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INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO. Elaine Cristina Rey Moura Coordenadora: Elisa de Carvalho Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF. HISTÓRIA CLÍNICA (colhida em 07/02/06) IDENTIFICAÇÃO : - M.J.E.L., 2 anos e 1 mês, sexo feminino, branca, natural e procedente de Brasília.
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INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO Elaine Cristina Rey Moura Coordenadora: Elisa de Carvalho Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF
HISTÓRIA CLÍNICA(colhida em 07/02/06) • IDENTIFICAÇÃO: • - M.J.E.L., 2 anos e 1 mês, sexo feminino, branca, natural e procedente de Brasília. • QUEIXA PRINCIPAL: • -” Febre há 1 mês” • HDA: • - Mãe refere que há cerca de 1 mês a criança apresentou episódio febril (38,8°C), que cedia temporariamente com a administração de dipirona, associada a eliminação de urina avermelhada, sem odor característico.
- Procurou o Hospital Regional da Ceilândia, no dia seguinte, onde após a realização de exames diagnosticou-se infecção do trato urinário (ITU) sendo prescrita Cefalexina 250mg 6/6h durante 15 dias (sic). • Dois dias após o término do tratamento ocorreu recidiva da febre e a mãe procura novamente o mesmo estabelecimento, onde foi prescrito Sulfametoxazol + Trimetropim 12/12h durante 10 dias. • Entretanto, após dois dias do término do tratamento e nova recidiva da febre, a mãe procura o Hospital da Ceilândia, onde solicitou-se antibiograma e a criança foi encaminhada para o HRAS. • Mãe refere perda de cerca de 3Kg em 1 Mês, irritabilidade e hiporexia.
REVISÃO DE SISTEMAS: • Nega náuseas ou vômitos. • Refere corisa. • Refere história de constipação intestinal. • ANTECEDENTES OBSTÉTRICOS: • Realização de todas as consultas pré-natais • G4 P3 C0 A1 • Nascida de PN, a termo, hospitalar, com 2840g e 48cm. • - Mãe refere história de ITU de difícil controle durante a gestação. Refere internação no HRAS com ameaça de parto prematuro, uso de tocolíticos e cefalexina.
ANTECEDENTES PESSOAIS E PATOLÓGICOS: • Vacinação completa. Nega alergias ou traumas. • Refere duas internações prévias por pneumonia: 1 mês e 3 meses de idade no Hospital da Ceilândia. • Refere conjuntivite aos 5 dias de vida. • HÁBITOS: • - Aleitamento materno até 13 dias de vida. • - Dieta: 4 mamadeiras diárias ( leite, Farinha Láctea, Mucilon e Toddy). • - Reside em casa de 9 cômodos com 4 pessoas. Água encanada, fossa asséptica e luz elétrica. Cão doméstico.
ANTECEDENTES FAMILIARES: • - Pai, tabagista: 1 a 2 carteiras cigarros/dia; hipercolesterolemia • - Mãe, 31 anos, tabagista, 1 a 2 cigarros/dia. • - Irmãos: 6 e 10 anos - sadios • - Avó materna: HAS e cardiopata • - Tia materna: cardiopata • - Avô paterno: DM
EXAME FÍSICO: • - FC: 120 bpm FR: 60 iprm Tax: 38,5ºC • - Peso: 11.250g Estatura: 92cm • Paciente agitada durante o exame, chorando muito. • REG, hidratada, normocorada, acianótica, anictérica, febril, taquicárdica, taquipnéica. • AR: MVF sem ruídos adventícios • AC: RCR 2 tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros
ABD: tenso à palpação, indolor, RHA presentes, sem massas palpáveis ou visceromegalias.Giordano negativo. • Gânglios palpáveis em cadeias inguinais D e E, de cerca de 0,5 cm de diâmetro, fibroelásticos, móveis, indolores. • Ausência de secreção vaginal. • HIPÓTESE DIAGNÓSTICA: • - INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO RESISTENTE
EXAMES LABORATORIAIS: - EAS ( 06/02): Ph: 5 Flora bact: +++ Leucócitos numerosos Hemácias: raras Nitrito positivo Vários grumos piocitários • - EAS (07/02): Ph: 5 Flora bact: +++ • Nitrito positivo • Leucócitos numerosos • Aglomerado de piócitos
EVOLUÇÃO: • - Realizada punção suprapúbica em 07/02 e solicitados urocultura, antibiograma e US de vias urinárias. • - Iniciada Gentamicina 60mg/dia após realização da punção. • - US de vias urinárias (08/02): Rins tópicos, de forma, dimensões, contornos e texturas normais. RD=5,5+2,6cm e RE=6,5+2,9cm. Bexiga de forma e paredes regulares.
- Urocultura e antibiograma (09/02): Bact: > 100.000 UFC E. coli resistente à Gentamicina Conduta: Troca da Gentamicina por Ceftriaxona 1g EV ao dia. Solicitado Cintilografia renal DMSA. - Exames (13/02): HM: 4,23 Hb: 10,2 HT: 30,2% VCM: 71,5 HCM: 24 Plaq: 543.000 Leucócitos: 10.400 Seg: 48 Bast: 00 Linf: 47 Mon: 03 Eos: 02 Anisocitose, hipocromia, microcitose.
INFECÇÃO DO TRATO URINÁRIO • DEFINIÇÃO: Proliferação de bactérias na urina com manifestações de inflamação das vias urinárias baixas (cistite - uretrite) ou altas (pielonefrite). • EPIDEMIOLOGIA: - Prevalência de 3 a 7% em meninas e de 1 a 2% em meninos até os 7 anos de idade. - Uma das infecções mais importantes na criança pelo risco de se desenvolver sepse fatal e por poder apontar presença de nefrouropatia obstrutiva.
ETIOLOGIA: - Escherichia coli em 80 a 90% das meninas e 30% dos meninos. - Pacientes com anomalias obstrutivas, bexiga neurogênica, litíase, pacientes internados, cateterismos: Proteus, Klebsiella, Pseudomonas, Enterococcus, Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis. • ETIOPATOGENIA: - A via ascendente é a usual. Em geral as bactérias são de origem intestinal, que atingem a bexiga. A E.coli apresenta fímbrias que aderem ao epitélio urinário.
A bactéria também pode ascender o trato • urinário através do refluxo vesicoureteral • ou de malformações obstrutivas. • QUADRO CLÍNICO: • - Os sintomas variam de acordo com a • idade do paciente: • - Crianças < 2 anos: febre, baixo ganho de peso e atraso no crescimento, vômitos, irritabilidade, diarréia, anorexia, dores abdominais. Jato fraco, entrecortado ou gotejante. Choro ao urinar e dor à palpação dos flancos. • - Pré-escolares: Disúria, polaciúria, urgência, incontinência discreta, urina com mal cheiro, enurese secundária, desconforto supra-púbico ou perineal.
- Febre alta, calafrio, mal estar, náusea, dor abdominal e no flanco e calor em flancos Pielonefrite. • ATENÇÃO: Deve-se pensar em ITU em qualquer criança com febre, em que a história e o exame clínico não revele o foco! • DIAGNÓSTICO: - Exame de urina (EAS): Tanto a piúria (mais de 10 piócitos por campo), quanto a bacteriúria sugerem a infecção, mas não são diagnósticas. Pode-se encontrar piúria sem infecção e infecção sem piúria.
- Urocultura: Urina de jato médio - > 100.000 colônias/ml INFECÇÃO - < 10.000 colônias/ml CONTAMINAÇÃO - entre 10.000 e 100.000 suspeita de infecção (repetir exame). - Cateterismo vesical: > 1.000 colônias/ ml urina POSITIVO. - Punção supra-púbica: qualquer número de colônias/ml INFECÇÃO (urina é estéril) - OBS: Hematúria algumas vezes acompanha a piúria nas infecções urinárias da infância.
EXAMES DE IMAGEM: -Devem ser solicitados sempre em que há certeza do diagnóstico de ITU. - Número elevado de ITU, na infância, se associam a anomalias obstrutivas e refluxo vesicoureteral. - A US e a cistouretrografia miccional são obrigatórios em todos os casos de recidiva de ITU e nos casos sugestivos de obstrução, refluxo. - US Vias urinárias (menos invasivo e de + fácil realização). Pode ser feito na vigência de doença aguda.Aspectos anatômicos. Apenas 40% dos casos de refluxo exibem alterações no US.
Estudo radiográfico: • - Cistouretrografia miccional: Deverá ser sempre indicada. Dá o diagnóstico de refluxo vesico-ureteral, define o trajeto uretral e o esvaziamento vesical. Indicações: • - casos de ITU comprovada em 5 anos; • - todos os casos com febre; • - Em > 5 anos: após o 1º episódio em meninos e o 2º em meninas. • Deve ser realizada 2 sem após o término do tratamento e com o paciente sob quimioprofilaxia.
Urografia excretora: Estuda a estrutura e a função do aparelho urinário superior. Reservado para os casos de refluxo vesicoureteral ou outra anormalidade significativa identificadas na cistouretrografia. • Cintilografia renal estática (DMSA): Principal método para localização de áreas de inflamação no córtex renal e para a identificação de cicatrizes renais e seqüelas de infecções anteriores. Indicada para os pacientes com anormalidades nos exames anteriores, e pacientes com pielonefrite, refluxo vesicoureteral ou problemas obstrutivos.Pode ser realizada mesmo quando há disfunção renal. • Outros exames: • - DTPA (Cintilografia dinâmica): Avaliação de quadros obstrutivos e diferenciação das obstruções funcionais das anatômicas. Deve ser realizado sempre que o US mostrar hidronefrose.
TRATAMENTO PRIMÁRIO: - Sintomatologia leve a moderada: aguardar confirmação laboratorial - Febre alta, prostração e sintomas urinários: tratamento empírico após colher urocultura - Pacientes graves (toxemia, prostração, sepse) ou com vômitos incoercíveis: via parenteral e após 24h afebril, via oral. OPÇÕES: Via oral: • SMZ + TMP:50+8 mg/Kg/dia (2 doses) • Nitrofurantoína: 5-7mg/Kg/dia (3 a 4 doses)
Via Parenteral: • Ceftriaxona: 50-100 mg/Kg/dia (dose única) • Cefotaxima: 150 mg/Kg/dia (3 doses) • - DURAÇÃO: 7 a 14 dias (média 10 dias) • QUIMIOPROFILAXIA: - Pacientes com história de recidiva. Deve ser iniciada ao final do tratamento primário. - Nitrofurantoína: 1 a 2 mg/Kg/dia dose única ao deitar - SMZ + TMP: 10+2 mg/Kg/dia dose única ao deitar - Cefadroxil: 6 a 12 mg/Kg/dia dose única ao deitar.
ACOMPANHAMENTO: Em casos de recidiva: - 1 Urocultura 1 mês após o término do tratamento; - 3 uroculturas trimestrais; - 2 uroculturas semestrais - EAS e urucultura devem ser solicitados sempre que houver quadro febril duvidoso ou qualquer sintoma urinário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: • GUYTON, HALL. Tratado de Fisiologia Médica. 9a ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 1997. • LIMA, AZOR JOSÉ. Pediatra Essencial. 5a ed.São Paulo: Editora Atheneu, 1998. • MURAHOVSCHI, JAIME. Pediatria Diagnóstico e Tratamento. 3a ed.São Paulo: Editora Sarvier, 1982. • OLIVEIRA, R.G. Blackbook Pediatria. 3a ed. Belo Horizonte: Editora Black Book, 2005.