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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O PÓS-COMENTÁRIO NA MICROESTRUTURA DE DICIONÁRIOS SEMASIOLÓGICOS. Virginia Sita Farias Isabela Galdiano Lexicografia II Profª Drª Claudia Zavaglia. O modelo microestrutural de H. E. Wiegand. Wiegand (1989a; 1989b) Hausmann e Wiegand (1989)
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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES SOBRE O PÓS-COMENTÁRIONA MICROESTRUTURADE DICIONÁRIOS SEMASIOLÓGICOS Virginia Sita Farias Isabela Galdiano Lexicografia II ProfªDrª Claudia Zavaglia
O modelo microestruturalde H. E. Wiegand • Wiegand (1989a; 1989b) • Hausmann e Wiegand (1989) • Não houve, nos últimos 20 anos, contribuições significativas no estudo do modelo microestrutural • Essa concepção ainda se faz presente em discussões posteriores sobre o assunto
Microestrutura abstratae microestrutura concreta • Microestrutura: “conjunto ordenado de todas as informações no interior do verbete” (p. 110) • Distinção entre microestrutura abstrata e microestrutura concreta • Microestrutura abstrata: “conjunto pré-determinado de tipos de informações passíveis de estarem presentes nos verbetes, correspondendo, pois, a um ‘programa constante de informações’ ” (p. 110) - PCI • Microestrutura concreta: “representação da microestrutura abstrata no dicionário; (...) equivale à totalidade das informações linearmente ordenadas no interior de cada um dos verbetes” (p. 110)
Programa constante de informações • O dicionário define previamente o PCI • Determinado pelo tipo de dicionário • “deveria ser determinado por uma tríade: à definição tipológica do dicionário, acrescentaríamos a delimitação do perfil de usuário e o estabelecimento da(s) função(ões) que a obra deve cumprir” (p. 110) • Diferente para cada categoria morfológica • Grande variedade de microestruturas concretas • “mesmo previstos no PCI, determinados segmentos podem ser omitidos na representação concreta, em razão das peculiaridades de cada signo-lema.” (p. 110) • grau zero de informação
Programa constante de informações • casinhola ‹ca.si.nho.la› s.f. Habitação pequena e humilde. SIN. casebre. (DDSM, 2007: s.v. casinhola) • cefalotórax ‹ce.fa.lo.tó.rax› (pl. cefalotóraces) s.m. Em um crustáceo ou em umaracnídeo, parte anterior de seu corpo, formada pela cabeça e pelo tórax. (DDMS, 2007: s.v. cefalotórax) • Segmento informativo - “cada segmento microestrutural ao qual corresponde uma informação específica, segundo a definição do PCI” (p. 111)
Programa constante de informações • PCI do DDSM (Dicionário didático, 2007): • Indicação ortográfica, indicação de separação silábica, indicação de sílaba tônica, indicação de plural irregular, indicação de categoria morfológica, indicação de significado e indicação de sinonímia • Grau zero de informação
Comentário de formae comentário semântico • PCI - segmentos informativos de natureza diversa • comentário de forma e comentário semântico • ordem canônica • comentário de forma - “estrutura nuclear da esquerda” • comentário semântico - “estrutura nuclear da direita” • Concepção saussuriana de signo linguístico - Significante e Significado • comentário de forma: representação gráfica e fonético-fonológica do signo-lema • comentário semântico: informações referentes ao significado (ex: definição, indicação de sinonímia)
Microestrutura simples • Comentário de forma + comentário semântico
Microestrutura composta • Sub verbetes • Estrutura “guarda-chuva”
Microestrutura ampliada • Comentário de forma + comentário semântico + outro constituinte textual imediato • Interna - ocorre dentro da estrutura básica da microestrutura • Externa - ocorre fora da estrutura básica da microestrutura • Pré-comentário - estrutura marginal da esquerda • Pós-comentário - estrutura marginal da direita • “Podem referir-se tanto à forma (pré-comentário de forma, pós-comentário de forma) quanto ao significado do signo-lema (pré-comentário semântico, pós-comentário semântico)” (P. 116)
Pré-comentário • Menos comum
Pós-comentário • Mais comum
Análise do emprego do pós-comentárioem dicionários semasiológicos • Com base no modelo de Wiegand • Três aspectos: • (a) a frequência de aparição do pós-comentário e sua possível relação com o tipo de dicionário • (b) a funcionalidade do segmento dedicado ao pós-comentário • (c) os sistemas semióticos empregados na apresentação do pós-comentário (p. 116-117)
O pós-comentárionos dicionários gerais monolíngues • Seleção de 10 obras, de 4 tradições lexicográficas distintas (língua portuguesa, espanhola, francesa e italiana) • Contrastar as diferentes tradições lexicográficas
Dicionário da língua portuguesaHouaiss Eletrônico (2009) • “é o mais sistemático no que diz respeito à apresentação do pós-comentário.” (p. 117) • PCI previamente estabelecido - cerca de dez segmentos informativos • O pós- comentário é empregado com muita frequência • Campos específicos no final de cada verbete para a apresentação de variados tipos de informação: • Gramática • Uso • Etimologia • Sinonímia • Antonímia • Coletivos • Homonímia • Paronímia • Vozes de animais
Dicionário da língua portuguesaHouaiss Eletrônico (2009) • Informações, de forma (“gramática” e “uso”) e conteúdo (“sinonímia/variantes”, “antonímia”), comentário etimológico • Cada um desses campos é precedido de um símbolo • Críticas: • 1) as informações do campo “gramática” - indicações relativas à conjugação verbal, formação de femininos e plurais irregulares - poderiam fazer parte do PCI estipulado para o comentário de forma • Pós-comentário seria reservado para informações “extraordinárias” (peculiaridade de um signo-lema) • Considerar sempre a consultabilidade e a legibilidade
Dicionário da língua portuguesaHouaiss Eletrônico (2009) • 2) campo “sinonímia/variantes”: indicações de natureza distinta (sinonímia e antonímia - conteúdo semântico; variantes - forma) • 3) informações oferecidas por meio de remissão - “obriga o consulente a sucessivas consultas ao dicionário, a fim de chegar à informação desejada, o que é, no mínimo,bastante incômodo” (p. 119)
Novo dicionário Aurélioda língua portuguesa (2009) • “achega” - “uma informação adicional à definição e [que] pode ser de natureza explicativa, comparativa [Cf., sinônimos, antônimos, etc.], gramatical [flexões, conjugação verbal, etc.]” (AuE, 2009)
Novo dicionário Aurélioda língua portuguesa (2009) • O pós-comentário aparece com frequência • Repetição de problemas apontados no dicionário anterior: “confusão entre indicações de forma e semânticas, fornecimento de informações no pós-comentário que poderiam pertencer ao comentário de forma e apresentação de informações essenciais sob a forma de remissões” (p. 119-120)
Moderno dicionário da língua portuguesa (1998) • Informa na introdução no final do verbete “são indicados os plurais irregulares, os plurais de nomes compostos, os femininos de formação irregular, os aumentativos e diminutivos irregulares, os superlativos absolutos sintéticos, os sinônimos, os antônimos e as formas variantes.” (p. 120)
Moderno dicionário da língua portuguesa (1998) • Mesmas críticas feitas aos dois dicionários anteriores (tipo de informação e forma como ela é oferecida)
Dicionário de usosdo português do Brasil (2002) • Introdução: “A observação é alguma informação adicional sobre uma determinada acepção ou sobre todo um verbete” (DUPB, 2002: XIII) • campo específico no interior do verbete para observações - especificidades de determinados signos-lema (forma ou conteúdo) • Informação separada dos comentários fundamentais por barras duplas (//) • Parcimonioso no emprego do pós-comentário
Dicionário UNESP do português contemporâneo (2004) • campo “sistema de destaques” • introduzido pelo símbolo ( ) • “vários aspectos ligados ao uso da língua como um sistema com uma estrutura interna típica e como uma instituição social, ou seja, como um instrumento de interação social. Além disso, apresenta, de forma atraente, vários aspectos da história do léxico” (DPC, 2004: s.p.) • Porém “a análise do emprego do “sistema de destaques” evidencia uma verdadeira miscelânea de indicações, que engloba plurais e femininos de formação irregular, número de ocorrências (nos casos em que o signo-lema é pouco usual), antonímia, formas variantes, homônimos, parônimos, formas de particípio, informações enciclopédicas etc., além, evidentemente, das informações já mencionadas” (p. 121)
Dicionário UNESP do português contemporâneo (2004) • Conjunto heterogêneo de informações • Muitas poderiam fazer parte do comentário de forma ou semântico • Informações enciclopédicas - não são pertinentes em um dicionário de língua
Diccionario de la lengua española (2011) • Pós-comentário reduzido • “Notas de uso” • Indicações relativas à forma e ao significado • “Na maioria dos casos, porém, o emprego do pós-comentário não se justifica, na medida em que constitui um sistema tático deficiente de marcação diassistêmica” (p. 123)
Diccionario de uso del español (2001) • Pós-comentário - “notas de uso”, “formas de expressão” e “conjugação
Diccionario de uso del español de América y España (2003) • “a informação sobre questões ortográficas, de pronúncia, gramaticais e de uso é introduzida nas observações e nas notas de certas acepções” (DUEAe, 2001: s.p.) • Similar aos dicionários brasileiros, variedade de informações • Muitas poderiam estar no PCI
Diccionario de uso del español de América y España (2003) • casos em que “o pós-comentário é usado para explicar determinados empregos do signo-lema que implicam uma alteração de significado, bem como para exemplificar construções particulares” (p. 123)
Nouveau Petit Robert: Dictionnaire alphabétique et analogiquede la langue française • PCI extenso, pouco uso do pós-comentário • Informações normativas, indicações sintagmáticas ou pragmáticas específicas
Vocabolario della lingua italiana • Situações em que o dicionário opta pela ampliação externa da microestrutura: • (a) indicações gramaticais e notas de uso (acento, elisão e truncamento, erros comuns, feminino, uso de maiúscula, plural, pontuação, separação silábica); • (b) indicações de nuances de significado (examina-se famílias de palavras análogas, definindo o significado de cada uma, o emprego adequado e o contexto de uso mais apropriado); • (c) inserção de nomenclatura (fornece-se uma série de palavras relacionadas ao signo-lema, com o objetivo de atribuir à obra a função de dicionário analógico) (p. 124)
O pós-comentário nos dicionáriospara aprendizes de língua materna • Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) - classificação dos dicionários para aprendizes de língua materna • Tipo 1 e 2 - dicionário infantil • Tipo 3 - dicionário escolar • (Correspondência parcial)
O pós-comentário nos dicionáriospara aprendizes de língua materna • DCR (2005) - Dicionário do Castelo Rá-Tim-Bum não apresenta pós-comentário • Os demais dicionários: resultado similar aos dicionários gerais monolíngues • “os dicionários infantis costumam fornecer o mesmo tipo de informação que os dicionários gerais (p. ex., plurais e femininos irregulares, homônimos, parônimos, formas variantes, sinônimos etc.), utilizando, inclusive, sistemas semióticos bastante parecidos na sua apresentação. “ (p. 125)
O pós-comentário nos dicionários para aprendizes de língua materna - Tipos 1 e 2 • Diferença entre dicionários gerais e dicionários infantis • Infantis: pós-comentário quase que exclusivamente com indicações de forma • Potencial usuário de um dicionário infantil: criança que inicia o processo de alfabetização • Crítica geral: qual a utilidade das informações apresentadas ao público em questão?
O pós-comentário nos dicionários para aprendizes de língua materna - Tipo 3 • “tendem a seguir o comportamento dos dicionários gerais no que concerne ao emprego do pós-comentário” (p. 127)
O pós-comentário nos dicionários para aprendizes de língua materna - Tipo 3 • Exceção - DDSM (2007) • PCI “bem definido e bastante extenso” • “muito embora o pós-comentário seja empregado com relativa frequência, as informações aí dispostas complementam os comentários fundamentais e são apresentadas de uma forma bastante sistemática” (p. 127)
O pós-comentário nos dicionários para aprendizes de língua materna - Tipo 3 • NDW (2007) e DPRAE (2007) usam o pós-comentário de forma mais parcimoniosa • Indicações gramaticais, destinadas principalmente à produção
O pós-comentário nos dicionários para aprendizes de língua estrangeira • Obras lexicográficas de língua inglesa e alemã seguem a tendência da tradição lexicográfica em que se inscrevem • Extensão e densidade do PCI • Uso bastante parcimonioso do pós-comentário (apenas indicações “extraordinárias”)
Síntese da análise do emprego do pós-comentário em dicionários semasiológicos • “ao analisar os verbetes dos dicionários selecionados, identificamos as estruturas de pós-comentário exclusivamente por meio da sua localização no interior da microestrutura.” (p. 127) • “para conferir uma real funcionalidade ao pós-comentário, é preciso definir, no âmbito de uma teoria metalexicográfica, as informações passíveis de serem fornecidas nesse segmento.” (p. 127) • “O emprego do pós-comentário deveria ser uma consequência natural de uma concepção funcional da microestrutura.” (p. 127)
Síntese da análise do emprego do pós-comentário em dicionários semasiológicos • “A ampliação da microestrutura, dessa forma, deve responder a uma impossibilidade de se oferecer determinada informação em algum dos segmentos microestruturais previstos pelo PCI, por tratar-se de uma indicação de caráter excepcional.” (p. 127) • “Grande parte dos dicionários analisados, no entanto, não demonstra sequer haver definido um PCI.” (p. 127)
Síntese da análise do emprego do pós-comentário em dicionários semasiológicos • Será que os dicionários tem consciência de estarem lidando com um tipo de ampliação microestrutural? • as diferenças entre os tipos de dicionários são mais quantitativas do que qualitativas; • prevalência do pós-comentário de forma sobre o pós-comentário semântico; • as informações apresentadas nos segmentos denominados “pós-comentários de forma”, na maioria dos casos, poderia ser parte integrante do PCI pertinente ao comentário de forma;
Síntese da análise do emprego do pós-comentário em dicionários semasiológicos • as informações pertinentes ao “pós-comentário semântico” restringem-se à sinonímia e antonímia, bem como a umas poucas indicações pragmáticas; • os sistemas semióticos empregados na maior parte dos dicionários não contribui para explicitar a ampliação externa da microestrutura.
Proposta para o emprego do pós-comentário como mecanismo explanatório • Parte de 3 premissas: • 1) o emprego do pós-comentário deve ser consequência direta de uma concepção funcional da microestrutura; • 2) a estruturação do pós-comentário deve estar amparada em distinções como microestrutura abstrata/microestrutura concreta, comentário de forma/comentário semântico, microestrutura simples/microestrutura ampliada; • 3) o pós-comentário deve oferecer informações extraordinárias, que não estão previstas nos comentários fundamentais
Proposta para o emprego do pós-comentário como mecanismo explanatório • Deve-se ter em vista 3 fatores: • Um modelo funcional de microestrutura • Uma concepção de funcionalidade em termos de informações discretas e discriminantes: O pós-comentário converte-se em um segmento informativo funcional, na medida em que (a) oferece informações discretas e discriminantes e (b) articula-se com os segmentos microestruturais nucleares, colocando-se em relação de complementaridade frente a eles • Uma teoria geral dos mecanismos explanatórios (permitirá determinar em que situações é preciso empregar mecanismos de elucidação do significado alternativos ou complementares às paráfrases definidoras, e qual recurso é mais apropriado em cada caso)
Referências • FARIAS, Virginia Sita. Considerações preliminares sobre o pós-comentário na microestrutura de dicionários semasiológicos. ReVEL, v. 9, n. 17, 2011. [www.revel.inf.br]. • AuE. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa. 4.ed. Curitiba: Positivo, 2009. (1 CD-ROM) • AuI. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio ilustrado. Curitiba: Positivo, 2008. • CCLDe. SINCLAIR, John. Collins COBUILD Advanced Learner´s Dictionary. Glasgow: HarperCollins, 2003. (1 CD-ROM) • CDAE. LANDAU, Sidney. Cambridge Dictionary of American English. 7.ed. Cambridge: CUP, 2006.