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Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC Pós-Graduação lato sensu Cultura Afro-Brasileira e Indígena Nações indígenas e africanas e a utopia do paraíso ultrajado. Construções alternativas e paradoxos do multiculturalismo e da globalização
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Universidade Católica de Petrópolis – UCP / Instituto de Pesquisa Tecnológica – IPETEC Pós-Graduação lato sensu Cultura Afro-Brasileira e Indígena Nações indígenas e africanas e a utopia do paraíso ultrajado. Construções alternativas e paradoxos do multiculturalismo e da globalização Prof. Ricardo Riso Pseudônimo de Ricardo Silva Ramos de Souza (1974). Mestrando de Relações Etnicorraciais do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ. Bolsista CAPES. Pesquisador do Estudos cabo-verdianos: literatura e cultura – Universidade de São Paulo (USP); Integrante do grupo de pesquisa GELITE/UEMA; Coorganizador do livro Afro-rizomas na diáspora negra: as literaturas africanas na encruzilhada brasileira (2013). Blog – ricardoriso.blogspot.com – E-mail: risoatelie@gmail.com
quilombo in verso(Alex Simões)bem no meio da marinha do brasil,atrapalhando a segurança dos naval,está o Quilombo Rio dos Macacos.não seria o contrário?(In: Adún, Gueellwaar; Adún, Mel; Ratts, Alex. (Orgs.). Ogum’s Toques Negros – Coletânea Poética. Salvador: Ogum’s Toques Negros, 2014. p. 40)
MULTICULTURALISMO HALL, Stuart. A questão multicultural. In: _____. Da diáspora. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011. HALL, Stuart. Que ‘negro’ é esse na cultura popular? In: _____. Da diáspora. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
Distinção entre Multicultural e Multiculturalismo MULTICULTURAL – é qualificativo. Descreve as características sociais e os problemas de governabilidade apresentados por qualquer sociedade na qual diferentes comunidades culturais convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo tempo em que retêm algo de sua identidade “original”. MULTICULTURALISMO - é substantivo. Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados pelas sociedades multiculturais. Sociedades multiculturais são heterogêneas, contrapondo-se aos ideais dos Estados-nação moderno, liberal e ocidental que se afirma sobre o pressuposto da homogeneidade cultural organizada em torno de valores universais, seculares e individualistas liberais. (HALL, 2011, p. 50) Multiculturalismo é contestado por diferentes grupos que divergem quanto as abordagens sobre raça e etnia como perigo para as integridades culturais de uma nação e o universalismo e neutralidade do estado liberal.
Perigo da propagação do multiculturalismo como uno, homogêneo. Existem diferentes sociedades multiculturais, assim também há multiculturalismos: Multiculturalismo conservador – insiste na assimilação da diferença às tradições e costumes da maioria; Multiculturalismo liberal – integrar os diferentes grupos culturais na sociedade majoritária, tolerando práticas culturais particularistas no âmbito do privado; Multiculturalismo pluralista – avaliza diferenças culturais e concede direitos de grupo distintos a diferentes comunidades dentro de uma ordem política comunitária; Multiculturalismo comercial – pressupõe que a diversidade dos grupos deve ser reconhecida, assim resolvem-se os problemas através do consumo privado, sem necessidade de redistribuição de poder e de recursos; Multiculturalismo corporativo – busca administrar as diferenças culturais da minoria, visando os interesses do centro; Multiculturalismo crítico ou revolucionário – enfoca o poder, o privilégio, a hierarquia das opressões e os movimentos de resistência.
Pós-colonial não resolveu problemas multiculturais em razão das contradições internas e fontes de desestabilização no interior das sociedades descolonizadas (guerras civis). (p. 55) Fim da Guerra Fria e desmantelamento da União Soviética e Leste europeu. Entrada voraz do mercado acirrou disputas étnicas e discursos vinculados à ideia de nação e invenção das tradições (Hobsbawn), contrapondo-se ao enfraquecimento do Estado-nação com a globalização. (p. 55) Globalização contemporânea com mercado financeiro desregulamentado, ao capital global, e aos fluxos de moedas grandes o suficiente para desestabilizar as economias médias, às formas transnacionais de produção e consumo, ao crescimento exponencial de novas indústrias culturais impulsionado pelas tecnologias de informaçãol. (p. 56) A globalização contemporânea é homogeneizante, mas não consegue controlar efeitos inesperados dos subalternos.
PROLIFERAÇÃO SUBALTERNA DA DIFERENÇA A différance (Derrida) atua com as similaridades e diferenças e recusa as posições binárias fixas. A différance não pode ser essencializada, ela está sempre em processo. Ressurge a força do local – do particular e específico – contra uma suposta aspiração universalista da globalização. Ele resiste ao fluxo homogeneizante do universalismo com temporalidades distintas e conjunturais. Não possui inscrição política fixa. Pode ser progressista, retrógado ou fundamentalista – aberto ou fechado – em diferentes contextos. É uma resistência que procura trazer as margens para o centro. (Hall, p. 59) AS MARGENS NO CENTRO: O CASO BRITÂNICO Chegada de caribenhos em 1948, no navio S.S.Empire Windrush. Nas décadas seguintes, acompanhando caribenhos, chegaram asiáticos, africanos e outros do Terceiro Mundo. Ingleses viram-se obrigados a mudar relações com antigo Império, pois os que estavam distante passaram a ficar dentro do solo britânico. Transculturação – negociação e redefinição de práticas culturais pelos imigrantes em diáspora.
“Cada vez mais, os britânicos têm sido obrigados a pensar sobre si mesmos e suas relações com os outros no Reino Unido em termos raciais (...). A visibilidade das comunidades étnicas (...) questionou a ‘homogeneidade’ da cultura britânica e do ‘ser inglês’ enquanto etnia, trazendo a questão do multicultural para o centro do da crise de identidade nacional” (p. 65) DESETABILIZANDO A CULTURA Hibridismo – não é uma referência à composição racial mista de uma população. É realmente outro termo para a lógica cultural da tradução. Essa lógica se torna cada vez mais evidente nas diásporas multiuculturais e em outras comunidades minoritárias e mistas do mundo pós-colonial. Trata-se de um processo de tradução cultural que nunca se completa. “Não é simplesmente apropriação ou adaptação; é um processo através do qual se demanda das culturas uma revisão de seus próprios sistemas de referência, normas e valores, pelo distanciamento de suas regras habituais ou ‘inerentes’ de transformação. Ambivalência e antagonismo acompanham cada ato de tradução cultural, pois o negociar com a ‘diferença do outro’ revela uma insuficiência radical de nossos próprios sistemas de significado e significação” (BHABHA, 1997)
Na diáspora, para alguns, as condições híbridas podem estar avançadas, mas quase nunca assimiladas, pois que não se completa e nunca se encerra. Sendo assim, as pessoas geralmente adotam posições de identificação deslocadas, múltiplas e hifenizadas. Na diáspora, todos negociam culturalmente em algum momento da différance, onde as disjunções de tempo, geração, espacialização e disseminação se recusam a ser nitidamente alinhadas (p. 72-73)
QUE NEGRO É ESSE NA CULTURA POPULAR? (Stuart Hall) Descolonização do Terceiro Mundo marcado culturalmente pela emergência das sensibilidades descolonizadas. Conforme Fanon, descolonização inclui o impacto dos direitos civis e as lutas negras pela descolonização das mentes dos povos da diáspora negra.
LUTA PELA HEGEMONIA CULTURAL Dentro da cultura, a marginalidade, embora permaneça periférica em relação ao mainstream, nunca foi um espaço tão produtivo quanto é agora, e isso não é uma abertura dentro dos espaços dominantes, à ocupação dos de fora. É também resultado de políticas culturais da diferença, de lutas em torno das diferenças, da produção de novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos no cenário político e cultural. Isso vale não somente para a raça, mas também para outras etnicidades marginalizadas, assim como o feminismo e as políticas sexuais no movimento de gays e lésbicas, como resultado de um novo tipo de política cultural. (...) A hegemonia cultural nunca é uma questão de vitória ou dominação pura; nunca é um jogo cultural de perde-ganha; sempre tem a ver com a mudança no equilíbrio de poder nas relações da cultura; trata-se sempre de mudar as disposições e configurações do poder cultural e não se retirar dele.
LUTA PELA HEGEMONIA CULTURAL Estratégias culturais – aquelas capazes de fazer a diferença e deslocar as disposições do poder. Importante por que os espaços ‘conquistados’ para a diferença são poucos e dispersos, e cuidadosamente policiados e regulados. REAÇÃO DE QUEM DETÉM A HEGEMONIA CULTURAL • Resistência agressiva à diferença; • tentativa de restaurar o cânone da civilização ocidental; • o ataque direto e indireto ao multiculturalismo; • o retorno às grandes narrativas da história, da língua e da literatura (os três pilares da identidade e cultura nacionais); • a defesa do absolutismo étnico; • e as novas xenofobias.
LUTA PELA HEGEMONIA CULTURAL Cultura popular é o espaço a ser conquistado, pois é no domínio do simbólico direcionado ao senso comum que se conquista a hegemonia cultural. Com a mercantilização e o apoio da tecnologia dominante, a cultura popular passa a ser o espaço da homogeneização e dos estereótipos. CULTURA POPULAR NEGRA • Estilo, música e corpo: três eixos de reconfiguração. • Os fragmentos das origens africanas às dispersões irreversíveis da diáspora conduziram a inovações linguísticas na estilização da retórica do corpo, a formas de ocupar um espaço social alheio, a expressões potencializadas, a estilos de cabelo, a postura, gingados e maneiras de falar, bem como a meios de constituir e sustentar o companheirismo e a comunidade.
Estética Diaspórica (Kobena Mercer) • Experiência Negra (a experiência histórica do povo negro na diáspora); • Estética Negra (os repertórios culturais próprios a partir dos quais foram produzidas as representações populares); • e Contranarrativas Negras que lutamos para expressar.
DIÁSPORA NEGRA Pensamos a diáspora negra como não nacional conforme Paul Gilroy quando este afirma as relações de uma transcultura negra, tendo na metáfora do Atlântico negro a subversão às identidades fixas, tornando-as mais fluidas, valendo-se das mobilidades translocais renegociando, alargando e descen-tralizando as fronteiras nacionais, agora reconfiguradas e rasuradas pela relação dos negros descendentes de africanos com o continente africano e expondo as limitações dos essencialismos de cultura e identidade dominantes. Ou seja, “a ideia de diáspora nos encoraja a atuar rigorosamente de forma a não privilegiar o Estado-nação moderno e sua ordem institucional em detrimento dos padrões subnacionais e supranacionais de poder, comunicação e conflito que eles lutaram para disciplinar, regular e governar” (GILROY, 2013, p. 20).
Essencialismo Estratégico (G. Spivak); • Ruptura do binarismo ou/ou (contestação constante) para lógica do acoplamento, “e” (Paul Gilroy); • fim de um sujeito negro essencial (mulher negra e homossexualidades negrxs).
GLOBALIZAÇÃO Milton Santos – Globalitarismos e totalitarismo Muniz Sodré – Globalismo e neobarbárie Benjamin R. Barber – McWorld
Cultura McWorld – Benjamin R. Barber (In: MORAES, Dênis de. Por uma outra comunicação – mídia, mundialização cultural e poder. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. pp. 41-56)
CULTURA McWORLD A cultura mundial americana – a cultura McWorld – é menos hostil que indiferente à democracia: seu objetivo é uma sociedade universal de consumo que não seria composta nem por tribos nem por cidadãos, todos maus clientes potenciais, mas somente por essa nova raça de homens e mulheres que são os consumidores. A nova cultura globalizante expulsa do jogo não apenas aqueles que a criticam de um ponto de vista reacionário, mas igualmente os seus concorrentes democráticos, que sonham com uma sociedade civil internacional constituída de cidadãos livres oriundos das mais variadas culturas. McWorld é uma América que se projeta em um futuro moldado por forças econômicas, tecnológicas e ecológicas que exigem integração e uniformização. Um futuro reunindo todos os países em um vasto parque de temática mundial, colocado totalmente em rede pelas tecnologias de informação.
CULTURA McWORLD MTV – McDonald’s – Disneylândia Enfraquecimento da soberania dos Estados-nações: - Bancos internacionais - Organizações comerciais - Lobbies transnacionais como a OPEP - Serviços mundiais de Informação – CNN e BBC
VIDEOLOGIA Cultura reduzida ao estado de mercadoria – imagem e formas materiais. Com isso, as relações de força tornam-se forças de sedução: a ideologia transforma-se em uma espécie de videologia à base de sons expressos em bits e de videoclipes. A videologia é mais fluida que a ideologia política tradicional, o que a torna ainda mais eficaz para insuflar valores que os mercados mundiais requerem. Estes valores não são impostos por governos coercitivos ou sistemas educativos autoritários; eles são transfundidos para a cultura por pseudoprodutos culturais – filmes ou publicidades – dos quais deriva um conjunto de bens matérias, de acessórios de filmes e de divertimentos.
“O planeta Reebok não tem fronteiras” – as empresas gigantes, as multinacionais, poderiam ser chamadas de “pós-nacionais” ou “antinacionais”, pois rejeitam qualquer ideia de fronteira ou de provincialismo, porque poderiam limitá-las no tempo ou no espaço. Manipulação da informação – mostra a capacidade do mercado de assimilar diferenças e contestações e embaralhar as posições ideológicas, graças à imprecisão criada entre informação e espetáculo. Pretensão de que o mercado pode ter sucesso em todas as partes onde fracassou o Estado, daí a transferência para a esfera do privado de setores que deveriam ser públicos, tais como educação, cultura, o pleno emprego, a proteção social, saúde etc. Substituição do Estado pelo mercado coloca-nos em um consumismo desenfreado. O mercado utiliza-se das tecnologias de informação, da publicidade e da persuasão cultural para nos dizer o que queremos e nos impedem de dialogar entre cidadãos. O mercado afaga o nosso ego individual, porém deixa insatisfeita nossa aspiração ao bem comum. (p. 48)
Consumo como única atividade humana relevante, com poder de definir o indivíduo. Privatopia – espaços privados à margem da sociedade da maioria (vulgar, multirracial, perigosa) que oferece um universo de calma e segurança colocado sob vigilância máxima. (shoppings). Poderio econômico exorbitante de poucas empresas anulam as reivindicações de milhares de ONGs e movimentos sociais. Exemplo: Grupo Folha (http://www1.folha.uol.com.br/institucional/conheca_a_folha.shtml )
Para criar uma demanda de produtos americanos, as necessidades devem ser fabricadas na mesma escala. Para as grandes marcas, vender produtos americanos é vender a América: sua cultura popular, sua pretensa prosperidade, seu imaginário e mesmo sua alma. O marketing volta-se tanto para os símbolos quanto para os bens e não visa comercializar produtos, mas estilos de vida e de imagens: o cidadão abastado, o caubói austero, as estrelas de Hollywood etc. (p. 51) Cultura do fast-food: o trabalho é primordial e as relações humanas, secundárias; o rápido toma o lugar do lento, e o simples vence o complexo. Filme “Banhos” (Shower, 1999) http://ricardoriso.blogspot.com.br/2008/06/banhos.html
Discurso globalista – importância da linguagem – a linguagem “cria”, mais do que reflete, a realidade. Ela é “produtora” da realidade. Ideologia do pensamento único – Quando um grupo hegemônico obtém da sociedade a aceitação de uma ideologia, está obtendo aval semântico para uma pletora de pontos de vista, visões de mundo, articulações de senso comum e representações sociais guiados por um sentido determinado. O sentido implica um caminho simbólico, uma direção cultural, que se pretende comum a todos, universal, verdadeira. Própria do mecanismo ideológico é a troca da parte pelo todo, isto é, da parcialidade do sentido (já que é apenas a unidade consensual de um grupo específico) por uma totalidade ou universalidade ilusória. (SODRÉ, p. 22) Globalismo como neobarbárie – Muniz Sodré (In: MORAES, Dênis de. Por uma outra comunicação – mídia, mundialização cultural e poder. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. pp. 21-40)
Tecnologias integradoras, a serviço da globalização, com poderes universais de uniformização (p. 23) Global mesmo é a medida da velocidade de deslocamentos de capitais e informações, tornados possíveis pelas teletecnologias – globalização é, portanto, um outro nome para a “teledistribuição” mundial de um determinado padrão de pessoas, coisas e, principalmente, informação. Velocidade e flexibilização como conceitos-chave. Flexível por explorar, de forma feroz a força de trabalho, enfraquecendo as relações laborais e investindo contra as garantias institucionais (direitos trabalhistas, previdenciários etc.); Velocidade como valor cultural, uma vez que informação e conhecimento circulam com velocidade jamais vista por causa das novas tecnologias, fazendo com que o trabalhador acelere o seu ritmo de trabalho.
Globalização trabalha discursivamente para diminuir o relativismo das significações a ela correspondentes e reforçar o seu sentido universalista. NEOLIBERALISMO – renovação do léxico para exploração e dominação. A doutrina neoliberal não considera as condições históricas de dominação, como se não houvessem responsáveis pela miséria dos tempos atuais nos países ditos subdesenvolvidos. “As causas seriam simplesmente endógenas (bloqueio cultural, atraso tecnológico etc.), de modo análogo a explicação liberal para o empobrecimento individual – ‘falta de iniciativa’ e outras”. (SODRÉ, p. 26) Roberto Campos sobre o caso brasileiro – “Boa parte do nosso subdesenvolvimento se explica em termos culturais. Ao contrário dos anglo-saxões, que pregam a racionalidade e a competição, nossos componentes culturais são a cultura ibérica do privilégio, a cultura indígena da indolência e a cultura negra da magia”
O destino seria o enquadramento das nações no paraíso da técnica e do consumo de massa para ser inserido na interconexão global. Ou seja, permanece uma linha evolutiva tendo o Ocidente como referencial. O mercado como paradigma – lucro e competitividade atrelados ao avanço tecnocientífico. As tecnologias de informação adéquam-se aos mercados financeiros, pois lidam com componentes desse meio: velocidade, probabilidade e instabilidade ou caos. A velocidade é essencial por que é preciso integrar em todas as dimensões os centros mundiais de decisão financeira, desbloquear a circulação instantânea dos capitais e acelerar as informações. Esta financeirização veloz e instável da riqueza, que desterritorializa espaços e mercados nacionais em favor de espaço e mercado mundiais, sob o controle de empresas multinacionais, é a verdadeira face da globalização. A neobarbárie encontra-se no anti-humanismo da economia de mercado, pois faz da sociedade humana seu acessório, descartável a qualquer momento.
Países subdesenvolvidos devem seguir o modelo dos países economicamente dominantes, como única forma de integração possível. Novamente o Ocidente como referência, mas que apresenta uma visão reducionista de mundo que alimenta a desigualdade e a discriminação. A doutrina neobárbara mascara as suas intenções e reserva aos meios de comunicação papel estratégico na naturalização ideológica da economia neoliberal de mercado. As estratégias discursivas apresentam essa situação como eterna e imutável para o homem comum, com isso as significações neoliberais transformam-se em senso comum. O neoliberal não se autodenomina, mascara a sua condição, estratégia de todo discurso hegemônico. “Uma hegemonia não se constrói com mera racionalidade instrumental, mas também com dissimulações, simulações, recursos mágicos afetos nada ‘racionais’”. (p. 35). Nesse discurso – mercado e tecnologia tornam-se valores universais que alimentam o evolucionismo social. A globalização é experimentada como um ‘destino’ social. O sujeito que não se enquadra nessa nova ordem é excluído, é tido como um refugo humano (Bauman, 1999). Reside aí a neobarbárie. Para isso, o mercado fornece os seus modelos de sucesso de uma sociedade privilegiada que autolegitima o seu discurso, tornando-o acrítico.
Retórica da legitimação dos discursos acríticos – 1 – universaliza-se o particular; 2 – estruturas sociais existentes mantêm-se fixas; 3 – a noção de globalização é polissêmica, pouco definida. Uma zona turva de argumentação mascara suas intenções de dominação e autoritarismo; 4 – estalece-se uma causalidade arbitrária entre os fenômenos. Quando ocorre uma crise ataca-se as falhas do Estado que não reduziu impostos, a necessidade de privatizações, os cortes de gastos das estatais, os problemas políticos como impedimento do mercado se autorregular e resolver a crise do Estado etc. Para isso, a mídia tem papel central ao produzir um discurso coerente com a lógica do mercado e com a ideologia da globalização. Com isso, os aspectos humanos e sociais têm peso imensamente inferior aos aspectos tecnoeconômicos no equacionamento dos problemas do desenvolvimento soietário. A globalização – que bem poderia ser a palavra de ordem de um novo patamar civilizatório, o desafio mobilizador de uma verdadeira reforma da velha ordem social – não tem sido apresentado como outra coisa que ‘mercado total’, ou seja, outro nome para a exclusão tanto econômica quanto psíquica da maioria populacional (SODRÉ, p. 39)
Forma real da globalização e do mercado e seu formato midiático alimentam a desigualdade econômica e política em escala mundial, uma vez que é cada vez mais acirrada a competição pelo trabalho e pela dignidade da existência. Globalização e mercado compõem a ideologia neoliberal, que dissimula a concentração do capital financeiro e dos mecanismos de desemprego crescente. Somente uma contralinguagem discursiva criada pelas novas estratégias dos ativistas como Fórum Social de Porto alegre e movimentos sociais que se internacionalizam com o uso da internet, que combina participação social com interatividade midiática.
Milton Santos – Globalitarismos e totalitarismo • Milton Santos no Roda Viva (bloco 1) • https://www.youtube.com/watch?v=3UTdArOhUk8 Globalização Perversa. A informação e o dinheiro são pontos categóricos da perversidade. A informação é usada por alguns poucos atores para interesses próprios, com o objetivo de manipular e convencer a população global de seus interesses. Para Santos esta informação é uma manipulação de convencimento dos atos perversos mascarados por uma cordialidade do mercado e do sistema financeiro global. Afinal, a informação que chega para as massas é totalmente manipulada, que em vez de esclarecer, confunde. O dinheiro se torna nesse mundo perverso o centro de todas as ações. Sendo assim, o homem perde importantes valores de humanidade, por exemplo, a compaixão e a solidariedade. Atualmente, o outro é visto como um inimigo a ser vencido, um obstáculo. A competitividade tem como norma a guerra, e o consumo tornou-se um verdadeiro regime totalitário, o que Santos chamou de Globalitarismo.
MUNDIALIZAÇÃO CULTURALRap e Literatura Marginal/Periférica
Mundialização – não é homogeneização nem padronização. Nova relação com diversidade - momento de potencialização da diferença e de exposição constante de cada cultura às outras, isso implica permanente exercício de reconhecimento daquilo que constitui a diferença dos outros como enriquecimento potencial da nossa cultura, e uma exigência de respeito àquilo que, no outro, em sua diferença, há de intransferível (...) O reconhecimento das diferenças culturais tradicionais – étnicas e raciais – tanto quanto o das modernas – de gênero ou dos homossexuais – passa sem dúvida pelo plano dos direitos e das leis, porém eles só se realizam no reconhecimento cotidiano dos direitos e no respeito dos indivíduos que encarnam essas culturas. (MARTÍN-BARBERO, Jesus. Globalização comunicacional e transformação cultural. In: MORAES, Dênis de. Por uma outra comunicação – mídia, mundialização cultural e poder. 6ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2012. pp. 57-86)
Rap (rithym and poetry) tem a sua origem ao final dos anos 1960 com jovens jamaicanos residentes no Bronx, bairro negro nova-iorquino, que fazem o toatsie (falas ou canções improvisadas sobre uma base instrumental). • Rap ganha corpo nos anos 1970 - AfrikaBambaataa é o grande nome desse período. • O Rap assume postura militante e engajada na década de 1980. O grupo PublicEnemy passa a ser o principal referencial dessa mudança com a música “Fightthe Power”, do álbum “Fearof a Black Planet”. Esta música abre o filme “Faça a coisa certa” (Do therightthing), de Spike Lee.
Fight the Power, música do Public Enemyhttps://www.youtube.com/watch?v=WnS53fNfpkEtradução letrahttp://letras.mus.br/public-enemy/31847/traducao.html
Hip-Hop – hip, movimentar quadris; hop – saltar. • Cultura Hip-Hop envolve o rap (MC e DJ), a dança (break) e artes plásticas (graffiti). Sem falar de uma indumentária específica com bonés, roupas e tênis destacam-se. • Rap – é multifacetado. Existe o gangsta rap, o funk carioca, o rap gospel e o rap politizado. • Rap politizado surge nas periferias com negros conscientes da exclusão social e da discriminação racial, apresentam linguagem politizada e virulenta, tornam-se referências para sua comunidade e têm consciência desse papel, assim como percebem que fazem parte de um movimento ou de uma cultura comum, que é transnacional. • Diferentes de outras manifestações da música negra, os rappers preferem não sorrir em público, nem dançar ou cantar, fogem dos estereótipos dos negros. (SALLES, p. 30-33)
O Rapper como porta-voz da comunidade Racionais MC’s, MV (Mensageiro da Verdade) Bill e Gog. “Em suas composições (...) problematizam uma ideia, ainda hegemônica, de Brasil multirracial, fundado na miscigenação pacífica e cordial das diversas raças. O conceito de democracia racial é a base de uma ideia de nação que, desde o início do século XIX, embora só sistematizada de forma orgânica no século seguinte, tem sido elaborada cuidadosamente de modo a evitar o conflito, a manter as diferenças e os desníveis razoavelmente controlados. O discurso do rap, porém, questiona duramente essa ideia. O contexto social objetivo em que surge – a favela – é capaz de nos fornecer elementos para a compreensão dessa radicalidade. Elementos que nos permitem entender o porquê de o rap norte-americano, uma linguagem enfaticamente não cordial, ter sido acolhido entusiasticamente no país do suinge.” (SALLES, 2007, p. 35)
O Rapper como porta-voz da comunidade - Porta-voz da comunidade, representa a fala dos que não falam; - Observador do dia-a-dia das periferias; - Investigador da realidade para além do veiculado na grande mídia; - Crê no poder de transformação de suas letras. Faz rap como contranarrativa com objetivo de modificar, ou reforçar, suas crenças, seu posicionamento político e sua identidade racial; - Consciente de organizar a comunidade com uma identidade comum ciente da discriminação e preocupada em garantir sua sobrevivência num mundo que a ameaça.
ENTREVISTA DE MANO BROWN À REVISTA FÓRUM - http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/04/o-novo-velho-mano-brown/ Fórum – (...) Recentemente, houve o assassinato do DJ Lah, e mortes violentas de músicos da periferia têm sido muito comuns em São Paulo, na Baixada Santista, por exemplo. Como definir essa situação? Mano Brown – (...) O que aconteceu ali foi execução, crime de guerra. Tem a guerra e tem os crimes de guerra. As pessoas não estavam esperando por aquilo ali, não estavam preparadas pr’aquilo. É o que tem acontecido neste começo de ano, e aconteceu no final do ano passado, as mortes todas têm o mesmo perfil: moleque pobre em proximidade de favela. Os caras encontram várias fragilidades ali, várias formas de chegar, matar e sair rápido, e o governo simplesmente ignora o que aconteceu. existem as facilidades. O cara vai lá e mata sabendo que não vai ser cobrado. Fórum – Mas você acha que, por conta dessas ocorrências, há uma coisa dirigida contra o rap? Brown – Acho que não, se dissesse isso seria até leviano, porque muitas pessoas que morreram não tinham nada a ver com o rap. Gente comum, motoboy, entregador de pizza, moleque que saiu da Febem e estava na rua, com uma passagenzinha primária e morreu… E o rap tá na vida da molecada mesmo, tá nos becos, nas esquinas, no bar, na viela, geralmente o moleque que curte rap tá nesses lugares. É uma coisa dirigida, mas é dirigida à raça. Dirigida a uma classe.
Se você for fazer a conta de quantas pessoas morreram no final do ano, mortes sem explicação, crimes a serem investigados, e somar o tanto de gente que morreu em Santa Maria… Morreu muito mais aqui. Lá foi comoção total pela forma que ocorreu, lógico, todo mundo é ser humano, mas veja a repercussão de um caso e a repercussão de outro caso, quanto tempo demorou pra mídia acordar pra chacina? Quanto tempo demorou pras pessoas perceberem a cor dos mortos? Coisa meio que normal, oito pretos mortos, quatro aqui, três ali… É uma coisa meio cultural, preto, pobre, preso morto já é uma coisa normal. Ninguém faz contas. A partir do momento em que a gente nota realmente que nossa quebrada tem fragilidades, vê as famílias das pessoas com muitas mulheres e poucos homens, homens com pouca liberdade, pouca liberdade de movimento, vida pregressa com problema, pouca mobilidade na sociedade, caras condenados a viver no submundo, você começa a criar um exército na comunidade, de gente que vê aquele entra e sai da cadeia, de homens com vida pregressa que não conseguem mais arranjar emprego. As casas perdem esses caras, que deixam de ser úteis dentro de casa. (...)
Brown – É, não passou a ser guerra agora, depois da chacina, já vivia em guerra. As mães também lamentam os filhos que vão pra vida do crime, perder pra droga… A molecada negra tá muito exposta ao perigo, o salário é baixo, o risco é alto. A sociedade cobra muito, você tem de ter as coisas, tem de estar, tem de ser, tem de aparentar ser… Aparentar ser já custa caro, “ser” é outro estágio. O pessoal acha que é vaidade boba a pessoa gostar de marca, de perfume bom, mas são coisas que ajudam a pessoa a circular, a arrumar um emprego, a arrumar uma gata, tudo melhora. No momento em que no Brasil começa a sobrar um dinheirinho pra categoria, pra raça, o outro lado já começa a cobrar com a vida também. O excesso de gente usufruindo deste novo Brasil… Não pode, é excesso, tem de limpar. Tudo que é moleque de moto… Os excessos que o pessoal começa a reclamar, todo mundo com celular no busão. Antigamente, quando só o rico tinha, ninguém reclamava. Pobre com celular, com moto, não pode, o sistema cobra. Fórum – Você entende isso como uma reação da elite? Brown – Uma reação. Três governos de esquerda eleitos pelo povo, o Brasil pagou a dívida, a classe C tomando espaço e a Globo expondo isso na novela, todo mundo analisando, os autores são mais jovens e começaram a mudar a mente, as ideias começaram a ir pra tela e os movimentos ganhando força a partir das ideias, muita coisa junto… Os caras reagiram. O que aconteceu em São Paulo aconteceu no resto do Brasil. Em Alagoas, o índice de negros mortos é muito alto, em Belém do Pará, Goiás…
Músicas NEGRO DRAMA (Racionais MC’s) https://www.youtube.com/watch?v=yQdPM7r-cls CAPÍTULO 4, VERSÍCULO 3 (Racionais MC’s) https://www.youtube.com/watch?v=2LQSFLTiwS8 TÔ OUVINDO ALGUÉM ME CHAMAR (Racionais MC’s) https://www.youtube.com/watch?v=zT1RN0MhJBY TRIBUNAL DE RUA (O Rappa) https://www.youtube.com/watch?v=MGIoENU2x5I MINHA ALMA (A PAZ QUE EU NÃO QUERO) (O Rappa) https://www.youtube.com/watch?v=vF1Ad3hrdzY
Racionais MC’s 1000 trutas, mil tretas • https://www.youtube.com/watch?v=hqPUAHTs77o • https://www.youtube.com/watch?v=qTtZOMxQtFk
Literatura Marginal/Periférica A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor. (Sérgio Vaz, Manifesto da Antropofagia Periférica)
TERRORISMO LITERÁRIO (Ferréz) A capoeira não vem mais, agora reagimos com a palavra, porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. Não somos movimento, não somos os novos, não somos nada, nem pobres, porque pobre segundo os poetas da rua, é quem não tem as coisas. Cala a boca, negro e pobre aqui não tem vez! Cala a boca! Cala a boca uma porra, agora a gente fala, agora a gente canta, e na moral agora a gente escreve. (...) A Literatura Marginal sempre é bom frisar é uma literatura feita por minorias, sejam elas raciais ou sócio-econômicas. Literatura feita a margem dos núcleos centrais do saber e da grande cultura nacional, ou seja os de grande poder aquisitivo. Mas alguns dizem que sua principal característica é a linguagem, é o jeito que falamos, que contamos a história, bom isso fica para os estudiosos, o que agente faz é tentar explicar, mas agente fica na tentativa, pois aqui não reina nem o começo da verdade absoluta. Hoje não somos uma literatura menor, nem nos deixemos taxar assim, somos uma literatura maior, feita por maiorias, numa linguagem maior, pois temos as raízes e as mantemos. (...)
Ferréz no programa Provocações https://www.youtube.com/watch?v=KQ1Hk3sd9w0