação em Música e folclore. • - Tinha o projeto de renovação artística, cultural e política. • Papa do modernismo
Poesia • Há uma Gota de Sangue em cada Poema (1917) • Paulicéia Desvairada (1922) • Losango Cáqui (1926) • Clã do Jabuti (1927) • Remate dos Males (1930)
3 etapas em sua poesia • 1) Paulicéia Desvairada e Losango Cáqui – Espírito de demolição da primeira fase. • Simultaneísmo • Valorização do cotidiano • Absorção das propostas das vanguardas. Ex: Escrita automática • Coloquial, irônico e piadístico. • Liberdade –versos livres, linguagem solta e lírica • Nacionalismo exaltado,
3 etapas em sua poesia • 2) Clã do Jabuti • Nacionalismo estético e pitoresco • Forte presença da paisagem nacional e do folclore • uso de nosso folclore, conciliando as tradições africanas, indígenas e sertanejas. • Lembra Macunaíma
3 etapas em sua poesia • 3) Remate de Males e Lira Paulistana – Maturidade • Distante do Desvairismo inicial • Poesia pessoal, intimista. • País e alma em consonância – projeção. • Preocupado com o destino dos homens e do mundo.
O POETA COME AMENDOIM a Carlos Drummond de Andrade (1924) Noites pesadas de cheiros e calores amontoados... Foi o sol que por todo o sítio imenso do Brasil Andou marcando de moreno os brasileiros. Estou pensando nos tempos de antes de eu nascer... A noite era pra descansar. As gargalhadas brancas dos mulatos... Silêncio! O Imperador medita os seus versinhos. Os Caramurús conspiram na sombra das mangueiras ovais. Só o murmurejo dos cre'm-deus-padres irmanava os homens de meu país... Duma feita os canhamboras perceberam que não tinha mais escravos, Por causa disso muita virgem-do-rosário se perdeu... Porém o desastre verdadeiro foi embonecar esta república temporã. A gente inda não sabia se governar... Progredir, progredimos um tiquinho Que o progresso também é uma fatalidade... Será o que Nosso Senhor quiser!... Estou com desejos de desastres... Com desejos do Amazonas e dos ventos muriçocas Se encostando na cangerana dos batentes... Tenho desejos de violas e solidões sem sentido Tenho desejos de gemer e de morrer. Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim... Falado numa língua corumim De palavras incertas num remeleixo melado melancólico... Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons... Molham meus beiços que dão beijos alastrados E depois semitoam sem malícia as rezas bem nascidas... Brasil amado não porque seja minha pátria, Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der... Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso, O gosto dos meus descansos, O balanço das minhas cantigas amores e danças. Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada, Porque é o meu sentimento pachorrento, Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir
ODE AO BURGUÊS Eu insulto o burguês! O burguês-níquel, o burguês-burguês! A digestão bem feita de São Paulo! O homem-curva! o homem-nádegas! O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! Eu insulto as aristocracias cautelosas! Os barões lampeões! os condes Joões! os duques zurros! que vivem dentro de muros sem pulos; e gemem sangues de alguns milreis fracos para dizerem que as filhas da senhora falam o francês e tocam o "Printemps" com as unhas! Eu insulto o burguês-funesto! O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições! Fora os que algarismam os amanhãs! Olha a vida dos nossos setembros! Fará Sol? Choverá? Arlequinal! Mas à chuva dos rosais o êxtase fará sempre Sol! Morte à gordura! !
Morte às adiposidades cerebrais! Morte ao burguês-mensal! ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi! Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano "– Ai, filha, que te darei pelos teus anos? – Um colar... – Conto e quinhentos!!! Mas nós morremos de fome!" ...................... Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma! Oh! purée de batatas morais! Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas! Ódio aos temperamentos regulares! Ódio aos relógios musculares! Morte e infâmia! Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados! Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos, sempiternamente as mesmices convencionais! De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia! Dois a dois! Primeira posição! Marcha! Todos para a Central do meu rancor inebriante! Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio! (...)
EU SOU TREZENTOS... Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, As sensações renascem de si mesmas sem repouso, Ôh espelhos, ôh! Pireneus! ôh caiçaras! si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro! Abraço no meu leito as milhores palavras, E os suspiros que dou são violinos alheios; Eu piso a terra como quem descobre a furto Nas esquinas, nos taxis, nas camarinhas seus próprios beijos! Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta, mas um dia afinal eu toparei comigo... Tenhamos paciência, andorinhas curtas, Só o esquecimento é que condensa, E então minha alma servirá de abrigo A catedral de São Paulo Por Deus! que nunca se acaba – Como minha alma.
Prosa • Contos • Contos Novos (1946) • Romances • Amar, Verbo Intransitivo (1927) • Macunaíma (1928)
Macunaíma- capítulos • Capítulo I - Macunaíma Macunaíma, “herói de nossa gente” nasceu à margem do Uraricoera, em plena floresta amazônica. Descendia da tribo dos Tapanhumas e, desde a primeira infância, revelava-se como um sujeito “preguiçoso”. Ainda menino, busca prazeres amorosos com Sofará, mulher de seu irmão Jiguê, que só lhe havia dado pra comer as tripas de uma anta, caçada por Macunaíma numa armadilha esperta. Nas várias transas (“brincadeiras”) com Sofará, Macunaíma transforma-se num príncipe lindo, iniciando um processo constante de metamorfoses que irão ocorrer ao longo da narrativa: índio negro, vira branco, inseto, peixe e até mesmo um pato, dependendo das circunstâncias.
Capítulo VIII – Vei, a SolÉ também no Rio de Janeiro que Macunaíma reencontra a Vei, a deusa-sol que pretendia casar uma de suas três filhas com o herói. Embora tivesse prometido, Macunaíma não cumpriu a palavra empenhada: logo que anoiteceu, convidou uma portuguesa e brincou com ela na jangada. Depois foram descansar num banco da avenida Beira-mar, no Flamengo, quando surgiu Mianiquê-Teibê, monstro de garras enormes com olhos no lugar dos peitos e duas bocarras nos pés, de dentes aguçados. Macunaíma saiu correndo pela praia; o monstro comeu a portuguesa e desapareceu.
Características do modernismo em Macunaíma • Quebra da estrutura tradicional do romance: rapsódia • Não há unidades tradicionais de: • de espaço • de tempo • de ação • de caracterização das personagens
Espaço e tempo • O espaço mágico, próprio da atmosfera fantástica e maravilhosa em que se desenvolve a narrativa. • O tempo é totalmente subvertido na narrativa. O herói do presente entra em contato com figuras do passado, estabelecendo-se um curioso “diálogo com os mortos”: Macunaíma fala com João Ramalho(séc.XVI), com os holandeses (séc. XVII) e com Hércules Florence (séc. XIX).
Valorização do folclore e da fala brasileira a) construções irregulares: "– Meu avo, dá caça pra mim comer?" (Mac. 20) "– Minha vó, dá aipim pra mim comer?" (Mac. 21) b) concordância irregular: "– Tu não é mais curumi, rapaiz, tu não é mais curumi não... Gente grande que faiz isso... (Mac. 20)
Nacionalismo crítico: • A apatia do povo brasileiro: Frase recorrente do herói-coletivo: _ Ai! Que preguiça... • Critica ao subdesenvolvimento Em poucas palavras Macunaíma resumiu o subdesenvolvimento brasileiro: "pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são" que se tornou igualmente uma constante em todo o livro.
Outros aspectos marcantes da construção textual • Busca do mundo consciente e inconsciente • Narrativa sem lógica aparente (leis outras de organização) Freud. • Herói contraditório: ver personagens
Sexualidade: • Piadas ao gosto genuinamente nacional de duplo sentido: – Vou dizer três adivinhas, si você descobre, te deixo fugir. O que é que é: "É comprido roliço e perfurado, entra duro e sai mole, satisfaz o gosto da gente e não é palavra indecente? • – Ah! isso é indecência sim!. • – Bobo! É macarrão! • – Ahn... É mesmo! Engraçado, não? • – Agora o que é o que é: Qual o lugar onde as mulheres tem cabelo mais crespinho? • – Oh, que bom! isso eu sei! é ai! • – Cachorro! É na África, sabe! • – Me mostra, por favor! (...)
ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES • COMPLEXO RACIAL: O herói índio, nasce preto retinto. Esse complexo racial da nossa formação fica claro mesmo é na passagem do poço encantado em que Mário de Andrade reúne os três tipos fundamentais da formação da raça brasileira: o índio, o negro e o branco. • APATIA – “- Ai! que preguiça!...”
LÍNGUA:O Modernismo fez uma verdadeira revolução na língua literária, dessacralizando-a da sua feição acadêmica e clássica. Os modernistas aproximam-na do povo, incorporando a ela os modismos brasileiros e o português do jeito que o brasileiro fala. • MUIRAQUITÃ - A muiraquitã é um amuleto que se associa à vida primitiva de Macunaíma, antes do contato com a civilização. Pode-se dizer que a muiraquitã se associa à idéia de pureza e inocência. Com a perda do amuleto, Macunaíma vai-se civilizando e “sifilizando": contrai as doenças da civilização, conforme constata e registra na sua carta as icamiabas.
PIAIMÃ - O gigante Piaimã;, por outro lado, representa bem o elemento estrangeiro, civilizado e superior, que vai dominando a pobre nação, subdesenvolvida e fraca. Somente com muita artimanha, o herói consegue enganá-lo e vencê-lo, na ficção de Mário de Andrade.
Personagens: • Macunaíma - é a personagem central do livro – "o herói sem nenhum caráter". Fugindo à etimologia do nome Macunaíma: " o grande mau“; podemos afirmar que o herói é múltiplo: "encarna uma enorme variedade de personagens, ora boas, ora más, ora ingênuas; quase sempre ingênuas." Isto porque o herói reúne em si varias figuras da mitologia indígena que Mário de Andrade soube sintetizar em uma só personagem; • Maanape: mano de Macunaíma que o acompanha na sua peregrinação em demanda da Muiraquitã • Jiguê: É o outro mano de Macunaíma que o ajudou a reconquistar a muiraquitã perdida
Sofará, Iriqui – mulheres de Jiguê que Macunaíma tinha casos. • Ci: deusa do mato – Tomada à força por Macunaíma, que se tornara Imperador do Mato. • Vei: Sol. Queria que Macunaíma fosse seu genro. • Piamã: Venceslau Pietro Petra. Gigante que ficou com a muiraquitã. Comedor de pessoas