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Coesão e Coerência Textuais Profa Shirlene Xavier. Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES
E N D
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos?” (9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem.(10) Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá. (Estórias de quem gosta de ensinar. Cortez, São Paulo, 1984, pp. 61-62)
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1) Tudoaconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E paraistoøfundaramescolaseøimportaramprofessores, øgargarejaramdó-ré-mi-fá, ømandaram imprimir diplomas, eøfizeramcompetições entre si, para ver quaisdelesøseriam os mais importantes e øteriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim queelesorganizaramconcursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canáriosefaziamserenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubusentortaramo bico, o rancor encrespou a testa, e elesconvocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos ?” (9) E as pobres avesse olharam perplexas, porque nunca øhaviam imaginado que taiscoisas houvessem.(10) Não øhaviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca øapresentaram um diplomapara provar que øsabiamcantar, masøcantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubusdiplomados não se ouve canto de sabiá.
Substituição = (1) “Tudo” (catáfora, pois remete ao que será dito), (2) “eles”, “se” (retoma “urubus”), (3) “isto” (retoma a afirmação anterior: “haveriam se tornar grandes cantores”), “si” (retoma “urubus”), “quais deles” (retoma, mas através de uma parte do referente) “outros” (retoma “urubus”), (4) “eles”, “se” (retoma “urubus”), “se” (retoma “urubuzinho, instrutor em ínicio de carreira”), “todos” (retoma “urubus”), (5) “Tudo” (anáfora, pois, ao contrário do outro “tudo”, retoma todo o acontecimento anterior), (7) “eles” (retoma “velhos urubus”), (8) “seus” (retoma “pintassilgos, sabiás e canários”), (9) “se” (retoma “pobres aves”), “tais coisas” (retoma documentos de concursos de canto), (10) “elas” (retoma “pobres aves”), (12) “assim” (dêitico que remete a “cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem”).
Substituição— colocação de um item no lugar de outro(s) ou até de uma oração inteira. Pode ser nominal (feita por meio de pronomes pessoais, numerais, indefinidos, nomes genéricos como coisa, gente, pessoa) e verbal (o verbo “fazer” é substituto dos causativos, “ser” é o substituto existencial). Elipseø— omissão de um item lexical recuperável pelo contexto, ou seja, a substituição por zero (0). Pode ocorrer elipse de elementos nominais, verbais e oracionais.
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1) Tudoaconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E paraisto øfundaramescolase øimportaram professores, øgargarejaramdó-ré-mi-fá, ømandaram imprimir diplomas, e øfizeramcompetições entre si, para ver quaisdeles øseriam os mais importantes e øteriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim queelesorganizaramconcursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canáriosefaziamserenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubusentortaramo bico, o rancor encrespou a testa, e elesconvocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos ?” (9) E as pobresavesse olharam perplexas, porque nunca øhaviam imaginado que taiscoisas houvessem.(10) Não øhaviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca øapresentaram um diplomapara provar que øsabiam cantar, mas øcantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubusdiplomados não se ouve canto de sabiá.
Coesão lexical = (9) “pobres aves”, (13) “passarinhos”. Essas palavras retomam “pintassilgos, canários e sabiás”, logo, são co-referentes, mas não pelo mesmo item lexical.
Coesão lexical = (9) “pobres aves”, (13) “passarinhos”. Essas palavras retomam “pintassilgos, canários e sabiás”, logo, são co-referentes, mas não pelo mesmo item lexical. - é obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuem o mesmo referente.
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiramque, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E paraistoøfundaramescolaseøimportaramprofessores, øgargarejaramdó-ré-mi-fá, ømandaram imprimir diplomas, eøfizeramcompetições entre si, para ver quais delesøseriam os mais importantes e øteriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim queelesorganizaramconcursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canáriosefaziamserenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubusentortaramo bico, o rancor encrespou a testa, e elesconvocarampintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos ?” (9) E as pobresavesse olharam perplexas, porque nunca øhaviam imaginado que tais coisas houvessem.(10) Não øhaviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca øapresentaram um diplomapara provar que øsabiam cantar, mas øcantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubusdiplomados não se ouve canto de sabiá.
Repetição: • Repetição propriamente dita ou Recorrência= (5) “urubus”, (7) “pintassilgos, sabiás e canários”, (10) “canto”. • Paralelismo = (2) “decidiram”, (3) “fundaram”, “importaram”, “gargarejaram”, “mandaram”, “fizeram”, “seriam” e “teriam”, (4) “organizaram”, “deram”, entre outros verbos ora no pretérito perfeito, ora no imperfeito. • Paráfrase = Não há a repetição por paráfrase propriamente dita, mas há uma oração explicativa: “(2) Os urubus, aves por natureza becadas,”.
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E paraistoøfundaramescolaseøimportaramprofessores, øgargarejaramdó-ré-mi-fá, ømandaram imprimir diplomas, eøfizeramcompetições entre si, para ver quais delesøseriam os mais importantes e øteriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim queelesorganizaramconcursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubutitular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgostagarelas, que brincavam com os canáriosefaziamserenatas com os sabiás... (7) Os velhosurubusentortaramo bico, o rancor encrespou a testa, e elesconvocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos ?” (9) E as pobresavesse olharam perplexas, porque nunca øhaviam imaginado que tais coisas houvessem.(10) Não øhaviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca øapresentaram um diplomapara provar que øsabiamcantar, masøcantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubusdiplomados não se ouve canto de sabiá.
ASSOCIAÇÃO • Campo semântico: • Animais-(1) “bichos”, (2) “urubus”, “aves por natureza becadas”, “natureza”, (4) “urubuzinho”, “urubu titular”, (6) “floresta”, “bandos”, “pintassilgos tagarelas”, “canários”, “sabiás”, (7) “velhos urubus”, “bico”, “pintassilgos, sabiás e canários”, (9) “pobres aves”, (13) “urubus”, “floresta”, “passarinhos”, (14) “urubus”, “terra”, “sabiás”. • Música- (2) “dotes”, “canto”, “cantores”, (3) “do-ré-mi-fá”, “competições”, (4) “concursos”, “carreira”, (6) “serenatas”, (8) “concursos”, (10) “escolas de canto”, “canto”, (11) “cantar”. • Escola- (3) “escolas”, “professores”, “diplomas”, (11) “diploma”, (12) “titulação”, (14) “diplomados”. • Lei- (7) “inquérito”, (8) “documentos”, (12) “ordem”, (13) “alvará”.
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1)Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, massem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E paraisto øfundaramescolase øimportaram professores, øgargarejaramdó-ré-mi-fá, ømandaram imprimir diplomas, e øfizeramcompetições entre si, para ver quais deles øseriam os mais importantes e øteriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim queelesorganizaramconcursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem atéque a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canáriosefaziamserenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubusentortaramo bico, o rancor encrespou a testa, e elesconvocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos ?” (9) E as pobres avesse olharam perplexas, porque nunca øhaviam imaginado que tais coisas houvessem.(10) Não øhaviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca øapresentaram um diplomapara provar que øsabiam cantar, mas øcantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubusdiplomados não se ouve canto de sabiá.
CONEXÃO • Uso de conectores, conjunções: • (2) “mas”- adversativo, “mesmo”- concessivo. • (3) “para”- finalidade, “e”- aditivo, “e”- aditivo, “para”- finalidade, “e” aditivo” • (4) “Foi assim que”- consecutivo, “e”- aditivo, “e”- aditivo • (5) “até que”- temporal • (7) “e”- aditivo • (9) “E”- aditivo, “porque”- causal • (10) “porque”- explicativo • (11) “para”- finalidade, “mas”- adversativo
COERÊNCIA • A série de repetições e substituições (REITERAÇÃO) é responsável pela coerência do texto. • Há inserção de dados novos no texto (introdução de novos referentes), o seja, há uma progressão, o que permite dizer que a informatividade é um fator de coerência. • O texto não apresenta contradição de ideias, o que faz dele uma unidade de sentido. • A coesão por associação faz do texto uma verdadeira rede de relações à medida que contribui para que a unidade temática se mantenha. A conexão também é responsável pela relação entre as porções textuais. • A coerência é a unidade de sentido proporcionada, durante a leitura, pelos fatores que compõem a coesão textual.
Os urubus e os sabiás RUBEM ALVES (1) Tudoaconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza becadas, massem grandes dotes para o canto, decidiramque, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E paraistoøfundaramescolaseøimportaramprofessores, øgargarejaramdó-ré-mi-fá, ømandaram imprimir diplomas, eøfizeramcompetições entre si, para ver quaisdelesøseriam os mais importantes eøteriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim queelesorganizaramconcursosesederam nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubutitular, a quem todos chamavam de vossa excelência. (5) Tudo ia muito bem atéque a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgostagarelas, que brincavam com os canáriosefaziamserenatas com os sabiás... (7) Os velhosurubusentortaramo bico, o rancor encrespou a testa, eelesconvocarampintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seusconcursos ?” (9) E as pobresavesse olharam perplexas, porque nunca øhaviam imaginado que taiscoisas houvessem.(10) Não øhaviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca øapresentaram um diplomapara provar que øsabiam cantar, masøcantavam, simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvará. (14) MORAL: em terra de urubusdiplomados não se ouve canto de sabiá.
REFERÊNCIAS BENTES, A. C. Lingüística textual. In: MUSSALIN, F. & BENTES, A.C. (Orgs). Introdução à lingüística:domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001, p. 245-285. FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e Coerência textuais. Série Princípios. Ed. Ática. Texto das professoras: CÂNDIDO, Sueli; PADOVVANI, Micheline T. de Brito; OLIVEIRA, Tamara de & SEGREDO, Ligiane Cristina.