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Facetas da (não) vontade na Filosofia e na Psicopatologia

Facetas da (não) vontade na Filosofia e na Psicopatologia. Mauro Aranha de Lima Conselho Estadual de Políticas sobre drogas (CONED), Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania)  Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP). ARISTÓTELES O desejo e a vontade

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Facetas da (não) vontade na Filosofia e na Psicopatologia

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  1. Facetas da (não) vontade na Filosofia e na Psicopatologia Mauro Aranha de Lima Conselho Estadual de Políticas sobre drogas (CONED), Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania)  Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP)

  2. ARISTÓTELES • O desejo e a vontade • De Anima - 433 a10 • “O seguinte fato apresenta-se de modo bem evidente: existem dois princípios relativos ao movimento local [ação] – o desejo e o intelecto – na condição de se considerar a imaginação como uma espécie de intelecção. • Incontinência e intemperança • Apetição sensível = desejo • Apetição racional = vontade [volição]-----agente moral

  3. A vontade e a decisão. A acrasia. • Ética a Nicômaco - Livro VII – 1151a • “dos homens incontinentes [acrásicos], os que temporariamente perdem o domínio próprio são melhores do que os que possuem o princípio racional mas não se atêm a ele, visto que os segundos são derrotados por uma paixão mais fraca e não agem sem prévia deliberação, como os outros” • Acrasia--- epithimia (thúmos) [apetição sensível, pré-discernida, anidéica, não nomeada, não proposicional---pulsão], irredutível (para a Fenomenologia), alexitímica (para Sifneos), sem volição, sem as angústias e cogitações antecipativas dos resultados da ação, anterior à deliberação/decisão (proairesis) e à razão prática ou razão prudencial (phronesis) = anterior à Ética, ao sujeito ético kantiano (anterior à liberdade como autonomia ou como tributária da capacidade de razão) = inimputável.

  4. Kenny, A. • La metafísica de la mente, La voluntad, p.72 • A volição como ação intencional ou o atuar por razões • “La diferencia entre eldeseo y lavoliciónes que lavoliciónentrañalaaplicación de conceptos que necesitandellenguage para suexpresión, mientras que eldeseorequiere solo laaplicación de conceptos más simples y rudimentarios, que pudemmanifestarse mediante uncomportamiento no lingüístico. El tipo de conducta que expresaeldeseoeslaacción voluntaria; El tipo de conducta que de manera paradigmática expresalavolicióneslaacción intencional” • No animal = ação voluntária = pode-se pensar que...“ Hay um hueso enterrado bajoel arbusto” • No homem = ação intencional = pode-se pensar que se está pensando que... “Estoy pensando que hayunhueso enterrado bajoel arbusto” • Ação intencional como passível de responsabilidade = agência---imputação

  5. A clínica da (não) vontade • Síndrome de Kluver-Bucy (hipersexualidade, hiperfagia e hipersonolência) (lesão frontal) • Estado crepuscular epiléptico • Ecolalia/ecopraxia • Obediência automática • Ambivalência volitiva/ambitendência • Estado dissociativo histérico • Abulia • Fobias de impulsão (fobias anancásticas) • Acting out (ganho primário e ganho secundário) • Síndrome de Ganser • Tiques • Compulsões primárias • Compulsões secundárias a pensamentos obsessivos (egodistônicos) • Anorexia nervosa/bulimia • “Transtornos do impulso” (parafilias, drogadições, jogo patológico, bingeeatingdisorder)

  6. HACKER, P. M.S. • Natureza humana, Cap. 5 (Agência), pp. 156-60 • A vontade é uma palavra • (...) querer não é algo que alguém faz, mas algo que acontece a alguém (...) • (...) no relato volitivo da ação [pressupõe-se que] todo movimento voluntário humano constituindo uma ação seja precedido por um ato ou ocorrência do querer. Mas não há razão empírica para supor que isso seja verdade. (exs. Espirro, tossir por “cócegas” nas vias respiratórias, piscar ante um cisco na conjuntiva)

  7. A equivocidade da palavra querer • Querer: nos atos omissivos (negligência). Dever-se-ia ter quisto e não se quis, ou quis-se e não se fez. • Querer: nos atos comissivos (imprudência). Fez-se sem o discernimento das possíveis conseqüências, ou em discernindo-as não se modulou a ação para evitá-las. • “Vontade”: continuum entre não-vontade e vontade

  8. O clínico: a vontade de precisão e a suportabilidade ante a ameaça da imprecisão • O recurso epistemológico, ontológico e ético ao coerentismo (Davidson), e à identidade narrativa (Ricoeur) • A partir da hermenêutica do ser (tal como nas jurisprudências, caso a caso) e da poiéticado ser, como ente em movimento, mediante superposições interativas de mesmidade e ipseidade

  9. A decisão do clínico: movido pela vontade de cuidar (remissão do sofrimento e facilitação do desenvolvimento do outro), dispor-se ao outro, com outros, referenciado pela razão teórica (científica) e experiência clínica (razão prática), dispor-se à escolha competente e singular do outro, minimizando-lhe os riscos e a circundantes vulneráveis do outro, e tendo por horizonte a autonomia, a completude do outro (areté), o outro feliz (eudaimon). FIM. aranha@cremesp.org.br

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