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Discurso e Polifonia. Confidência do Itabirano Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.
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Confidência do Itabirano • Alguns anos vivi em Itabira.Principalmente nasci em Itabira.Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.Noventa por cento de ferro nas calçadas.Oitenta por cento de ferro nas almas.E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação. • A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. • E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,é doce herança itabirana. • De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;este orgulho, esta cabeça baixa... • Tive ouro, tive gado, tive fazendas.Hoje sou funcionário público.Itabira é apenasuma fotografia na parede.Mas como dói! • Carlos Drummond de Andrade
Alphonsus de Guimaraens • A morte de sua noiva Constança, em 1888, marcou profundamente sua vida e sua obra, cujos versos, melancólicos e musicais, são repletos de anjos, serafins, cores roxas e virgens mortas.
Hão de Chorar por Ela os Cinamomos... • Hão de chorar por ela os cinamomos,Murchando as flores ao tombar do dia.Dos laranjais hão de cair os pomos,Lembrando-se daquela que os colhia.As estrelas dirão — "Ai! nada somos,Pois ela se morreu silente e fria.. . "E pondo os olhos nela como pomos,Hão de chorar a irmã que lhes sorria.A lua, que lhe foi mãe carinhosa,Que a viu nascer e amar, há de envolvê-laEntre lírios e pétalas de rosa.Os meus sonhos de amor serão defuntos...E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,Pensando em mim: — "Por que não vieram juntos?"
Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu na Fazenda Santa Rita, em Rio Claro (RJ). Em 1859 transferiu-se para São Paulo, mas só conseguiu ingressar na Faculdade de Direito em 1862. Influenciado pelos últimos suspiros do “byronismo” estudantil paulistano, dedica-se à boêmia e à bebida, atraído constantemente pela marginalidade. A morte de seu primeiro filho inspira-lhe seu mais conhecido poema, “Cântico do Calvário”. Tenta concluir o curso de Direito em Recife, mas a morte da esposa o faz retornar a São Paulo. Abandona, então, a Faculdade e retorna à fazenda onde nascera, continuando a escrever poesia. Casando-se outra vez, muda-se para Niterói, onde se entrega à bebida e vem a falecer, já em estado de completo desequilíbrio mental.
Cântico do Calvário(trecho)À Memória de Meu Filho Morto a l l de Dezembro de 1863.Eras na vida a pomba predileta Que sobre um mar de angústias conduzia O ramo da esperança. — Eras a estrela Que entre as névoas do inverno cintilava Apontando o caminho ao pegureiro. Eras a messe de um dourado estio. Eras o idílio de um amor sublime. Eras a glória, — a inspiração, — a pátria, O porvir de teu pai! — Ah! no entanto, Pomba, — varou-te a flecha do destino! Astro, — engoliu-te o temporal do norte! Teto, caíste! — Crença, já não vives!
Discurso • o discurso é o conjunto das coisas ditas, as relações, as regularidades e as transformações que nelas se podem observar. O domínio em que se percebe o lugar singular de um sujeito e podem receber, o nome de um autor. Não importa a pessoa que fala, mas o que ela diz , e o lugar de onde diz (lugar de enunciação).
Fala • O uso individual, dependente exclusivamente da vontade e da inteligência do falante, é o discurso também chamado fala (ato de fala ou ato de escrita).
O sujeito • o sujeito é aquele que desempenha diferentes papéis de acordo com as várias posições que ocupa no espaço interdiscursivo.
O sujeito • Apesar da possibilidade de o sujeito desempenhar diferentes papéis, não é totalmente livre. O sujeito do discurso ocupa um lugar de onde enuncia, e é este lugar, entendido como a representação de traços de determinado lugar social que determina o que ele pode ou não dizer.
formação discursiva • É [...] um conjunto de regras anônimas, históricas que definem em uma época dada, e para uma área social, econômica, geográfica ou lingüística dada, as condições para se tornar SUJEITO enunciador.
formação discursiva • Em outras palavras, uma FD determina o que pode e deve ser dito, a partir de um determinado lugar social. Assim, uma formação discursiva é marcada por regularidades.
formação discursiva • [...] uma formação discursiva não é um espaço estrutural fechado, pois é constitutivamente invadida por elementos que vêm de outro lugar, isto é, outras FD, que se repetem nela, fornecendo-lhe sua evidências discursivas fundamentais.
formação discursiva • Neste sentido, o espaço de uma FD é atravessado por discursos que vêm de outro lugar e que são incorporados por ela numa relação de confronto (refutação)ou aliança (argumento de autoridade).
formação discursiva • O interdiscurso designa o espaço discursivo e ideológico, no qual se desenvolvem as formações discursivas, em função de relações de dominação, subordinação, contradição.
Sujeito x subjetividade • a subjetividade é a capacidade de o locutor se apresentar como sujeito do seu discurso e ela está fundamentada no exercício da língua. O locutor utiliza determinados índices formais, como os pronomes pessoais, para enunciar sua posição no discurso. Quando em um processo de enunciação se institui um eu institui-se necessariamente um tu.
Sujeito x subjetividade • Eu e tu são protagonistas da enunciação, contudo, diferenciam-se pela marca da subjetividade, ou melhor, o eu é pessoa subjetiva e tu é não-subjetiva.
Polifonia • O sujeito situa seu discurso em relação ao discurso do outro em um nível intradiscursivo e interdiscursivo. Constrói-se um sujeito que apresenta outras vozes em sua fala. Vozes que podem ser identificadas através de pistas explícitas ou implícitas.
Polifonia • “sob as palavras de alguém ressoa a voz de outrem ou vozes do próprio locutor” Fiorin
A voz de outrem 1. Discurso Relatado Discurso direto Discurso indireto Marcas de conotação autonímica [o locutor inscreve no seu discurso as palavras do outro (aspas, itálico, etc) , sem interromper o fio discursivo] 2. A presença do outro não explicada por marcas na frase Discurso indireto livre Polifonia
Discurso direto • Aurélia correu a vista surpresa pelo aposento; e interrogou uma miniatura de relógio presa à cintura por uma cadeia de ouro fosco. [...] • — Está fatigada de ontem? perguntou a viúva com a expressão de afetada ternura que exigia o seu cargo. • — Nem por isso; mas sinto-me lânguida; há de ser o calor, respondeu a moça para dar uma razão qualquer de sua atitude pensativa.
Discurso direto • [...] Einstein contestou muito fortemente esse aspecto [...] Ainda assim, ele jamais aceitou que o universo fosse comandado pelo acaso; seus sentimentos sintetizavam-se em sua famosa afirmação: “Deus não joga dados” [...] • [...] Pode-se muito bem dizer, sobre o horizonte de eventos, o que o poeta Dante disse com relação à entrada do inferno: “Quem entrar aqui, abandone qualquer esperança”. Qualquer coisa que caia através do horizonte de eventos logo atingirá a região da densidade infinita e do fim do tempo. [...]
Discurso indireto • O mesmo acontece anos mais tarde quando, em 1914, Monteiro Lobato chamou o homem pobre rural de Jeca Tatu.
Marca autonímica • Os trangênicos, que são plantas geneticamente modificadas, como toda “novidade” sofrem uma discriminação.
Discurso indireto livre • Sinha Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a sinha Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinha Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
As vozes do locutor 1. Pessoa multiplicada (diferentes papéis sociais do sujeito) 2. Pessoa subvertida (máscaras do sujeito) Polifonia
A) A pessoa multiplicada • Um mesmo enunciado deixa ouvir diferentes vozes do sujeito: são as vozes de seus diferentes papéis sociais.
A Polifonia • É o sujeito em 1ª. pessoa (singular ou plural) marcando sua subjetividade e o sujeito com a voz objetiva, destacando seu papel social. Há uma demarcação nítida das fronteiras entre uma e outra voz. Pistas dessa demarcação são facilmente percebidas no discurso: mudança de 1a. pessoa do singular para o plural ou vice-versa, mudança de linguagem formal para informal, alternância de determinação para indeterminação do sujeito, etc. Iremos verificar alguns casos particulares dessa polifonia.
Vozes: a subjetividade do sujeito em seus papéis sociais • "Eu me senti afrontado como juiz e como cidadão pela insensibilidade de Luiz Estevão ao deixar a cadeia num Mercedes-Benz e depois ser recebido com fogos de artifício." Paulo Costa Leite, presidente do Superior Tribunal de Justiça (Veja, 28/03/01) • A subjetividade do ‘eu’ é assumida em diversas posições: o seu papel social de juiz e o de cidadão (comum).
Vozes: a subjetividade do sujeito em seus papéis sociais • “Recebemos uma golfada de e-mails e nem todos são denúncias. Há até desabafos. Estou pensando em criar uma seção chamada ombro amigo.” • Anardyr de Mendonça Rodrigues, corregedora – geral da União. (Istoé,15/04/2001) • O locutor, em um primeiro momento, tenta negar sua subjetividade, destacando seu papel social de corregedora ao utilizar o plural da 1a. pessoa, gerando ambigüidade comum nesses casos, o ‘nós’ é de modéstia ou institucional, já que no final do discurso, o sujeito assume plenamente sua subjetividade – ‘Estou pensando’- com o uso de 1a. pessoa do singular.
Vozes: subjetividade, /subjetividade/ /objetividade/ (ambigüidade), objetividade • “Quero pedir perdão à família do Galdino. Sei que causei sofrimento. É normal que parentes tenham raiva da gente. Não nos analisem como inimigos.” • Tomás Oliveira Almeida, um dos acusados de matar o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos (Época, 12/11/01) • O sujeito alterna bastante sua voz. Primeiro assume a culpa, em primeira pessoa (‘Quero pedir perdão’), depois, escolhendo a informalidade, utiliza-se da ambigüidade quanto à leitura de ‘a gente’, que pode ser um substituto da primeira pessoa, ou uma indicação para a decisão tomada no final do discurso – o uso de ‘nós’, provavelmente, não como substituto da 1ª. pessoa do singular, porém como incluindo os outros acusados.
Vozes: o sujeito do presente e do passado • “Eu vim para Nova York, fiz um trabalho aqui, outro ali... Depois de seis meses eu me tornei... Ah, sei lá. Eu me tornei eu! • Gisele Bündchen, modelo, respondendo, no programa de entrevista de David Letterman, como se tornou uma top model. (Época, 23/04/01) • As vozes do ‘eu’ situam-se em épocas diferentes. O locutor deixa explícito que antes era um outro ‘eu’ diferente do ‘eu’ do presente. Inclusive, polifonia muito presente no discurso religioso (os convertidos sempre fazem questão de destacar que era uma outra pessoa).
B) Pessoa subvertida (corrompida) • É o sujeito “mascarado”, tentando – como estratégia discursiva – deixar de assumir sua subjetividade. • A pessoa subvertida não produz o não-sentido, porém novos sentidos; gera uma nova ordem.
3ª. pessoa pela 1ª. do singular • O locutor toma a palavra, referindo-se a si mesmo utilizando a terceira pessoa em lugar da primeira pessoa do singular. Trata-se de uma neutralização com a primeira pessoa do singular. O ‘eu’ assume uma não-pessoa do discurso. • “Negro, humilde e trabalhador contra a poderosa Globo. • Cartaz exibido por Celso Pita, prefeito de São Paulo que tenta passar por vítima de uma trama diabólica. (Veja 29/03/2000)
“Para uma vítima do crescimento econômico global” = para mim
3ª. pessoa pela 1ª. do singular • Outras vezes, usa-se o nome próprio; ou a função, cargo em vez do eu: • “Pelé, Coca-cola e Jesus Cristo são os três maiores ícones mundiais.” • Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, num ataque de modéstia. (Tudo, 21,12,01) • "Basta! Escadinha pede paz." • Faixas espalhadas pelo traficante carioca José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, aderindo à campanha pela paz (Veja, 26/07/00) • “Precisa acabar no Brasil essa mentalidade atrasada de que o presidente vai passear. Tenha paciência.” • Fernado Henrique Cardoso, presidente da República, rebatendo críticas á sua passagem pela ilha turística de Bali na Indonésia. (Veja,26/12/01)
3ª. pessoa pela 1ª. do singular • Há também o uso de formas indeterminadas em lugar da primeira pessoa do singular: • "Se um homem casa, fica viúvo e se torna padre, ele não poderia sustentar a batina por antes ter faltado ao voto de castidade?“ • Luiz Estevão, senador (PMDB-DF), argumentando que pecou antes de assumir o mandato, mas agora permanece casto como um anjo (Veja 28/6/2000)
3ª. pessoa pela 1ª. do singular • “É louco isso. Ser casada por cinco anos, ter um filho e depois não conseguir mais se comunicar. Um fala grego, outro troiano” • Giulia Gam, atriz, que continua se desentendendo com o ex-marido, o jornalista Pedro Bial, sobre a guarda do filho (Istoé, 01/08/01)
3ª. pessoa pela 1ª. pessoa do plural • Nesse caso, a neutralização ocorre na categoria de pessoa e não na de número. Pode ocorrer também a substituição por formas indeterminadas, como ‘a gente’.
3ª. pessoa pela 1ª. pessoa do plural • “A única coisa que os pais podem dar aos filhos é vergonha na cara.” • Xororó, no Marília Gabriela, dia 20 (Contigo, 1o /01/02)