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No quintal de Seu Zeca, pouco antes do início do ensaio e mais tarde que a hora marcada para que este começasse, Seu Zeca falava a Seu Dola da necessidade de ensinar os de menor idade na banda a tocar os instrumentos de maior complexidade, já que “os velhos não tão tendo compromisso”.
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No quintal de Seu Zeca, pouco antes do início do ensaio e mais tarde que a hora marcada para que este começasse, Seu Zeca falava a Seu Dola da necessidade de ensinar os de menor idade na banda a tocar os instrumentos de maior complexidade, já que “os velhos não tão tendo compromisso”. Seu Zeca ainda proferiu alguns dizeres a respeito da aprendizagem neste momento: “Na vida inteira estamos aprendendo e morremos sem saber de muita coisa. Um professor nunca pára de estudar e aprender. Forma, faz doutorado, mas não pára de aprender.”
O ensaio iniciou as 14 horas e 40 minutos, com mais de meia hora de atraso. Como havia um número bastante reduzido de pessoas, os integrantes mais novos cobraram de Seu Dola que conversasse com as “pessoas irresponsáveis” que não estavam comparecendo no ensaio. Neste dia não havia nenhuma bandeireira, a Rainha Congo, João Décimo e mais uma série de pessoas também não estiveram presentes. O ensaio iniciou cantando a música: “Dá licença, dá licença, dá licença...”. Em seguida rezou-se um Pai Nosso e uma Ave Maria “por intenção de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora da Guia, São Benetido, Santa Efigênia, que é nossa guia, Nossa da Penha, Jesus e Ave Maria.”
Após este momento Seu Dola contou-me que ele e Seu Zeca foram convidados a ir até o Colégio Anglo para falar um pouco sobre o Congado. Eles disseram ter ficado muito satisfeitos com atenção dada pelas crianças que tinham entre sete e oito anos, e que se surpreenderam com a educação e as perguntas que fizeram. “As vezes nem dançador nosso que não sabe sobre alguma coisa pergunta as coisas pra gente daquele jeito.” Após a reza do Pai Nosso, a banda repetiu a primeira música e todos beijaram a bandeira, que neste dia ficou pendurada no muro por não ter estado presente nenhuma bandeireira. Cantaram em seguida: ”Senhora do Rosário, esta banda é sua, oh me dá licença pra eu sair na rua. Se pintou ensaio, esta banda é sua...”
Seu Dola então proferiu alguns dizeres como faz comumente para toda a banda que respondia a uma só voz: “(Seu Dola): Tão todos aí? (Banda) Tâmo sim senhô. (Seu Dola): Tão cansado? (Banda) Tâmo sim sinhô. (Seu Dola): Tão pertubado? (Banda): Tâmo sim sinhô. (Seu Dola): Mais pertubado tô eu. Então vâmo ficar com nosso zóio regalado, pra nós ficar bem afinado pra outubro nós tirar Rei e Rainha, Príncipe e Princesa do trono, viu? (Banda): Sim sinhô nosso Rei.” Neste momento chegou o tocador de cuíca, dele foi solicitado que para entrar na banda fosse beijar a bandeira.
Seu Dola começou a cantar uma música sem o acompanhamento da banda que falava sobre os compromissos com a irmandade e com Nossa Senhora do Rosário: “Ele desperezou, ele vai voltar, ele desprezou, ele vai voltar...” “Se vai sair um dia avisa por caridade, o seu nome tá escrito no livro da irmandade.” A impressão é que ele estava rememorando uma música que o restante da banda ainda não conhecia, mas pode ser que ele inventasse a música naquele momento.
A banda começou a cantar outra música sob a orientação de Seu Dola: “Para ver, para ver, para ver a mãe de Deus, nós viemos de tão longe para ver a mãe de Deus.” Seu Dola ensinou uma nova música ao grupo; ele cantaria as partes de louvor à bandeira, à Nossa Senhora do Rosário e as hierarquias da banda (Rei do meio, Violeiro, Reco-reco, etc.) e o grupo cantaria o refrão: “Ora viva, ora viva!” Seu Zeca disse nesta hora que há uma porção de músicas que não são do conhecimento de todos e que tem de ser aproveitado este momento de ensaio para entrar em contato com estas cantorias. Antes de toda a banda começar a “nova” cantoria, alguém demandou de Seu Dola que ensinasse como se dançava esta música, ele esboçou alguns passos e o grupo o seguiu. Depois tocaram-na, Seu Dola cantou três vezes os mesmos dizeres: “Oh, Rainha do Congo, ora viva!” e o grupo repetiu no refrão: “Ora viva, ora viva!”
Foi cantada outra música: “A Senhora do Rosário mãe da consolação, merece mais respeito e mais consideração.” Seu Dola cantou esta música isoladamente, a banda não o acompanhou, a música que começou logo em seguida não possuía o mesmo sentido: “Que Santa é essa, que tá na bandeira? É virgem do Rosário,a mãe verdadeira.” Neste momento Seu João de Deus chegou e para entrar na banda repetiu o mesmo ritual de beijar a bandeira.
Como em todos os ensaios, havia mulheres assistindo ao evento.