E N D
1. O ESPÍRITO SANTO, esta presença amorosae vívida!
Apresentação elaborada por Luiz Eustáquio S. Nogueira a partir do livro de J. Moltmann “O Espírito da Vida – uma pneumatologia integral” (Vozes)
2. ESPIRITUALIDADE E ANTROPOLOGIA INTEGRAL
3. 1. Espiritualidade como Vida no Espírito
Espiritualidade, do ponto de vista cristão: intenso convívio com o Espírito de Deus, nova vida en pneumati.
4. 1. Espiritualidade como Vida no Espírito
Ruah Yahweh
no 1º Testamento e no judaísmo: Espírito de Deus como a força da vida das criaturas, espaço vital para seu florescimento e desenvolvimento
(cf. Ez 37,1-6).
5. 1. Espiritualidade como Vida no Espírito
“A mão de Javé pousou sobre mim e o espírito de Javé me levou e me deixou num vale cheio de ossos. E o espírito me fez circular em torno deles, por todos os lados. Notei que havia grande quantidade de ossos espalhados pelo vale e que estavam todos secos. Então Javé me disse: ‘Criatura humana, será que esses ossos poderão reviver?’ Eu respondi: ‘Meu Senhor, és tu que sabes’. Então ele me disse: ‘Profetize, dizendo: Ossos secos, ouçam a palavra de Javé! Assim diz o Senhor Javé a esses ossos: Vou infundir um espírito, e vocês reviverão. Vou cobrir vocês de nervos, vou fazer com que criem carne e se revistam de pele. Em seguida, infundirei o meu espírito, e vocês reviverão. Então ficarão sabendo que eu sou Javé” (Ez 37,1-6).
6. Tendências espiritualistas
Tradição cristã tendenciada a deslocar essa vitalidade criativa a partir de Deus para a renúncia de uma vida espiritualizada em Deus.
Contraposição ao mundo sensível na introspecção psíquica: indicativo de estado espiritual.
Distante de suas raízes hebraicas, o cristianismo primitivo misturou-se com as religiões gnósticas da antiguidade tardia, cujo anelo maior era "redimir-se deste mundo".
7. Tendências espiritualistas
Exaltação platônica da transcendência [contemplação da Ideia] e dos valores do e espírito [ascetismo filosófico] empolgava neófitos cristãos saídos do paganismo.
S. Agostinho: sua psicologia determinou no ocidente a repressão do corpo [“cárcere da alma”] e dos valores terrenos [Cidade de Deus X Cidade dos homens] e a tendência ao individualismo, com sua ênfase na alma racional imortal.
8. Redenção espiritualizada Nessa visão espiritualista, substitui-se:
o futuro de Deus na história pela eternidade,
o reino vindouro na Terra pelo céu,
o Espírito da ressurreição da carne pela imortalidade da alma.
Redenção espiritualizada e idealizada X realismo cristão: esfera da carne reduzida ao aos instintos e às necessidades corporais. A libertação da alma, e não a redenção do corpo (como professava Paulo), toma a direção.
9. Redenção espiritualizada
Nesse dualismo gnóstico, a esperança cristã está voltada para cima, o céu, e não para frente, o futuro da nova criação.
O binômio tempo–eternidade silencia o conflito apocalíptico entre passado–futuro, enquanto o conflito impulso de vida–impulso de morte se desloca para o dualismo antropológico corpo-alma.
10. Reprodução do Juízo Final
11. Antropologia paulina Cristianismo acusado de possuir uma antropo-logia pessimista ou ao menos dualista: dimensões espirituais do ser destacadas em detrimento do corpo, lugar da fraqueza e do pecado. Acusação lícita? Algum mal entendido?
Atribuição a Paulo por esse ranço negativo, sobretudo em suas alusões à carne, sárx, e suas obras pecaminosas (cf. Rm 8,6.7; Gl 6,8). Urge melhor conhecer os textos paulinos, para não incorrer em falaciosas interpretações.
12. Antropologia paulina
Apocalíptico em sua antropologia, Paulo parte do conflito universal vigente entre o éon (tempo, era) vindouro da vida e da justiça e o éon passageiro do pecado e da morte.
Pecado para Paulo: expressão da revolta do mundo ao seu Criador, com suas formas várias de idolatria; confiança humana posta em realidades não divinas.
13. Antropologia paulina
Experiência de Damasco: revolução espiritual em Paulo seu encontro com o Ressuscitado.
Novo paradigma: do velho ao novo homem, visão de um novo céu, de uma nova terra.
Velho Adão ? Novo Adão
Lei ? Liberdade
Pecado ? Graça
Morte ? Vida
14. Conceito sárx Conceito sárx: referente à totalidade do humano, não apenas à corporeidade; condição do homem e do mundo não redimidos, clamando por libertação.
Carne, pecado e morte vistos pelo apóstolo como poderes suprapessoais, não desde uma leitura mitológica obscurantista, mas num realismo apo-calíptico. Quanto maior a esperança, mais visível a miséria do mundo. O conflito, de fato, só aparece com a emergência do novo éon, no qual o impulso de vida do Espírito desmascara o impulso de morte do pecado.
15. Espiritualidade e vitalidade Urgente hoje reiterar: a proximidade de Deus não despreza, mas faz a vida novamente merecedora de ser amada.
Bem atesta o 2º Testamento: o Espírito Santo chega aos corpos humanos doentios, frágeis, mortais como “força de vida da ressurreição”, tornando-os “templos de Deus”. Segundo Paulo, “o corpo é para o Senhor e o Senhor para o corpo” (1Co 6,13).
16. Espiritualidade e vitalidade
A espiritualidade cristã genuína clama à vitalidade, ao amor à vida. Vida espiritual é afirmação da vida em liberdade, não obstante suas doenças, obstáculos e fraquezas. ? Uma vida contra a morte!
17. Comunhão e glorificação dos corpos
Retorno às raízes bíblicas da fé: propicia areja-mento notável da mística ocidental. Imago Dei em Gn 1,27 = comunidade humana de homens e mulheres sintonizados com a Terra.
Lugar da experiência de Deus: a experiência pessoal de comunhão. Sem mística da comu-nidade não há mística da alma! Somente a espiritualidade do corpo e da comunhão realiza a esperança da ressurreição.
18. Comunhão e glorificação dos corpos Espírito de Cristo = força de ressurreição: de glorificação e não de anulação dos corpos!
Para onde se inclina uma espiritualidade da criação? Para “o libertar o corpo das repressões da alma, das repressões da moral e das humilhações do ódio contra si mesmo, orientado para sua verdadeira saúde” (J. Moltmann).
19. Espírito e saúde
O shabbat bíblico (descanso do 7º dia): espiritualidade do corpo e da terra e da alma saudável.
Na alternância de trabalho e repouso, a vida volta a latejar. O tempo sagrado do sábado vale para todos os viventes.
Eis nossa premissa de fé:
VIDA NO ESPÍRITO É VIDA CONTRA A MORTE E NÃO VIDA CONTRA O CORPO!
20. Espírito e saúde
Como que a cada sete anos, à mãe terra lhe é dada a chance de voltar a respirar, de ser respeitada em sua dignidade criatural, juntamente com seus filhos, repletos de fardos indevidos por uma religiosidade opressora...
Eis nossa premissa de fé:
VIDA NO ESPÍRITO É VIDA CONTRA A MORTE E NÃO VIDA CONTRA O CORPO!
21. 2. Uma antropologia integral Dado fundamental: experimentamo-nos a nós mesmos como unidade, ainda que com uma pluralidade de aspectos irredutíveis entre si.
22. 2. Uma antropologia integral A diversificação é posterior à unidade. Corporeidade, psiquismo e espiritualidade seguem juntos numa antropologia integral.
23. 2. Uma antropologia integralEnfoque binômico (L. Boff)
24. 2. Uma antropologia integralEnfoque binômico (L. Boff)
Em sua totalidade, o ser humano é espiritual e corporal: espírito corporalizado ou corpo espiritualizado.
Espírito = capacidade nossa em constituir unidade na diversidade, de comungar com o diferente sem perder a própria identidade.
25. 2. Uma antropologia integralEnfoque binômico (L. Boff)
Corpo = o próprio espírito se realizando num determinado espaço e tempo dentro do mundo. Revela-nos por inteiro, nossa encarnação, nossa identidade no mundo (somos corpo, e não temos corpo).
Como espírito, percebemo-nos abertos à realidade total, transcendendo o empírico imediato.
26. 2. Uma antropologia integralEnfoque trinômico (L. E. Nogueira)
27. 2. Uma antropologia integralEnfoque trinômico (L. E. Nogueira)
Somos uma unidade vital. Não abstrata e estática, mas concreta e dinâmica.
Trilogia corpo-mente-espírito nessa perspectiva unitária: não componentes estruturais, mas modalidades de expressão e realização de nosso ser uno no espaço-tempo e para além do tempo.
28. 2. Uma antropologia integralEnfoque trinômico (L. E. Nogueira) Dizer corpo [corporeidade] = movimento de auto-exteriorização; autocomunicação e ex-pressão no mundo circundante via relações.
Dizer mente [psiquismo] = auto-interiorização e crescimento em consciência e identidade; auto-reconhecimento face ao outro corpóreo.
Dizer espírito [espiritualidade] = transcenden-talidade e abertura para o todo; percepção do chamado a viver na liberdade do outro e do "Totalmente Outro“.
29. 2. Uma antropologia integralEnfoque trinômico (L. E. Nogueira) “Exteriorização, interioriza-ção e transcendência com-põem a tríplice dialética exis-tencial da liberdade humana. Nessa dinâmica insuperável nos movemos e somos. Crescemos em interioridade psíquica à medida em que nos relacionamos corporal-mente com o mundo exterior, acolhendo e superando a di-ferença do outro no elã inte- grador espiritual do Amor.
O homem participa da evo-lução. A matéria leva ao espírito que, por sua vez, a transcende. Mas transcende-a incluindo-a. A plenificação do homem é um crescendo que integra tanto sua corpo-reidade quanto seu psiquis-mo espiritual. A evolução é regida pela convergência do distinto à unidade no Amor”.
30. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
31. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
Antiga tradição distingue o ser humano em três aspectos: soma (corpo), psique (alma) e nous (inteligência profunda).
Em sua dimensão corpórea, o ser humano é matéria. Reduzido a isso, o espírito seria produzido pela matéria, não existindo fora dela. Nesta visão unidimensional, vivemos num mun-do onde só a matéria existe e todo o resto se converte em sonho ou fantasia.
32. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
Indo além do somático, abrimo-nos à dimensão da alma ou psique. A informação que anima a matéria talvez possa ter uma vida independente da mesma. De uma visão unidimensional chegamos à outra bidimensional. No entanto, se nos fixamos aí, surge o impasse do dualismo: mundo da alma privilegiado em detrimento do mundo do corpo.
33. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
Ampliando tal antropologia, veremos que a psique abre-se à dimensão do nous (“inteligência”, em grego), ou seja, de uma consciência noética que pode refletir o Pneuma (Espírito). Nessa visão tridimensional, não evocamos somente a inteli-gência analítica ou racional, tampouco apenas o mundo psicossomático das emoções e das sen-sações...
34. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
Temos aqui um tipo de inteligência contemplativa, silenciosa.
“É a experiência, no ser humano, de um espaço e de um silêncio além do mental, além das emoções, além das sensações”...
35. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
Temos aqui um tipo de inteligência contemplativa, silenciosa.
“É a experiência, no ser humano, de um espaço e de um silêncio além do mental, além das emoções, além das sensações”. Contudo, se nos fixarmos nesta visão, podemos divinizar uma parte do ser humano e desprezar o restante.
36. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
Há, pois, uma quarta dimensão no homem. Nela, reencontramos todas as três dimensões anteriores atravessadas por uma singular dimensão: o Pneuma, o Sopro.
“Assim como o corpo se abre à psique, a psique ao nous, este está aberto ao Pneuma, ao Espírito Santo, ao Espírito do Ser que É o que É”.
37. 2. Uma antropologia integralEnfoque quaternário (J.-Y. Leloup)
É o Pneuma aquele que garante a unidade do ser humano, o viés profundo e transcendente de sua integralidade, pois é nele que “existimos, nos movemos e somos”. Nisto reside o sentido profundo da espiritualidade na vida humana .
39. METÁFORAS BÍBLICAS E MÍSTICAS PARA O ESPÍRITO
40. METÁFORAS BÍBLICAS E MÍSTICAS PARA O ESPÍRITO
41. 1. O Espírito Santo: pessoa?
Tematizar sobre a personalidade do Espírito: o que há de mais problemático na pneumatologia e na doutrina trinitária.
Desde a experiência de fé do 2º Testamento : fica em aberto se a imagem do Espírito equivale a uma pessoa ou força.
42. 1. O Espírito Santo: pessoa? Com base na doutrina trinitária, o caráter pes-soal do Espírito, diz Moltmann, “é antes afir-mado que provado, na medida em que, com o princípio ‘una substantia – tres personae’ de Tertuliano, o conceito de pessoa, obtido de Deus Pai, é simplesmente transferido para o Espírito”, o qual, “juntamente com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado” (credo niceno-constantinopolitano).
43. 1. O Espírito Santo: pessoa? Encoberta-se a personalidade própria do Espírito, que há de ser entendida na sua singular distinção em relação ao Pai e ao Filho.
Importa, além disso, rever o modelo antropológico subjacente ao conceito de pessoa empregado no discurso trinitário desde Agostinho. A definição greco-romana de pessoa enquanto “rationalis naturae individua substantia” postula um eu separado, indiviso, existente em si próprio, no máximo aplicável a Deus Pai enquanto “origem original da divindade”. O mesmo não vale para o Filho e o Espírito, existentes a partir do Pai.
44. 1. O Espírito Santo: pessoa? A substituição ocorrida na teologia cristã de uma compreensão substancial por outra relacional da pessoa abriu espaço para o eu social e multi-relacionado. No entanto, isso não atingiu a peculiaridade do Espírito em sua pessoa mesma, apenas descrito como o “terceiro na aliança”.
Portanto, como entender a personalidade do Espírito Santo? Abdicando-se de todo conceito prévio de pessoa, Moltmann investiga as metáforas bíblicas comumente aplicadas à experiência do Espírito para uma melhor compreensão da questão.
45. 2. Metáforas para a experiência do Espíritosegundo Jürgen Moltmann
46. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO SANTO
COMO SENHOR,
MÃE E JUIZ Is 59-19-20: “Então, desde o Ocidente se temerá o nome de Javé, e desde o oriente honrarão a sua glória, pois ele virá como rio impetuoso que é conduzido pelo espírito de Javé. Mas para Sião virá um redentor, a fim de afastar os crimes cometidos contra Jacó, oráculo do Senhor!”Is 59-19-20: “Então, desde o Ocidente se temerá o nome de Javé, e desde o oriente honrarão a sua glória, pois ele virá como rio impetuoso que é conduzido pelo espírito de Javé. Mas para Sião virá um redentor, a fim de afastar os crimes cometidos contra Jacó, oráculo do Senhor!”
47. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO SENHOR
“O que domina e vivifica” (dominum et vivificantem).
Alusão a duas experiências do Espírito:
libertação e nova vida (cf. Is 59,19-20). Is 59-19-20: “Então, desde o Ocidente se temerá o nome de Javé, e desde o oriente honrarão a sua glória, pois ele virá como rio impetuoso que é conduzido pelo espírito de Javé. Mas para Sião virá um redentor, a fim de afastar os crimes cometidos contra Jacó, oráculo do Senhor!”Is 59-19-20: “Então, desde o Ocidente se temerá o nome de Javé, e desde o oriente honrarão a sua glória, pois ele virá como rio impetuoso que é conduzido pelo espírito de Javé. Mas para Sião virá um redentor, a fim de afastar os crimes cometidos contra Jacó, oráculo do Senhor!”
48. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO SENHOR
Ao nome “Senhor” sucede o conceito da liberdade: “Onde está o Espírito do Senhor, há liberdade” (2Co 3,17).
Efusão do Espírito no final dos tempos: extensão messiânica da história do êxodo a todos os povos. Is 59-19-20: “Então, desde o Ocidente se temerá o nome de Javé, e desde o oriente honrarão a sua glória, pois ele virá como rio impetuoso que é conduzido pelo espírito de Javé. Mas para Sião virá um redentor, a fim de afastar os crimes cometidos contra Jacó, oráculo do Senhor!”Is 59-19-20: “Então, desde o Ocidente se temerá o nome de Javé, e desde o oriente honrarão a sua glória, pois ele virá como rio impetuoso que é conduzido pelo espírito de Javé. Mas para Sião virá um redentor, a fim de afastar os crimes cometidos contra Jacó, oráculo do Senhor!”
49. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO MÃE Na qualidade de vivificador, o Espírito Paráclito é aquele que consola com um consolo de mãe, aquele de quem “nascem de novo” os crentes (cf. Jo 3,3-6).
50. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO MÃE O Espírito é “Mãe da vida”, exclamam os padres siríacos: liberta, educa e regenera os filhos de Deus (cf. Sb 1,5; Is 38,16).
51. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO JUIZ
Se a liberdade sem vida nova é vazia e a vida sem liberdade é morta, ambas só granjeiam consis-tência na justiça (cf. Rm 8,9-11).
52. A] Metáforas de pessoas ESPÍRITO COMO JUIZ Ao convencer o mundo do pecado e do perdão dos pecados, o Espírito Santo como Juiz, como Espírito da Verdade, faz justiça e corrige com vistas à plenitude da vida em Deus (cf. Jo 16,8; Is 42,11).
53. A] Metáforas de pessoas SÍNTESE
Por trás destas funções pessoais de “Senhor”, “Mãe” e “Juiz”, percebemos a liberdade subjetiva e transcendente do Espírito que “sopra onde quer” (cf. Jo 3,8; 21,18).
54. B] Metáforas de forma ESPÍRITO SANTO COMO ENERGIA, ESPAÇO E FIGURA
55. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA
A experiência do Espírito como força de vida e energia está ligada à noção hebraica da ruah. Denota um preenchimento total de vitalidade, tornando o ser portador de um dinamismo novo (Sb 1,7).
56. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA A experiência da força de vida é tão variada como são variados os seres vivos, e no entanto, é uma única força de vida que chamou tudo quanto vive à grande comunhão da vida e que tudo aí conserva”.
57. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA
“A comunidade de Cristo, vivendo na diversi- dade dos carismas e das energias e unida na comunhão da mesma força do Espírito, pode ser um modelo disto”. É próprio do Espírito estimular energética e contagiantemente “espíritos de vida” em comunidades de vida (cf. At 9,31; 1Co 12,7). Quando, ao contrário, só se experimenta repulsão e rejeição, a vida é afetada, a comunhão se desfaz e os corpos definham-se.
58. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ENERGIA
A experiência de Deus vincula-se intimamente à experiência interpessoal. Na proximidade do Deus vivo, os que foram despertos irradiam, corporalmente, as energias da vida vivificante, seja pela face luminosa e pelo olhar brilhante, seja pelos gestos ternos e atenciosos (cf. Cl 1,6-8).
59. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ESPAÇO VITAL
Um adequado espaço vital é condição para que toda vida possa desenvolver-se. Não basta a energia vital interna. Os espaços sociais é que nos susten-tam a liberdade e lhe possibilitam florescer.
“Numa sociedade meramente de concorrência, que garante a liberdade pessoal, mas não põe à disposição os espaços livres, a liberdade pessoal definha para a ‘liberdade dos lobos’ e para a ‘liber-dade’ dos sem trabalho e dos sem pátria.”
60. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO ESPAÇO VITAL
Esta é a miséria de um ‘mundo livre’, que respeita as liberdades subjetivas mas não os espaços sociais” (cf. At 2,42-47).
Nas Escrituras, o Espírito de Deus é experimentado como o espaço amplo e
aberto (cf. Sl 143,10b; 139) onde não mais existe aflição, e sim, proteção e alento.
61. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO
FIGURA Nos espaços vitais, sur-gem das energias vitais as múltiplas figuras da vida.
“Numa figura vital, o lado de dentro e o lado de fora de um ser vivo alcançam o equilíbrio. Os contornos limitam uma figura, mas seus limites são abertos, eles estabelecem comu-nicação”.
62. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO
FIGURA
“Por isso as figuras vitais individuais se formam em comunhão de vida com outros seres vivos, através da troca de energia que sustenta a vida”.
63. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO FIGURA
A figura vital humana, sendo modelada pelas condições genéticas, ecológicas, culturais e sociais da existência, apresenta algo de inconfundível e indedutível. De modo similar configura-nos a experiência da vida na experiência de Deus.
64. B] Metáforas de forma ESPÍRITO COMO FIGURA
No caminho concreto e pessoal de nossa vida, o Espírito Santo configura-nos a Cristo: à sua vida messi-ânica, à sua conduta de vida que salva e cura, à sua trajetória de sofrimento e, na esperança, ao seu corpo glorioso (cf. Rm 8,14-17; 1Jo 3,1-2; Ef 5,1-2).
65. B] Metáforas de forma SÍNTESE
Estas imagens de forma não condizem nem a sujeitos, tampouco a ações de sujeitos, mas a forças modelantes.
66. B] Metáforas de forma SÍNTESE Conjugando as metáforas precedentes de energia, espaço e figura, a experiência do Espírito se traduz em experiência da vida divina que torna viva nossa vida humana.
67. C] Metáforas de movimento
68. C] Metáforas de movimento
69. C] Metáforas de movimento As metáforas de movimento aplicadas ao Espírito “expressam a comoção de algo extremamente poderoso e o início de um novo movimento próprio. Descrevem um movimento arrebatador, que domina e excita não apenas as camadas conscientes das pessoas, mas também as inconscientes, e que põe em movimento, para coisas novas e jamais imaginadas, as pessoas atingidas”.
70. C] Metáforas de movimento Paradigmática é a história de Pentecostes: movidos no mais profundo de si mesmos, os discípulos, até então muito amedrontados, põem-se em movimento, saindo de si mesmos como apóstolos do Evangelho de Jesus (cf. At 2,1ss).
71. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO VENTO
A imagem do vento impetuoso , a ruah Yahweh) criacional (cf. Gn 1,1-2) evoca o hálito vital de Deus que movimenta e vivifica as criaturas entorpecidas (Jó 33,4).
72. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO VENTO
Bem ilustrativa disso é a experiência de Elias no Monte Horeb (cf. 1Rs 19,11s), onde a suavidade da brisa é precedida pelo ímpeto de outras forças cósmicas.
73. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO FOGO
A imagem do fogo conota o entusiasmo contagiante de quem está inflamado da pre-sença divina. Quem se aquece, aquece os demais.
74. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO
SANTO
Quem é consumido por Deus torna-se uma chama devoradora, reflexo de seu zelo apaixonado (cf. Mt 3,11). As “línguas de fogo” também des-crevem esta expe-riência de incan-descência no Espírito Santo (cf. At 2,1-4).
75. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO AMOR
As metáforas do vento impetuoso e do fogo devorador evocam a experiência do amor eterno que faz viver a partir de dentro (cf. Rm 5,5). Este amor divino, “forte como a morte”, desperta na criatura amada o dese-jo de também amar.
76. C] Metáforas de movimento ESPÍRITO COMO AMOR
Embora não se identifiquem sem mais, o “fogo do amor” divino pode acontecer no amor humano (cf. Ct 8,6-7).
77. D] Metáforas místicas ESPÍRITO SANTO COMO LUZ, ÁGUA E FECUNDIDADE
78. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO LUZ
A metáfora da luz aplicada a Deus é comuníssima nos textos sagrados. Fala da luz que ilumina os olhos para que possam ver. A luz divina é a um só tempo fonte e objeto de conhecimento racional e amoroso (cf. Dn 5,12; At 11,27).
79. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO LUZ Inundados da luz do Criador, da “racionalidade divina”, podemos compreender, afirmar e amar a Criação. Mas o mais especial no uso dessa metáfora na experiência do Espírito “está na transição fluida da fonte para o raio de luz e para o esplendor luminoso. É uma e mesma luz que se encontra na fonte, no raio e no esplendor”.
80. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO ÁGUA A metáfora da água se apresenta quase sempre associada às imagens da fonte e do poço. Enquanto a luz vem de cima, a água procede da terra. E ambas produzem juntas a vida.
81. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO ÁGUA Deus se compara a uma “fonte de água viva” (Jr 2,13; Ap 7,17), da qual recebemos “graça sobre graça” (Jo 1,16). Esta fonte não se encontra fora, mas emerge gratuitamente de dentro do homem (Jo 4,11-13).
82. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO ÁGUA Deus se compara a uma “fonte de água viva” (Jr 2,13; Ap 7,17), da qual recebemos “graça sobre graça” (Jo 1,16). Esta fonte não se encontra fora, mas emerge gratuitamente de dentro do homem (Jo 4,11-13).
83. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO FECUNDIDADE A ligação das imagens da luz e da água resulta na metáfora da fecundidade do Espírito. Assim como a luz e a água tornam a árvore fecunda, da mesma forma produzem frutos aqueles que se expõem à luz e bebem da água viva do Espírito (cf. Lc 1,18). Se a criação primitiva, conforme a bela narrativa de Hildegard de Bingen, era sempre bela e repleta de viço, o pecado acarretou-lhe uma espécie de inverno, a ponto de se secar e congelar.
84. D] Metáforas místicas ESPÍRITO COMO FECUNDIDADE
Contudo, o fluxo espiritual e regenerador da luz e da água viva representa o início de uma primavera escatológica, na qual o Espírito Santo é experienciado como a vitalidade mesma desta comunhão com o Deus vivo (cf. Rm 8,22-23).
86. D] Metáforas místicas CONCLUSÃO:
Estas imagens, derivadas da experiência mística, insinuam uma união tão íntima do Espírito Santo com o humano que chega a ser difícil distingui-los.
“Nas metáforas místicas, é suprimida a distância entre um sujeito transcendente e suas obras imanentes. Desaparecem as distinções entre causas e efeitos”.
87. D] Metáforas místicas
“Nas metáforas da luz, da água e da fecundidade, o divino e o humano se encontram numa união orgânica.
Chega-se a uma interpenetração pericorética: Vós em mim – eu em Vós. O divino passa a ser presença abrangente na qual o humano pode desdobrar-se produzindo frutos”.
88. www.padreluiz.net
89. O ESPÍRITO SANTO COMO PLENITUDE DE AMOR E VIDA
90. O ESPÍRITO SANTO COMO PLENITUDE DE AMOR E VIDA
91. A impetuosa personalidade do Esp. Santo Mediante as metáforas descritivas do agir do Espírito, bem distinto do agir do Pai e do Filho, experimentamos a ação do próprio Deus que vem a nós e se faz presente em nós, revelando-nos um modo único de entendimento de Deus mesmo.
Evocando o Espírito como “Senhor”, “Mãe” ou “Juiz”, fazemos uma distinção entre um sujeito e suas ações, ou seja, o sujeito permanece transcendente e livre perante as suas ações.
92. A impetuosa personalidade do Esp. Santo
A metáfora “Senhor” sugere a efetiva transcen-dência do Espírito que intervém de fora “com braço forte”. As metáforas “Mãe” e “Juiz”, no entanto, falam de um compartilhar a vida do filho por dentro e de uma profunda solidarie-dade interior para com os justificados no amor.
93. A impetuosa personalidade do Esp. Santo As metáforas de forma e as imagens místicas real-çam, por sua vez, a imanência de Deus. O Espírito se apresenta em nós e em torno de nós como pura presença. Para percebê-lo enquanto objeto, seria necessário distanciar de sua presença. Mas, mesmo em sua presença, não poderíamos concebê-lo como parceiro ou interlocutor?
Analogias tiradas da experiência interpessoal suge-rem essa compreensão: o filho que cresce na mãe, antes que se torne uma pessoa ou parceiro reco-nhecível; os amantes que em seu amor mútuo chegam um ao outro e a si mesmos como parceiro e presença.
94. A impetuosa personalidade do Esp. Santo Com efeito, o ser-alguém não advém de contraposições, mas do fluir mutual de forças vitalizantes. “Se assumirmos esta analogia para compreender a experiência de Deus, então perceberemos a personalidade do Espírito divino em seu fluir entre o estar-presente e o estar-em-frente, entre suas energias e sua essência. Por isso não é de admirar que os atingidos por sua experiência dele falem como força e como pessoa, como energia e como espaço, como fonte e como amor”.
95. A impetuosa personalidade do Esp. Santo
“O fato de o próprio Espírito ‘ser derramado’ sobre toda carne é um auto-esvaziamento pelo qual, graças às suas energias, Ele se torna presente a toda carne. Quando as pessoas entram em sua presença, elas percebem Deus na sua luz, a fonte da luz. O Espírito, de acordo com a promessa profética, traz não apenas vida e justiça mas também conhecimento de Deus a toda carne”.
96. A impetuosa personalidade do Esp. Santo
Ante a definição clássica de pessoa como “rationalis naturae individua substantia” (cf. Boécio), Moltmann propugna um novo conceito para a personalidade do Espírito Santo advindo da experiência de sua ação histórica:
97. A impetuosa personalidade do Esp. Santo a) Tal personalidade “não é indivisível, mas comunica-se a si mesma;
b) ela não é um ‘auto-estado’ (substantia) separado, mas sim, um ser comunitário rico em relações e capaz de entrar em múltiplas relações;
c) ela não apresenta apenas a natureza racional, mas a eterna vida divina como fonte de vida para toda criatura
98. A impetuosa personalidade do Esp. Santo Por conseguinte,
“a personalidade
de Deus Espírito Santo
é a presença amorosa
que se comunica, se espalha
e se derrama,
da eterna vida divina
do Deus uno e trino”.