1 / 47

UMA JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE

UMA JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE. Palestrante: Victor Martins / e-mail: victortriantopoulos@gmail.com Casa das Áfricas – Cecafro-PUC-SP -. A noção de literatura. Logocentrismo ocidental na noção de literatura.

maris-wolfe
Download Presentation

UMA JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: A LITERATURA E O CINEMA DE SEMBÈNE OUSMANE

An Image/Link below is provided (as is) to download presentation Download Policy: Content on the Website is provided to you AS IS for your information and personal use and may not be sold / licensed / shared on other websites without getting consent from its author. Content is provided to you AS IS for your information and personal use only. Download presentation by click this link. While downloading, if for some reason you are not able to download a presentation, the publisher may have deleted the file from their server. During download, if you can't get a presentation, the file might be deleted by the publisher.

E N D

Presentation Transcript


  1. UMA JANELA ABERTA PARA O MUNDO AFRICANO: ALITERATURAE O CINEMADE SEMBÈNE OUSMANE Palestrante: Victor Martins / e-mail: victortriantopoulos@gmail.com Casa das Áfricas – Cecafro-PUC-SP -

  2. A noção de literatura • Logocentrismo ocidental na noção de literatura. Por exemplo, o escritor português Manuel Ferreira fala de “literaturas africanas de expressão portuguesa” (1977); Alfredo Margarido aponta “literaturas das nações africanas de língua portuguesa” (1980), modelo mais ou menos parecido com a classificação usada por Russel Hamilton - “Literaturas africanas lusófonas”.

  3. Para além da lusofonia, francofonia, anglofonia e demais “cacofonias”. • Contudo: para além do legado linguístico e epistemológico do colonizador, essas literaturas são moçambicanas, cabo verdianas, angolanas, são tomeenses, guineenses, brasileiras. • O modelo se repete inclusive com as literaturas produzidas por senegaleses, burquinenses, congoleses, djiboutinenses, camaronenses que via de regra são cooptadas pela classificação “francofonia”. • O padrão é o mesmo ao analisar a produção em Nigéria, África do Sul, Gana e demais países de língua oficial inglesa.

  4. Descolonizar o conhecimento: • Conforme observou Mary Louise Pratt, ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, por meio dos relatos de viagens, as potências europeias produziram “‘o resto do mundo’ para leitores europeus”. Através de taxonomias da história natural iluminista e da literatura de viajantes forjou-se uma forma eurocêntrica de consciência global, para não dizer planetária. Neste sentido, conhecimentos locais foram escamoteados. (Pratt, Os olhos do Império). • Assim, a ciência teve um papel preponderante neste processo, e a escrita é elencada enquanto o suporte de transmissão do conhecimento em detrimento da oralidade. • Daí ser necessário “descolonizar o conhecimento”, pois como diria AiméCésaire, “o colonizador mata duas vezes, ele mata fisicamente e mata culturalmente”.

  5. A noção de literatura • Nesta concepção, cria-se uma correlação entre literatura e escrita. • Assim, fala-se de literaturas escritas por africanos em línguas ocidentais. • Porém, as literaturas orais, que é o substrato e a fonte na qual grande parte dos escritores africanos bebem, é mais abrangente do que essa categoria.

  6. Tradição oral • Possui relação direta com a ancestralidade e com a tradição; • Transmitida de geração para geração; • O griot possui a função social de passar adiante tais tradições e valores sociais (vide a “Epopeia Mandinga, de Sundjata Keita), transcrita por Djibril Tamsir Niane, remete-nos ao século XIII, ou os estudos empreendidos por Amadou Hampathê Bâ, sábio do Mali. (vide também o filme Keita L’Héritage du Griot (1995), de Dani Koyaté) • Essas tradições são bem anteriores aos relatos de cronistas, poetas, historiadores, escritores de viagens, homens de ciências e literatos europeus do século XV e XVI, que descreveram o espaço africano a partir de um olhar etnologizante. • É um forte substrato para a literatura escrita e, inclusive, o cinema.

  7. A literatura na sua feição oral • Ao problematizar essa categoria, percebe-se que há uma noção mais abrangente de literatura, de performance oral, transmitida de geração para geração. • A exemplo das literaturas wolof, igbos, ewes, fulani... • Em escolas, universidades e centros de pesquisa, esse tipo de literatura é abordada somente por especialistas, apesar de ser parte de uma tradição viva.

  8. Literaturas orais • HampâtéBâ e as epopéiaspeuls (fulani). • A epopéiaSundjata em Guiné e Senegal, transcrita por DjibrilTamsirNiane (mostra que antes da colonização havia grandes impérios na África). • No Senegal, Gâmbia e Mauritânia, os cantos iniciáticos serers. • Exemplos que denotam a amplitude dessas literaturas.

  9. Conflito entre o oral e o escrito – A.H.Bâ “O fato é que não há sistema de escrita que destitua a África de um passado ou de um corpo de conhecimento...É claro que este conhecimento herdado que é transmitido da boca de uma geração ao ouvido da geração seguinte pode tanto crescer como diminuir...O corpo de conhecimento africano é vasto e diverso, estando presente em todos os aspectos da vida. O “conhecimento especializado” nunca é especialista, mas sim generalista...O corpo de conhecimento africano é, consequentemente, um conhecimento vivo e “abrangente”, é por este motivo que os anciãos são vistos como os seus últimos detentores, podendo ser comparados a uma vasta biblioteca, cujas estantes estão articuladas umas às outras por meio de conexões invisíveis que são a essência da “ciência do invisível.” (BÂ, 1972, p.22).

  10. Conflito entre o oral e o escrito – Tierno Bokar • “A escrita é uma coisa, e o saber, outra. A escrita é a fotografia do saber, mas não o saber em si. O saber é uma luz que existe no homem. A herança de tudo aquilo que nossos ancestrais vieram a conhecer e que se encontra latente em tudo o que nos transmitiram, assim como o baobá já existe em potencial em sua semente” (Bokar, 2008).

  11. Cone da aprendizagem Pesquisa de Edgar Dale assinala que há uma tendência a retermos mais na memória aquilo que é visto, ouvido e vivenciado, em detrimento daquilo que é só lido.

  12. O legado de Sembène Ousmane: a literatura para além da francofonia Sembène Ousmane: Casamance. (08/Jan/1923 – 09/Jun/2007) Etnia wolof

  13. Mapa do Senegal.

  14. Casamance – os wolofs • Casamance: ambiente de diversidade cultural e pluriétnica. • Provável origem dos wolof. • Algumas pesquisas argumentam que são provenientes dos serers, crioulizados com os mandingas, tucolores, fulas e sarakolés (Leymarie, 1999, p.21). • Segundo AmadouWade, o aparecimento dos wolofs remontam ao fim do século XII início do XIII, no já existente reino Waalo (tornou-se, em 1855, primeira colônia francesa da África subsahariana. (Gadjigo, 2007). • As secas ocorridas no início do XX, fizeram com que os wolofs migrassem para a região do Senegal, juntando-se aos diolas, mandiaks, balantes e demais etnias locais. • Essa diversidade e plurietnicidade será uma marca de toda a obra de Sembène, tanto no cinema quanto na literatura.

  15. Sembène: breve biografia até a imersão na literatura • Nasce sob o regime do “indigenato” (nativos eram assuntos franceses, em razão da ascendência paterna – Moussa Sembène). • Na infância, frequenta a escola corânica. • Aos oito anos, passa a frequentar a escola dos “toubabs” (escola francesa). • Empreende viagens entre Dakar e Marsassoum, onde é educado pelo tio Abdourahame Diop (sábio islâmico), nos preceitos do Islã.

  16. Sobre a educação religiosa • “Fui, sobretudo, educado pelo meu tio [...] que era um erudito tanto em francês quanto em árabe. Um homem profundamente religioso que escreveu um certo número de documentos sobre a vida social e a idéia de Deus. Já não sustento tal crença, creio somente no homem. Porém, o que mais guardei da sua educação foi que era preciso evitar de se ‘toubabiser’ [ocidentalizar]” (Entrevista concedida a Guy Henebelle, 1966, no Festival de Cártago).

  17. Sembène: a escola da vida • 1935 (aos 12 anos), falece o tio Diop, fica mais um ano em Marsassoum. • Aos 15 anos é expulso da escola dos “toubabs” por desavenças com o diretor Pierre Peraldi - não mais seria admitido em nenhuma escola “toubab”. • Sua formação ocorreu de forma autodidata e empiricamente – a julgar pelas inúmeras profissões que exerceu.

  18. Profissões • Encanador; Mecânico; Pescador e muitas outras. • Em fevereiro de 1944, é mobilizado para o 6º Regimento de Artilharia Colonial (RAC), tornando-se “tiralleur”. “Descobri outras facetas da colonização” (Sembène em entrevista)

  19. Sembène: o tiralleur • “Em fevereiro de 1942, o general de Gaulle vem a Dakar, Ousmane Sembène contava com 19 anos, sua fé patriótica mudara de pessoa e objeto; ele se fixa agora sobre de Gaulle e a liberação da França. Ele seria mobilizado em 1942, juntando-se ao 6º R.A.C, a cerca de 80 km de Dakar e durante 4 anos, até 1946, está seria a sua guerra. Do Níger ao Chade, da África do Norte a BadenBaden, na Alemanha [...]” (PaulinSoumanouVieyra, p.16). Charles De Gaulle (1890-1970)

  20. Sembène: a luta sindical • Depois de 18 meses de serviço militar, filia-se ao sindicato, em Dakar. • No mesmo ano (1946) ocorre a greve dos ferroviários da linha férrea Dakar-Níger. (A experiência é retratada no romance “Les bouts de bois de Dieu”). • Ainda em 1946, desembarca para Marselha, clandestinamente à bordo do navio “Pasteur”.

  21. Parêntese irritante, mas necessário • Conferência de Berlim (1884-85). • Colonialismo militar, religioso. • A escola nesse processo teve papel eficaz (uso do alfabeto). • No dizer de Frantz Fanon, “para o colonizador, é preciso que haja uma ocupação mental”. • A escola em África teve por função formar os “auxiliares” do colonialismo: administradores, soldados coloniais, padres, etnólogos, professores, técnicos, profissionais... (vide Diversité Culturelle – Education, 10min45seg – 12min30)

  22. Assim, desde cedo, a África está presente na literatura escrita, mas a partir do olhar ocidental, justificando sua presença no continente. • Nos corações das trevas, Robison Crusoe e nos filmes de Tarzan, o “indígena” não existe, pois só é parte do cenário. • Esse tipo de literatura tem por objetivo: “justificar” o “white man’s burden” (fardo do homem branco).

  23. Crítica de Aimé Césaire • Há uma falsa equação que diz: “colonização é igual a civilização” – A primeira grande mentira do ocidente. (Discurso do Colonialismo, Césaire). “Não é verdade que não temos mais nada que ser neste mundo senão parasitas (…) Nenhuma raça tem o monopólio da beleza, da inteligência, da força e há um lugar para todos no momento da vitória“ (Aimé Césaire) (1913-2008) - Martinica

  24. A literatura de “cartão postal” • Essa literatura de “cartão postal” foi útil para ajudar a construir a imagem do negro selvagem: • Caberia ao colonizador levar ao continente africano DEUS, A HUMANIDADE E A HISTÓRIA

  25. A literatura dos anos 1920-30 • Surge os primeiros textos escritos pelos africanos e africanos da diáspora formados nas chamadas “escolas coloniais” – a conhecida literatura africana francófona. • Segundo Samba Gadjigo, trata-se de uma literatura escrita por africanos sobre a África, mas por escritores formatados pelo sistema colonial ou que tinham em seu horizonte outras questões – a questão racial. • Para os escritores da negritude, a problemática girava em torno da raça. Assim, LeopoldSenghor (Senegal), Césaire (Martinica), León Damas (Guiana Francesa), disseminaram a categoria negritude, enquanto uma nova noção para pensar a questão do negro, a questão racial. Césaire, Senghor e Damas, ideólogos da negritude.

  26. Para além da negritude 1/4 “A um mundo totalmente racista, automutilado por suas cirurgias coloniais, AiméCésaire restituiu a África mãe, a África matriz, a civilização negra. Ao país, ele denunciou as dominações e, com sua escrita, engajada, dinamizando-se como forma de guerra, ele aplicou golpes severos aos pesados desdobramentos pós-escravagistas. A Negritude cesairiana engendrou a adequação da sociedade crioula a uma consciência mais justa dela mesma (...) (Elogio da Crioulidade, 1989, Chamoiseau, Bernabé, Confiant, continua...). Patrick Chamoiseau Jean Bernabé Raphael Confiant

  27. 2/4 (...) A Negritude, salvo o clarão profético da palavra, não expôs nenhuma pedagogia do Belo, e, de fato, nunca teve esse projeto. Em verdade, a força prodigiosa que emanava dela dispensava uma arte poética. O fulgor com que resplandecia, balizando com sinais ofuscantes o espaço de nossas indecisões, esvaziou toda repetição taumatúrgica em detrimento dos epígonos (discípulos). De maneira que, mesmo galvanizando nossas energias no ângulo de fervores inéditos, a Negritude não remediou absolutamente nossa inquietação estética. É possível mesmo que tenha, durante algum tempo, agravado nossa instabilidade identitária, apontando-nos a síndrome mais pertinente de nossas morbidezas: o exílio interior, o mimetismo, o natural do próximo vencido pela fascinação do distante, etc, todas figuras da alienação. (...)

  28. 3/4 “(...) Terapêutica violenta e paradoxal, a Negritude fez suceder a ilusão africana à da Europa. Originalmente voltada à aspiração de nos domiciliar no aqui de nosso ser, ela foi, às primeiras vagas de seu desdobramento, marcada por uma espécie de exterioridade: exterioridade de aspirações (a África mãe, África mítica, África impossível), exterioridade da expressão da revolta (o Negro com maiúscula, todos os oprimidos da terra), exterioridade da afirmação de si (nós somos Africanos). Incontornável momento dialético. Indispensável trajetória. Terrível desafio o de sair disso para enfim construir uma nova síntese, ela mesma provisória, sobre o percurso aberto da História, nossa história”.

  29. 4/4 Nesse tempo, urrar era bom. Ser obscuro era sinal de profundidade. Coisa curiosa, isso foi necessário e nos foi benéfico. Nós sugávamos isso como uma teta de rum. E se isso nos liberava de um lado, acorrentava-nos de outro, agravando nosso processo de afrancesamento. Pois nessa revolta negrista, se contestávamos a colonização francesa, era sempre em nome de generalidades universais pensadas à ocidental e sem nenhum apoio em nossa realidade cultura. E, entretanto, a Negritude cesairiana permitiu a emergência daqueles que iriam nomear o invólucro de nossa mentalidade antilhana: abandonados em um impasse, alguns ultrapassaram a barreira (como fez o escritor martiniquense Édouard Glissant), ou ficaram no mesmo lugar (como fizeram muitos) a girar em torno da palavra Negro, a sonhar com um estranho mundo negro, a se alimentar de denúncias (da colonização ou mesmo da Negritude) que levaram logo ao vazio, em uma escrita verdadeiramente em suspensão, fora do solo, distante do povo, distante do público leitor, fora de toda autenticidade, senão de maneira incidente, parcial ou acessória”.

  30. O novo olhar trazido por Sembéne Ousmane • Para os ideólogos da negritude, nos anos 1930 havia uma proposta de definir o mundo, a estética, a cultura e a raça negra, mas sem falar do contexto de exploração e opressão na qual essa literatura estava inserida. • Essa opressão, Sembène foi testemunha ocular e corpórea dessa opressão. • Já trabalhando no porto de Marselha (1946), passa a frequentar a biblioteca do sindicato. • Participa ativamente das reuniões da editora Presénce Africaine, fundada por Alioune Diop em 1947. • Em 1950, filia-se ao PCF e passa a fazer parte da Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT).

  31. “Descobri a literatura como um cego que descobre a luz” (Sembène Ousmane) • Experiência acumulada enquanto estivador no porto de Marselha (sua comunidade de destino retratada em “O estivador negro” – Le Docker noir). • Fazia parte da classe operária e não da classe intelectual. • “Por que eu li tudo que foi escrito sobre a África por europeus e por africanos, e em nenhum lugar ouvi a voz do povo, nem dos trabalhadores, nem das mulheres africanas”

  32. Formação intelectual • Diferente dos escritores da negritude, Sembène foi formado na chamada “Escola da Vida”. Também recebeu uma formação marxista via militância sindical e partidária, uma vez mergulhado no universo trabalhista. • Em 1951, devido a uma fratura na coluna vertebral, fica de licença durante um ano, e ao retornar, trabalha como sinaleiro (profissão mais leve do que a de estivador).Passa a se dedicar à literatura.

  33. “Liberdade” – seu primeiro poema • Traz como pré-condição a libertação da África. • Em 1956, publica seu primeiro romance, “O estivador negro” (1956). Escrita em tom de denúncia, retrata as precárias condições de trabalhos dos estivadores africanos no porto de Marselha. É também uma reconstrução ficcional das relações raciais conflitantes entre franceses e os exilados africanos das colônias francesas pertencentes à diáspora negra. O livro tem por protagonista Diaw, um trabalhador portuário que divide seu tempo entre o cansativo trabalho no porto e a literatura, uma das suas paixões. Nas docas, Diaw vivencia cotidianamente os maus tratos, o racismo e o preconceito que acomete os africanos em exílio. O protagonista escreve uma obra que é roubada pela romancista francesa Ginette Tontisane, que a publica como sendo de sua autoria. De orientação autobiográfica, a narrativa é embalada por um tom político que já aponta alguns caminhos das posteriores produções do escritor-cineasta. Enquanto descreve os problemas dos trabalhadores negros, narra a história de um jovem estivador que aprende a escrever. : “sim, claro, o problema da raça é um problema importante, mas também precisa ser colocado o problema de classe (Sembène)

  34. Sembène Ousmane • O modo de pensar wolof e os valores da sua juventude confere particularidade à sua obra, sobretudo, no que se refere ao diálogo prolífero com a ancestralidade. • No seu pensamento há uma estreita relação entre cultura e economia (vide o romance “Xala” em que é possível observar as diferenças de comportamentos dos novos ricos de Dakar que destoa da cultura tradicional. • A recorrência à história possui papel importante na obra do escritor-cineasta. (Xala, Camp de Thiaroye, Ceddo)

  35. Literatura de combate • “Oh, pays, mon bon peuple” (Ó, país, meu belo povo), 1957. O jovem Oumar Faye, após participar da guerra retorna ao seu país natal, organizando os “camponeses” à maneira dos movimentos soviéticos, com a criação de cooperativas para controlar a produção. Nesta obra, em oposição ao discurso da raça, Sembene problematiza um discurso econômico, em que é nítido que o pauperismo da África advém da exploração econômica por parte dos imperialistas Estados europeus. Daí a necessidade de romper o “cordão umbilical” com as metrópoles. (A tese é retomada em Guelwaar, produzido em 1992, já em contexto de pós-independência. Obra muito referenciada pelo escritor haitiano, Jacques Roumain (1907-1944), fundador do PCH, um dos mais proeminentes escritores do país, apesar da morte prematura

  36. A questão do marxismo “Há uma problemática com a qual me deparo nos debates que organizo após a projeção de meus filmes. Partimos do princípio que só existem sobre a terra dois tipos fundamentais de regimes: o socialismo e o capitalismo. Eu sou pelo socialismo. Mas não é porque eu faço filmes, por mais progressistas que sejam eles, que provocarei a irrupção de um regime socialista. É o povo que fará emergir o socialismo ou o comunismo.” (SEMBENE, Ousmane. Entrevista concedida a Guy Henebelle, p.15,

  37. Literatura de combate “Les bouts de bois de Dieu”, (“Pedaços de madeira de Deus” (1960). Ambientado entre o Senegal e o Sudão, o romance tem por protagonistas os trabalhadores da linha férrea, que entre eles se conheciam como “Bouts de bois de Dieu”. “Les bouts” adaptado para o teatro por um grupo congolês dirigido por Hugues Serge Limbvani (Trupe Boyokani, 2008). Romance laureado com o grande prêmio de literatura da África Negra.

  38. Literatura de combate - crítica ao colonialismo  A personagens de seus romances são oprimidos em busca de justiça – tiralleurs, estivadores, classe trabalhadora, doméstica em confronto com seus opressores. • Há um questão de gênero a ser problematizada – a questão feminina – a filha, a mãe, a militante... (Les bouts, primeiro romance no qual a mulher africana possui um papel principal). • Suas personagens são próximas ao povo: seus nomes, suas línguas, falas, gestos, práticas. • Os lugares lhe são comuns: o nome das cidades, dos rios, a natureza que lhe cerca. • A resolução para os problemas colocados sempre é posta a partir do coletivo. • O passado é uma ferida em aberto...

  39. Uma questão se impõe - ?  Depois de “Lesbouts de bois de Dieu”, ocorre um problema.  “Dei-me conta que somente com o livro poderia, em África, apenas alcançar um número limitado de pessoas. Enviei a diversas embaixadas uma solicitação de bolsa para estudar cinema. A URSS respondeu favoravelmente e assim que cheguei em Moscou, no Studio Gorki, para estudar com Marc Donskoi” (SEMBENE, O. Entrevista, op, cit, p.8.)

  40. Referências Bibliográficas AMODA, M. Functionalistic art:black esthetics and the dialetic of esthetic judgment. In: Colloque sur Litterature et Esthetique negro-africaines. Dakar: Les Nouvelles Editions Africaines, 1979. ANTONACCI. Culturas da voz em circuitos África/Brasil/Áfricas. P.2. In: Congresso Luso-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra, 2004. AVELLAR, José Carlos Avellar. A ponte clandestina - Teorias de Cinema na América Latina. RJ/SP: Ed. 34 / Edusp, 1995. AZIZA, Mohamed. (org) Patrimoine culturel et création contemporaine en afrique et dans le monde árabe. Dakar: Les nouvelles Editions Africaines, 1977. BAMBA, Mahomed. O cinema africano: no singular e no plural. In: Baptista, Mauro; Mascarello, Fernando (org). Cinema mundial contemporâneo. Campinas, SP: Papirus, 2008. BÂ, Amadou Hampâté. Amkoullel, o menino fula. Tradução: Xina Smith de Vasconcellos. SP: Casa das Áfricas; Palas Athena, 2003. ____________________. A Tradição viva. In: Ki-Zerbo (org.) História Geral da África, SP: Ática, 1982.

  41. BAMONTE, D. Afinidades eletivas: o diálogo de Glauber Rocha com Píer Paolo Pasolini (1970-1975). Tese de Doutorado. ECA/USP, 2002. BARRY, Boubacar. Senegâmbia: o desafio da história regional. Tradução: Ângela Melim, RJ: Sephis. _______________. Expressões da Negritude na política, na poética, nas artes. Revista Projeto História, n.26, SP: Educ/PUC, 2003. BAXANDALL, M. Padrões de intenção: a explicação histórica dos quadros. SP: Cia das Letras, 2006. BENJAMIN, W. O narrador. In: BENJAMIN, W. Obras escolhidas – magia e técnica, arte e política. V.I. SP: Brasiliense, 1985. BHABHA, Homi K. O local da cultura. BH: UFMG, 1998. BOULANGER, Pierre. Le cinéma colonial, de l´Atlantide à Lawrence d´Arabia. Préface de Guy Hennebelle. Paris: Seghers, 1975. CESAIRE, Aimé. Discours sur le colonialisme. Paris: 1955. _____________. Carta a Maurice Thorez. Paris, 24.10.1956. In: Présence Africaine, 1956. _____________. Discours sur la Négritude. Paris: 1950.

  42. COLLOQUE SUR LITTERATURE ET ESTHETIQUE NEGRO-AFRICAINES. Dakar: LesnouvellesEditionsAfricaines – Abidjan - 1979. CONVENTS, Guido. A la recherchedesimagesoubliées: préhistoireducinéma em Afrique 1897-1918. Bruxelles: OCIC, 1986. CONNERTON, Paul. How societies remember. Cambridge: Cambridge University Press, 1989. COSTA, Antonio. Saber ver el cine. Barcelona/Buenos Aires/Mexico: EdicionesPaiidós, 1991. CHAM, Mbye. História oficial, memória popular: reconfiguração do passado africano nos filmes de Ousmane Sembène.Trad. Victor Martins de Souza. In: The historical film: history and memory in media / edited and with as introduction by Marcia Landy. USA: Rutgers University Press, 2000. DIAGNE, Ismaïla. Lessociétésafricainesaumiroir de Sembène ousmane. Paris:L´Harmattan, 2004. DIENE, D. La créationaudiovisuelle en Afrique, In: DIOUF, M. Histoiresetactualitésdans CEDDO d’ousmaneSembeneet HYENES de DijibrilDiopmambéty. In: Littératureet cinema em Afriquefrancophone. Paris: L’Harmattan, 1996. DONMEX-COLIN, Gonul (org). The cinema of North Africa and the Middle East. London: WallflowerPress, 2007. FANON, Frantz. Racismeetculture. PresenceAfricaine.Juin-nov, 1956. _____________ Os condenados da terra. SP: Brasiliense, 1968. _____________. Pele Negra, Mascáras Brancas. Tradução: Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008. ______________. L’an V de la révolutionalgérienne. Paris: Cahiers libres, n.3, 1959.

  43. FEDRY, Jacques. Anthropologie de la parole enAfrique. Paris: Karthala, 2010, p.75. FERRAZ,Abdu. Contos e Tradições Orais em Culturas Africanas. Revista Projeto História, SP, n.26, Educ, 2003. GADJIGO, S. Ousmane Sembene – une conscience africaine. Paris: Homnisphères, 2007. GILROY, Paul. The Black Atlantic. Boston: Harvard University Press, 1993. GLISSANT, Édouard. O Mesmo e o Diverso. Tradução NorméliaParise. In: E. Glissant. Le discoursantillais. Paris: Seuils, 1981. _________________. Introdução a uma poética da diversidade. Juiz de Fora: Editora UFJF, 1996. GOMES, Paulo Emílio Salles. Cinema: trajetória no subdesenvolvimento. SP: Paz e Terra, 1996. ____________________. Uma situação colonial? In: Crítica de Cinema no Suplemento Literário. Vol.II, RJ: Paz e Terra, 1981. HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Tradução: A.G. Resende; A. Escosteguy; C. Álvares; F. Rudiger; S. Amaral. BH/Brasília: Unesco/UFMG, 2003. HENNEBELLE, Guy. Lescinémasafricains em 1972. Dakar: SocietéAfricaind´Édition, 1972. _____________(org). Le Tiers Monde em films. In: Cinémaction, s/no. Tricontinental, 1982. HONDO, Med. Le rôle du cinéasteafricain. In: RencontresInternationalespoeur un nouveau cinema, 1974, Montréal. Cahiers. Montréal: Comitéd´ActionCinématographique, 1975.

  44. INTERVIEW WITH OUSMANE SEMBENE. In: GABRIEL, Teshome H. Third cinema in the third world: the aesthetic of liberation. AnnArbor, Michigan: UMI Research Press, 1982. IROBI, Esiaba. O que eles trouxeram consigo: o Carnaval e a Persistência da Performance Estética Africana na Diáspora. Tradução: Victor Martins de Souza. In: Journal of Black Studies, v.37, n.6, jul/2007. KODJO, F.Lescinéastesafricains face à l’avenirdu cinema em Afrique. In: Tiers-Monde. 1979, tome 20 n.79. LEQUERET, Elisabeth. Le cinema africain: un continent à la recherche de son propre regard. Collection dirigée par Joel Magny et Frédéric Strauss. Paris: 2005. N´DIAYE, Samba Felix. Africa, Ozu, Cinema Novo e camera no chão. In: Cinemais, n.8, nov-dez. 1997. NIANE, DjibrilTamsir. Sundjata ou A Epopéia Mandinga. Trad. Oswaldo Biato. SP: Ática, 1982. OUSMANE, Sembène – O griot do cinema africano, Correio da Unesco, Fundação Getúlio Vargas, março de 1990. __________________. Cinemaction, n.17, 1982. __________________. Interview. Emission RFI, Catherine Ruelle/Sophie Ekoue. 1977 – 75º anniversairedurealisateur. PEREIRA, M. O Columbianum e o cinema brasileiro. In: Revista Alceu, v.8, n.15, jul./dez. 2007.

  45. PEREIRA, M. Columbianum: na contramão do colonialismo cinematográfico. Cinemais, n.12, jul-ago, 1998. ROBERT, Stéphane. From body to argumentation: grammaticalization as a fractal property of language (the case of Wolof ginnaaw). In: Berkeley Linguistics Societ 23S, 1997. SEMBÈNE, Ousmane. Interventionorale à la RencontreInternationale de Poetes à Berlin du 12 au 27 Septembre 1964. SEMBENE, Ousmane. Cinemaction, n.17, 1982. SERCEAY, Michel (org). Cinémas du Maghreb. In: Cinémaction, n.111, 2004. SHOHAT, E; STAM, R. Crítica da imagem eurocêntrica. Trad: Marcos Soares. SP: Cosacnaify, 2006.

  46. SCHIPPER, Mineke. Oral literature and written orality. In: Beyond the boundaries: African Literature and Literary Theory. London: Allison & Busby, 1989. SYLA, Assane. La philosophie morale des Wolof. Dakar: Ifan/Université de Dakar, 1994. THIONGO, N’gugi wa. A descolonização da mente é um pré-requisito para a prática criativa do cinema africano?. In: Cinema no Mundo –indústroa, política e mercado. África, v.1, Alessandra Meleiro (org). SP: Escrituras Editora, 2007. TORRES, Nelson Maldonado. La topologia Del ser y la geopolítica Del saber. Modernidad, Império, Colonialidad. Buenos Aires: Ediciones del signo, 2006. VANSINA, Jan. A tradição oral e sua metodologia. In: Ki-Zerbo (org.) História Geral da África, São Paulo, Ática, 1982. VERGER, P. Exu promove uma guerra em família. 1954, p.183. In: PRANDI, R. Mitologia dos orixás. SP: Companhia das Letras, 2001. VIEYRA, Paulin Soumanou. Africa: la historia em imágines amenazada. In: El Correo de la UNESCO, n.8, v.37, ago-1984.

  47. WILLIAMS, Patrick; MURPHY, David. Postcolonial African cinema: tem directors. NY: Manchester University Press, 2007. XAVIER, Ismail. Alegorias do subdesenvolvimento. SP: Brasiliense, 1993. ZUMTHOR, Paul. Introdução à poesia oral. SP: Hucitec-Educ, 1997.

More Related