1 / 27

3. Argumentação e Filosofia

3. Argumentação e Filosofia. 3.1. Filosofia, retórica e democracia. Meados do século V a. C. Atenas começava a instituir a ordem democrática, abrindo a vida política à participação dos cidadãos.

kaloni
Download Presentation

3. Argumentação e Filosofia

An Image/Link below is provided (as is) to download presentation Download Policy: Content on the Website is provided to you AS IS for your information and personal use and may not be sold / licensed / shared on other websites without getting consent from its author. Content is provided to you AS IS for your information and personal use only. Download presentation by click this link. While downloading, if for some reason you are not able to download a presentation, the publisher may have deleted the file from their server. During download, if you can't get a presentation, the file might be deleted by the publisher.

E N D

Presentation Transcript


  1. 3. Argumentação e Filosofia

  2. 3.1. Filosofia, retórica e democracia

  3. Meados do século V a. C. Atenas começava a instituir a ordem democrática, abrindo a vida política à participação dos cidadãos. A investigação racional sobre a physis (a natureza) é secundarizada pela preocupação de preparar os jovens para a vida pública. Necessidade de uma formação específica para a conquista do poder, uma formação que conferisse capacidade de discursar nas assembleias de cidadãos, para persuadir e convencer o auditório. É neste contexto que surgem os sofistas.

  4. Sofistas Professores itinerantes que se dedicavam ao ensino dos jovens cidadãos mediante uma remuneração. Alguns sofistas: Protágoras, Górgias e Hípias. • Dominavam a arte de persuadir pela palavra. • Eram dotados de habilidade linguística e de estilo eloquente. • Surpreendiam pela sua vasta erudição e pelos seus discursos expressivos. • Centravam o seu ensino mais na forma do que no conteúdo. • Ensinavam a técnica do discurso, a arte de fazer triunfar um determinado discurso.

  5. Sócrates, Platão e seus discípulos Não podiam aceitar o relativismo da verdade, a valorização da retórica em detrimento da sabedoria. Isto, aliado ao facto de eles se fazerem pagar pelos seus serviços, originou uma visão depreciativa dos sofistas. . Para os sofistas, o discurso não pretende ser verdadeiro, mas eficaz, convincente. A finalidade da retórica não é encontrar o verdadeiro, mas dominar através da palavra. Uma boa argumentação – uma retórica digna – é aquela que serve o filósofo na busca da verdade.

  6. Verdade e Bem Ideias que convêm à filosofia. Quem procura o conhecimento da verdade (o filósofo) só pode praticar o bem. A filosofia socrático-platónica pretende inviabilizar a prática de uma retórica baseada em opiniões ou meras aparências. Partindo de um método assente no diálogo e na eliminação do que é contraditório, Sócrates e Platão inauguram o fosso que durante séculos separará a filosofia da retórica.

  7. Diálogo Górgias (Platão) Aí, Sócrates, para além de tecer as habituais críticas aos sofistas, define aí a retórica como uma atividade empírica, uma prática que serve de simulacro à política. Discurso como instrumento de poder. Discurso como instrumento de verdade. • Próprio dos sofistas. • Próprio dos filósofos.

  8. Diferença entre os sofistas e os filósofos, na perspetiva de Sócrates/Platão: SOFISTA FILÓSOFO Professor itinerante que se faz pagar pelos seus serviços. Amante, desinteressado, do saber. Centrado na forma do discurso. Centrado no conteúdo do discurso. Procura o discurso verdadeiro (sabedoria). Procura o discurso eficaz (retórica). Entende a verdade à medida das circunstâncias individuais. Entende a verdade como existente em si. Baseia o discurso em opiniões e aparências. Baseia o discurso na Verdade e no Bem. Ensina uma técnica. Procura a verdade absoluta.

  9. Na génese da democracia… … evidenciou-se a retórica. O poder do demos (povo) é coetâneo do poder da palavra. A centralidade conferida à palavra enquanto instrumento para convencer é o elemento mais importante da rutura democrática. A igualdade perante a lei e o livre uso da palavra fomentaram a cidadania. Mas também existe o mau uso da palavra, traduzido na demagogia e na manipulação – violência simbólica.

  10. 3.2. Persuasão e manipulação ou os • dois usos da retórica

  11. Aristóteles A retórica assume um estatuto diferente daquele que lhe atribuíram Sócrates e Platão. A retórica torna-se um saber entre outros, uma disciplina que não faz uso do mesmo tipo de provas que as ciências teóricas. Ocupa-se do verosímil. DOMÍNIO DA MORAL DOMÍNIO DA RETÓRICA DOMÍNIO DA VERDADE Distinguindo estes três domínios, Aristóteles pôde libertar a retórica da má reputação que a ligava à sofística. Com efeito, pode fazer-se um bom ou um mau uso da retórica; não é ela que é moral ou imoral, mas quem a utiliza e a forma como a utiliza.

  12. Discurso argumentativo Tem por objetivo persuadir o auditório a adotar as teses do orador (persuadir vem do latim – persuadere – e significa levar alguém a aceitar ou a optar por determinada ação ou posição). Argumentação e persuasão são conceitos originariamente contíguos. Com o desenvolvimento das técnicas persuasivas nos domínios jornalístico, publicitário e propagandístico, o conceito de «persuasão» adquire por vezes uma conotação negativa, que o aproxima do de «manipulação» e o associa aos excessos estilísticos da retórica sofística. Manipularconsiste em fazer alguém aceitar passivamente algo, sem avaliar adequadamente aquilo que está a aceitar. A argumentação/persuasão, pelo contrário, pressupõe atos de comunicação livres entre emissor e recetor, devendo permitir a posição e não a imposição.

  13. Dois usos da retórica Manipulação Persuasão Prática abusiva do discurso – abusiva na medida em que obriga o recetor a aderir a uma dada mensagem (que um dado emissor deseja impor). Prática do discurso que tem como finalidade levar alguém a mudar de ideias, mas pressupondo a livre adesão do auditório à tese que o orador pretende que seja acolhida por ele.

  14. Manipulação Manipulação dos afetos Manipulação cognitiva Centrada no apelo à emoção e aos sentimentos do recetor. Opera por falsificação do conteúdo do discurso.

  15. Manipulação dos afetos Sedução pela pessoa ou sedução demagógica Recurso a comportamentos e atitudes (falsas) que possam impressionar o público. O discurso demagógico típico é aquele que altera a mensagem consoante o público. Sedução pelo estilo Recurso às figuras de estilo para fugir ao conteúdo do discurso e impressionar pela forma. O “estilo da clareza” (ser claro, transparente e conciso) pode levar a desvirtuar a informação. Esteticização da mensagem Recurso à arte (figuras artísticas) por forma a seduzir. É frequente, na publicidade, o recurso a figuras públicas, artistas de cinema, de televisão, etc. Recurso ao medo Cria-se uma situação de medo pelo uso abusivo da autoridade, que acaba por funcionar como condicionadora. A manipulação das crianças é, a este propósito, um exemplo característico. Repetição da mensagem Repetem-se palavras, ideias, sons ou imagens por forma a que aquilo que inicialmente parecia inaceitável deixe de o parecer. Certos anúncios publicitários aparecem imensas vezes numa só noite. Hipnose e sincronização Estes processos têm por base as leis do condicionamento clássico, estudos psicanalíticos e, sobretudo, a programação neurolinguística. O auditório é como que hipnotizado pela sincronização de gestos, tom e ritmo de voz, etc. Recurso ao tato O contacto físico ou a sua sugestão podem ser utilizados com intuito de aumentar a adesão à mensagem. Em tempo de campanha eleitoral, é usual o aperto de mão aos eleitores e os beijinhos às crianças.

  16. Manipulação cognitiva Mentir aos soldados, em tempo de guerra, dizendo que não se registaram baixas na batalha anterior. Enquadramento mentiroso Mente-se acerca dos factos ou apresentam-se os factos de uma forma que induz à distorção dos mesmos, tomando-se o falso por verdadeiro ou vice-versa. Reenquadramento abusivo Orientam-se os factos de maneira a deformar a realidade, induzindo à ilusão. Certo anúncio publicitário diz-nos que certa lixívia «lava mais branco», mas mais branco do que o quê? Enquadramento coercivo Dissimulam-se alguns factos, cria-se uma situação de aceitação de uma primeira mensagem, que não é mais do que uma armadilha para impor ao recetor a real mensagem à qual se pretende a adesão. Algumas empresas promovem os produtos atribuindo prémios a potenciais clientes. Telefonam-lhes, indicam-lhes que devem levantar o prémio na loja e só aí apresentam as contrapartidas do negócio. Amálgama Mistura da mensagem com elementos exteriores, sugerindo-se um nexo entre ambos (sem que se apresente qualquer fundamento). Na campanha publicitária da Marlboro (final dos anos 50), o seu produto aparece associado a figurantes homens de aspeto viril e ocupados em trabalhos duros (marinheiros, vaqueiros). Legenda utilizada: “sabor masculino”.

  17. Os dois usos da retórica: qual a fronteira que os separa? Manipulação Persuasão Não são raras as vezes em que nos apercebemos de que estamos a ser seduzidos e que consentimos a manipulação. A manipulação constitui um perigo real quando a encontramos associada, nas sociedades modernas mediáticas, à propaganda política, às ideologias e à publicidade. Ao impor dada palavra, ao invés de permitir a sua livre circulação, a manipulação põe em causa os princípios da democracia. Ao negar a liberdade de pensamento e a sua expressão, a manipulação faz do indivíduo mero peão de um jogo manipulador, comprometendo asua autonomia e a sua identidade.

  18. Retórica Retórica branca Retórica negra Procura pôr a descoberto os procedimentos da retórica negra, sendo, por isso, crítica, lúcida e consciente das diferentes formas e dos diferentes problemas que envolvem a comunicação. Corresponde a um uso ilegítimo do discurso, porque visa enganar, iludir e manipular o interlocutor.

  19. Bom uso da retórica (retórica branca) Ajuda a encontrar as armas para lutar contra a manipulação. Trata-se de aprender a argumentar e, ao mesmo tempo, de ser capaz de desmascarar a manipulação. Adquirir competência retórico-argumentativa para se poder prevenir os maus usos da retórica. A questão do mau uso ou abuso da retórica exige uma reflexão crítica sobre os efeitos que ela produz, remetendo para o domínio da ética. Necessidade de estabelecer limites à persuasão Imposição de regras que impeçam a manipulação A regra, ao estabelecer limites à persuasão, liberta o discurso da manipulação.

  20. Liberdade de expressão A possibilidade de manipulaçãopela palavra resulta do facto denão se proteger devidamente aliberdade de receção. A liberdade de palavra e dodiscurso tem de ser vista nassuas três componentes e nacomplexidade que delasresulta. Liberdade do discurso Liberdade de receção Liberdade de mediação A extensão da liberdade de palavra, não somente à liberdade de expressão, mas igualmente à de mediação e, sobretudo, à de receção, corresponderia a uma fase superior da democracia e à expansão da liberdade.

  21. 3.3. Argumentação, verdade e ser

  22. Argumentação Éfundamental para a atividade filosófica, que procura uma visão integrada do real, uma compreensão da realidade no seu todo, do ser. A atividade filosófica é uma busca da verdade. Mas a busca da verdade não é exclusiva da filosofia. Também as várias ciências procuram o conhecimento da realidade, apesar de o fazerem de forma setorial. Há diferentes discursos sobre a realidade: filosófico científico político religioso artístico A cada um deles corresponde uma interpretação do ser ou da realidade que pretende ser verdadeira.

  23. Os discursos são sempre contextualizados Os contextos são diversos, alterando-se ao longo dos tempos. No domínio das ciências ditas «exatas» propõe-se, hoje, uma conceção de verdade completamente diferente daquela que vigorou durante séculos. As teorias e leis científicas são consideradas como bons modelos explicativos do real, mas provisórios. Um dos exemplos mais significativos do nosso tempo foi a descoberta do bosão de Higgs, cuja existência estava há muito prevista mas que, até dezembro de 2011, não tinha ainda sido demonstrada.

  24. FILOSOFIA Sempre se evidenciou como a procura da verdade a partir de problemas ou questões radicais. Adiversidade de filosofias e de sistemas filosóficos parece realçar uma fraqueza da filosofia. Mais do que a ciência e as várias teorias científicas, a filosofia não é capaz, aparentemente, de reunir um consenso geral. As teorias filosóficas estiveram (e estão), muitas vezes, dependentes das suas perguntas e respostas tradicionais.

  25. Filosofia socrático-platónica Exigia encontrar a Verdade – única, absoluta e universal, capaz de dizer uma realidade absoluta, perfeita e imutável. Criticava fortemente a retórica (sofística), por esta dar espaço ao subjetivismo e ao relativismo.   Mas poderá a filosofia desvelar a verdade única e imutável? Será a realidade una, absoluta? Como explicar a diversidade dos sistemas filosóficos?

  26. Diversidade dos discursos Reflete a riqueza de perspetivas e leituras que podemos fazer da realidade. Atualmente, a razão não é mais entendida como a faculdade humana detentora (a priori) de conhecimentos definitivos e unívocos, mas como faculdade humana plural, portadora (a posteriori) de conhecimentos plurívocos e o mais próximos possível da verdade. Nova conceção da racionalidade Racionalidade argumentativa Reconhecimento do pluralismo característico da racionalidade: pode dizer-se e conhecer-se o real de diferentes maneiras.

  27. Filósofo atual Afirmação de uma (ou várias) verdade(s) possível(eis), aliada(s) a uma atitude crítica, de abertura e questionamento face ao real. Para a filosofia contemporânea, a busca da verdade não é mais incompatível com a retórica. Há mesmo quem afirme poder encontrar na retórica o método da filosofia. As velhas questões filosóficas do ser e da verdade são hoje colocadas na esfera da argumentação. A razão (argumentativa) descobre no discurso consensual a melhor verdade possível.

More Related