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Milhares de pessoas foram às ruas de Kiev, capital ucraniana, protestar contra o governo do presidente Viktor Yanukovych. A gota d’agua para desencadear o movimento foi a decisão do governo de não assinar um acordo de aproximação comercial com a União Européia, preferindo assim uma aproximação com a Rússia.
As relações entre a Rússia e a Ucrânia A Ucrânia é uma ex-república soviética localizada hoje entre a Rússia e a UE. Sua importância deriva de diversos fatores: produção agrícola, litoral no Mar Negro e questões energéticas. A Rússia hoje é uma petropotência, sua riqueza (e poder político) vem do petróleo e do gás natural explorados na região ártico-siberiana. A UE, por outro lado, depende em grande parte desse fornecimento. A Ucrânia é o território-ponte que une essa cadeia de produção e consumo. Há, portanto interesse da Rússia em manter seu poder sobre Kiev, e interesse da UE em se aproximar.
A Questão econômica Além da questão energética, há outras questões econômicas. Caso a Ucrânia se aproxime da UE, a Rússia perderá gradualmente o acesso a mais um mercado. Com o tempo, é natural que a Ucrânia passe a consumir mais produtos europeus e menos produtos russos. Economicamente, portanto, Moscou tem muito a perder.
As questões geopolíticas Há ainda a questão geopolítica maior, inclusive militar. Desde o colapso do bloco socialista e da própria URSS, a UE e a OTAN ampliaram sua presença no leste europeu. Para os russos, este avanço é visto como uma ameaça potencial. Estônia, Letônia e Lituânia, ex-repúblicas soviéticas, já são hoje membros da UE e da OTAN. Vale o mesmo para países da antiga cortina de ferro, como a Polônia entre outros. Quando um país adere aos blocos econômico e militar ocidentais, dificilmente esta decisão pode ser revertida. Para a Rússia, é um território “perdido”.
As tentativas para conter a crise O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, decidiu se reunir com ex-chefes de Governo do país para discutir formas de solucionar a crise política. O presidente ucraniano, prometeu criar uma comissão multipartidária para pôr fim à crise política que afeta o país. O papa Francisco pediu o fim da violência na Ucrânia e apelou para que haja um diálogo entre governo e opositores, que se manifestam em protesto há dois meses. O parlamento ucraniano aboliu, por ampla maioria, as leis antimanifestação que levaram à radicalização dos protestos no país. Depois de tentar por meses aliviar a crise pela qual a Ucrânia passa, o primeiro-ministro, MykolaAzarov, pediu demissão do cargo.
O dilema ucraniano A Ucrânia, por sua vez, encontra-se dividida. Grande parte da população exige a aproximação com a UE, mas do ponto de vista econômico o processo não é tão simples: UE e Rússia, quase de forma igual, tem a mesma importância econômica para Kiev. Além disso, a energia da Ucrânia vem da Rússia, o que dá a Moscou uma vantagem imediata importante. A vontade popular é pró-UE, mas o ponto de vista pragmático do governo deve levar em consideração todos esses fatores.