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O desenvolvimento em risco- transtornos autísticos e intervenção psicanalítica. Vera Regina J.R.M.Fonseca Psicanalista- Psiquiatra A nalista Didata da SBPSP Atual diretora do Instituto Durval Marcondes SBPSP. Desenvolvimento normal. Pré-concepção do objeto – localização e união
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O desenvolvimento em risco- transtornos autísticos e intervenção psicanalítica Vera Regina J.R.M.Fonseca Psicanalista- Psiquiatra Analista Didata da SBPSP Atual diretora do Instituto Durval Marcondes SBPSP Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Desenvolvimento normal • Pré-concepção do objeto – localização e união • Pré-concepção de perigo – afastamento e ruptura Negociação entre estas duas possibilidades - • Sensorialidade [somos um]→ + atitude dialógica[“estamos” juntos através do ritmo] + atenção compartilhada [olhamos juntos para o mesmo ponto] Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Desde o período intra-uterino a experiência humana é caracterizada por uma constante dialética entre estar unido/estar separado, entre continuidade e ruptura. O batimento cardíaco materno fornece a experiência de continuidade para o feto, que se contrapõe à voz materna, sujeita ao ritmo presença/ausência e inflexões, Maiello (2001) Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS NA RELAÇÃO SENSORIALIDADE COMO BASE DA EXPERIÊNCIA SUBJETIVA A sensorialidade é parte da experiência de si próprio em relação com alguém, no contato de superfícies, criando um limite para o corpo (Ogden, 1989) Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Tato=sentido de continuidade, base das experiências mais precoces de reciprocidade → origem na vida pré-natal [bebê envolvido pelo liquido amniótico e pelas paredes uterinas; Gaddinni, 1993]. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
EXPERIÊNCIAS FACE-A-FACE NA RELAÇÃO LEVANDO A... Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
EXPERIÊNCIAS DIALÓGICAS NA RELAÇÃO Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Relação face-a-face → marcação das negociações self-outro, sustentadualidade. Sensorialidade →sustenta as experiências de união. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
A RELAÇÃO FACE A FACE: NA ARENA DIALÓGICA O caráter dialógico da interação sedimenta a experiência de dois seres diferentes, mas unidos pela comunicação e pelo compartilhamento de afetos. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
NEGOCIAÇÕES SELF-OUTRO SINTONIA SELF=OUTRO RUPTURA- SELF/OUTRO RECUPERAÇÃO- SELF COM OUTRO Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
ATENÇÃO COMPARTILHADA Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Self com noção de si, de outro e de um terceiro Self queguardalembranças e adquire um senso de suaprópriahistória. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
O que caracteriza o funcionamento autístico para a psicanálise? Incapacidade de entrar no formato dialógico/relacional + Hipertrofia da sensorialidade, como manobra protetora, em detrimento da busca da relação com as outras pessoas Mutilação corporal→ angústia de aniquilamento. Percepção traumática da separação corporal da matriz do self [o corpo da mãe]. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Diferente das ansiedades persecutorias dos estados psicóticos, a ansiedade da criança autística seria existencial (Tustin,1990, Rhode, 2012), tendendo a ser vivenciada corporalmente, como: • Cair sem fim(Winnicott,1949) • Esparramar-se, principalmente ao se mover no espaço(Bick 1968, 1986) • Perder partes do corpo – especialmente da boca(Winnicott 1963, Tustin 1972, 1981, 1986, 1990),ou um lado do corpo(Tustin 1981, Haag 1985)e pernas(Haag 1991, Rhode 2004); • Liquefazer-se, evaporar, queimar e congelar (Tustin 1981, 1986). Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Consequências • Déficit no senso de self …com um interior [bidimensionalidade] • Dificuldade de internalização, substituída por ”anexação”; adesão. • Manutenção da ligação sensorial/ adesiva/ bidimensional/ semprepresente Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
DESACOPLAMENTO SENSAÇÃO/EMOÇÃO RELACIONAL fusão sincronia self=outro separação rupturas self≠outro • Hipersensorialidade - [Hiper-motricidade] • Continuidade ⏎ • + Abolição Do Ritmo • Evitação Da Percepção Da Alteridade • Evitação Da Emoção Relacional * traumas *incompetências inatas ↓ Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Fatores que propiciam o desacoplamento: • Carências na relação face a face. • Excesso de estimulações não humanas. • Prejuízos nos mecanismos inatos de busca/reconhecimento do objeto humano / falha na formação de estrutura interacional [e da relação com objetos internos]. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
O que devemos rastrear desde o inicio? • Hiper-sensorialidade • Hiper-motricidade • Hipodialogismo + déficit de comunicação. • Déficit de atenção compartilhada • Déficit de função simbólica • Rituais/ obj. aut./ formas autísticas Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Matias – 7 anos Matias era o primeiro filho de uma prole de três. Era um bebê extremamente grande e chorava por longos períodos; quando tinha dois meses, a mãe teve que voltar a trabalhar, suspendendo a amamentação. Relatou ter tido depressão puerperal, atribuindo a si uma constante tendência depressiva. os pais o descreviam como hiperativo. Com dois anos, ainda não falava; quando contrariado, batia a cabeça na parede, a ponto de causar hematomas. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Na primeira observação, sorria constantemente. Sua fala era sem modulação, como a de um robô. Era um menino grande para a idade e seu rosto lembrava uma máscara japonesa. Falava o tempo todo (“Eu falo com as paredes; eu não gosto de dentes, eu vou arrancar todos os meus; dentes são para morder...”), fazendo inúmeras perguntas a meu respeito (por exemplo: “O que você comeu hoje? Você almoçou aqui?”). Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Desenhou algo, dizendo que era uma casa, que a dele tinha desmoronado e estava no lixo, e que sua mãe ia comprar uma nova. Então, a meu pedido, desenha uma figura humana, que ele diz ser seu pai. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
A tentativa de mandar em mim era uma das características mais salientes de seu comportamento. Perguntava: - “Por que você veio com esta roupa hoje? Está feio. Você precisa cortar o cabelo”. Eu tinha que ficar sentada e não podia acompanhá-lo até a porta quando ele ia embora; desfazia tudo que eu fizesse. Ao entrar se jogava em meu colo, apertando seu nariz contra o meu, passando seu lápis sobre minha pele, querendo me lamber ou morder, pisando em meu pé e sentando-se em meu colo. “Pintava” minhas unhas de vermelho, tentando desfazer meu penteado e refazê-lo a seu modo (eu não podia usar rabo de cavalo). Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Por vezes ele me chamava de “Maria mole”, e quando eu não fazia suas vontades, ou vinha com uma roupa de que ele não gostasse, eu era “Vera-jacu”. Brincava de um modo caótico com cola, massinha e água, o que incluía muitas vezes uma intensa aproximação física, ou ignorava-me completamente, irradiando de modo ritualístico um programa televisivo, dirigindo-se às paredes. Durante várias sessões ele se sentava em meu colo e contava todos os segundos em voz alta, como que para controlar o tempo em que eu estava à sua mercê. Quando eu interrompia tais atividades e fazia comentários sobre a função das mesmas, ele ficava agressivo ou se retraía completamente. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Vídeo de Lucas- 6 meses O bebê está sentado em seu berço; olha fixamente para as mãos, girando-as em várias direções. Abre-as e as fecha, volta a girar, e o filme prossegue por mais de 40 segundos desta forma. Não se ouve som algum, seja emitido pelo bebê, seja por quem maneja a filmadora. A sensorialidade era absorvente neste bebê, mas também a oferta de diálogos era escassa. Desenvolvimento autístico. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Vídeo de Daniel- 15 meses O menino, ainda trôpego e inseguro nas pernas, está batendo na porta. Às suas costas, a mãe, com a filmadora, o chama: ele olha, sorri, e se dirige a ela. No caminho, encontra uma fonte de pedra, de sua altura. Debruça-se sobre a mesma, deixando a água correr em suas mãos, batendo com as mesmas rapidamente, com movimentos semelhantes aos de um felino brincado. A mãe o chama novamente, mas ele não atende mais, absorvido que está, e por longo tempo, nesta atividade. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
CONCLUSÕES • Necessidade de seguir a direção da sensorialidade da criança E • De sua capacidade de entrar em uma interação dialógica E • Da combinação entre as duas modalidades Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Nem todas as crianças em risco evitam o olhar e as pessoas • Nem todas apresentam hiper-sensorialidade [e algumas crianças não autísticas podem apresentar] • Mas a possibilidade de entrar em um formato dialógico é condição para não estar no espectro autístico Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Uma grande parte dos casos parece surgir de uma suscetibilidade especial que se combina com um ambiente que não teve possibilidade de neutralizá-la. Ou seja, uma cadeia de eventos começando com alguma dificuldade social ou mesmo secundária a desarmonias muito precoces nas interações e que, não sendo compensado a tempo pelo ambiente, teria um peso cada vez maior no desenvolvimento. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19
Este conjunto de déficits leva a criança a organizar sua própria experiência em torno de outros eixos que privilegiem a previsibilidade e a sensorialidadeda experiência em detrimento do humano. O diagnóstico e intervenção precoces impediriam a cristalização das manobras defensivas, possibilitando à criança melhor proveito do que o ambiente lhe oferece. Dra. Vera Regina Fonseca 30/3/19