110 likes | 450 Views
DIA DO PAI. O Dia do Pai tem origem na antiga Babilónia, há mais de 4 mil anos. Então, Um jovem chamado Elmesu moldou e esculpiu em argila o primeiro cartão, no qual, desejava sorte, saúde e longa vida ao seu pai.
E N D
DIA DO PAI O Dia do Pai tem origem na antiga Babilónia, há mais de 4 mil anos. Então, Um jovem chamado Elmesu moldou e esculpiu em argila o primeiro cartão, no qual, desejava sorte, saúde e longa vida ao seu pai. Muito mais tarde, nos Estados Unidos, em 1909, Sonora Louise Smart Dodd, de Spokane, Washington, teve a ideia de escolher um dia especial para homenagear os pais, depois de ouvir um sermão no Dia da Mãe. Sonora Dodd queria homenagear o seu pai, William Jackson Smart, um veterano da Guerra Civil, que depois da morte da sua mulher, em 1898, passou a cuidar sozinho dos seis filhos do casal, numa quinta no leste de Washington. Com o apoio da Associação Ministerial de Spokane e da Associação de Jovens Cristãos, redigiu uma petição em que recomendava a aceitação de um Dia Internacional do Pai. Graças aos esforços da Sra. Dodd, o primeiro Dia do Pai foi celebrado a 19 de Junho de 1910, em Spokane. Aproximadamente ao mesmo tempo, em vários locais por toda a América começava a comemorar-se um “Dia do Pai”, e em 1924, o Presidente Calvin Coolidge apoiou publicamente a ideia de um Dia do Pai a nível nacional. Finalmente, em 1966, o Presidente Lyndon Johnson assinou uma proclamação presidencial, em que decretava o terceiro Domingo de Junho como o Dia do Pai. Em 1972, o Presidente Richard Nixon introduziu o Dia do Pai na lei. Em Portugal (assim como na Itália) o dia escolhido para homenagear os Pais é o dia 19 de Março que é também o Dia de São José. A fim de assinalar o Dia do Pai a Casa Fernando Pessoa convida a conhecer alguns dos melhores poetas portuguesas, numa mostra bibliográfica a decorrer de 19 a 26 de Março. Para saber mais aceda ao Banco de Poesia da Casa Fernando Pessoa http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt ou consulte as obras disponibilizadas na biblioteca.
Cesário Verde, 1855 – 1886 Poeta da 2ª geração realista. Nasceu numa família de comerciantes abastados, oriunda, por linha masculina, de Génova e estabelecida em Lisboa desde a primeira metade do século XVIII, com negócio de ferragens. Dos seus estudos sabe-se apenas que em 1865 concluiu a instrução primária e que frequentou o Curso Superior de Letras (três ou quatro meses, apenas) no ano lectivo de 1873-1874. A actualidade da sua poesia deve-se, por um lado, à intemporalidade própria de toda a grande poesia (se a intemporalidade da arte não é uma ilusão) e, por outro lado, à forte originalidade que a caracteriza, em parte procurada intencionalmente ou resultante de influências assimiladas de forma muito pessoal (de Baudelaire, por exemplo), noutra parte, e sobretudo, devido à própria índole poética do autor, "frio, pausado, calculista, como todas as organizações criadas [no] meio comercial", refractário à abstracção e às expansões líricas, pouco espontâneo como artista, escrevendo mesmo com dificuldade ("não sei executar o que concebo e para o meu pulso a coisa mais pesada é uma pena") e ao mesmo tempo dotado de um "gosto literário muito exigente". POETA
Mário de Sá-Carneiro, 1890 – 1916 Poeta e novelista. Filho de um coronel de engenharia ficou órfão de mãe aos dois anos, sendo "relegado para a companhia de duas criadas e de uma ama”. Estudou Direito na Universidade de Coimbra e, depois, em Paris, para onde partiu em Outubro 1912, e onde passou a viver de uma mesada paterna, mais dedicado à boémia, à literatura e ao seu confesso desgoverno emocional do que aos estudos, tendo vindo a Portugal em fins de Junho de 1913, um ano antes do início da Primeira Grande Guerra, com uma breve passagem por Espanha. É também em 1912 que, com a publicação da peça de teatro Amizade, de colaboração com um condiscípulo - Tomás Cabreira Júnior, que antes dele igualmente se suicidou, Mário de Sá- Carneiro se estreia na literatura. Do mesmo ano é o volume de contos Princípio, seguindo-se em 1914, a novela A Confissão de Lúcio, e o volume de poemas “Dispersão”. Um outro volume de novelas, Céu em Fogo, é publicado em 1915. Indícios de Oiro, poesia, é publicado postumamente (1937). Situado entre Rimbaud, Cesário, António Nobre, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa e o século que estava a nascer, e sendo Mário de Sá-Carneiro um caso singular, o seu drama não deixa de ser também o drama de uma geração a quem seduzia a modernidade de valores que em si mesmos continham o pressuposto da sua permanente interrogação. É ainda o tempo da história e o tempo da nossa história literária - quem confirma a sua actualidade: o grupo da Presença (1927- 1940) a editar-lhe os Indícios de Oiro (1937), a editora Ática a editar-lhe as Poesias Completas (1946) e as Cartas a Fernando Pessoa (2 vols., 1958-1959), e os ensaios que, mais recentemente, entre teses, biografias e fotobiografias, não deixam de lhe seguir o rasto como uma referência importante - e um estímulo - a acompanhar o itinerário pessoano. Suicidou-se a 26 de Abril. POETA
Gastão Cruz, 1941 Poeta, encenador e crítico literário, licenciou-se em Filologia Germânica pela faculdade de Letras de Lisboa. Foi Professor do ensino secundário e leitor de português no king´s College. Como poeta, começou por se destacar com a participação na revista Poesia 61 (com Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta). Colaborou com vários jornais e revistas como crítico literário, tendo também traduzido autores como William Blake, Strindberg e Shakespeare. Foi ainda um dos fundadores do grupo Teatro Hoje, onde encenou várias peças. Começou a publicar poesia em 1961 e entre os seus títulos mais relevantes contam-se A Doença (1963), As Aves (1969), O Pianista (1984: prémio do Pen Clube), As Pedras Negras (1995), Crateras (2000). Em 1999 editou de novo toda a sua poesia, agora sob o título Poemas Reunidos (Publicações Dom Quixote). A obra de Gastão Cruz foi distinguida com inúmeros prémios, entre os quais se contam o Prémio PEN Clube de Poesia, em 1985, e o Prémio D. Dinis, atribuído pela Fundação Casa de Mateus. Em 2002, o seu livro de poesia Rua de Portugal foi distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, e em 2005, com Repercussão, ganhou o Grande Prémio de Literatura dst. O seu livro A Moeda do Tempo conquistou o prémio literário Correntes d'Escritas /Casino da Póvoa 2009. POETA
Fernando Assis Pacheco, 1937 - 1995 Poeta, ficcionista, jornalista e crítico. Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, viveu nesta cidade até ir para a tropa, em 1961. Filho de pai médico e de mãe doméstica, sendo o avô materno galego, casado com uma lavradeira da Bairrada, e o avô paterno roceiro em São Tomé foi na juventude actor de teatro (TEUC e CITAC) e redactor da revista Vértice, circunstância que lhe permitiu privar de perto com o poeta neo-realista Joaquim Namorado e com poetas da sua geração, como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos. Cumpriu parte do serviço militar em Portugal entre 1961 e 1963, tendo seguido como expedicionário para Angola, onde se manteve até 1965. Integrado inicialmente num batalhão de cavalaria, viria a ser reciclado nos serviços auxiliares e colocado no Quartel-General da Região Militar de Angola. Publicou o primeiro livro em Coimbra, a expensas paternas, não obstante se encontrar, na altura, em África. Cuidar dos Vivos se intitula o livro de estreia - poemas de protesto político e cívico com afloramento dos temas da morte e do amor. Em apêndice, dois poemas sobre a guerra em Angola, que terão sido dos primeiros publicados sobre o conflito. A temática africana de guerra voltaria a impor-se em Câu Kiên: Um Resumo (1972), ainda que sob "camuflagem vietnamita", livro que conheceria em 1976 a sua versão definitiva: Katalabanza, Kiolo e Volta. Memória do Contencioso (1980) reúne "folhetos" publicados entre 1972 e 1980, e Variações em Sousa (1987) marca como que um regresso aos temas da infância e da adolescência, com Coimbra em fundo, e refinando uma veia jocosa e satírica já visível nos poemas inaugurais. A novela Walt (1978) atesta-o exuberantemente. Era notável em Assis Pacheco a sua larga cultura galega, aliás sobejamente explanada em alguns dos seus textos jornalísticos e no seu livro Trabalhos e Paixões de Benito Prada. Em A Musa Irregular (1991) reuniu o poeta toda a sua produção. Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo: deixou a sua marca de grande repórter no Diário de Lisboa, na República e no JL: Jornal de Letras, Artes e Ideias. Foi chefe de Redacção de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária. Traduziu para português obras de Pablo Neruda e Gabriel Garcia Marquez. POETA
NÓS (a A. de S. V.) I Foi quando em dois verões, seguidamente, a Febre E o Cólera também andaram na cidade, Que esta população, com um terror de lebre, Fugiu da capital como da tempestade. Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas (Até então nós só tivéramos sarampo), Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas que ele ganhou por isso um grande amor ao campo! Se o acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga: O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos; Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga. Na parte mercantil, foco da epidemia, Um pânico! Nem um navio entrava a barra, A alfândega parou, nenhuma loja abria, E os turbulentos cais cessaram a algazarra. Pela manhã, em vez dos trens dos baptizados, Rodavam sem cessar as seges dos enterros. Que triste a sucessão dos armazéns fechados! Como um domingo inglês na “city”, que desterros ! (…) In Verde, Cesário, O Livro de Cesário Verde Heroísmos Eu temo muito o mar, o mar enorme, Solene, enraivecido, turbulento, Erguido em vagalhões, rugindo ao vento; O mar sublime, o mar que nunca dorme. Eu temo o largo mar, rebelde, informe, De vítimas famélico, sedento, E creio ouvir em cada seu lamento Os ruídos dum túmulo disforme. Contudo, num barquinho transparente, No ser dorso feroz vou blasonar, Tufada a vela e n’água quase assente E ouvindo muito ao perto o seu bramar, Eu rindo, sem cuidados, simplesmente, Escarro, com desdém, no grande mar! In Verde, Cesário, O Livro de Cesário Verde e Poesias Dispersas
Caranguejola Ah, que me metam entre cobertores, E não me façam mais nada... Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada, Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores! Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado... Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira — Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira. Não, não estou para mais — não quero mesmo brinquedos. Pra quê? Até se mos dessem não saberia brincar... Que querem fazer de mim com este enleios e medos? Não fui feito pra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar... Noite sempre plo meu quarto. As cortinas corridas E eu aninhado a dormir, bem quentinho — que amor... Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor — Plo menos era o sossego completo... História! Era a melhor das vidas... Se me doem os pés e não sei andar direito, Pra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord? Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito (...) In Sá-carneiro, Mário, Poemas Completos Crise Lamentável Gostava tanto de mexer na vida, De ser quem sou — mas de poder tocar-lhe... E não há forma: cada vez perdida Mais a destreza de saber pegar-lhe. Viver em casa como toda a gente Não ter juízo nos meus livros — mas Chegar ao fim do mês sempre com as Despesas pagas religiosamente. Não ter receio de seguir pequenas E convidá-las para me pôr nelas — À minha Torre ebúrnea abrir janelas, Numa palavra, e não fazer mais cenas. Ter força um dia pra quebrar as roscas Desta engrenagem que empenando vai. — Não mandar telegramas ao meu Pai, — Não andar por Paris, como ando, às moscas. Levantar-me e sair — não precisar De hora e meia antes de vir prà rua. — Pôr termo a isto de viver na lua, — Perder a «frousse» das correntes de ar. Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas Por casa dos amigos que frequento — Não me embrenhar por histórias melindrosas Que em fantasia apenas argumento Que tudo em mim é fantasia alada, Um crime ou bem que nunca se comete E sempre o Oiro em chumbo se derrete Por meu Azar ou minha Zoina suada... In Sá-Carneiro, Mário, Poemas Completos
O Menino Perdido “Pai, pai, aonde vais? Não andes tão depressa. Pai, pai, fala comigo, Ou ficarei perdido.” A noite estava escura, o pai não estava ali; O orvalho molhava a criança perdida; O lodo era profundo, a criança chorava; Sobre o pântano imenso a névoa flutuava. In Cruz, Gastão, Poemas Reunidos Rios Se te enganam as ruas de Lisboa Como tropos dum estilo conhecido Hipérboles desfeitas Áridas metonímias Nos rios do verão metáforas ainda Procura do metal do corpo o velho mito Talvez olhando em torno Não vejas os indícios Da água que desfaz devagar estas vias Talvez ela não corra Nos seus leitos fictícios Desse espelho molhado colhe o brilho Como as folhas de julho alheio à Velocidade da vida In Cruz, Gastão, Poemas Reunidos
Sem que Soubesses Falei de ti com as palavras mais limpas, viajei, sem que soubesses, no teu interior. Fiz-me degrau para pisares, mesa para comeres, tropeçavas em mim e eu era uma sombra ali posta para não reparares em mim. Andei pelas praças anunciando o teu nome, chamei-te barco, flor, incêndio, madrugada. Em tudo o mais usei da parcimónia a que me forçava aquele ardor exclusivo. Hoje os versos são para entenderes. Reparto contigo um óleo inesgotável que trouxe escondido aceso na minha lâmpada brilhando, sem que soubesses, por tudo o que fazias. In Pacheco, Fernando Assis, A Musa Irregular Genérico E tu, meu pai? Adivinho esses vidrilhos das lágrimas quebrando um a um na boca triste mas por dentro, para que digamos mais tarde, sem invenção escusada: o pai não chorou. Eu soube das tuas fúrias mordendo-se em silêncio, ou de como te pões Às vezes tão de cinza. O barco, o barco. Ficaremos ainda estes minutos quantos. Do que quiseres. E como quiseres Fala. Mas nada de telegramas Para depois da barra - posso não os abrir, juro que posso. Se eu fosse um amigo, se estivesses em frente dum copo. Custa menos. Assim deslizas a unha pelo tecido da farda, inútil dedo terno com os olhos longe. O pai, que não chorou, tremia de modo imperceptível. Lembro-me da bebedeira em Alpedrinha , na estalagem, com o Luís Melo subitamente velho. “Tramados, pá, tramados,” O carro falha, são as velas os platinados sujos “a puta que os pariu” (Luís), Um último aceno só vinho para estas adolescentes ao balcão do bar e depois e depois? Mas o pai não chora. Segura-me pelo braço, não chora. Eis o filho dos anos meus incorruptíveis (…) In Pacheco, Fernando Assis, A Musa Irregular