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Coesão Social através do Fortalecimento das Cadeias Produtivas Troca , Oportunismo Solidariedade e Clientela. Ou : o que Capital Social tem a ver com competitividade e sustentabilidade das Cadeias Produtivas ? Carlos Paiva – 16.11.11 . O E nsaio sobre a Dádiva.
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Coesão Social através do Fortalecimento das Cadeias ProdutivasTroca, OportunismoSolidariedade e Clientela Ou: o que Capital Social tem a ver com competitividade e sustentabilidade das Cadeias Produtivas? Carlos Paiva – 16.11.11
O Ensaiosobre a Dádiva • Todossabemos o que é a “dádiva”: é darsem pretender receberqualquercoisaemtroca! • Será? …. Marcel Maussnosexplicouquenão. Que a dádiva é darsemexigirretribuiçãoimediata. É interporumaespera ritual, emque o querecebepodenãoretribuir. • Mas a nãoretribuição é mal vista, e sofreretaliação. • Chegoualguém de fora, um colega novo vempara a nossacidade. Oferecemos um jantar. Depoisoutro. Depoisoutro. Depois…. nada. A não ser que o homenageado – quejá tem casa - nosrecebatambém.
O Senhor e o Servo • Hegel tambémnosensinou a ver a trocaportrás de relaçõesqueparecem ser de “mãoúnica”, analisando a dialética entre o senhor e o servo; • Na aparência, um manda e outroobedece. Mas o senhordepende do servo para ser senhor. A sobrevivência do servo é a condiçãodapreservaçãodacondiçãoservil e, portanto, dacondição de ser do “senhor”. • O senhor se torna, assim, escravo dos seus servos e darelaçãoservil. E é tãomaisescravo, quantomenoscontratual for a relaçãoservil; quantomaisestarelação se aproximardaescravidãopura, marcadapelocaráter de excepcionalidade, por ser nãocontratual, não universal, nãoreplicável.
A Troca é universal, mashátrocas e trocas • A dádiva é umatroca de “quaseequivalentes” com intervaloindefinidoparasuaconclusão. Mas o intervalonão é infinito. Entre pais e filhos, o intervalo é umageração. • Atémesmo a relação de escravidãoenvolvetroca. O escravoquenãorecebe o que é seupor “direito” – alimento, abrigo, proteção – perece. E, com ele, perece o senhor. Pois um senhorsemescravosnão é senhor. Ou o senhor “retribuiemtroca”, oudeixa de ser senhor. • Masexisteumadiferença crucial entre as trocaspré-mercantis e as mercantis. Estaúltima é transparente e pressupõealgumplano de equivalênciaem valor: o bemouserviçoalienadorecebe um valor no mercado e só é entregueemtroca do seu valor emdinheiro.
Marx e o mundodamercadoria • Marx saúda o capitalismocomo o sistemaemque as trocasinaparentes se tornamóbvias. No mundoemquetudoviramercadoria, falsasdádivas, falsasobrigaçõesmorais, perdemosvéus e se mostram, o querealmentesão: purointeresse! • A regraabsolutamente universal do mundomercantil é: sódou, se receberalgoemtroca de valor similar. • Mas Marx lembraque o fatodatrocaperderosvéus e se tornar universal nãosignificaquetoda a trocaseja de EQUIVALÊNCIA. • Hátrocas – em especial a troca entre capital e trabalho – que é cronicamenteinequivalente: um dámaisque o outro. E o querecebemenos do quedá, tende a se revoltar.
Coasee oscustosdatroca • Coasechama a atençãopara um outrolado do problema. Parecequase um anti-Marx. Para Coase, mesmo no capitalismomaisconsolidado, nemtudo é “troca”. • Subsistemsistemas de purahierarquia, ondeatividadessãorealizadas e produtossãoentreguessemqualquercontraprestaçãoemdinheiro. • Na verdade, esta é a essênciada FIRMA CAPITALISTA. Toda e qualquer firma, toda e qualquerempresa, é um sistemaemque as “trocasinternas” se dãosemreciprocidade, sempagamentoemdinheiro. É um fluxoqueparece ser de mão-única. Porquê?
Oportunismo e Custos de Transação • O ponto de partida de Coase é o reconhecimento de quenenhumatroca se esgota no momentodaentrega do produto e do dinheiro. A qualidade do quefoiadquiridosóseráconhecido com o uso, queleva tempo. Comprar “gatoporlebre” é um risco (e um custo) muitogrande. • Além disso, quando se apelapara o mercado, hásempre o risco de nãoconseguirobter um produtoouserviço “quandomais se precisa” dele. • A estruturação de “transaçõeshierárquicas”, baseadasemcontratos de longoprazo (assalariamento, financiamentoparainvestimentos, aquisiçãodefinitiva de equipamentosprodutivos) é o principal instrumentoparagarantirquevamosconseguir “lebrequando se precisa de lebre”.
Oportunismo, Hierarquia e Ineficiência • As conclusõesque se extraem de Coasesãomuitointeressante: • 1) quantomaisgeneralizado o oportunismo, tantomaior a necessidade de hierarquia. As firmastendem a ser grandes e altamenteintegradas no plano vertical. Num mundo de oportunistas, só a grande firma verticalmenteintegrada (fordista) sobrevive. • 2) Mas se a funçãodahierarquia é deprimir o risco, seucusto é a perda de flexibilidade e a emergência e estruturalização de ociosidades (máquinasparadas, trabalhadorescontratadossemtarefa a cumprir) “eventuais” e o arrefecimento do potencialinovativo dos agentesprodutivos (o trabalhadorobedeordens e nãoprecisa “conquistar” seuclientenalinha de produção).
Oportunismo e Ineficiêncianumamentebrilhante • Poucodepois do trabalho seminal de Coase, a relação entre oportunismo e ineficiênciafoidemonstradamatematicamentepor John Nash e seusdiscípulosatravés do famosoDilema do Prisioneiro. • Doissuspeitos de latrocíniopodem se safardapenaporassassinato (masnão de roubo) porinsuficiência de provas. A políciapropõedelaçãopremiada (excetoroubo). • Tal comoficoudemonstrado, a únicadecisãoracional (o únicoequilíbrio de Nash) é a delaçãorecíproca. O oportunismo – a tentativa de levarvantagem, a despeito do outro - levaaopior dos mundos.
O dilema do prisioneiro no cotidiano • Alguémpoderiapensarque a tendência à delação é boa para a sociedade. Massó é no caso particular narradoabaixo. Este jogo, contudo, é universal. Estamosdentro dele o tempo todo. E, via de regra, eleconduzaomesmoresultado: ficamostodospioraosermos “racionais”. • Istoficaclaroquandopensamosnaopçãomaisracional de investir (ounão) ematividadesquebeneficiam a todos (como P&D sempatentes). É sempremelhordeixarosoutrosinvestiremem P&D guardarseusprópriosrecursosparainvestirnaprodução e comercializaçãodainovação.
Hierarquia e Ineficiência • É semprepossível “resolver” o problema do oportunismopelahierarquia. A Máfiamata o delator. O governocria um imposto e todos “colaboram” para o Laboratóriocoletivo. • Mas, comoCoasenoslembra, a hierarquiageraineficiências. E, como Marx (e North) noslembra(m), elageradesigualdades e rancores. O queaprofunda a necessidade de hierarquia. Aprofundandosuasineficiências. • Só as sociedadesqueconseguiramcontrolar o oportunismo com um mínimo de imposiçãoexterna (Estado) e um máximo de circunscrição “interna” (via internalização de umadeterminadaideologiadasolidariedade e de honradez: confucionismo, judaísmo, luteranismo, calvinismo, etc.) prosperaram no longoprazo. • E quando as práticasoportunistaspassam a se imporsobre a ideologiadasolidariedadeemsociedadesque, atéentão, eram (parcialmente) regidaspelaúltima, a economiaperdedinamismo.
A solidariedade é “ensinável”? • Tudo é ensinável. E tudo o que é ensinável, só o é por ser inóbvio e, portanto, difícil de aprender e entender. • Mashácircunstânciasquefacilitam a aprendizagem de conteúdosparticulares. As vantagensdasolidariedadesãomaisevidentesemcadeiasonde • 1) “colocar-se no lugar do outro” é um exercício de “memória”; onde o dono do restaurante de hojefoi o auxiliar de cozinha de ontem. • 2) o ganho de reputaçãopara a “origem” faz com que o sucesso de um transbordepositivamentesobreosdemaisagentesdacadeia; • 3) ondeexistam INSTITUIÇÕES responsáveispelapromoção do diálogo e pelapunição “socioeconômica” dos agentesqueapegam a práticasoportunistas.
A solidariedade é “ensinável”? • Emeconomês, diríamosque as vantagensdasolidariedadesãomaisfacilmenteperceptíveisemcadeiasonde o ingresso é livre, onde as economiasexternassãomaisimportantesque as internaspara a competitividade e quesãocaracterizadasporumarica e complexainstitucionalidadenão-governamental. • Vitivinicultura, gastronomia (e todososserviços de turismo) processamento do leitesãocadeias de livreentrada, assentadasemexternalidades e caracterizadasporsistemascomplexos e ricos de governançainterna (Associações, Cooperativas, Sindicatos, etc.). • O elementomaiscomplexo é a externalidade. Um exemploajuda a compreensão: a construção de um novo parquetemáticoemGramadonãodeprime a rentabilidade das atraçõesjáexistentes, poispromove a vinda de maisturistaspara o território. Tal como num shopping center, onde a abertura de umalivrariaou bar podeajudar as lojas de roupa, umavezqueosmaridosganhamopções de lazerdurante o “ritual incompreensível” (ConstanzaPascolato).
A solidariedade é “ensinável”? • Masháresistênciasemtodas as partes a “novidadismos”. Especialmentequandoeleatenta contra o senso-comum de quetodo o jogo é de soma zero (se alguémganha, é porquepassou a perna no outro! Nãoexistemjogosganha-ganha!) • E quanto o novidadismoenvolve defender a mobilidade social, o aprofundamento do livreingresso, a alteridade no poder, entãohásemprealgum “coronel” interessadoemdemonstrarque a idéia é “muitobonita no papel, mastotalmenteutópica!” • Felizmente, contamos com aliados no coraçãomesmo do discursoconservador: o discursoda “Administração de Empresas”, que, nostermos de Coase, é o discursoda “Administração das IneficiênciasdaHierarquia”.
A Gestãovoltadapara o Cliente • Nada mais é do que o reconhecimento de que a hierarquia mascara ineficiências. • Hámuitomaisportrás do jargão “o cliente tem semprerazão” do queusualmente se pensa. Emprimeirolugar, está a lembrança de quequem define o que é “qualidade” é o comprador e quenenhummonopólio é estável. Quemnãoouveosreclamos e demandas do cliente comprador estáfadado a perderespaço. • Mastambémháumalembrança crucial: e que o fato do “próximo” nalinha de produção no interior da firma (do espaçodahierarquia) nãoterque “comprar” nãosignificaqueelenãodependadaqualidade do quetuoferecesparaagregar valor para a firma. • E isto se desdobranamaior das lições: • PARA ALÉM DE TODAS AS DIFERENÇAS HIERÁRQUICAS E DE FUNÇÃO, SOMOS CLIENTES FORNECEDORES E CONCORRENTES UNS DOS OUTROS.
Fornecedores, clientes e concorrentes • Emsetores e cadeiasonde o ingresso de novosempresários é obstaculizadoporescalasmínimaselevadas e barreirastecnológicas (alicerçadasounãoempatentes) a percepção de cadaagentecomo, simultaneamente, “fornecedor, cliente e concorrente” é dificultadapeloespírito de “classe”. Os trabalhadores se vêemcomoumaunidade “contra” o empresário-capitalista (e vice-versa). • Nossetores de livreingresso, o empregado de hojepode ser o “patrão” amanhã. Na verdade, uma parte (nãodesprezível!) daremuneração do empregadonestascadeias é a expectativa de ocuparoutrolugar no futuro. • E estaexpectativa – se tiver bases sólidas – jáconduz a uma “perspectivação” distinta, onde o “colocar-se no lugar do outro” é quase trivial
Fornecedores, clientes e concorrentes • Analisarumacadeia a partir das redes de relações entre fornecedores, clientes e concorrentes, é colocar-se naperspectivadaanáliseestruturalista, amplamentedifundidapor Porter. • Nãonosinteressaingressarnapolêmica entre estruturalistas e RBV (de Penrose a Prahalad). Ambasestãocorretas. Apenas se aplicam a níveisdistintos. • No momento, nosinteressaresgatar o elementoestruturaldacompetitividade e darentabilidade. E, destaperspectiva, é precisoavaliaroscustosimpostospelosfornecedores, o poder dos clientes de limitar o preço final e a pressão dos concorrentesparaoferecer a preçosmaisbaixos do queos “ideais” paracadaelo.
Fornecedores, clientes e concorrentes • Aolongo de toda e qualquercadeialonga, háconflitosdistributivos entre as partes. O ganho de um (do fornecedor, porexemplo) é o custo do cliente. E o concorrentequeacaba de ingressarlimita a rentabilidade do jáestabelecido. • Entender a forma comoesteconflito (inerente e insuperável) é percebido e administradopelosagentes no interior das distintascadeiasprodutivas é fundamental paraqueentendamososmecanismos de desenvolvimento e de ESTRANGULAMENTO dasolidariedade no interior damesma. • Na verdade, a própriapercepçãodauniversalidadedestacondição “trial” é parte importantedaconsolidação de umainstitucionalidadeapta a administraradequadamenteosconflitosdistributivos no interior dacadeia.
Fornecedores, clientes e concorrentes • O produtor rural é fornecedordavinícola, daindústria de leite e (com ousemmediações) do restaurante. A qualidade dos insumosqueeleoferece é crucial nadeterminaçãodaqualidade do produto final. O que o impede de oferecerinsumos “melhores a melhorespreços”? São osseusfornecedores de insumos, seusconcorrentesouseusclientesquelimitamsuacompetitividade e rentabilidade de longoprazo? • A firma vinícola e de laticínios é fornecedora do restaurante. A carrocinha de cachorro-quente é concorrente. E o consumidor final é o seucliente. • E também o trabalhadorassalariado no interior dacadeiaestá no interior destarelação “trial”. Quem o contratou – quecompra o serviçoqueelevende – é seucliente. Quemforneceuosinsumospara a realização de seutrabalho – a escola universal outécnica – é seufornecedor. E osdemaistrabalhadores do setor, sãoseusconcorrentes. • Se suaremuneração é baixa, quem é responsável: seucliente, seusconcorrentesouseusfornecedores? É istoque o nossoquestionáriobuscaidentificar. E, assim, buscamosidentificarosgargalos e osdeterminantes dos problemas de solidariedadeemcadacadeia.