680 likes | 947 Views
Reforma urbana e sanitária. O bota-baixo e a Revolta da Vacina. CONTEXTO.
E N D
Reforma urbana e sanitária O bota-baixo e a Revolta da Vacina
No alvorecer do século XX, o Rio de Janeiro enfrentava graves problemas sociais, decorrentes, em larga medida, de seu crescimento rápido e desordenado. Com o declínio do trabalho escravo, a cidade passara a receber grandes contingentes de imigrantes europeus e de ex-escravos, atraídos pelas oportunidades que ali se abriam ao trabalho assalariado. Entre 1872 e 1890, sua população duplicou, passando de 274 mil para 522 mil habitantes.
O incremento populacional e, particularmente, o aumento da pobreza agravaram a crise habitacional, traço constante da vida urbana no Rio desde meados do século XIX. O epicentro dessa crise era ainda, e cada vez mais, o miolo do Rio – a Cidade Velha e suas adjacências – , onde se multiplicavam as habitações coletivas e onde eclodiam as violentas epidemias de febre amarela, varíola, peste bubônica que conferiam à cidade fama internacional de porto sujo.
Não por acaso, os higienistas foram os primeiros a formular um discurso articulado sobre as condições de vida na cidade, propondo intervenções mais ou menos drásticas para restaurar o equilíbrio daquele "organismo" doente. O primeiro plano urbanístico para o Rio de Janeiro foi elaborado entre duas epidemias muito violentas (1873 e 1876), mas uma ação concreta nesse sentido levaria cerca de três décadas para se realizar. Foi a estabilidade político-econômica, a duras penas alcançada no governo Campos Sales (1898-1902), que permitiu ao seu sucessor, Rodrigues Alves, promover, entre 1903 e 1906, o ambicioso programa de renovação urbana da capital.
Tratada como questão nacional, a reforma urbana sustentou-se no tripé: • Saneamento • Abertura de ruas • Embelezamento Objetivo: atrair capitais estrangeiros para o país e a adoção de um padrão arquitetônico mais digno de uma cidade-capital
As obras de maior vulto - a modernização do porto, a abertura das avenidas Central e do Mangue – e o saneamento foram assumidas pelo governo federal. A demolição do casario do centro antigo, a abertura e o alargamento de diversas ruas e o embelezamento de logradouros públicos foram atribuídos à prefeitura da capital.
Prefeito Barata Ribeiro 1892 • Perseguição aos cortiços; • Demolição do cortiço “Cabeça de porco”, com cerca de 40.000 moradores.
Rodrigues Alves • Exibir ao mundo desenvolvido a imagem de um Brasil próspero, civilizado, ordeiro, dotado de instituições e de um Estado consolidado e estável.
Pereira Passos • Filho do barão de Mangaratiba • Carreira diplomática, foi para Paris e viu as reformas urbanas de Paris (portos, canais,construção de estrada de ferro) • Retorna ao Brasil e assume diversos cargos púbicos ligados a obras de engenharia e ferrovia
Reforma de Paris • Rua tortuosas e estreitas que desde a Revolução Francesa (1789), os trabalhadores faziam barricadas nas ruas. • Para controlar os motins populares, neutralizar os trabalhadores urbanos foi feita a reforma urbana com a construção de avenidas grandes, largas.
O bota-baixo • Dar mais franqueza ao tráfego crescente das ruas da cidade; • Iniciar a substituição das vielas por largas ruas e avenidas arborizadas; • Promover melhores condições estéticas e higiênicas para as construções urbanas • Canalizações subterrâneas;
Modernização do Porto • Traços coloniais da cidade. Coexistia realidades muito diferentes no mesmo espaço: atividades do capital financeiro e comercial, toda a máquina administrativa do Estado e os locais de trabalho e moradia do proletariado e de parcelas da pequena burguesia. • Exemplo de conflito: luta persistente movida pelas companhias carris contra os veículos de carga, especialmente os carrinhos de mão, que se aproveitavam dos trilhos para se deslocarem
Marc Ferrez. Garrafeiros. 1895. Marc Ferrez. Os Jornaleiros. 1895. “maturidade precoce?”
Tendência à especulação e ao enriquecimento privado propiciada por uma valorização executada pelo Estado • Expropriação ou segregação de um conjunto socialmente diferenciado de ocupantes de um espaço. Mecanismos de expropriação e valorização acionados diretamente pelo Estado.
Para os trabalhadores não proprietários que habitavam as casas de cômodos, cortiços, estalagens e prédios deteriorados existentes no centro, as desapropriações significaram a expulsão pura e simples de seus locais de moradia
A ação do governo não se fez somente contra os seus alojamentos: suas roupas, seus pertences pessoais, sua família, suas relações vicinais, seu cotidiano, seus hábitos, seus animais, suas formas de sobrevivência e subsistência, sua cultura, enfim, tudo é atingido pela nova disciplina espacial, social, ética e cultural imposta pelo gesto reformador.
Porém, os grandes proprietários comerciantes obtiveram uma boa indenização e puderam abrir um negócio nas zonas proletárias remanescentes.
“o subúrbio é o refúgio dos infelizes” Lima Barreto. • A enorme pressão por imóveis, devida à grande demolição, empurram a população humilde para a periferia da cidade, ou para os bairros mais distantes e degradados, onde se alojavam em condições subumanas e pagando preços exorbitantes. • Regiões desvalorizadas, por serem impróprias para construções, como os morros e os mangues, começam a forrar-se de casebres construídos de tábuas de caixas de bacalhau, cobertas de latas de querosene desdobradas, igualmente sem nenhuma forma de higiene e sem água corrente
Nesse contexto aflorou na paisagem do Rio de Janeiro, ao lado das tradicionais habitações coletivas que se disseminaram nas áreas adjacentes ao centro (Saúde, Gamboa e Cidade Nova), uma nova modalidade de habitação popular: a favela.
A reforma da capital constituiu, sem dúvida, uma ruptura no processo de urbanização do Rio de Janeiro, um ponto de inflexão no qual a "cidade colonial" cedeu lugar, de forma definitiva à "cidade burguesa", moderna, do século XX, que tinha como parâmetros as metrópoles européias. Em novembro de 1906, quando Rodrigues Alves Passou a faixa presidencial a Afonso Pena, o Rio – remodelado e saneado – já era apresentado como "a cidade mais linda do mundo", a "cidade maravilhosa".
As campanhas sanitárias na capital • A reputação de cidade pestilentado Rio de Janeiro devia-se, sobretudo, à presença da febre amarela, da varíola e da peste bubônica. Essas doenças estavam comprometendo a política de estímulo à imigração estrangeira e acarretando enormes prejuízos à economia nacional, dado que os navios que atracavam na capital eram submetidos a freqüentes quarentenas. Foram, por essa razão, os alvos prioritários das campanhas sanitárias implementadas nesse período.
Número de Mortes • Febre amarela: • 1849 – 1850 = 4.160 mortes • 1873 = 3.559 mortes • 1876 = 3.476 mortes • Varíola: • Durante o ano de 1904 = 4.201 mortes no Distrito Federal
Sobre a varíola • Agente causador: Vírus; • Transmissão: Gotas de saliva, roupas ou objetos contaminados; • Sintomas: Nos primeiros dias são similares aos da gripe, depois de alguns dias aparecem manchas, pápulas (lesões avermelhadas e elevadas na pele), pústulas (pequenas bolhas cheias de pus) e crostas • Tratamento: Não existe medicamento. • Prevenção: Vacinação e evitar contato com os doentes.
Sintomas da Varíola Vírus da Varíola
Sobre a Febre Amarela • Agente causador: Vírus; • Transmissão: Picada do mosquito (fêmea) contaminado: Aedes aegypti (ciclo urbano da doença) e Haemagogus e Sabethes (ciclo silvestre; • Sintomas: Dor de cabeça, calafrios, náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos) e hemorragias (de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina) • Tratamento: Não existe medicamento. • Prevenção: Vacinação e controle do mosquito.
Sobre a Peste Bubônica • Agente causador: Bactéria (Yersinia pestis); • Transmissão: picada da pulga • Sintomas: • Tratamento: Antibióticos e quimioterápicos. • Prevenção: Acabar com as pulgas.
Ilustração do século XIV com vítimas da peste negra recebendo como tratamento as bênçãos de um clérigo.
O quadro Triunfo da morte (1562), do pintor belga Peter Bruegel (1525-1569),retrata o horror que a peste negra causou na Europa
Oswaldo Cruz desencadeasse, já em abril de 1903, a campanha contra a febre amarela e, no começo de 1904, o combate à peste bubônica. Em 1906, ao encerrar-se o mandato de Rodrigues Alves, as estatísticas de mortalidadee morbidade dessas doenças testemunhavam o êxito das campanhas. Sua derrota se deu no combate à varíola, travado em 1904, pois a obrigatoriedade da vacina provocou a revolta popular.
OSVALDO CRUZ 1872 - 1917 • Formado em medicina; • Cientista, médico, bacteriologista, epidemiologista e sanitarista brasileiro.
A revolta da vacina • Desde meados do século XVI o Rio de Janeiro convivia com a varíola, que tomava forma epidêmica no inverno e fazia numerosas vítimas. O combate à doença dependia essencialmente da aplicação da vacina jenneriana. No Brasil, seu uso fora declarado obrigatório para as crianças em 1837, estendendo-se, em 1846, aos adultos. Estas leis, no entanto, nunca foram cumpridas por dois motivos: • falta de condições políticas e técnicas (sua produção em escala industrial no Rio de Janeiro só começou em 1884); • horror que a maioria da população nutria à idéia de se deixar inocular com o vírus da doença.
A História da Vacina • Edward Jenner (1796); • Jenner deu àquele novo tratamento o nome de “varíola da vaca” em latim: "variola vaccinae”.
Em 1904, enquanto Oswaldo Cruz combatia à febre amarela, os casos de varíola começaram a crescer assustadoramente na capital. Em meados do ano, o número de internações no Hospital de Isolamento São Sebastião chegava a 1.761. Para enfrentar a epidemia, em 29 de junho de 1904, a Comissão de Saúde Pública do Senado apresentou ao Congresso projeto de lei reinstaurando a obrigatoriedade da vacinação, o único meio profilático real contra a varíola, em todo o território nacional. Figuravam no projeto cláusulas draconianas que incluíam multas aos refratários e a exigência do atestado de vacinação para matrículas nas escolas, empregos públicos, casamentos, viagens etc.