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GEOGRAFIA AGRÁRIA Thiago Vedova
A atual configuração sócio-espacial das atividades agrícolas é resultado da ação humana sobre a natureza ao longo da história, que pode se alterar ao longo do tempo. como essa ação ocorreu de forma desigual, a produção agrícola é obtida em condições bem diversificadas no mundo. Influenciadas por: • Condições socioeconômicas • aspectos físicos e ambientais • hábitos alimentares • capitalização e escassez de recursos • nível de des. Tecnológico • modelo de política agrícola • índices de produtividade • estruturas fundiárias • relações de trabalho
Os sistemas agrícolas Em qualquer sistema agrícola, a produtividade dependerá da combinação de três fatores principais, que são trabalho, terra e capital constante. Os sistemas agrícolas podem ser classificados como intensivos ou extensivos. Essa classificação está ao grau de capitalização e ao índice de produtividade. Eles estão organizados em: AGRICULTURA INTENSIVA AGRICULTURA EXTENSIVA
AGRICULTURA INTENSIVA: A agricultura intensiva é um sistema de produção agrícola que faz uso intensivo dos meios de produção, utilizam modernas técnicas de preparo do solo, cultivo e colheita, apresentam altos índices de produtividades, pouca MDO, grande fluxo de combustível e maquinaria elétrica. usa insumos de alto custo, tais como fertilizantes, máquinas e pesticidas. Neste tipo de agricultura tem alta produtividade, se produz quantidades imensas em reduzidos espaços do solo.
Vantagens permitiu incrementar a produtividade agrícola no último século, assegurando ao mesmo tempo uma fonte estével de alimentos no tempo que aumenta a população mundial . • Desvantagens -Não permite que as terras se regenerem quanto aos seus nutrientes naturais, que não sejam os fertilizantes colocados pelo homem, pois este gênero de agricultura prevê o cultivo constante, e sem pousio, de culturas agrícolas com o objetivo de produzir produtos agrícolas para as cotas de mercado - Eliminação de seres vivos para aumentar o tamanho das exportações e aumentar a produtividade. -Perda da biodiversidade. Utilização de monoculturas.
Agricultura praticada nas grandes extensões dos países subdesenvolvidos, onde há terra e falta de mão-de-obra, não sendo prioridade a produtividade por área, mas sim o volume da produção. As propriedades que utilizam a agricultura tradicional, aplicando técnicas rudimentares e baixo índice de exploração da terra. As regiões tecnicamente atrasadas se vêem obrigadas a consumir basicamente o que produzem e são bem sensíveis aos rigorosos impostos pelas condições naturais.
Tipos de cultivos ao redor do mundo: Plantation: É baseado em uma monocultura de exportação, mediante a utilização de latifundios e mão-de-obra escrava ou muito explorada. Foi bastante utilizado na colonização dos países principalmente no cultivo de gêneros tropicais e é atualmente comum em países subdesenvolvidos. se caracteriza por: > grandes propriedades; > cultivo de produtos tropicais; > monocultura; > emprego de mão-de-obra barata,> utilização de recursos técnicos; >produção voltada para a exportação.
A agricultura itinerante: É aplicada em regiões onde a agricultura é descapitalizada. A produção é obtida em pequenas e medias propriedades ou em parcelas de grande latifúndio, com utilizações de mão-de-obra familiar e técnicas tradicionais. Por falta de recursos, não há preocupação com a conservação do solo, as sementes são de qualidade inferior e não há investimentos em fertilizantes, por isso, a rentabilidade e, as produções são baixas. Depois de alguns anos de cultivo, há uma diminuição da fertilidade natural do solo. Quando percebem que o rendimento está diminuindo, a família desmata uma área próxima e pratica queimada para acelerar o plantio, dando inicio a degradação acelerada de uma nova área, que em breve também será abandonada. Daí o nome da agricultura itinerante. Em algumas regiões do planeta, a agricultura de subsistência, itinerante e roça, está voltadas as necessidades de consumo alimentar dos próprios agricultores. Tal realidade ainda existe em boa parte dos países africanos, em regiões do Sul e Sudeste Asiáticos e na América Latina, mas tem prevalecido hoje é uma agricultura de subsistência voltada ao comercio urbano. Esse tipo de agricultura é comum em áreas distantes dos centros urbanos, onde a terra é mais barata; predominam as pequenas propriedades, cultivadas em parceria.
Agricultura de jardinagem: Essa expressão tem origem no Sul e no Sudeste da Ásia, onde há uma enorme produção de arroz em planícies inundáveis, com a utilização de mão-de-obra (INTENSIVA por MDO). É praticado em pequenas e medias propriedades com uso intensivo de mão de obra. A diferença é que nelas se obtém alta produtividade, através do selecionamento de sementes, da utilização de fertilizantes e de técnicas de preservação do solo que permitem a fixação da família na propriedade por tempo indeterminado. Devido a grande população, o excedente a modernização da produção agrícola foi substituída pela utilização de enormes contingentes de mão-de-obra. Em algumas províncias, porém, está havendo um processo de modernização, impulsionando pela expansão de propriedades particulares e da capitalização proporcionada pela abertura econômica a parti de 1978. Sua produção é essencialmente voltada para abastecer o mercado interno.
Agricultura Familiar: Voltado para o abastecimento do mercado interno. Nessas áreas, produzem-se hortifrutigranjeiros e cria-se gado para a produção de leite e laticínios em pequenas e medias propriedades, com predomínio da utilização de mão-de-obra familiar. Após a comercialização da produção, o excedente obtido é aplicado na modernização das técnicas. Dois séculos atrás, a maioria das fazendas eram altamente auto-suficientes com operações familiares. Um granjeiro produzia de acordo com a própria necessidade e somente vendia alguns produtos. Agora, a maioria das pessoas nas cidades compram seus alimentos de mercados altamente diversificados. Estes mercados obtém alimentos de muitas fazendas intensivas diferentes, cada uma delas especializada e com produção em massa de alguns produtos para venda. Ao redor dos centros urbanos, pratica a agricultura e pecuária intensiva para atender as necessidades de consumo da população local (Cinturão Verde).
As empresas agrícolas ou rurais: São as responsáveis pelo desenvolvimento do sistema agrícola dos países desenvolvidos. Nesses sistemas, a produção é obtida em medias e grandes propriedades altamente capitalizadas. A produtividade é bem alta devido ao selecionamento de sementes, uso intensivo de fertilizantes, elevado de mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita, utilização de silos de armazenagem, sistemático de todas as etapas da produção e comercialização por técnicas. Funciona como uma empresa e sua produção são voltadas ao abastecimento tanto do mercado interno como o externo. Nas regiões onde se implantou esse sistema agrícola, há uma tendência a concentração de terras. Baseadas em um mercado mundial de "commodities" e estruturas agroindustriais a elas relacionadas, apenas quatro principais culturas de cereais destacam-se na produção mundial: trigo, milho, arroz e soja.
O Caso dos EUA: Nos EUA, o sistema de cultivo dominante caracteriza-se por alta tecnologia e mecanização, com elevados rendimentos por unidade de área 1 - Dairy belt, 2 - Corn belt, 3 - Cotton belt
O caso de Israel: Embora a predominância de climas áridos e semi-áridos dificulte o desenvolvimento das atividades agrícolas, este país conseguiu, graças à utilização de sofisticadas técnicas de produção e modernos métodos de irrigação, posição de destaque neste setor, no Oriente Médio. Israel tem apresentado desenvolvimento agropecuário baseado em tecnologias de ponta. Dessa forma, amparado pelo Estado, o país amplia o controle do homem sobre as condições naturais adversas. Assinale a alternativa que indica, corretamente, o nome do país e os dois sistemas de exploração do solo agrícola, nele vigentes. 1 - Turquia 2 - Síria 3 - Iraque 4 - Arábia Saudita 5 - Jordânia 6 - Líbano 7 - Chipre 8 - África 9 - Mar Vermelho 10 - Rio Nilo 11 - Mar Mediterrâneo
Estrutura Agrária Clássica do Brasil • Mão de obra: Altamente explorada (inicialmente escrava) • Produção: Extensiva voltada para o mercado externo • Regime de Propriedade: Latifúndios: altamente concentrados, elitistas e desiguais • Cultura: Economia em ciclos de monoculturas, espalhadas em ilhas (Economia de Arquipélago), sem relação de trocas internas. • Sempre estruturada por um carro chefe (Atividade econômica principal)
Economia de Arquipélago • As terras mais férteis e acessíveis foram ocupadas por plantations. (mata atlântica) • Interior > Pecuária extensiva e cultura de subsistência (abastecimento do merc. interno) • Regiões que não interessavam a elite foram oferecidos aos imigrantes que praticaram Agricultura Familiar (Região Sul) • Norte > Extrativismo Ciclos Econômicos: Cana de Açucar – Nordeste – Zona da Mata e litoral Algodão- Maranhão e agreste nordestino Mineração- MG e Goiás Extrativismo (Borracha e drogas do sertão) – Amazônia Pecuária- Sul Café- Vale do Paraíba e oeste paulista
Projetos de Colonização • projeto de colonização realizado pelo INCRA e FUNAI • objetivo de ocupar e povoar os imensos espaços vazios da região • Controlar os excedentes demográficos da região nordestina, retirantes nordestinos fugindo da seca e da miséria crônicas do Nordeste em busca das riquezas da floresta • instalações de pequenas cidades ao longo das rodovias, aproveitando a população da frente trabalhista. • Distribuídas em tese: • Agrovilas – 45 a 60 fam. • Agrópolis- 22 agrovilas num raio de 50 Km • Rurópolis- (“centro urbano”) INCRA forneceria casa, terra, salário e preço mínimo
Falência do projeto • Baixa fertilidade dos solos • inadaptação • Doenças (malária) • falta de assistência • dificuldade de armazenamento e escoamento
Revolução Verde Projeto de grande modernização do campo, momento em que foram estabelecidas grandes inovações tecnológicas. Origem: • Capital proveniente de grandes grupos financeiros, com o objetivo de diversificar seus investimentos. • Justificativa ideológica Neomalthusiana. • Medo dos Norte Americanos de que problemas sociais no campo, estimulasse o crescimento do socialismo.
Outras características: • atuação de empresas transnacionais, participação do grande capital privado nacional. • mudanças nas bases técnicas da produção. • apoio do Estado, através de políticas de fomento (crédito) e criação de laboratórios de pesquisas agrícolas (EMBRAPA – Brasil).
Consequências: • Mudanças nas relações de produção (relações sociais e relações técnicas). • Enorme salto de produtividade.
Problemas: -Estas inovações só alcançam as empresas agrícolas, acabando com os pequenos produtores = Processo extremamente seletivo. -Cultura de Rico – Abandono das lavouras tradicionais - escolha dos produtos valorizados no mercado externo (commodities). Os melhores produtos são voltados para o exterior - substituição da importação (importação de produtos que não eram importados antes).
Desertos Verde – perda de Biodiversidade. -O Uso indiscriminado de produtos químicos, sem o controle correto, acarreta em problemas ecológicos e em doenças nos consumidores.
Ainda sobre a cultura de Rico: Taxa de crescimento anual, entre 1970 e 1980, da áreas cultivadas: • com soja - mais 22,5 % • com laranja - mais 12,6% • com cana-de-acúcar - mais 6,4% • com feijão - menos 1,9% • com mandioca - menos 2,0% • com arroz - mais 1,5% as áreas de cultivo de lavouras comerciais, dada a sua importância na exportação e na industrialização, expandiram-se mais do que as áreas de lavouras de subsistência.Isto revela o traço mais marcante de uma política de “cultura de rico”.
Os complexos agroindustriais resultam da integração (entrelaçamento) dos capitais bancários, industriais e agrários
Integração vertical. Realização de todas as atividades do campo em uma mesma empresa. (integração de todos os setores da produção). Deles fazem parte a produção de adubos, máquinas e equipamentos, realização de pesquisas; as atividades de armazenamento, transporte e industrialização dos produtos agropecuários. Nos complexos agro-industriais estão incluídos todos os setores e atividades que envolvem o mercado de alimentos e de matérias-prima para a agroindústria. Indica o grau de penetração do capital urbano-industrial no campo, no sentido de organizar sua produção, sendo mais uma atividade de seu interesse.
A concentração da propriedade da terra é um dos traços marcantes da estrutura fundiária brasileira, cujas origens remontam ao modelo de colonização implantado no país. Muita terra nas mãos dos grandes proprietários e pouca terra nas mãos dos pequenos produtores, determinando uma forma desigual de distribuição e acesso à terra. • No Nordeste, em especial na Zona da Mata, a herança colonial de dominação levou a apropriação da terra pelos senhores de engenho, em cujas propriedades a principal atividade econômica sempre foi o cultivo da cana e a produção de açúcar. • A "modernização conservadora" levou à valorização da terra, acentuou a concentração fundiária e liberou a mão-de-obra rural. • A mecanização da agricultura reduziu a mão-de-obra no campo, ampliando as áreas de culturas comerciais e a diminuição das roças de subsistência. • Reduzidos incentivos governamentais à pequena produção familiar, obrigando esses pequenos produtores a abandonar suas atividades. • Dispensa em massa de trabalhadores rurais e utilização da mão-de-obra temporária, como também o uso do trabalho infantil. • Descapitalização do homem do campo, forçado a sair à busca de trabalho, o que vai configurar o fluxo migratório temporário em diferentes escalas.
Assalariamento temporário, destacando três de suas características: - sem registro; - sem benefícios e assistência; - baixa remuneração; - baixa qualificação.
Fatores que levam ao êxodo rural a) A estrutura fundiária injusta que, através do minifúndio, é incapaz de atender às necessidades básicas de uma família. b) A procura de emprego nas capitais para atender às mínimas necessidades de sobrevivência dos trabalhadores rurais desempregados. c) A concentração de terras através de grandes latifúndios improdutivos. d) O difícil acesso à terra através de uma política de concentração da mesma realizada pelo grande capital. e) A maioria da população rural não é proprietária da terra em que trabalha.
Relação CAI com a Agricultura Familiar • Razões que os pequenos produtores têm para a integração: a garantia de compra do produto, protegendo o pequeno produtor das oscilações do mercado; o apoio técnico especializado; a redução da dificuldade de conseguir financiamento bancário; o fornecimento de insumos e equipamentos pelas grandes empresas. b) Razões para a grande empresa Evitar a gestão e controle do trabalho agrícola; evitar investimentos na compra de terras para concentrá-los nas fases mais lucrativas da cadeia produtiva; deixar para os produtores diretos os riscos ambientais (esgotamento dos solos, pragas, intempéries); garantir o fornecimento de matéria prima através de um grande número de produtores.
Aspectos da modernização do Campo • A modernização no campo manifesta-se por progressos técnicos (utilização de adubos químicos e fertilizantes, aumento de número de tratores e máquinas - arados e semeadeiras etc), que não levaram à solução dos problemas sociais no campo. • A modernização no campo, chamada por alguns de "modernização conservadora", não pode ser tomada como característica única no conjunto do país, pois a tecnificação não está generalizada, e sim concentrada no Centro-Sul do país. • A intensificação das relações capitalistas no campo gera a expulsão do trabalhador rural das áreas de origem, assim como a expropriação do pequeno agricultor. • Direcionamento de parte da produção do pequeno produtor para o mercado consumidor urbano ou para a agroindústria de transformação de matérias primas agrícolas, exigindo melhores condições de comercialização, financiamento e acesso a equipamentos agrícolas mais eficientes. • Maior integração entre a economia agrária e a economia industrial, unindo a cidade e o campo no processo produtivo, na luta por melhores salários, por melhores preços para os produtos da agropecuária e pela Reforma Agrária. • Presença de complexos agroindustriais que exigem grandes investimentos de capitais, atingindo tanto a grande quanto a pequena propriedade, e fazendo com que o ritmo da produção industrial e o mercado organizem a produção do campo.
E o campo vai ficando cada vez mais dependente das cidades... Legenda: 1 - Poder Político; 2 - Bancos; 3 - Indústrias agro-alimentares; 4 - Mercado Urbano. A cidade como lugar de comando da agricultura.
Principais problemas do campo brasileiro • concentração da terra nas mãos de poucos; • utilização de grande parte das terras para a agricultura de exportação em detrimento da produção da pequena propriedade (gêneros para o abastecimento alimentar no mercado interno); • políticas governamentais socialmente insuficientes; • dificuldade de fixação do trabalhador rural no campo, como reflexo das precárias condições de vida; • tensão social crescente.
O Motivo para a improdutividade de terras • A terra é reservada de valor, sendo um investimento seguro, especialmente, em fases de desestabilização da economia. • O potencial de valorização é elevado, tendo em vista o próprio processo de adensamento da ocupação das áreas de fronteira, bem como a implantação de obras de infra-estrutura, principalmente, por órgãos governamentais. • A propriedade da terra permite o acesso a incentivos fiscais e a linhas de crédito agrícola, cujas taxas de juros são especiais. • O ITR é muito Barato. • O Acesso a terra muitas vezes foi ilegal.
A menor incidência de terras improdutivas na região Sul pode ser explicada: 1) como fronteira agrícola, no final do século XIX e início do século XX, esta área foi destinada à colonização por migrantes europeus que se dedicaram à policultura em pequenos lotes de terra de propriedade familiar; 2) pela modernização da agricultura, sendo a implantação dos Complexos Agroindustriais, associada à atuação de cooperativas, um dos fatores que contribui para um aproveitamento mais intenso das terras.
Violência no campo: • "O período de 1974 a 1983 representa o alastramento da violência por quase todo o território brasileiro." (...) "o Pará, Maranhão e Extremo Norte de Goiás - atual Tocantins - vão representar a área mais sangrenta do país". • A violência mencionada no texto intensifica-se a partir dos anos 70, provavelmente devido à luta pela posse da terra nas áreas de maior concentração dos projetos agropecuários incentivados basicamente pela SUDAM.
Estatuto de Terras (1964) “Antítese de Reforma Agrária” Estatuto Demagógico que anunciava a Reforma agrária em uma época autoritária (Ditadura-Governo Castello Branco) Reproduz as relações capitalistas excludentes, isola as elites e abafa os movimentos sociais. Estatuto controlado pelo poder central, que impedia o acesso de fato da propriedade familiar. Administração dos problemas da terra sem tocar no direito de propriedade- privilegia o controle das tensões sociais, com a transferência de população para a Amazônia. Prioridade em projetos capitalistas