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Parte III Violência sexual contra crianças e adolescentes.
E N D
Em 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Crespo, uma criança de oito anos de idade, desapareceu da escola onde estudava para nunca mais ser vista com vida. Araceli foi espancada, estuprada, drogada e morta numa orgia de drogas e sexo. Seu corpo e rosto foram desfigurados com ácido. Seis dias depois do massacre, o corpo foi encontrado num terreno baldio, próximo ao centro da cidade de Vitória, Espírito Santo.
Dois membros de influentes famílias do Estado foram acusados, chegaram a ser presos e condenados, mas a sentença foi anulada. Em novo julgamento, realizado em 1991, os reús foram absolvidos. O crime já prescreveu. Seu martírio significou tanto que esta data se transformou, 27 anos depois de sua morte, no Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes pela Lei nº 9.970, de 17.05.2000.
Violência Sexual É considerada um crime hediondo Qualquer relação sexual com criança ou adolescente com menos de 14 anos. Existe vários tipos, mas as mais conhecidas são estupro e atentado violento ao pudor.
Violência Sexual - Definição • A violência sexual é toda forma de uso, ato ou jogo sexual com a criança ou adolescente de parte de um agressor, familiar ou próximo, que esteja em estágio de desenvolvimento psíquico e sexual mais adiantado. • Envolve ainda exploração sexual, visando lucros, na forma de prostituição e da pornografia.
Abuso sexual intrafamiliar • A imposição da relação incestuosa significa o uso abusivo, por parte do adulto, do poder que tem no núcleo familiar. • Nem sempre se trata de um poder econômico. Em muitos casos se trata de um poder simbólico. • Sua recorrência representa a submissão e adaptação da criança a uma situação traumática que precisa ser rompida.
Quem são as vítimas? • As denúncias de crimes sexuais contra crianças e adolescentes respondem por 31% do total de ligações no disque denúncia nacional, sendo que as meninas são as vítimas em 62% dos casos. (A Gazeta, 19 maio de 2009) • Em Ribeirão Preto – 58% eram crianças e 42% adolescentes. 10 a 12 anos foi a faixa etária mais violentada. (Ribeiro, Ferriani e Reis, 2004)
Quem são os agressores? • Homens, geralmente casados • Apresentam-se de forma a não levantar suspeitas (agressor geralmente é um homem trabalhador e bem respeitado na comunidade) • Geralmente tem grau de parentesco com as vítimas. Pais (34%) seguidos dos padrasto (30%) e tios (11%). (Ribeiro, Ferriani e Reis, 2004)
Características da Família • Oculta frequentemente o abuso; • É muito possessiva negando à criança contatos sociais normais; • Acusa a criança de promiscuidade, sedução sexual e de ter atividade sexual fora de casa; • Crê que contato sexual é forma de amor familiar; • Alega outro agressor para proteger o membro da família.
Pedofilia A pedofilia é definida pela Organização Mundial de Saúde como doença, distúrbio psicológico e desvio sexual
Caracteriza-se pela atração sexual de adultos ou adolescentes por crianças. O simples desejo sexual, independente da realização do ato sexual , já caracteriza a pedofilia. Não é preciso, portanto que ocorram relações sexuais para haver pedofilia.
Existe crime de pedofilia? • Não existe um crime intitulado “pedofilia” na legislação brasileira. As consequências do comportamento de um pedófilo é que podem ser consideradas crime.
DSM IV • A Pedofilia envolve atividade sexual com uma criança pré-púbere (geralmente com 13 anos ou menos). • O pedófilo deve ter 16 anos ou mais e ser pelo menos 5 anos mais velho que a criança. • Alguns indivíduos com Pedofilia sentem atração sexual exclusivamente por crianças (Tipo Exclusivo), enquanto outros às vezes sentem atração por adultos (Tipo Não-Exclusivo).
Explicações: "valor educativo" para a criança; "prazer sexual" que elas obtém com os atos praticados, ou de que a criança foi "sexualmente provocante“ Aqueles que vitimam crianças com frequência, desenvolvem técnicas complicadas para obterem acesso às crianças, que podem incluir a obtenção da confiança da mãe, casar-se com uma mulher que tenha uma criança atraente, traficar crianças com outros indivíduos com Pedofilia ou, em casos raros, adotar ou raptar crianças. O transtorno geralmente começa na adolescência, embora alguns indivíduos só manifestem na meia-idade.
O que a pedofilia gera... • O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de sites dedicados à pornografia infantil (Associação Italiana para a Defesa da Infância). • No ano 2000 o mercado mafioso da pedofilia movimentou 5 bilhões de dólares em todo o mundo. Em 2005 a estimativa é que esse mercado tenha movimentado 10 bilhões de dólares, ou seja, dobrou em apenas 5 anos. Nesses 10 bilhões estão embutidos a venda de fotografias e vídeos que mostram crianças sendo abusadas e fazendo sexo com adultos e até com animais. (Isto É, mar. 2006) • Uma foto de criança sendo violentada chega a valer 100 dólares. Um vídeo de 5 minutos vale até 1000 dólares. Quanto menor a idade, maior o valor da foto ou vídeo.
O que se pode fazer contra a violência e a pedofilia? • Denuciar (Conselho Tutelar e DPCA, qualquer outra polícia quando flagrante ou o disque 100); Em 2003 a central nacional de denúncia (disque 100) recebia em média 12 denúncias por dia. Em 2008 esse número já chegava a 89 denúncias diárias. • Levar imediatamente a vítima a um hospital; • Colher provas imediatamente ao acontecimento; • Apoiar a vítima; • Acionar uma rede de apoio; • Acompanhar o caso; • Responsabilizar o agressor.
Responsabilização do agressor Porto Alegre - 71 processos e 94 vítimas • 67% ocorreu na própria casa quando a criança se encontrava sozinha com o agressor; • 79% ocorreram mais de uma vez; • 42% a ocorrência era diária; • 100% dos casos o agressor tem vínculo afetivo com a vítima; • 76% dos agressores eram casados; • 83% aconteceram na própria família; • 79% os pais eram os agressores; • 91% dos pais professavam uma religião (26% se consideravam fanáticos)
Consequências para a vítimaIndicadores Físicos • Infecções urinárias; • Dor ou inchaço na área genital ou anal; • Lesões e sangramentos; • Secreções vaginais ou penianas; • Doenças sexualmente transmissíveis; • Dificuldade de caminhar; • Baixo controle dos esfíncteres; • Enfermidades psicossomáticas;
Indicadores comportamentais • Comportamento sexual inadequado para idade; • Falta de confiança em adultos; • Fugas de casa; • Regressão ao estado de desenvolvimento anterior; • Brincadeiras sexuais agressivas; • Vergonha excessiva e alegação de abuso; • Idéias e tentativas de suicídio; • Autoflagelação;
Indicadores comportamentais • Problemas de sono e pesadelo; • Depressão e isolamento dos amigos e família; • Sentimento de corpo sujo ou contaminado; • Rebeldia e delinquência; • Temor irracional diante do exame físico; • Desinteresse escolar; • Mudanças súbitas de conduta.
Consequências Sociais • Afastamento da criança ou adolescente de sua família (instituição de acolhimento) • Redução dos contatos sociais da criança e da família • Enfraquecimento da conduta moral de toda a sociedade
Consequências para o desenvolvimento psicológico Envolve uma quebra de confiança com figuras parentais e/ou de cuidado que, a princípio, deveriam promover segurança, conforto e bem-estar psicológico. (De Antoni & Koller, 2002).
Quatro componentes específicos do desenvolvimento 1- Tempo= geralmente as crianças são violentadas por um longo período de tempo gerando vivências significativas para os sujeitos. 2- Pessoa = Envolve características pessoais da vítima (geralmente são bonitas e atrativas) Envolve a cognição individual sobre o evento
3-Processo = Envolve interações entre pessoas de seu convívio diário. As crianças ficam envolvidas emocionalmente na ação ou porque causa certo prazer ou porque causa sofrimento. 4- Contexto = Ocorre no contexto mais imediato e importante para a pessoa, no microssistema.
Microssistema • Ambiente imediato frequentado pela pessoa, no qual estabelece relações face-a-face. • O primeiro microssistema é a família. Mais influente dos sistemas para o desenvolvimento psicológico das crianças.
Relações Familiares Coesão (proximidade emocional, sentimento de conexão, apego entre os membros da família) • Em famílias abusivas é freqüente a presença de conflitos sexuais no casal (Amendola, 2004). • Mesmo manifestando algum crédito frente à revelação da criança, as mães podem não emitir respostas de apoio e proteção, evidenciando ambivalência ou inconsistência (Elliot e Carnes, 2001)
Hierarquia(relação de poder entre as pessoas) • Estudos apontam que em famílias abusivas as mães afastam-se da função materna e delegam a filha o papel de mulher da casa (Pfeiffer & Salvagni, 2005).
Depende de todos nós Fortalecer os fatores de proteção pessoal: • Criar uma cultura que interrompa a banalização do corpo da mulher; • Desenvolver uma educação mais aberta em relação a educação sexual; • Ajudar no desenvolvimento e no fortalecimento de uma boa auto-estima em crianças e adolescentes.
Fortalecer os fatores de proteção social: • Qualificar os profissionais para saberem reconhecer a violência sexual (educação, saúde, social). • Lutar pela efetivação dos direitos das crianças e dos adolescentes garantindo espaços de desenvolvimento mais seguros. • Garantir o cumprimento da lei responsabilizando os agressores.
A história de Araceli é uma ferida aberta na história do Brasil e da violência contra crianças e adolescentes. Seu martírio significou tanto que esta data se transformou no “Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”, dia 18 de maio.