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1. VI. – O Génesis – História dos Patriarcas. Escola de Dirigentes do MCC Formação Básica na Fé VI. 6ª sessão – O Génesis – História dos Patriarcas. 2. Sumário: 1 – GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 2 – O CICLO DE ABRAÃO 3 – O CICLO DE ISAAC 4 – O CICLO DE JACOB 5 – O CICLO DE JOSÉ
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1 VI. – O Génesis – História dos Patriarcas Escola de Dirigentes do MCC Formação Básica na Fé VI
6ª sessão – O Génesis – História dos Patriarcas 2 Sumário: 1 – GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 2 – O CICLO DE ABRAÃO 3 – O CICLO DE ISAAC 4 – O CICLO DE JACOB 5 – O CICLO DE JOSÉ 6 – EM JEITO DE CONCLUSÃO… 7 – Bibliografia recomendada
3 1 – GENERALIDADES SOBRE GN 12-50
4 OS PATRIARCAS E A HISTÓRIA PATRIARCAL. 1 PATRIARCAS = Chefes das grandes famílias, clãs ou tribos do povo de Israel. MATRIARCAS • Os patriarcas podem ser: • Os chefes de família israelitas do tempo da monarquia (2 Cro 19,8; 26,12), conforme a Versão dos Setenta. • No Novo Testamento recebem também este título Abraão, (Heb 7,4), os 12 filhos de Jacob (Act 7,8-9) e David (Act 2,29). • Os 10 que aparecem antes do Dilúvio («pré-diluvianos»: Adão, Set, Enos, Cainã, Malalel, Jared, Henoc, Matusalem, Lamec e Noé) e os 10 que aparecem após o Dilúvio («pós-diluvianos»: Sem, Arfaxad, Sale, Heber, Faleg, Reú, Sarug, Nacor, Tare e Abrão). • E os «patriarcas propriamente ditos»: Abraão, Isaac e Jacob. 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 A história dos patriarcas está em Gn 12-50 (origens de Israel e elementos que condicionaram a sua vida como povo eleito).
5 De uma perspectiva universal, de Gn 1-11… Origens da humanidade(Tábua de Adão) 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Origens do Povo de Israel (Tábua de Abraão) … a uma perspectiva mais estreita, de Gn 12-50 Abraão domina a narração; mas a finalidade do narrador bíblico é mostrar como a genealogia, iniciada em Gn 1-11, se vai restringindo única e exclusivamente aos descendentes de Jacob…
6 3 • O PLANO LITERÁRIO DE GN 12-50 a) A ESTRUTURA DE GN 12-50 GÉNESIS = «ORIGENS» ÊXODO = «SAÍDA» 1-11: do Homem 12-50: do Povo de Israel O Povo de Deus no Egipto e sua saída… 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Abraão, Jacob e José no Egipto… A história dos patriarcas pode ser estruturada de inúmeras formas. Os ciclos não são “estanques” nem nitidamente delimitados; por vezes, um ciclo entrelaça-se com outro, como é o caso do Ciclo de Isaac; por isso, este é apresentado ou como um ciclo à parte ou como fazendo parte de outros.
7 Um exemplo de divisão de Gn 12,1-50,26: Ciclo ou História de Abraão Ciclo ou História de Isaac Ciclo ou História de Jacob Ciclo ou História de José Com o Ciclo de Isaac à parte… Gn 12, 1-23, 20: da vocação de Abrão até à morte de Sara. Gn 24, 1-27, 46: do casamento de Isaac até ao envio de Jacob à Mesopotâmia Gn 28,1-36,43: da ida de Jacob a Betuel até descendência de Esaú Gn 37, 1-50,26 a partir de 11, 25 já temos dados sobre Abrão… 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Filhos de Jacob, José e irmãos História de Isaac e Jacob Gn 25, 19-36,43: até à descendência de Esaú. Gn 37, 1-50,26 Gn 12,1- 25,18: até aos descendentes de Ismael; começa já a História de Isaac (promessa do nascimento, nascimento, sacrifício e casamento) Com o Ciclo de Isaac junto…
8 b) A HISTÓRIA PATRIARCAL COMO HISTÓRIA FAMILIAR E RELIGIOSA Trata-se de uma história familiar, que transcorre ao longo de quatro gerações, tendo mais importância Abraão, Jacob e José. As histórias humanas e familiares que se vão sucedendo pertencem todas a um grupo fortemente ligado por nexos de sangue. 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 As narrações estão marcadas por contínuas intervenções divinas, que constituem uma clara manifestação da vontade de Deus de levar a cabo uma história de salvação através de Abraão e a sua descendência.
9 c) COMO E QUANDO FOI ESCRITA? A História patriarcal é fruto de várias recolhas: Recolhas de material de povos vizinhos, como lendas antigas e referências a El, que faziam parte do espólio cultural dos santuários cananeus… 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Recolhas de tradições orais das tribos, seus costumes, rixas, relações familiares, como os matrimónios, os filhos, os falecimentos, etc., tudo contado à volta da fogueira… Recolhas de relatos sobre genealogias (patriarcas, povos)… Recolhas da liturgia que se ensinava nos grandes santuários (Betel, Hebron, Siquém, Silo…)…
10 Transmissão oral das várias tradições (durante mais de 1000 anos) • Acontecimentos de Gn 12-50 • Material “caseiro” + “estrangeiro”; • Material “sagrado” + “profano” • (+/- 2000 a 1700 a.C.) 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Começam a ser escritos nos Reinados de David e Salomão (+/- séc. X a.C.) Redacção definitiva (+/- séc. V a.C.) Documento Javista (J) Assim se explicam diferenças cronológicas e até teológicas entre os documentos; por outro lado, a variedade dos géneros literários na História Patriarcal. Documento Eloísta (E) Documento Sacerdotal (P)
11 d) AS TRADIÇÕES DE GN 12-50 Do ponto de vista literário, a História patriarcal é viva, cheia de episódios concretos, atribuída, em grande parte, à tradição Javista. Mas estão presentes três tradições: Génesis 12-50 14 15-50 12-13 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 ? JAVISTA (Deus é o Deus universal; os patriarcas são homens de fé, mas com defeitos; apesar disso, pode sempre confiar em Deus) JAVISTA Sacerdotal Sacerdotal (realça aspectos mais litúrgicos, sinais sagrados e genealogias) ELOÍSTA (Deus mais distante, comunica-Se com sonhos, anjos, vozes celestes; os patriarcas são vistos sob uma luz mais favorável, como grandes heróis religiosos)
12 e) GÉNEROS LITERÁRIOS DE GN 12-50 São vários, entre eles: As sagas ou histórias antigas (relatos religiosos populares) de todo o género: luta pelos poços, guerras tribais, histórias de famílias… Têm um fundo histórico, biográfico, mas cuja história é trabalhada segundo a mentalidade histórica dum povo, tempo e espaço, de modo a transmitir uma experiência de Deus, pois fundamentam a existência do povo de Israel como povo crente. 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Novela sapiencial: no caso da História de José. A lenda: consiste em reproduzir um relato a partir de um facto real, nome de pessoa ou lugar. Há lendas etiológicas, que pretendem explicar, no passado, a “causa” de um fenómeno ou acontecimento do presente (por ex.: a destruição de Sodoma e Gomorra) ou ainda para explicar a origem de nomes de pessoas. Genealogias: lista de nomes que recua o mais possível no tempo; pretende justificar no aspecto jurídico certos acontecimentos, privilégios de uma classe social ou povo, como veremos adiante.
13 • CONTEXTO HISTÓRICO, SOCIAL E GEOGRÁFICO DA ÉPOCA PATRIARCAL 4 A Era dos patriarcas (2000 a.C-1700 a.C.) insere-se na época das migrações dos povos que, perseguidos por novos povos, se dirigiam para Ocidente; o próprio clã de Abraão terá feito parte destas migrações. 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Mesopotâmia superior: Hurritas. Mesopotâmia inferior: Amorreus.
14 Os conhecimentos que se possuem do ambiente histórico e social do antigo Próximo Oriente favorecem a situação dos patriarcas nessa época. Os vínculos entre os patriarcas e o seu ambiente eram estreitos (jurídicos, étnicos e até religiosos), apesar de se moverem investidos por uma chamada divina e tiveram a fé no Deus único. O Antigo Testamento ainda não se tinha escrito! 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Nuzi As escavações em Ugarit, Ur, Mari e Ur, por exemplo, mostraram isso mesmo… Mari Ugarit Ur
15 Tinham costumes semelhantes às tribos nómadas e semi-nómadas do seu tempo; de facto: a) Moravam em tendas (Gn 12, 8-9; 13, 3), com o seu gado (13, 5), nas proximidades dos poços (21, 25) e da água (13, 10). b) Emigravam com frequência a outras regiões devido às carestias (12, 10), indo de acampamento em acampamento (13, 3) e realizando migrações segundo as estações (transumância). 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 c) Sentiam-se solidários entre eles, até à ajuda mútua e caso de guerra (14, 13-16). d) A hospitalidade era tido em alta estima (18, 1-8; 24, 18-32). e) Nos casamentos cuidavam da pureza do sangue, procurando mulheres consanguíneas (Gn 24 e 29, matrimónio de Isaac e Jacob). Estas tradições foram conservadas quando Israel se tornou sedentário.
16 Também os seus costumes sociais e jurídicos apresentam afinidades com o povo da Alta Mesopotâmia, em particular com Nuzi. • A adopção era praticada em Nuzi, com a atribuição do pleno direito ao nome e à herança, um gesto que Jacob realiza com respeito aos filhos de José (48, 5.12-16). 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 2) A adopção de um escravo como filho e herdeiro, quando não tinham tido filhos próprios, como sucede com Eliezer de Damasco, a quem Abraão adopta (15, 2); contudo, depois nasceu Isaac, filho legítimo e Eliezer perdeu o seu direito. 3) A entrega de uma escrava ao marido por parte da esposa para remediar a própria esterilidade e procriar filhos como próprios, como Sara, Raquel e Lia (16, 2; 30, 3; 30, 9). 4) O modo da venda da primogenitura, como tem lugar na história de Esaú e Jacob (25, 27-34).
17 5) O costume de casar-se com consanguíneos da linha colateral ou descendente, costume que a Lei de Moisés condena, mas é conforme ao Código de Hamurabi. 6) O matrimónio com duas irmãs, proibido mais tarde pela Lei de Moisés (Lv 18, 18). 7) O intercâmbio de propriedade, onde todas as transacções tinham a ver com a transferência de propriedade, eram anotadas testemunhas, seladas, e proclamadas na porta da cidade (Gn 23,10-18: compra da gruta sepulcral em Macpela). 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 8) Herança. Em Nuzi existia uma lei no sentido de que a propriedade e a liderança da família podia ser passada ao esposo de uma filha, sempre e quando o pai tivesse entregue seus ídolos familiares ao genro. Assim quando Labão alcançou Jacob e buscou euforicamente em seu acampamento os ídolos familiares, não pode encontrar por que Raquel havia tomado os ídolos do lar, e os tinha escondido e sentado sobre ele (Gen 31:30-35). etc
18 Os nomes próprios, os lugares geográficos que são mencionados, os sacrifícios de culto, as expressões do sentimento religioso e outros aspectos sociais e religiosos da vida patriarcal situam-se no contexto dessa época. Por exemplo, o nome divino «El», conhecido pelos semitas ocidentais, que aparece na formação dos nomes teofóricos (nome de uma divindade) e na designação de estelas comemorativas (Gn 28, 18-22; 31, 45-48; 35, 14). 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Estes factores, entre outras, favorece a hipótese de uma história patriarcal situada na primeira metade do II milénio a.C.
19 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 • A GEOGRAFIA NOS PATRIARCAS. • Os caminhos que, segundo a Bíblia foram seguidos pelos Patriarcas e suas tribos, ladeavam o rio Eufrates e seguiam ao longo das margens áridas do deserto, dotadas de poços de água. • Apresentavam as características das pistas frequentadas pelos seminómadas, «filhos da estepe»: já não são nómadas, mas também não são camponeses (sedentários), mas vão-se fixando. Isaac personifica o processo da fixação: «Isaac semeou naquela terra» (Gn 26, 12-4).
20 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Os nomes dos três patriarcas (Abrão, Isaac e Jacob) estão ligados a localidades determinadas, como Ur, Haran, Siquem, Betel, Fanuel, Mambré, Hebron, Bersabé… Ur está mais relacionada com Terá, pai de Abraão. Haran está relacionada com toda a história dos Patriarcas, tanto com Abraão, como com Isaac (cuja mulher provem de Haran) e Jacob (cujas mulheres, Liam e Raquel, nascem na mesma cidade). À volta de Haran, a região é chamada Padã Arão (Campo de Arão) ou Arão Naarim (Arão dos dois rios). Para Abraão, a história concentra-se sobretudo em Hebron, «Macpela», junto de Mambré; mas também Siquem, Betel, Bersabé; Para Isaac tem maior importância Bersabé. E para Jacob, tem maior importância Betel, Siquem, Fanuel (na Palestina Central)
21 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 5 • A GENEALOGIA DOS PATRIARCAS. É importante a genealogia nos patriarcas. A genealogia de Abraão que o liga a Sem (filho mais velho de Noé) e a Seth trata-se de uma tentativa bem intencionada de inserir Abraão na linha dos homens tementes a Deus, sem nenhuma pretensão de querer oferecer dados genealógicos exactos. É importante a questão jurídica, a transmissão de um direito e não tanto a questão biológica: entre Adão e Abraão, o pai de Israel, existe unidade na História da Salvação; a promessa feita em Gn 3, 15 chega a Abraão. É mais que certo que a genealogia da ascendência de Abraão deve ser posta em relação com localidades babilónicas. Esses semi-nómadas devem ter relacionado os mais importantes acontecimentos da sua vida, como o nascimento dos filhos, com o lugar que nasceu: por exemplo, «aquele de Nacor»…
22 Segue-se uma árvore genealógica: Tera (ou Terá ou Taré) A «linha da promessa segue um andamento «esquisito»:… Seth Sem Nacor (ou Naor) Arão (ou Haran) (Gn 11,26) Abrão (depois Abraão) Batuel (Gn 22, 23) Loth (ou Lot)(Gn 11,27ss) De Sara (antes Sarai -1ª esposa ) De Quetura (2ª esposa – após a morte de Sara e do casamento de Isaac) De Agar 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Labão Moab e Ben-ami Ismael (Gn 25, 12-16) Isaac Rebeca Moabitas Amonitas Ismaelitas (na tradição, o povo islâmico) Jacob (depoisIsrael) Raquel Esaú Lia Zilpa (serva de Lia) Bila (serva de Raquel) 6 filhos (Gn 25, 1-5) Ruben (1) Simeão (2) Levi (3) Judá (4) Issacar (9) Zabulão (10) Edomitas (Gn 36,15ss; 36,31ss) Benjamim (12) José (11) Gad (7) Aser (8) Dan (5) Neftali (6) Manassés Efraim …há uma superação das estruturas dos homens e uma predilecção pelos mais fracos. Israelitas Dina
23 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 Destaca-se as idades dos patriarcas: Nos dados relativos às idades dos Patriarcas, Abraão, Isaac e Jacob, descobriu-se um estranho simbolismo numérico: Há uma dupla série numérica: uma linha decrescente 7, 5, 3 e uma linha crescente 5 (x5), 6 (x6), 7 (x7) desde Abraão a Jacob através de Isaac. Embora o sentido exacto nos escape, o certo é que pretendem expressar por um acto de fé que na vida dos patriarcas nada acontecia por acaso e que as suas vidas foram agradáveis a Deus nos anos em que viveram. O facto da idade ter encurtado significativamente desde a Criação não é um facto biológico, mas uma ideia teológica: ao ir a humanidade afastando-se de Deus, as pessoas vão vivendo menos. «Honra teu pai e tua mãe para que tenhas longa vida» (Ex 20, 12), a longa vida é sinal de bênção divina. Nesta ordem de ideias, Jesus Cristo, que não chegou aos 40 teria sido um maldito!
24 1. GENERALIDADES SOBRE GN 12-50 6 • COMO ERA A RELIGIÃO DOS PATRIARCAS? «Com o andar do tempo, aumentou o conhecimento espiritual. Por isso Moisés foi mais erudito na ciência de Deus do que os patriarcas, os Profetas mais do que Moisés e os Apóstolos mais do que os Profetas» (S. Gregório Magno). Deus revelou-Se aos homens, adaptando-se à sua mentalidade, “contentando-Se” primeiro numa fé acessível; é possível que tivessem a ideia do Deus tutelar de uma localidade, diferente das divindades que protegiam as outras tribos (henoteísmo). Na história de cada Patriarca são nomeadas diversas divindades = El (El-Shaddai, Gn 17, 1; El-Elion, Gn 14, 18; El-Betel, Gn 28, 10-22, etc.). Mas estas divindades El não são realmente ídolos locais, mas manifestações dum único El e como tal, representam uma unidade. • Identificar Javé com o «Deus dos Pais», levou a: 1ª - Continuidade histórica, é um único Deus que guiou os destinos de Israel até aos dias de Abraão. 2ª - Um processo de purificação monoteísta, com o culminar na época dos Reis, com a unidade do culto religioso.
25 2 – O CICLO DE ABRAÃO
26 • ABRAÃO COMO FIGURA-CHAVE NA HISTÓRIA DA SALVAÇÃO 1 • Inicia-se o diálogo de Deus com o Homem: Deus chama e Abraão responde… • A iniciativa do chamamento é de Deus, e Ele dirige a História… • Abraão é o modelo do chamado: o seu exemplo é estímulo para os homens, pois é retratado como um homem (com seus defeitos, que segue por vezes o seu próprio juízo) e não como um “anjo”… • Abraão responde com fé e obediência, mesmo nas provas… • É chamado a ser «pai»: de Isaac, do Povo de Israel (primeiro antepassado do Povo de Israel e a personagem principal dos patriarcas), «pai dos crentes» ou «pai da fé» (cristãos, judeus e muçulmanos; a sua fé é exemplo para todos: confia no Senhor, faz-se a caminho, confia na descendência que Deus lhe irá dar, confia em Deus, quando lhe pede para sacrificar o filho…) e «pai da Igreja» (cf. Diodoro de Tarso, +394; o contacto salvífico e o diálogo com Deus começa com Abraão e tem o culminar em Cristo e no final dos tempos) 2. O CICLO DE ABRAÃO
27 2 • VISÃO GERAL DO CICLO DE ABRAÃO O Ciclo de Abraão situa-se em Gn 12,1-25,18. Contudo, a partir de Gn 11, 25 temos dados sobre Abrão. O fio condutor é o de vocação e promessas. A VOCAÇÃO DE ABRAÃO (12,1-9). 2. O CICLO DE ABRAÃO 1 O SENHOR disse a Abrão: «Deixa a tua terra, a tua família e a casa do teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar. 2 Farei de ti um grande povo, abençoar-te-ei, engrandecerei o teu nome e serás uma fonte de bênçãos. 3 Abençoarei aqueles que te abençoarem, e amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem. E todas as famílias da Terra serão em ti abençoadas.» (…) 7 O SENHOR apareceu a Abrão e disse-lhe: «Darei esta terra à tua descendência.» (Gn 12, 1-9)
28 2. O CICLO DE ABRAÃO Abraão é chamado e responde: as suas viagens Gn 11, 31:«Tera tomou seu filho Abrão, seu neto Lot, filho de Haran, e sua nora Sarai, mulher de Abrão, seu filho, e partiu com eles de Ur, na Caldeia, e dirigiram-se para a terra de Canaã». Abraão pertencia a um clã de semi-nómadas. A sua expansão pode estar relacionada com a dos Amorreus. Gn 12,1:«O Senhor disse a Abrão: deixa a tua terra, a tua família e a casa de teu pai, e vai para a terra que Eu te indicar». Gn 12,4-6:«Abrão partiu, como o Senhor lhe dissera (…) quando saiu de Haran, Abrão tinha setenta e cinco anos (…) e partiram todos para a terra de Canaã (…) até ao lugar de Siquém». …e instala-se em Haran. O «Crescente Fértil» facilita as migrações… Por volta de 1850 a.C. (data “aproximada”), Abraão parte de Ur dos caldeus (na Mesopotâmia)… 2 Gn 12,10:«Houve fome naquela terra. Como a miséria era grande, Abrão desceu ao Egipto para aí viver algum tempo». …mais tarde vai ao Egipto… Gn 13,18:«Abrão desmontou as suas tendas e foi residir junto aos carvalhos de Mambré, próximo de Hebron». 3 1 Em Haran ouve o chamamento do Senhor e vai morar para a «Terra Prometida», para Siquém; 4 5 A Viagem de Abraão tem motivos Económicos (melhores condições de vida) e religiosos: Chamamento do Senhor. …e ao regressar, separa-se de Lot e instala-se em definitivo em Hebron.
29 Bênção(barak): não há prosperidade sem ela; começa-se a preparar a vinda do Messias, que levará a bênção a todos. • Promessas divinas: feitas a Abraão e confirmadas a Isaac e a Jacob (acompanhadas da protecção divina), são: • Um filho: cumpre-se em Isaac. • Uma numerosa descendência: os hebreus no Egipto tornam-se muito numerosos. • Uma terra: inicia-se com a compra da gruta de Macpela por Abraão, continua com Josué e a conquista da terra e aponta para a “nova terra”, de que fala o Apocalipse. • Uma bênção (promessa messiânica): da sua descendência há-de nascer o Messias. 2. O CICLO DE ABRAÃO • Fé: o caminho começa pelo acolhimento de Abraão da palavra de Deus sem restrições (deixa terra, credo…).
30 ABRÃO E SARAI NO EGIPTO (12,10-20). «(…) 13 Diz, pois, que és minha irmã, peço-te, a fim de que eu seja bem tratado por causa de ti, e salve a minha vida, graças a ti (…).» Abrão segue os juízos humanos: sai da Terra Prometida, mente ao dizer que sua esposa é sua irmã, expõe a sua esposa a outro homem… 2. O CICLO DE ABRAÃO Relatos paralelos: em Gn 20, 2 (perante o rei Abimelech); e com Isaac e Rebeca (Gn 26, 6-11). • Conclusões desta narrativa “baixa”: • Pretende-se enaltecer a beleza da matriarca. • Ninguém está a salvo de possíveis quedas e tentações. • Alegoria antecipada da escravidão do Egipto e do êxodo. • Nada pode desviar ou anular o projecto de Deus. • Abraão só dissimulou parte da verdade (irmãos pelo pai, cf. Gn 20, 12). • A intervenção de Deus em seu favor mostra a sua boa fé.
31 SEPARAÇÃO DE ABRÃO E LOT e RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS DE DEUS (13,1-18). «(…) 8 Abrão disse a Lot: «Peço-te que entre nós e entre os nossos pastores não haja conflitos, pois somos irmãos. 9 Aí tens essa região toda diante de ti. Separemo-nos. Se fores para a esquerda, irei para a direita; se fores para a direita, irei para a esquerda.» 10 Lot ergueu os olhos e viu todo o vale do Jordão, que era inteiramente regado (…).» 2. O CICLO DE ABRAÃO • Os irmãos na Bíblia: Abrão é tio de Lot, no hebraico não há palavra para «primo», «tia», designando «irmão» todos os parentes consanguíneos. Como os «irmãos de Jesus»… AGenerosidade de Abrão: oferece a escolha do caminho ao seu sobrinho Lot que escolhe as melhores terras; esta escolha irá ser-lhe fatal, mais tarde (cf. Gn 19); Em seguida, Deus renova as promessas a Abrão.
32 ABRÃO E OS QUATRO REIS (14,1-24). «(…) 11 Os vencedores apoderaram-se de todos os bens de Sodoma e Gomorra, de todos os víveres e retiraram-se. 12 Apoderaram-se também de Lot, filho do irmão de Abrão, que habitava em Sodoma, e de todos os seus bens. (…)» 2. O CICLO DE ABRAÃO A valentia de Abrão: Tropas da Mesopotâmia atacam vários reis (entre eles os de Sodoma e Gomorra), levando prisioneiros, entre eles Lot, a família e os seus bens. Abrão consegue libertá-los, com 318 homens. O pão e vinho: no regresso a casa, MELQUISEDEC, rei de Salém (depois Jerusalém), sai ao encontro de Abrão, apresentando pão e vinho, que oferece ao Deus Altíssimo. Simbolizam a refeição de paz ou aliança entre o rei “pagão” e Abrão. No pão e vinho viu-se figura da Eucaristia e em Melquisedec a figura do Messias.
33 RENOVAÇÃO DAS PROMESSAS (15,1-21). ALIANÇA DA CIRCUNCISÃO (17,1-27). «(…) 5 Já não te chamarás Abrão, mas sim Abraão, porque Eu farei de ti o pai de inúmeros povos. (…) 10 Eis a aliança estabelecida entre mim e vós, que tereis de respeitar: todo o homem, entre vós, será circuncidado. (…)» A Aliança com Abraão: surge em dois textos, Gn 15 e Gn 17. 2. O CICLO DE ABRAÃO
34 FUGA DE AGAR E ISMAEL (16,1-16). «(…) 3 Então, Sarai, mulher de Abrão, tomou Agar, sua escrava egípcia, e deu-a por mulher a Abrão, seu marido, depois de Abrão ter vivido dez anos na terra de Canaã. 4 Ele abeirou-se de Agar, e ela concebeu. E, reconhecendo-se grávida, começou a olhar desdenhosamente para a sua senhora. (…)» Abrão segue o seu próprio juízo: serve-se de um costume em vigor na sua época, para garantir a descendência; nasce Ismael. Mas Deus tem outros planos… 2. O CICLO DE ABRAÃO Sarai humilha Agar: Abrão diz a Sarai para fazer de Agar o que lhe aprouver; Sarai humilha Agar e esta foge. Seguem a lei de Hamurabi, a qual ordenava que as escrava que concebera do seu senhor fosse humilhada, caso viesse a rivalizar com a esposa estéril.
35 PROMESSA DE UM FILHO (18,1-15). «Passarei novamente pela tua casa dentro de um ano (…)e Sara, tua mulher, terá já um filho.» (…) 12 Sara riu-se consigo mesma e pensou: «Velha como estou, poderei ainda ter esta alegria, sendo também velho o meu senhor?» A Deus nada é impossível: conforme a tradição javista, Deus aparece em pessoa ou acompanhado de dois anjos (duas leituras possíveis), em Mambré e renova a promessa do nascimento de Isaac, cujo nome significa «Que Deus sorria» ou «riso», por Sara se ter rido. 2. O CICLO DE ABRAÃO DESTRUIÇÃO DE SODOMA E GOMORRA(18,16-19,38). A humanização de Deus: Abraão regateia com Deus, como os orientais; destaca-se o poder de intercessão dos justos e a justiça de Deus, que consiste em perdoar. «(…) 32 Abraão insistiu novamente: (…) Talvez lá não se encontrem senão dez.» E Deus respondeu: «Em atenção a esses dez justos, não a destruirei.» (…)»
36 Lenda etiológica: com base numa lenda, da destruição de cidades junto ao Mar Morto, a Bíblia dá-lhe sentido teológico; e tenta justificar o porquê das formas nesse local (estátua de sal, mulher de Lot). • O pecado das cidades: as cidades, para os nómadas, era o berço do mal; os pecados de Sodoma e Gomorra eram a sodomia, orgulho…, mas o pior pecado (para a época) era a falta de hospitalidade; Lot preferia dar as duas filhas ao povo do que importunar os seus hóspedes. 2. O CICLO DE ABRAÃO • Incesto das filhas de Lot: as mesmas embriagaram o pai para terem relações com ele, para garantir a descendência. A considerar: • Pensavam que já não havia ninguém mais com quem casar. • Aparece ainda como frutos das cidades corrompidas. • A descendência era considerado um dos maiores bens. • As tribos dos moabitas e dos amonitas são fruto de um incesto, pois descenderam, respectivamente, da filha mais velha e da mais nova.
37 ABRAÃO E SARA EM GUERAR (20,1-18). Tema igual ao de Gn 12, 10-20; diz que Sara é sua irmã, perante Abimelec... ISAAC E ISMAEL (21,1-21). «(…) 2 Sara concebeu e, na data marcada por Deus, deu um filho a Abraão, quando este já era velho, (…) Isaac..» 2. O CICLO DE ABRAÃO O filho da promessa: cumpre-se uma delas. • Agar e Ismael são expulsos: Segundo o Código de Hamurabi, o filho da escrava fica excluído da herança; havia a necessidade de não perturbar a ordem, afectada com a poligamia; mas Deus entra em favor de Ismael, vai fazê-lo pai de uma grande nação (de que deriva os muçulmanos) e não perde o afecto do pai (cf. Gn 25, 9). ABRAÃO E ABIMELEC (21, 22-34). Disputas por um poço e aliança: Abraão ganha acesso a um poço em Bersabeia; justifica a posse antecipada desse território pelos israelitas.
38 SACRIFÍCIO DE ISAAC (22,1-24). «(…) «Não levantes a tua mão sobre o menino e não lhe faças mal algum, porque sei agora que, na verdade, temes a Deus, visto não me teres recusado o teu único filho.» (…)» Sacrifícios humanos: eram um costume em certos povos pagãos; com este relato a Bíblia condena esses actos (cf. Lev 18, 21). 2. O CICLO DE ABRAÃO O dilema de Abraão: sacrificar o filho querido, no qual encarna a promessa de Deus, de descendência numerosa ou “sacrificar” a Deus; como não sacrifica Deus, também salva o filho. Contrasta a ignorância de Abraão com a sabedoria divina. A prova de Abraão e a reposta de fé: Abraão aceita os dois desfechos, contraria a razão e confia em Deus. Este acto de fé fez de Abraão o «pai dos crentes».
39 COMPRA DA GRUTA DE MAKPELA (23,1-20). «(…) 19 Depois, Abraão enterrou Sara, sua mulher, na caverna de Macpela, em frente de Mambré, isto é, em Hebron, na terra de Canaã. 20 O terreno e a caverna nele situada passaram dos hititas para a posse de Abraão, como propriedade tumular. (…)». • Promessa da terra começa a cumprir-se: ao pagar pela gruta de Macpela, Abraão adquire um título de propriedade e direito de cidadania em Canaã. Essa posse é reforçada pelo carácter intocável dum cemitério (permanece até hoje). 2. O CICLO DE ABRAÃO DESCENDENTES E MORTE DE ABRAÃO (25, 1-18). «(…) 7 Esta é a duração da vida de Abraão: ele viveu cento e setenta e cinco anos. 8 Abraão foi-se extinguindo e morreu numa ditosa velhice (…)» • Outros relatos: Abraão procura esposa para Abraão (como veremos); casa-se com Quetura, da qual tem seis filhos; deixa as possessões a Abraão; é enterrado em Macpela, junto de Sara.
40 3 – O CICLO DE ISAAC
41 1 • A FIGURA DE ISAAC: O BENDITO DO SENHOR • Patriarca de “transição”:a vida de Isaac aparece “ofuscada” por Abraão e Jacob. Alguns dos aspectos importantes da sua vida (nascimento, sacrifício, casamento), aparecem ligados a Abraão; outros estão ligados ao Ciclo de Jacob (Isaac abençoa Jacob).Gn 26 é o único capítulo que se refere directamente a Isaac. 3. O CICLO DE ISAAC • Isaac aceita o sacrifício: os Padres da Igreja relevam o valor de Isaac, aceitou o sacrifício, numa doação pessoal. • Isaac, «o bendito do Senhor»: é aquele que é, só por disposição de Deus, pois o pai tê-lo-ia morto se Deus não tivesse disposto outra coisa. • Isaac obediente e fiel: não comercializa com Deus (como fez Abraão), mas coloca-se na obediência; é fiel e guarda a bênção recebida em herança.
42 • Paralelismos com Abraão: longa expectativa da maternidade ( Sara / Rebeca); Abraão no Egipto diz que Sara é sua irmã / Isaac a Abimelec (rei dos filisteus) diz que Rebeca é sua irmã; Abraão faz uma Abimelec em Bersabeia, assim como Isaac também faz uma aliança com Abimelec, em Bersabeia. • Paralelismo com Cristo: em Abraão brilha a imagem de Deus Pai, em Isaac aparece a figura de Cristo. O sacrifício de Isaac foi visto como o tipo de sacrifício de Cristo na Cruz. 3. O CICLO DE ISAAC
43 3 • VISÃO GERAL DO CICLO DE ISAAC? O Ciclo de Isaac situa-se em Gn 24,1-27,46. Trata-se de um ciclo curto, distribuído, por vezes, por outros ciclos. A ESPOSA DE ISAAC (24,1-67). «(…) 67Depois, Isaac conduziu Rebeca para a tenda de Sara, sua mãe, recebeu-a por esposa, e amou-a. (…)». 3. O CICLO DE ISAAC • Deus vela pela promessa: mesmo com sobressaltos, tudo acaba bem: as preocupações de Abraão, a fidelidade do servo mais velho, a pronta resposta de Rebeca e os préstimos do seu irmão mais velho, Labão. DESCENDENTES DE ABRAÃO (25, 1-18) (visto em Abraão). ESAÚ E JACOB (25,19-28). Ver Ciclo de Jacob. O PRATO DE LENTILHAS (25,29-34). Ver Ciclo de Jacob. ISAAC EM GUERAR E BERSEBA (26,1-35). Isaac diz que Rebeca é sua irmã (como em dois relatos anteriores); Javé renova as promessas a Isaac. ISAAC ABENÇOA A JACOB (27,1-46). Ver no Ciclo de Jacob.
44 4 – O CICLO DE JACOB
45 1 A FIGURA DE JACOB. • Jacob, o astucioso: ao contrário do que tinha acontecido com as histórias de Abraão e de Isaac, em que se notava uma atmosfera de alto nível religioso e espiritual, a história de Jacob desce desapiedadamente ao mais baixo da insuficiência humana, à bem conhecida astúcia beduína. Ao mesmo tempo, a acção divina em Jacob é mais escondida, silenciosa… 4. O CICLO DE JACOB Jacob, protegido por Deus: apesar de Jacob ser como é, Deus continua a ocupar-se dele e a conceder-lhe a protecção. 2 • VISÃO GERAL DO CICLO DE JACOB O Ciclo de Jacob situa-se em Gn 28,1-36,43; a partir de 25,19, Jacob começa a tornar-se a personagem principal, tanto em relação ao pai, como em relação ao seu irmão. Pode subdividir-se em: ciclo de Jacob e Esaú; ciclo de Jacob e Labão; ciclo de Jacob e José.
46 ESAÚ E JACOB (25,19-28). «(…) 22 As crianças lutavam no seu seio, (…) «Duas nações estão no teu seio: dois povos sairão das tuas entranhas. Um prevalecerá sobre o outro, e o mais velho servirá o mais novo.» (…)» A história dos dois irmãos, Esaú e Jacob começa aqui, anda no ciclo de Isaac; Esaú é o preferido de Isaac; Jacob é o preferido de Rebeca. Lutam já no seio para mostrar a hostilidade entre os dois povos que deles sairão: Edom, de Esaú e Israel, de Jacob. 4. O CICLO DE JACOB O PRATO DE LENTILHAS (25,29-34). «(…) Ele jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacob. 34 Então Jacob deu-lhe pão e um prato de lentilhas (…)». • Esaú vende a primogenitura: Primeiro acto de Jacob para “suplantar” o irmão. À ligeireza com que se porta Esaú contrapõe-se a astúcia de Jacob para adquirir a primogenitura, que lhe atribuía a maior parte da herança (2/3) e a supremacia sobre o irmão. Apesar das fraquezas do Homem, Deus conduz a história: mas a Bíblia não justifica, nem legitima esses actos.
47 ISAAC ABENÇOA A JACOB (27,1-46). «(…)21 Isaac disse a Jacob: «Anda, aproxima-te para eu te tocar, meu filho, e ver se és realmente o meu filho Esaú ou não.» (…) Sê o senhor dos teus irmãos; diante de ti se curvem os filhos da tua mãe! Maldito seja quem te amaldiçoar, e bendito seja quem te abençoar (…)» 4. O CICLO DE JACOB • A astúcia de Jacob: agora, para assegurar a correspondente bênção patriarcal, serve-se da esperteza da mãe e da cegueira do pai. • A moral da bênção roubada: não se pode avaliar este relato do alto da pureza atingida pela moral do Novo Testamento; na época, a astúcia dos nómadas e dos beduínos era empregada com destreza; a moral doa patriarcas é, em grande parte, fruto do clima do tempo. • Os culpados sofrem as consequências: é preciso notar que todos são vítimas do pecado cometido (Jacob tem de fugir para Haran e Rebeca fica privada da presença do seu filho querido).
48 • O relato pretende evidenciar: • O papel das mulheres nos caminhos de Deus, numa sociedade marcadamente masculina como a patriarcal; • A livre escolha divina não está confinada às normas do direito e do bom senso humano; • A supremacia de Israel (representado por Jacob) sobre os povos vizinhos (Esaú). 4. O CICLO DE JACOB • Abênção: era irrevogável, porque vem de Deus e fonte de favores divinos e privilégios humanos. JACOB PARTE PARA PADAN-ARAM (28,1-28,9). «(…) 5 Isaac despediu-se de Jacob, que se dirigiu a Padan-Aram, à casa de Labão, filho de Betuel, o arameu, irmão de Rebeca, mãe de Jacob e de Esaú. (…)» • Casar com mulheres estrangeiras constituía um perigo de idolatria. Ao mesmo tempo, Jacob fugia do seu irmão Esaú.
49 VISÃO EM BETEL (28,10-22). «(…) 12 Teve um sonho: viu uma escada apoiada na terra, cuja extremidade tocava o céu; e, ao longo desta escada, subiam e desciam mensageiros de Deus. 13 Por cima dela estava o SENHOR (…) 15 Estou contigo e proteger-te-ei para onde quer que vás e reconduzir-te-ei a esta terra, pois não te abandonarei antes de fazer o que te prometi (…)» 4. O CICLO DE JACOB • Primeira teofania em Jacob: no meio da vida profana de Jacob surgem três importantes teofanias. • Jacob, protegido de Deus: Jacob recebe em sonho a confirmação que lhe dá alento. A escada estabelece a ligação entre o céu e a terra. O Senhor renova-lhe as promessas feitas a Abraão e Isaac, garante-lhe a protecção. Depois Jacob ergue um memorial do acontecimento, criando o lugar de culto Bet-El (=casa de Deus).
50 MATRIMÓNIOS DE JACOB (29,1-30). «(…) 23 Mas, já de noite, conduziu Lia a Jacob, que dela se aproximou. (…) 30 Jacob uniu-se também a Raquel, que amava mais do que a Lia. E serviu ainda em casa de Labão durante outros sete anos (…)». • Jacob e Raquel: ao chegar a Haran, encontra Raquel, sua prima, que dá de beber ao seu rebanho, recorda o gesto de sua mãe, Rebeca. 4. O CICLO DE JACOB • Jacob é enganado por Labão: Jacob terá de trabalhar sete anos para Labão para merecer Raquel; mas na noite do casamento, troca Raquel por Lia, a irmã mais velha; para conseguir Raquel, terá de trabalhar mais sete anos para Labão. De notar o seguinte: a esposa, Raquel, levava um véu nupcial: alusão à cegueira de Isaac, que foi aproveitada por Jacob; foi-lhe dada a irmã mais velha e não a mais nova: Jacob está a sofrer as consequências do engano feito a seu irmão mais velho, Esaú.