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Eucaristia: História e Teologia. Centro Loyola de Fé e Cultura. Evolução pós-bíblica. No início do segundo século, encontramos uma série de testemunhos na qual a ação memorial do Senhor é qualificada com o termo “Eucaristia ”; Alguns aspectos fundamentais:
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Eucaristia: História e Teologia Centro Loyola de Fé e Cultura
Evolução pós-bíblica • No início do segundo século, encontramos uma série de testemunhos na qual a ação memorial do Senhor é qualificada com o termo “Eucaristia”; • Alguns aspectos fundamentais: • a) Louvor anamnético(Didaqué):dirigido a Deus, em reconhecimento pela criação e salvação; • b) Sacrifício(Justino, Irineu): atribui a noção sacrifical aos dons eucarísticos (pão e vinho), nós apresentamos o nosso sacrifício a Deus agradecendo e consagrando aquilo que Ele mesmo criou (pão e vinho); • c) Oração de bênção (Hipólito): o bispo deve expressar a sua ação de graças sobre os dons do pão e do vinho (consagrar),após esta bênção, os elementos não são mais alimento comum, mas espiritual.
Evolução pós-bíblica • d) Presença real (Inácio de Antioquiae Irineu): o dom eucarístico assegura ao fiel uma união permanente com Cristo (“remédio de imortalidade”), trata-se, portanto, de um processo de identificação com Cristo. Para Irineu, o Lógosé a força operante de transformação da eucaristia, tal presença é tão real que o corpo humano entra no raio da salvação porque acolheu o Corpo e o Sangue de Cristo, porque é nutrido pela carne e sangue do Senhor. Fim da eucaristia é comunicar o Lógosde tornar-nos eternamente participantes de sua vida. Esses dois aspectos, depois, serão separados pelas escolas antioquena e alexandrina; • e) Liturgia Cristã (Justino): ela é a oração autêntica e correta ação de graças, memória da criação, paixão de Jesus e da redenção;
Evolução pós-bíblica • A escola de Alexandria: para Clemente de Alexandria (depois de 215) e Orígenes (252/54) a assunção do Lógos como alimento corporal contrapõe-se a assunção de tipo espiritual, sendo por eles relativizada. A verdadeira comunhão com o Lógos estabelece-se pelo conhecimento da verdade,comungar enquanto tal não serve para nada e o não comungar não produz nenhum dano. Após Orígenes, a escola buscou balancear esta posição, praticando a comunhão espiritual juntamente com aquela oral, mas mantendo-se fiel a máxima de que a eucaristia comunica o Lógos.
Evolução pós-bíblica • A escola de Antioquia: identifica os eventos passados com a sagrada celebração e as ofertas com o corpo sacrificado e o sangue derramado do Senhor. João Crisóstomo (Doutor da Eucaristia) destaca a identidade entre o corpo histórico e o corpo sacramental de Cristo, sustentando que o corpo de Cristo está presente na eucaristia não para ser tocado, mas para ser comido. Esta simbiose entre a impostação simbólico-representativa e a realista-presencial do sacramento, após a patrística irá sempre mais desaparecer.
A presença real nos Latinos • A concepção está mais centrada nas ofertas, surge o conceito de sacramento com sua carga “mais físico-jurídica”. Estão interessados, sobretudo, na presença de Cristo nas ofertas. Nesse contexto, estão as reflexões de Tertuliano, Cipriano e Ambrósio que na idade média é considerado a autoridade patrística sobre a eucaristia; • Ambrósio: nos dois escritos principais De sacramentis e o De mysteriis, sustenta que o corpo e o sangue de Cristo está presente, de modo meramente subjetivo na fé daquele que o recebe, mas objetivamente no sinal sacramental. Aprofunda expressamente o conceito de consagração dizendo que o que assegura a presença não é a epiclese do Lógos, mas a palavra de Cristo repetida. As ofertas não só assumiram uma outra função, mas tornaram-se outras, ainda que não seja possível perceber isso externamente, mas somente com os olhos da fé.
A presença real nos Latinos • O sentido da eucaristia é duplo: • a) sacrifício cujo conteúdo é a recordação de Jesus e de sua morte; • b) perdão dos pecados (plural), remédio contra os pecados que continuamos a praticar; • As ofertas sacramentais são o corpo e o sangue de Cristo. Princípio causativo é a palavra de Cristo que produz uma mudança (consecratio, mutatio) do pão e do vinho em corpo e sangue de Cristo; • A ele interessa o fato da mudança e não o processo de transformação; • O aspecto exterior, visível do sacramento tem uma função alegórica, simbólica: está a serviço da veritassacramenti.
A Escolástica • As diferenças entre a patrística latina e a grega tornam-se plenamente visíveis na área franco-germânica. O que interessa é saber se na eucaristia Cristo está presente verdadeiramente ou somente de maneira simbólica; • Segundo a ontologia franco-germânica ou algo está imediatamente presente ou não existe. Tal ontologia terá repercussões sobre a concepção eucarística do Ocidente e sobre as relativas práticas devocionais; • A teologia medieval concentrar-se-á sobre o significado da presença real em que modo Jesus torna-se presente, deixando inexplorável diversos outros aspectos da realidade eucarística.
A Escolástica • Transubstanciação: surge da disputa eclesial e teológica com Berengário de Tours (ca. 1005-88) que sustentava uma concepção simbólico-espiritualista da eucaristia. A base da doutrina é a concepção aristotélica que distingue a substância, como entidade profunda, dos acidentes, como condições e qualidades mutáveis; • Lanfranco de Bec (ca. 1005-89) e Guitmondo de Aversa (+ antes de 1085) falam de uma mutação da substância e da permanência dos acidentes do pão e vinho. Inspirado nas reflexões de Guitmondo, o papa Gregório VII, apresenta um primeiro esboço da doutrina, em 1019 (DH 700); • Contra os albigenses, o Concílio de Latrão IV (1215) é ainda mais claro (DH 802) e faz com que a alta escolástica a receba de maneira universal. Exemplo de desenvolvimento: (Suma Teológica de Tomás de Aquino).
A Transubstanciação • A Doutrina da Transubstanciação é muito importante na Idade Média. Eis algumas conclusões: • a) A presença de Cristo deve ser entendida como uma realidade prévia à fé do indivíduo, no sentido de que ela não evoca o significado que o crente dá. Sendo assim, a fé do sujeito acolhe esta presença, mas não decorre da fé do cristão. • b) A riqueza desta doutrina está no fato de nos ajudar a superar a fratura existente entre o sacramentum tantum e a res sacramenti; • c) Nos ajuda a compreender o nexo causal, atestado pela Eucaristia, entre a fruição das ofertas (comer verdadeiramente o corpo do Senhor e beber verdadeiramente o sangue do Senhor) e o acolhimento da salvação. Trata-se de uma salvação acolhida e não produzida; • d) Destaca que o Cristo presente não tem espaço nem dimensões, permanecendo invisível. • 5) O copo de Cristo não pode sofrer influências, aquilo que se realiza sobre as espécies não diz respeito a Ele diretamente, sobretudo, a mastigação da espécie do pão não comporta fragmentação ou canibalismo.
A Transubstanciação • e) Explica a simultaneidade de Cristo enquanto sua presença é entendida não corporalmente, mas substancialmente; • f) A permanência de Cristo explica-se com o fato de que o próprio Deus transmuta os elementos na sua permanente essência; • g) É Cristo presente que é adorado, pois sua presença é substancial; • Algumas objeções clássicas: • A fé eucarística deverá sempre ser compreendida dentro de determinados conceitos filosóficos. Fora dos termos aristotélicos não é possível entender a doutrina da transubstanciação porque evoca os conceitos de substância e acidentes. • Uma fé assim articulada favorece uma visão eucarística de tipo “material”.
A Tarda Idade Média • O interesse teológico pela presença real e a transubstanciação geram uma piedade cristã mais empenhada na adoração da eucaristia, com introdução da festa de Corpus Christis e um desejo típico de contemplar a Hóstia consagrada. Aqui a eucaristia não é tanto o alimento que nos nutre ao longo do caminho, mas o céu que desce sobre a terra, a presença misteriosa do Senhor é venerada e adorada, contemplada (“troca dos sentidos”) na Hóstia; • Entende-se menos o rico simbolismo das figuras eucarísticas, até mesmo da Missa que agora passa a ser, portanto, uma boa obra. Por isso, ela deve ser multiplicada e individualizada, proliferando-se as missas votivas.
Controvérsia da Reforma • Os reformadores estão interessados na integridade da Ceia do Senhor e, consequentemente, na restauração do caráter da ceia, pois entendem que a “Santa Ceia” instituída por Cristo se opõe à “missa” romana. As controvérsias concentram-se em três temas: o sacrifício, a presença real e o cálice dos leigos; • Lutero defende uma verdadeira presença de Cristo, mas considera o conceito de transubstanciação um “sofisma sutil”, usando a fórmula: Jesus Cristo está presente “em, com e sob” os elementos do pão e do vinho; • Zwinglio põe o acento na transformação dos fiéis que Cristo realiza em virtude de sua natureza divina, com a qual está presente na Santa Ceia, o dito de Jesus deve ser entendido em senso figurado; • A retirada do cálice dos leigos é uma evidente falta contra a ordem de Cristo (Mt 26,27), uma defraudação do povo de Deus.
O Concílio de Trento • A forte reação às posições da Reforma se concentra, sobretudo, sob os pontos colocados em discussão pelos reformadores. • Defende o caráter sacrifical (DH 1751), a doutrina da presença real de todo o Cristo corporal (DH 1651-1652) e confirma a doutrina da concomitância (DH 1733), rejeitando a afirmação de que todos deveriam receber ambas as espécies (DH 1731). • Quanto à missa como sacrifício: coloca em evidência a unidade inseparável que intercorre entre o sacrifício da cruz e a celebração da missa, assumindo a explicação teológica de Caetano (DH 1743). Entendida como sacrifício, a missa é um ato sacramental de caráter redentor-propiciatório, de louvor, de ação de graças, de expiação pelos vivos e mortos (DH 1753).
O Concílio de Trento • Declara a categoria de transubstanciação como particularmente adequada a testemunhar o dogma crido pela fé da Igreja (DH 1642 e 1652); • Define também: a presença do totusChristus em cada uma das espécie e em cada parte delas (DH 1640-1641; 1653); • A duração extra usum e, portanto, o dever de conservar e adorar o Senhor Jesus na eucaristia fora da missa (DH 1643-1645; 1654; 1656-1657); • A assunção, não somente espiritual, mas sacramental de Cristo na comunhão (DH 1658); • A liceidade para o sacerdote de comungar sozinho (DH 1648-1649; 1660); • Define o direito da Igreja de praticar a communio sub uma, dada a presença concomitante do Christustotus em cada uma (DH 1639-1643; 1651; 1653; 1725-1734);
Época moderna • Resulta pouco caracterizada pela vida litúrgica e pelos desenvolvimentos teológicos do século XVII e XVIII; • O aspecto de “mesa” é desvalorizado dada a ênfase que os protestantes haviam dado. O mesmo vale para o sacerdócio dos fiéis e a participação da assembleia na ação celebrativa; • O que conhece grande desenvolvimento é a piedade e o culto eucarístico fora da missa. O tabernáculo adquire uma posição particularmente dominante na arquitetura das igrejas e no contexto da oração das comunidades. • Por causa do Jansenismo, verifica-se uma queda na frequência à comunhão eucarística. Somente quem se sente perfeitamente preparado pode comungar. Uma retomada importante acontecerá somente em 1905, com Pio X, que estabelece o escopo essencial da eucaristia e incentiva a comunhão cotidiana (DH 3375-3383).
A Renovação Litúrgica • A prática e a teologia eucarística atual caracteriza-se pela recuperação de comunhão mais frequente, se possível diária (DH 3534); • O movimento litúrgico redescobriu a importância dos sinais e sobretudo do caráter da ceia da missa. Vale destacar as experiências litúrgicas e reflexões teológicas de Romano Gardini, Joseph Pascher, Odo Casel e Joseph Jungmann; • O Vaticano II superou o estreito conceito de presença real ao falar de presença de Cristo não somente em pão e vinho, mas nos outros sacramentos, na palavra da pregação e na assembleia reunida (SC7). E introduziu reformas com o objetivo da plena, cônscia e ativa participação de todo o povo (SC 14).