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V Jornada de Educação de Jovens e adultos Trabalhadores- UFF. Trabalho e Educação: um ponto de vista da inteligência operária Prof.º Dr.º Geraldo dos Santos. Aproximação com a temática : Experiência como metalúrgico e trajetória escolar.
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V Jornada de Educação de Jovens e adultos Trabalhadores- UFF Trabalho e Educação: um ponto de vista da inteligência operária Prof.º Dr.º Geraldo dos Santos
Aproximação com a temática: Experiência como metalúrgico e trajetória escolar • Os saberes dos trabalhadores, antes de ser um objeto de estudo, já se apresentavam em qualquer processo de trabalho, sempre jogou um papel decisivo na produção das coisas, nas relações sociais e na formação da experiência-consciência de classe. • SANTOS ALVES, GERALDO MÁRCIO. A pedagogia da ferramenta: estratégias de produção, mobilização e formalização de saberes tácitos criadas pelos ferramenteiros de uma indústria metalúrgica. Dissertação de mestrado. FAE/UFMG, 2004. • SANTOS, Geraldo Márcio Alves. Pacto para viver: a mobilização de saberes na produção associada, gestão e organização do processo de trabalho e maquinaria em uma indústria metalúrgica. Tese de doutorado. UFF, 2010.
Aporte teórico: Materialismo Histórico: o trabalho como protoforma da sociedade, a organização do processo de trabalho e o seu princípio educativo . (Marx, Gramsci, Bravermam, Saviani e Frigotto) Ergonomia: Processo de trabalho, o trabalho prescrito e o trabalho real e a inteligência operária. (Wisner, Faita e Lima) Economia Popular Solidária: (Tiriba, Singer, Novaes....)
Pistas para conversas • Em qualquer processo de trabalho há necessidade de um tipo de prescrição • No processo de trabalho capitalista há uma hierarquia de saberes que joga a favor dos saberes do campo da ciência, logo do trabalho prescrito, em detrimento dos saberes oriundos da experiência. • Sempre houve resistência dos trabalhadores ao trabalho prescrito, mesmo na fábrica capitalista. • O trabalho prescrito tem grandes limites face ao trabalho real: imponderável (clima, desgastes), limites históricos da ciência e tecnologia e pela afirmação do trabalhador como um sujeito no processo de trabalho.
No processo de trabalho não se produz somente um determinado produto/coisa, mas o próprio homem. Os saberes mobilizados expressam valores, subjetividade, memória, domínios escolares, domínios instrumentais, domínios de ordem corporal, relações sociais, identidades de classe, • A experiência da produção associada corrobora que a hierarquia de saberes é mais uma imposição política do que técnica. Mais ainda, indica que em relações menos coercitivas o princípio educativo do trabalho se potencializa
Trabalho e inteligência operária ? • Trabalho prescrito é: a definição prévia da maneira como o trabalhador deve executar o trabalho, o modo de usar os equipamentos e as ferramentas, o tempo concedido para cada operação(...) Pode ser comunicado por escrito, oralmente, ou pro sinais e etc • O trabalho real se remete às condições necessárias em que se realiza uma parte do trabalho que sempre escapa à prescrição, portanto, o trabalho real é aquele que garante o andamento do processo de trabalho
Hierarquia de Saberes e o engodo do toyotismo • Taylorismo-Fordismo: forte presença da prescrição de tarefas • Modelo Japonês: renormatização da prescrição das tarefas e intensificação da prescrição dos objetivos
Pensar o tempo todo ! • Os saberes dos trabalhador não é reflexo somente dos limites do trabalho prescrito, podendo ocorrer antes, ou mesmo antecipar a Prescrição. Portanto, o saber dos trabalhadores não é residual. • Quando um operário diz que aprende com a máquina, entendemos que a atividade de trabalho extrapola a idéia de passividade no manuseio das máquinas. Ao trabalhar, ele desenvolve sua capacidade de observação e interpretação do funcionamento da maquinaria, mobiliza saberes todo o tempo e não apenas de forma residual, respondendo as lacunas do trabalho prescrito
Pensar o tempo todo ! • Os trabalhadores, mesmo diante daquilo que “funciona bem”, nunca deixaram de vislumbrar outras possibilidades de organização do processo de trabalho. O princípio pedagógico do trabalho pode ter antecedentes de longa data, influências de passagens por outras indústrias e/ou outros espaços sociais. É comum para muitos os trabalhadores tirar conclusões sobre algo que nem foi prescrito, pois já vivenciaram, ou ouviram dizer, situações semelhantes. Nesse caso, talvez a prescrição seja um “resíduo” da experiência, uma vez que a verdade dos cooperados é validada antes, durante e após a produção.
Pensar o tempo todo ! • Se eu te falo que o camarada mais experiente conhece várias máquinas e isso conta, é porque a própria máquina te ensina a trabalhar. Se você troca de máquina e for cortar mais com outra, ela grita, o barulho é diferente, aí você vai trabalhando, muda uma coisinha e a máquina vai te indicando o caminho. Isso é com o tempo, é só com o tempo, mas a ousadia ajuda, a opinião do outro também, é por aí que a gente aprende. Então, aquilo que você aprendeu com uma máquina você pode usar na outra, sabe como? (Cooperado, torneiro ferramenteiro).
O saber usar o corpo • “O projetista tem um grande problema hoje em dia. Antes ele trabalhava com a prancheta, agora ele trabalha no computador em uma tela de no máximo 20 polegadas. As nossas ferramentas, além de ter vários componentes, às vezes 700 ou 800, mede quase 3, ou 4 metros. E tem mais, no computador você não pega com a mão, não ouve e não vê direto as peças. Nós olhamos, escutamos, até para usar a visão tem macete que no computador deve ser mais difícil, né". • “Quando você passa o óleo e com a luz refletida sobre ele, é até um pouco de física, né, que é a refração da luz, e quando a luz bate sobre o óleo, quando você tem o mesmo plano de superfície constante, essa superfície ela é refletida igualmente, a luz é refletida igualmente. Se você tem planos diferentes, o plano superior, ele é mais refletido, o plano inferior, a luz é refletida menor, então justamente sobre esta sombra, que você vê que a superfície não tá igual, tem alguma ondulação, é justamente ai”.
Produção de saberes e organização do processo de trabalho na produção associada • Trabalho prescrito persiste, muitas vezes orientadas pelo saberes oriundos da experiência e questionadora do campo da ciência??? • Base material condenada • Reorganização da divisão do processo de trabalho face a ausência de quadros técnicos científicos • solidariedade pedagógica • Estatuto da produção associada favorece a ontocriatividade (erro, dúvida, mais sentido, comunhão pedagógica...)
Produção associada: técnicos e políticos! • Na Metalcoop, a distância entre o prescrito confrontou a validade dos saberes teóricos com os saberes tácitos e, também, restabeleceu uma tensão entre os próprios sujeitos, portadores e destas epistemologias, uma disputa velada pelo monopólio do trabalho prescrito: • (...) o engenheiro nosso, ele já era engenheiro da Picchi e não começou com a gente na cooperativa, mas quando o serviço apertou, nós fomos e chamamos ele. No início, ele não aceitou de forma alguma as minhas sugestões, eu fui fazendo uns testes escondidos, a peça ia dando certo e ele achando que era o projeto dele. No dia que ele descobriu, ele ficou uma fera comigo, mesmo dando certo e o pessoal falando pra ele, ele não aceitava.
Trabalhadores: técnicos e políticos! • Pelo resultado das peças, ele teve que aceitar, mas punha muita barreira, sabendo que eu num sou bom no desenho, ele pedia pra eu desenhar e eu só faço croqui, sou fraco no desenho. Ficou uma relação ruim, e eu fui mostrando o resultado na prática e ele no cálculo, falando que num dava pra fazer. Ficou difícil, a verdade dele era de papel e a minha verdade era de aço, a gente não vende papel, a gente vende peça de verdade (...) se eu acreditava no que tava fazendo, eu tinha que defender meu conhecimento, e a prova tá aí pra quem quer ver. (Cooperado, gestor do processo de trabalho);
Técnicos e políticos: a questão do erroNa Metalcoop a questão do erro interroga o estatuto epistemológico e político da ciência, coloca o saber na teia das relações de poder já que o inscreve na perspectiva do coletivo Como a empresa é nossa, nós pudemos ter mais ousadia. A literatura diz que você tem que fazer uma peça em tantas operações, os cálculos mandam serem feitos dessa forma. (...) Então, corre o risco de rebentar o ferramental, de colocar em risco até a vida da máquina(...) Se de fato aquilo que a gente acha que vai dar certo, que essa peça além de produzir, sem levar em conta a literatura pra (...). Bate, a peça acaba dando certo, cê acaba mostrando que nem sempre a literatura diz tudo, que precisa o homem ir um pouco mais além daquilo que são os limites. (Cooperado, ex-presidente da Metalcoop).
O sujeito epistemológico não se separa do sujeito axiológico • A experiência é sempre coletiva e potencializa a subjetividade do trabalhador. Na Metalcoop, por exemplo, trouxe para os trabalhadores a revelação de que tinham virtudes subsumidas pelo processo de trabalho da Picchi: Cê vê um cara ali na prensa, o cara usa uma força danada pra trabalhar, o cara parece ser grosso. Aí, num processo igual o que passou com a gente, o cara vai lá, participa com idéias que na empresa privada ele nunca vai poder demonstrar, porque lá, no máximo, ele vai dar idéia só pra produção. Mas aqui não, quando tem problema de gestão, de relacionamento entre colegas, o cara tem espaço pra falar, mesmo de coisas mais complicadas. (Cooperado, diretor administrativo da Metalcoop).
O sujeito epistemológico não se separa do sujeito axiológico A gente tá aprendendo a ser cooperado, isso leva um tempo, talvez isso nem é pra nós. Meu filho e os filhos do pessoal que é mais novo, eles vão nascer e crescer como filho de cooperado. Num é só pra ter orgulho: Ah! meu pai fundou aquela cooperativa, num é pra ficar rico”. Mas, ele já vai crescer vendo uma outra forma de ganhar a vida com dignidade (...). (Cooperado, coordenador do controle de qualidade).
Trabalho, Educação e Escola • Necessária interface com o mundo trabalho • Por uma pedagogia do trabalho ? • Na escola, há um processo de trabalho, há que conhecê-lo e apropriá-lo também.
Para pensarmos.... • Liberdade para ter ousadia e errar; • Comunhão pedagógica (barreiras psicosociais, encontro de gerações) • Linguagens diversas; • Uso do corpo; • Articulação- confronto da técnica, ciência, tecnologia e cultura;
Para pensarmos.... • Intersaberes, o campo disciplinar não abarca a riqueza da vida social • Não separar sujeito axiológico e sujeito epistemológico.
Para pensarmos.... • Processo de trabalho escolar: tomá-lo em sua totalidade. • Pista da análise marxiana ; homem-meios-objetos • A ciência e a tecnologia podem separar docente e discente; • Marx e Freire Círculo de cultura e processo de trabalho
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