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O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA

O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA. 22 e 23 Outubro 2012. O CULTO A NOSSA SENHORA DO CABO ESPICHEL: REPRESENTAÇÃO E AUSÊNCIA DO PODER SECULAR E RELIGIOSO. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal. O (RE)VERSO DA PAISAGEM:

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O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA

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  1. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 O CULTO A NOSSA SENHORA DO CABO ESPICHEL: REPRESENTAÇÃO E AUSÊNCIA DO PODER SECULAR E RELIGIOSO Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  2. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 Introdução : Existe ainda hoje, bem forte e presente, uma permanência e memória materiais e imaterial do Culto da Nossa Senhora do Cabo Espichel, no contexto das tradições de culto na região envolvente Existe uma relação próxima das festividades e rituais e o culto da Nossa Senhora do Cabo do Espichel com a região e localidades envolventes com que até hoje foram estando envolvidas nas várias dimensões da vida das populações desta região Este culto de peregrinação e ritual transformou-se predominantemente numa festividade que migra anualmente de acordo com um “giro”, com a imagem - a Bandeira, o Círio e mais tarde a imagem da N. S. do Cabo Espichel, ao longo de localidades distantes como Sintra, Mafra , Cascais ou Loures Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  3. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 OCabo Espichel permaneceu como a referência destas manifestações. São óbvios os sinais de local de peregrinação e culto, que ainda aí decorre de três localidades: Sesimbra, Palmela e Azoia. A permanência e memórias materiais e imateriais do Culto da Nossa Senhora do Cabo Espichel teve e tem grande impacto nas tradições na vida da população e localidades envolventes, nas suas várias dimensões. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  4. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 As festividades da Nossa Senhora da Pedra de Mua revestem-se de um ritual e coerência ao longo das distantes localidades onde vai ocorrendo, materializando uma ritual e riqueza cultural, mística e social seculares e próprias. Nestas festividades sempre estiveram com a dimensão económica, política, comunitária, religiosa, arquitetónica, dos costumes, lúdica, do poder e do seu exercício. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  5. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 1 - A lenda O Culto medieval a Nossa Senhora do Cabo ou Santa Maria da Pedra de Mua constitui uma das mais antigas manifestações de religiosidade popular em Portugal. A lenda reporta-se ao miraculoso achado da imagem da Nossa Senhora na falésia rochosa do Cabo Espichel, tendo-se esta tornado popular e venerada, a par do fenómeno místico que acompanhou o se aparecimento, sobre o qual existem pelo diversas versões. Este culto tornou o Cabo Espichel muito popular como um local de peregrinação, não só entre as localidades mais ou próximas da margem sul do Tejo, mas também entre as da margem norte do rio Tejo, abrangendo praticamente todo o território da região saloia. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  6. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 A lenda mais elaborada sobre o milagre da Nossa Senhora do Cabo refere o frade eremita Hildebrando, que em 1215 viajava de barco numa tempestade ao largo do Cabo. Tendo invocado a protecção divina, logo a enorme tempestade acalmado e o barco sido poupado. O padre traria consigo uma pequena imagem milagrosa da Nossa Senhora, que logo após foi levada por uma enorme onda. Quando a procuraram após a tormenta, surgiu numa caverna da falésia do promontório, miraculosamente intacta. É provável que o culto a Nossa Senhora do Cabo constitua a Cristianização de cultos anteriores que tivessem já sobrenaturalizado o local, em contínuas e sucessivas sacralizações desde a pré-história até ao domínio muçulmano. A vizinha localidade da Azoia - do árabe az-zawiya - indicar a existência de uma comunidade de monges junto ao túmulo de um homem santo, de antigas peregrinações local de peregrinação. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  7. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 2 - Construção no Promontório do Cabo Espichel No inicio do século XV estava já (re)edificada a pequena capela de Santa Maria do Cabo ou Santa Maria da Pedra de Mua, actualmente conhecida por Ermida da Memória, nela se realizando nela grandes romarias. Desde então que as freguesias iam anualmente festejar a Senhora no seu templo do Cabo Espichel, no primeiro domingo após a Quinta-Feira de Ascensão: nesse dia, a bandeira da Senhora era entregue ao pároco e aos mordomos da freguesia que deveria festejar no ano seguinte. O rei D. Pedro II a mandar edificar a actual igreja barroca de Nossa Senhora do Cabo através da Casa do Infantado, sob do arquitecto real João Antunes. Em 1707, a imagem primitiva de Nossa Senhora foi transferida da Ermida da Memória para o novo templo. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  8. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 O século XVIII foi um marco para o santuário do Cabo Espichel, com o esplendor cenográfico do Barroco, tendo sido realizados sucessivos programas de ampliação e redecoração da Igreja de Nossa Senhora do Cabo. Foram ainda construídas outras dependências, que incluiamum pequeno e bem equipado Teatro de Ópera, onde desfilaram companhias vindas de Itália, sob a égide do Poder Real. Ao longo do séc. XVIII edificam-se as Hospedarias para os peregrinos, de acordo com um desenho planificado de raiz, constituídas por unidades unifamiliares, integrando uma "loja" e um "sobrado". Estas desenvolviam-se em duas alas em torno da Igreja, delimitando o extenso terreiro do santuário, o "Arraial". Constituídas por arcadas que sustentam o andar dos sobrados, o seu carácter ruralista e popular surge em contraste com a sua estrutura ritmada de colunas que pelos dois lados conduzem perspecticamente à Igreja, conferindo um ar solene e monumental ao conjunto. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  9. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 3 - A Migração do Culto: o “Giro” do Círio No final do século XIX assiste-se ao término de uma tradição muito antiga: a de as freguesias se deslocarem em peregrinação anual ao Cabo Espichel, atravessando o rio Tejo entre Belém e Porto Brandão, e daí seguindo pelas praias ou por terra até ao santuário, onde após decorriam as cerimónias de entrega ou recepção da Imagem Peregrina e os festejos A Imagem Peregrina passou a ser entregue directamente entre as freguesias do “giro”, deixando de se verificar a deslocação ao santuário das festividades ou ou dos peregrinos. No séc. XVI o Círculo (“giro”) pelas Freguesias surge como outra forma de Círio, requerido ao senhor Arcebispo de Lisboa, D. Pedro de Noronha. Levou a Cerimónia da Nossa Senhora do Cabo Espichel a cada uma das localidades que o compunham, sendo as cerimónias conduzidas pelo seu próprio Pároco e pelas pessoas mais distintas de cada localidade. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  10. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 Compunham o “giro” trinta freguesias da zona saloia - dos actuais concelhos de Lisboa, Sintra, Cascais, Mafra, Loures, Odivelas e Oeiras - organizando-se entre si: cada uma delas iria, anualmente e à vez, prestar culto ao à Nossa Senhora do Cabo Espichel, acolhendo a sua imagem na própria localidade. Actualmente constituem o “giro” 26 localidades. A par do “giro”, algumas localidades da margem sul do Tejo continuaram a realizar romarias à Senhora do Cabo, permanecendo a tradição anual em Palmela, Sesimbra e Azóia. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  11. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 4 - Da Lenda à relação com o Mar Todas as versões das lendas da Nossa Senhora do Cabo Espichel estão intrinsecamente relacionadas com o Mar e a incerteza de quem nele se aventura - toda uma comunidade - para nele ganhar o seu sustento. Em todas as versões os protagonistas que são colocados perante fenómenos místicos e inexplicáveis ou estão no Mar ou são homens que junto dele habitam. A própria essência do Culto, pedindo protecção para os perigos e catástrofes naturais, invocadas para as actividades no Mar e Agrícolas, adquire progressivamente um pendor colectivo, sendo a penitência - o tributo - prestado por esta graça também colectivo e perpetuado no tempo. As Confrarias e a sua estrutura mística, hierarquia e preceitos, permitiram manter intactos a coerência e conteúdos dos rituais. Todos os paços, cantares (moas) e rituais que marcam o cortejo da chegada da N. S. do Cabo, a sua veneração e progressão para o Santuário da Comunidade, mantêm uma enorme coerência. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  12. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 5 - OPoder Secular Religioso no Culto do Cabo Espichel No culto da Senhora do Cabo, na origem do "círio", está a proteção contra catástrofes naturais, ligadas aos flagelos da agricultura, aos perigos da pesca ou às epidemias de peste. Porque o perigo é ou foi colectivo, também a promessa o é, devendo ser paga pela comunidade como um todo ou por uma Confraria em seu nome, ao longo de sucessivas gerações de romeiros. Esta forma de culto contribui para o reforço dos sentimentos de vizinhança e de coesão social das comunidades, permitindo e fomentando o estabelecimento de relações profundas entre localidades afastadas, no espaço ou na cultura. A noção de comunidade e da sua identidade saem reforçadas, tal como o prestígio local da própria comunidade. Também deixa lugar à manifestação do Poder político local, à manifestação do poder religioso, do poder religioso, económico e da vitalidade das próprias colectividades. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  13. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 Neste ritual, é dado grande destaque é dados aos "anjos", jovens com até 12 anos - que no decurso do cortejo processional vão cantando as "loas" em honra da Senhora: são eles quem representa a voz do povo, que assim contacta o santo. O Poder Político esteve muito envolvido quer nas construções e festividades no Cabo Espichel, quer nas do Círio em várias localidades. Era uma forma de fazer sentir o poder real aproveitando um evento religioso e popular a que emprestava grandiosidade, incorporando-se o poder real na popularidade e misticismo dos eventos e recebendo parte do seu prestígio. Ia também de encontro à vontade e culto populares. Efectivamente, a manifestação de peregrinação de carácter migratório e cíclico deste culto "Cirio” do Cabo Espichel foi contando quase sempre com a especial protecção e financiamento da Família Real. São exemplo grandes obras mandadas executar por D. José I. Os "círios saloios" continuaram a contar com a devoção e o contributo da Família Real, nomeadamente com D. Maria II, D. Pedro V, D. Maria Pia e D. Carlos I. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

  14. O (RE)VERSO DA PAISAGEM: FILOSOFIAS DA POBREZA E DA RIQUEZA 22 e 23 Outubro 2012 No ritual, é dado grande destaque é dados aos "anjos", jovens com até 12 anos - que no decurso do cortejo processional vão cantando as "loas" em honra da Senhora: são eles quem representa a voz do povo, que assim contacta o santo. O Poder Político esteve muito envolvido quer nas construções e festividades no Cabo Espichel, quer nas do Círio em várias localidades. Era uma forma de fazer sentir o poder real aproveitando um evento religioso e popular a que emprestava grandiosidade, incorporando-se o poder real na popularidade e misticismo dos eventos e recebendo parte do seu prestígio. Ia também de encontro à vontade e culto populares. O impacto sobre as comunidades locais é imenso, porque mobiliza toda uma colectividade, e porque está associado a uma série de actividades profanas que potenciam a sua atractividade. Na sociedade actual caracterizada pela ausência de valores e em que penosamente se luta no quotidiano rumo a um final sem esperança, esta tradição vem forçar as comunidades a despertar, comunicar e questionarem sobre se a resposta sobre o futuro não poderá estar em parte na nossa riqueza cultural do passado. Carlos Manuel Figueiredo, João Carlos Teles CIAUD / FA-UTL - Portugal

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