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LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO. Délia Lerner. Délia Lerner é especialista em didática da linguagem, coordenadora de planejamento curricular da área de práticas de linguagem da secretaria de educação da cidade de Buenos Aires, professora da Universidade
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LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO. Délia Lerner
Délia Lerneréespecialista em didática da linguagem, coordenadora de planejamento curricular da área de práticas de linguagem da secretaria de educação da cidade de Buenos Aires, professora da Universidade de Buenos Aires, assessora do Ministério da Educação do Brasil e do Ministério da Educação da Venezuela.
Embora seja papel social da escola formar leitores e escritores autônomos, a instituição ainda não desenvolve essa tarefa com plenitude. Prova disso é o índice de alfabetismo rudimentar e básico, que permanece alto no Brasil e na América Latina há tempos. Apenas a minoria da população é plenamente alfabetizada - isto é, consegue ler e compreender textos complexos e expressar o que pensa de forma escrita. Revista Nova Escola Agosto 2008
Delia Lerner discute as tensões envolvidas nessa questão e propõe soluções para transformar o cenário. Com embasamento teórico consistente, ajuda os educadores na compreensão do que precisa ser ensinado quando se quer formar leitores e escritores de fato. Delia também explicita a importância de o professor criar condições para que os alunos participem ativamente da cultura escrita desde a alfabetização inicial, uma vez que constroem simultaneamente conhecimentos sobre o sistema de escrita e a linguagem que usamos para escrever. Com prefácio escrito por Emilia Ferreiro, é leitura obrigatória para quem trabalha com Educação Infantil, professores alfabetizadores e de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, estudantes de Pedagogia e formadores de professores alfabetizadores.
Por que ler - É um excelente ponto de partida para promover as práticas de leitura e escrita nas escolas. - Porque os comportamentos leitor e escritor são conteúdos de ensino. - Propõe fazer da escrita mais que um objeto de avaliação. - Explicita a importância de o professor ser leitor. - Permite a compreensão do processo de alfabetização inicial como acesso à cultura escrita. - Revela a necessidade da formação continuada, mas ressalta que ela não é suficiente para a mudança de propostas didáticas. - Esclarece quanto a produção escrita tem a colaborar para que o aluno se descubra praticante autônomo e independente e explica como ela deve ser trabalhada na escola, com revisão e rascunhos, por exemplo.
“Na escola (...) a leitura é antes de mais nada um objeto de ensino. Para que se transforme num objeto de aprendizagem, é necessário que tenha sentido do ponto de vista do aluno, o que significa – entre outras coisas – que deve cumprir um função para a realização de um propósito que ele conhece e valoriza. Para que a leitura como objeto de ensino não se afaste demasiado da prática social que se quer comunicar, é imprescindível “representar” – ou “reapresentar” -, na escola, os diversos usos que ela tem na vida social.”
Capítulo 1 LER E ESCREVER NA ESCOLA: O REAL, O POSSÍVEL E O NECESSÁRIO O que se põe como necessário para nós é o enfrentamento do real no intuito de formar alunos praticantes da cultura escrita. Para tanto é necessário redimensionar o ensino das práticas de leitura e escrita como práticas sociais.
Precisamos formar uma comunidade de leitores e escritores. Para esse redimensionamento é preciso olhar e analisar cinco questões presentes na escola: • 1. A escolarização das práticas de leitura e escrita e de escrita proporciona problemas intensos; Para trabalhar na escola as práticas sociais reais é necessário uma mudança no processo de democratização do conhecimento e da função implícita de reproduzir a ordem social estabelecida. • 2. Os fins que se notam na escola ao ler e escrever são diferentes dos que dirigem a leitura e a escrita fora dela – não há função social real; Para uma aprendizagem significativa é necessário aliar os propósitos didáticos e os propósitos comunicativos de ler e escrever.
3. A inevitável distribuição dos conteúdos no tempo pode levar a parcelar o objeto de ensino; • As práticas de leitura e escrita são totalmente indissociáveis que sobrevivem a divisão e à sequenciação dos conteúdos. • 4. A necessidade institucional de controlar a aprendizagem leva a pôr em primeiro lugar os aspectos mais compreensíveis da avaliação; • 5. A maneira como se distribuem os direitos e obrigações entre o professor e os alunos, determina quais são os conhecimentos e estratégias que as crianças têm ou não a oportunidade de exercer e, portanto quais poderão ou não aprender. • Como o dever do professor é avaliar, o aluno tem poucas oportunidades de auto controlar o que compreendem ao ler e de auto corrigir seus escritos.
O POSSÍVEL a fazer é aliar os propósitos da instituição escolar aos propósitos educativos de formar leitores e escritores, criando condições didáticas favoráveis a uma versão escolar mais próxima da versão social dessas práticas.
Para esse fim é necessário: • A elaboração de um projeto curricular; • Articulação dos objetivos didáticos com objetivos comunicativos, essa articulação pode efetivar-se através de uma modalidade organizativa sabida que são os projetos de produção-interpretação; • Os projetos orientam as ações para a realização de um objetivo compartilhado. É imprescindível compartilhar a função avaliadora.
Capítulo 2 PARA TRANSFORMAR O ENSINO DA LEITURA E DA ESCRITA Para que a escola produza transformações substanciais com o objetivo de tornar as práticas de leitura e escrita significativas: • Formar praticantes da leitura e da escrita e não apenas decifradores do sistema de escrita. • Formar seres humanos críticos aptos de ler entrelinhas e de adotar uma posição própria. • Formar pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a leitura oferece, disposta a identificar com o semelhante ou solidarizar-se com o desigual e hábil de admirar a qualidade literária.
Orientar ações para constituição de escritores, de pessoas que saibam informar-se por escrito com os demais e com elas mesmas. • Atingir produções de língua escrita conscientes da pertinência e da importância de dar certo tipo de mensagem em determinado tipo de posição social. • O desafio é que as crianças manejem com eficácia os diversos escritos que circulam na sociedade. • Obter que a escrita aceite de ser na escola apenas um objeto de avaliação para se constituir num objeto de ensino. • Gerar a descoberta do emprego da escrita como instrumento de raciocínio sobre o próprio pensamento, como recurso para organizar e reorganizar o próprio conhecimento.
Resistir a discriminação que a escola age atualmente, não só quando cria fracasso explícito daqueles que não conseguem alfabetizar, como também quando impede aos outros que aparentemente não fracassam, chegar a ser leitores e produtores de textos competentes e independentes. • O desafio é combater a discriminação unir esforços para alfabetizar todos os alunos assegurando a apropriação da leitura e escrita como ferramentas essenciais ao progresso cognoscitivo e der crescimento pessoal.
É POSSÍVEL MUDANÇA NA ESCOLA? A instituição sofre uma verdadeira tensão entre dois pólos contraditórios: A rotina repetitiva e a moda são obstáculos para a verdadeira mudança. As mudanças acima apontadas só serão possíveis através da capacitação qualitativa dos professores e da instituição escolar. Será preciso estudar os mecanismos ou fenômenos que ocorrem na escola e impedem que todas as crianças se apropriem dessas práticas sociais de leitura e escrita.
ACERCA DO “CONTRATO DIDÁTICO” • O contrato didático serve para deixar claro aos professores e alunos suas parcelas de responsabilidades na escola e na relação ensino/aprendizagem. • Estabelecer objetivo por ciclo para diminuir a fragmentação do conhecimento; • Atribuir maior visibilidade aos objetivos gerais do que aos específicos; • Evitar o estabelecimento de uma correspondência termo a termo entre os objetivos e atividades; • Ultrapassar o tradicional isolamento entre a “apropriação do sistema de escrita” e “desenvolvimento da leitura e escrita” Vale lembrar que as mudanças são possíveis se o coletivo escolar assim o fizer. A escola deve se tornar um ambiente de formação da comunidade leitora e escritora. No caso da alfabetização, duas questões são fundamentais: assegurar a formação de leitores e produtores de textos e considerar como eixo de formação o conhecimento didático.
CAPÍTULO 3 APONTAMENTOS A PARTIR DA PERSPECTIVA CURRICULAR Os documentos curriculares devem aliar o objeto de ensino com as possibilidades do sujeito de atribuir um sentido pessoal a esse saber. Não devem se caracterizar documentos prescritivos. Os documentos curriculares devem ter como foco a adoção de decisões acerca de conteúdos que devem ser ensinados: importante decidir o que vai se ensinar com vistas no objeto social e com qual hierarquização, isto é, o que é prioritário.
O que deve permear essas escolhas são os verdadeiros objetivos da educação: incorporar as crianças à comunidade de leitores e escritores, e formar cidadãos da cultura escrita. • Lerner aponta que a leitura não deve ser sem um propósito específico. A leitura e a escrita nascem sempre interpoladas nas relações com as pessoas, supõem intercâmbios entre leitores acerca dos textos: interpretar, indicar, contestar, intercambiar e outros. Esse é o verdadeiro sentido social dessa prática. • Os comportamentos do leitor e do escritor são conteúdos e não tarefas, porque são aspectos do que se espera que os alunos aprendam. • Comportamento leitor: explanar, recomendar, repartir, confrontar, discutir, antecipar, reler, saltar, identificar, adaptar e outros. • Comportamento do escritor: planejar, textualizar, revisar. • A escola precisa permitir o acesso aos textos através da leitura em suas diferentes funções.
CAPÍTULO 4 É POSSIVEL LER NA ESCOLA? Na escola é necessário trabalhar a leitura com duplo propósito: o propósito didático e o propósito comunicativo. • primeiro propósito corresponde a ensinar certos conteúdos constitutivos da prática social da leitura, com a finalidade de que o aluno possa utilizá-la no futuro, em situações não-didáticas. • segundo propósito é da perspectiva do aluno. Como trabalhar os dois propósitos: Através de projetos que aliam a aprendizagem a uma função real para os alunos. • Ler para definir um problema prático; • Ler para se informar de um tema interessante; • Ler para escrever ou produzir um texto; • Ler para buscar informações específicas; • Ler para escolher, entre os contos, poemas ou romances.
GESTÃO DO TEMPO, APRESENTAÇÃO DE CONTEÚDOS E ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES É fundamental para o trabalho com essa diferente visão produzir uma transformação qualitativa na utilização do tempo didático. Manejar com flexibilidade a duração das situações didáticas e tornar possível a retomada dos próprios conteúdos em diferentes ocasiões e a partir de perspectivas diversas. As práticas sociais de leitura e escrita tornam-se mais significativas e têm seus objetivos cumpridos ao organizar a rotina dentro das modalidades didáticas: Projetos – apresentam assuntos nos quais a leitura ganha sentido cujos múltipos aspectos se articulam para a elaboração de um produto tangível. Atividades Habituais – repetem-se de forma metódica previsível uma vez por semana ou por quinzena, durante vários meses ou ao longo de todo ano escolar.
Sequências de atividades – são dirigidas para se ler com crianças diversos exemplares de um mesmo gênero de gêneros diferentes obras de um mesmo autor ou diferentes textos sobre um mesmo tema; incluem situações de leitura cujo único propósito explícito e compartilhado com as crianças, é ler. • Situações independentes: estas dividem-se em situações ocasionais e situações de sistematização
ACERCA DO CONTROLE: AVALIAR A LEITURA E ENSINAR A LER A avaliação é fundamental no processo escolar, pois possibilita verificar se os alunos aprenderam o que o professor se propôs ensinar. Para evitar que a pressão da avaliação se torne um obstáculo para a formação de leitores, é obrigatório, por um lado por em primeiro plano os propósitos referentes à aprendizagem de tal modo que não se subordinem ao controle e por outro lado criar modalidades de trabalho em o controle seja responsabilidade do aluno.
O professor como um ator no papel de leitor • O professor como leitor proficiente é um modelo fundamental para os alunos. • É necessário que leia e informe aos alunos tudo que é pertinente à leitura: estratégias eficazes quando a leitura é compartilhada, como delegar a leitura, individual ou coletiva, às crianças , o professor está ensinando a ler Ele é modelo de leitor das crianças.
Neste capítulo a autora conclui: • “É possível sim ler na escola se: se consegue produzir uma mudança qualitativa na gestão do tempo didático, se se concilia a necessidade de avaliar com as prioridades do ensino e da aprendizagem, se se redistribuem as responsabilidades de professor e alunos em relação à leitura para tornar possível a formação de leitores autônomos, se se desenvolvem na sala de aula e na instituição projetos que dêem sentido à leitura, que promovam o funcionamento da escola como uma microssociedade de leitores e escritores em que participem crianças, pai e professores, então..... sim é possível ler na escola”.
Capítulo 5: O PAPEL DO CONHECIMENTO DIDÁTICO NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR A conceitualização da especificidade do conhecimento didático e a reflexão sobre a prática são apontadas pela autora como dois fatores importantes no trabalho de capacitação de professores. O saber didático ainda que se apóie em saberes produzidos por outras ciências, não pode ser deduzido simplesmente deles é também o resultado do estudo sistemático das interações que se produzem entre professor e aluno, os alunos e o objeto de ensino, é produto da análise das relações entre ensino e aprendizagem de cada conteúdo específico, é elaborado através da investigação rigorosa do funcionamento das situações didáticas. O registro realizado pelo professor é fundamental para dar vida ao conhecimento didático: quando se torna objeto de reflexão faz da prática do professor uma prática consciente e possível de mudança.
Para a educadora, alguns estabelecimentos de educação têm como princípio ser uma escola alegre e lúdica. Isso pode ser bom se a alegria representar aquisição de conhecimento. Mas escola lúdica não é aceitável, pois não é essa sua função. A prática da escola deve ser o trabalho. E a provocação da aprendizagem é enfrentar desafios com o pressuposto de fazer esforços intelectuais e de empenhar-se intensamente. “A escola não precisa ser feia, nem triste, mas isso não quer dizer que se aprende de forma leve, brincando. A escola não pode se transformar em uma diversão, perdendo sua dimensão que é o ensinar.”