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A Lírica Camoniana

A Lírica Camoniana. Capa da primeira edição das Rimas de Camões, 1595. Manifestam-se no lirismo camoniano dois tipos de estilo:

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A Lírica Camoniana

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Presentation Transcript


  1. A Lírica Camoniana

  2. Capa da primeira edição das Rimas de Camões, 1595

  3. Manifestam-se no lirismo camoniano dois tipos de estilo: • o estilo engenhoso, na tradição do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, presente em quase todas as redondilhas e em alguns sonetos, que se fundamenta na coisificação das palavras e das realidades sensíveis e manifesta subtileza e imaginação; • o estilo clássico em que as palavras pretendem captar uma realidade externa ou interna, com existência independente das mesmas. • A temática é variada, podendo afirmar-se que gravita à volta de três eixos: o galanteio amoroso, mais ou menos circunstancial, os temas psicológicos quase sempre analisando a paixão amorosa e os temas filosóficos, como a desarmonia entre o Merecimento e o Destino, o direito à felicidade e a impossibilidade de a alcançar, a justiça aparente e a justiça transcendente. • São temas comuns aos bons escritores renascentistas, mas o tom em que Camões os trata é pessoal, nele transparecendo a aliança entre a meditação e a experiência.

  4. Delimitação Cronológica A lírica camoniana insere-se na chamada época clássica da literatura portuguesa (1526, regresso de Sá de Miranda da sua viagem a Itália – inícios do século XIX).

  5. CONTEXTO POLÍTICO-SOCIAL Dentro do contexto histórico clássico, devem salientar-se alguns aspetos: • O período do Renascimento, que introduz a literatura clássica na Europa, é marcado por alterações políticas e sociais muito significativas. • De forma geral, a sociedade agrária feudal foi substituída, progressivamente, por uma sociedade mercantil moderna, substituindo-se a burguesia à nobreza como grupo impulsionador da atividade económica. • Assistiu-se a uma série de progressos técnicos e científicos (invenção da Imprensa, por exemplo). O conhecimento científico foi impulsionado pelos Descobrimentos portugueses e espanhóis, pelo contacto com outras culturas. • Os novos conhecimentos estendiam a curiosidade e a intervenção do Homem para fora dos limites transmitidos pela cultura escolástica medieval e pela tradição religiosa.

  6. Renascimento

  7. O século XVI representou uma grande viragem no pensamento humano. • Há três conceitos que caracterizam esta mudança: • Humanismo • Renascimento • Classicismo

  8. HUMANISMO Até ao século XVI, a Humanidade vivia na chamada Idade Média, regulada pelas ideias do teocentrismo, quer dizer, Deus era o centro do pensamento humano. Surge, então, o Humanismo que, como o próprio nome indica, coloca o Homem no centro das atenções, dando lugar ao antropocentrismo, que se opõe ao teocentrismo. É aqui que reside a nova afirmação do pensamento humano, pois o Humanismo acredita nas capacidades do Homem, procurando conhecer cada vez mais e melhor o próprio Homem e tudo o que o rodeia. Não se trata, no entanto, de uma rejeição de Deus, mas sim de uma valorização do próprio Homem, reabilitando o seu conhecimento, as suas experiências, as suas capacidades, o seu espírito. Para que a dignificação do Homem pudesse ser feita, era necessário incutir na Humanidade valores diferentes dos que se viviam durante a Idade Média e que a conduzissem a um caminho mais elevado, mais perfeito.

  9. RENASCIMENTO O termo Renascimento designa o período em que surgiu uma nova conceção de Homem e de Natureza, assim como um renovado entusiasmo pela cultura clássica. Caracteriza-se por um conjunto de ideias que o Homem dos séculos XV e XVI transportou da cultura greco-latina para as adaptar aos seus dias. O Homem procurou reabilitar a sua condição, olhando para os valores adoptados na Antiguidade Clássica, vendo-os como um bom exemplo para viver e aplicar à sua sociedade. Como sempre acontece, a nova forma de pensar refletiu-se em todas as artes, como a pintura ou a escultura e a literatura não ficou indiferente a estes conceitos. Por isso, é que alguns escritores humanistas procuraram nestes séculos voltar a adotar formas da literatura da Antiguidade. David de Michelangelo (1504)

  10. CLASSICISMO Tendência estética associada ao Humanismo e ao Renascimento, que considera os valores clássicos greco-latinos, nas artes plásticas e na literatura, como modelos a imitar; preconiza a noção das proporções, o gosto das composições equilibradas, a procura da harmonia das formas e a idealização da realidade, na literatura como na música, na pintura como na arquitetura.

  11. Influências na obra de Camões

  12. INFLUÊNCIA TRADICIONAL VS INFLUÊNCIA CLÁSSICA OU RENASCENTISTA • Em Luís de Camões, a tradição do lirismo peninsular coexistiu com a estética clássica renascentista e o maneirismo que marcaram o seu tempo. Juntamente com a poesia de sabor trovadoresco, surge uma poesia cujos modelos formais e temática ("medida nova") revelam a cultura humanística e clássica do autor, que soube encontrar em Platão, Petrarca ou Dante um mentor ou um mestre para o caminho que trilhou e explorou com sabedoria, com entusiasmo e com a paixão do seu temperamento. • Na poesia camoniana são, então, bem visíveis duas influências / correntes distintas: • A influência / corrente tradicional • A influência / corrente clássica

  13. CORRENTE TRADICIONAL Na poesia de influência tradicional, é evidente o aproveitamento da temática da poesia trovadoresca e das formas palacianas. Temas • Saudade, sofrimento amoroso, a beleza da mulher, o contacto com a natureza, a donzela que vai à fonte, o ambiente Pastoril, o ambiente • O ambiente cortesão com as suas "cousas de folgar" e as suas futilidades, o humor Verso • Medida velha uso do verso de 5 sílabas métricas (redondilha menor) e de 7 (redondilha maior). Variedade estrófica • As formas poéticas mais frequentes são as da poesia palaciana do século anterior: os vilancetes, as cantigas, as esparsas, as endechas e as trovas.

  14. CORRENTE CLÁSSICA OU RENASCENTISTA • Na poesia com influência clássica e renascentista, fruto das novas ideias trazidas, de Itália, por Sá de Miranda e António Ferreira, verifica-se um alargamento dos temas e a colocação do ser humano no centro de todas as preocupações. • Temas • O Amor platónico, a saudade, o destino, a beleza suprema, a mudança, o desconcerto do mundo, o elogio dos heróis, os ensinamentos morais, sociais e filosóficos, a mulher vista à luz do petrarquismo e do dantismo, a sensualidade, a experiência da vida. • A nível formal: • Verso • Medida nova - o verso é o da medida nova, com o uso do verso decassílabo heróico (de acentuação nas 6.ª e 10.ª sílabas) ou sáfico (nas 4.ª, 8.ª e 10.ª), ou ainda, com o uso (menos frequente) do verso hexassílabo. • Variedade estrófica • As formas poéticas mais frequentes são o soneto, a canção, a sextina, a écloga, a elegia e a ode. • Dolcestilnuovo (Doce estilo novo)

  15. PETRARQUISMO • O Petrarquismo caracteriza-se por uma retoma da temática amorosa, dos recursos estilísticos e do vocabulário utilizados por Petrarca. • A poética petrarquista influencia a Europa, transformando-se num exemplo de perfeição formal e da nova sensibilidade poética.

  16. Esquema Síntese

  17. Em Síntese: • Como poeta de transição, Camões revela a influência tradicional e a influência clássica na sua obra poética. A influência tradicional está presente nos temas e nas formas poéticas de cariz peninsular. Esta influência é também chamada de Medida Velha. • A influência clássica revela-se na importação dos temas e formas poéticas que se cultivavam em Itália. Esta influência é, também, denominada Medida Nova.

  18. Os Temas da Lírica Camoniana

  19. TEMÁTICAS O Amor O Retrato da Amada A Saudade A Natureza A Mudança O Desconcerto do Mundo ...

  20. O Amor • Amor lei do universo, princípio da existência e força espiritual; • Contradições do Amor; • Temperamento ardente e apaixonado do poeta; • Transformação do amador na coisa amada; • Amor platónico: sentimento de adoração do objeto amado, que leva à contemplação; amor espiritualizado; • Amor físico: sentimento que deseja a posse física do objeto amado; • A poesia amorosa camoniana é dramática, dilacerada em contradições, entre o amor físico/sensual e o amor platónico/puro/espiritual.

  21. A Mulher • A mulher petrarquista: ideal de beleza - cabelos de ouro, pele branca, sorriso longínquo, gesto suave, pensar maduro, alegria saudosa, algo de incorpóreo. É uma espécie de deusa que aparece em visões ao poeta e contamina a natureza, embelezando-a. O protótipo da mulher petrarquista é Laura, a musa inspiradora de • Petrarca. • • A mulher carnal: contornos físicos bem definidos e atraentes que despertam o desejo e a volúpia dos sentidos. É Vénus. • A poesia de Camões é inovadora em relação aos poetas do Renascimento italiano, pela representação da sensualidade da mulher, simbolizada por Vénus.

  22. A Saudade • a saudade da mulher petrarquista (inacessível); • a saudade da mulher carnal que não corresponde ou que morreu; • a saudade da pátria ausente: o exílio; • a saudade de Jerusalém: a terra é lugar de exílio, o homem sente-se exilado do Paraíso; • O sentimento doloroso inspira o poeta a escrever.

  23. A Natureza • Associada à poesia amorosa. • A Natureza pode ser confidente, cenário ou estar personificada. • Pode ser harmoniosa, serena, luminosa – locusamoenus. • personificação da natureza • meio de engrandecimento das graças da amada • participação da natureza nos estados de espírito do poeta

  24. A Mudança • • a mudança reversível da Natureza /a mudança irreversível do homem; • o passado que já não volta e o presente do poeta; • • a mudança da própria mudança: mudança imprevista; • • a mudança como algo negativo (pessimismo e morte).

  25. O Desconcerto do Mundo . as injustiças sociais constatadas pelo poeta; . os cataclismos naturais e desconcertantes; . a morte sempre no horizonte e sem explicações lógicas; . o fracasso do sonho e dos projectos. Soluções: - a prática da justiça social - desistência da ambição descontrolada - a áurea mediania - o estudo

  26. Vida, Morte e Deus • • as injustiças sociais , constatadas pelo poeta; • • os cataclismos naturais e desconcertantes: • morte sempre no horizonte e sem explicações lógicas; • o fracasso dos sonhos e dos projetos; • o desconcerto do mundo

  27. O Destino • responsável pela infelicidade do poeta, causa de tormentos. “ Fatum” (fado, fatal, fatalidade)

  28. Versificação

  29. Amor é fogo que arde sem se ver;É ferida que dói e não se sente;É um contentamento descontente;É dor que desatina sem doer;É um não querer mais que bem querer;É solitário andar por entre a gente;É nunca contentar-se de contente;É cuidar que se ganha em se perder;É querer estar preso por vontade;É servir a quem vence, o vencedor;É ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favorNos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor? Este poema é um soneto, ou seja, uma forma fixa de composição poética. É composto de duas estrofes de quatro versos (quartetos ou quadras) e duas estrofes de três versos (tercetos). Análise Formal

  30. Análise Formal O esquema rimático (ou de rimas) mostra com que regularidade as rimas se distribuem ao longo do poema. O esquema é: ABBA //ABBA//CDC// DCD. A classificação das rimas: A rima é emparelhada (versos 2 e 3; 6 e 7) e interpolada (versos 1, 4, 5 e 8) nas quadras. Nos tercetos a rima é cruzada.

  31. Análise Formal Classificação da rima riqueza / pobreza Rima Pobre – as palavras que rimam pertencem à mesma classe gramatical. Rima Rica – as palavras que rimam pertencem a classes gramaticais diferentes. Classificação da rima Toante / Consoante Rima Consoante – neste soneto as rimas são todas consoantes. (a correspondência de sons é feita com vogais e consoantes).

  32. Análise Formal Métrica Métrica é a medida dos versos que compõem o poema. Para medir o verso é preciso fazer a escansão (acto de escandir, ou seja, fazer a contagem das sílabas poéticas. Como fazer a escansão: 1. Verificar qual é a sílaba tónica da última palavra do verso e desprezar as demais. Quando uma palavra terminar com vogal e a seguinte também se iniciar com vogal, é possível que elas se unam, mas só nas seguintes condições: quando as duas vogais forem iguais (crase): fo / ssees / pe / ci / al ou quando as duas vogais forem diferentes e átonas (elisão): fo/ ssea/ ssim

  33. O verso tem 10 sílabas métrica VERSO DECASSILÁBICO Análise Formal

  34. O verso tem 10 sílabas métrica VERSO DECASSILÁBICO Análise Formal

  35. Fim o

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