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CASO CLÍNICO: FEBRE REUMÁTICA. Apresentação:Aline Nunes Batista Amanda Almeida Rocha Coordenação:Sueli R. Falcão www.paulomargotto.com.br Brasília, 18 de setembro de 2012.
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CASO CLÍNICO: FEBRE REUMÁTICA Apresentação:Aline Nunes Batista Amanda Almeida Rocha Coordenação:Sueli R. Falcão www.paulomargotto.com.br Brasília, 18 de setembro de 2012
GRM, 8 anos, peso=29kg, natural do Gama – DF, procedente do Valparaíso – DF, Informante: mãe.
Há 3 meses criança iniciou com quadro de precordialgia principalmente após esforço físico. Relato de que a criança ficava cansada após brincar e chorava por causa da dor, caracterizada como esporádica e mal definida. • Esse quadro motivou a busca por atendimento médico no início do mês de Agosto, em Valparaíso, onde foi evidenciado um sopro sistólico em foco mitral. Sem outras alterações. Encaminhado para consulta com Cardiologista.
Antecedentes • FISIOLÓGICOS - Nascido de parto cesariano (iteratividade). Mãe não tem o cartão da criança e não sabe informações do nascimento. Relata gestação e parto sem intercorrências. • FAMILIARES- Mãe: 28 anos: hígida- Pai: 28 anos: hígido- Irmãos: 14, 13 e 10 anos: hígidos.
Antecedentes • PATOLÓGICOS- apresenta amigdalite com frequência e faz tratamento com amoxicilina. - Refere que o cartão de vacina não está em dia- Nega internações anteriores, uso de medicações e alergias.
Reside em casa de alvenaria, com rua asfaltada, saneamento básico incompleto. • Alimentação: Antes comia muita besteira e não gostava de fruta. Agora consegue comer melhor, mais frutas. • Sono bom a noite • Fumante passivo - pai Fumante • Esta na terceira série, e com bom rendimento escolar.
Evolução • Em 09/08 foi consultado na Cardiologia, onde realizou um ecocardiograma, e pela suspeita diagnóstica orientaram penicilina benzatina de 21/21 dias • 1ª dose no dia 12/08.
Evolução • Dois dias após benzetacil, iniciou quadro de edema em membros inferiores (joelho e tornozelo) e dor em região poplítea, que prejudicava a deambulação, associado a febre noturna diária, não aferida. Por esse novo quadro procurou atendimento médico nesta unidade no dia 20/08. • Mãe relata episódio semelhante há 7 meses, que evoluiu com melhora espontânea
BEG, eupneico, corado, ativo e reativo. • ACV: RCR, 2T, sopro sistólico em foco mitral (2+/6+), com irradiação axilar. B2 hiperfonética. FC: 120bpm • AR: MVAU, sem RA, sem desconforto respiratório, Sat=98% em aa, FR=20irpm • Ab: plano, flácido, indolor a palpação, sem VMG • Ext: bem perfundidas, com edema de ++/4+ até tornozelos. • Dor, edema e calor em joelhos, tornozelos e cotovelos • Orofaringe: nada digno de nota.
Exames Complementares • HEMOGRAMA (20/08) • Hc: 4,0 /HGB: 11,1 /HCT: 32% • Leucócitos: 6.660 (Neutrófilos: 63%; Linfócitos: 30%; Monócitos: 4%; Eosinófilos: 3%; Bastões: 3%) • Plaquetas: 303.000 • VHS (20/08)= 51 • PCR (20/08) = 7,2
Dieta Oral Livre • AAS: 100mg/kg/dia • Prednisolona 1mg/kg/dia • Omeprazol • Dipirona SOS • Internação
Evolução – Ala A • 1º DIH • Sem queixas de artrite • Pico febril de 38º • Sem edema. Articulações sem alterações • Sopro sistólico em foco mitral. FC=90 • Suspenso prednisolona para realizar albendazol por 5 dias • 2º DIH • FC=89 • Edema de ++/2+ até tornozelos. Joelhos edemaciados, sem calor e rubor, movimenta sem dor.
Evolução – Ala A • 3º ao 7º DIH • Afebril • Sem artralgias • Extremidades sem edema • Articulações sem edema ou eritema • FC=90 a 100bpm • 8º DIH • Relato de edema vespertino, não observado no exame • “Caroços” em região occiptal de consistência pétrea • 10º a 13º DIH • Calor e edema em punhos e mãos com dor à mobilização • 12º DIH: novo nódulo em cotovelo • 13º DIH: trocado AAS por Ibuprofeno • 14º DIH ao 16º • Persistência do edema não depressível, mas sem dor ou calor local. • Involução do nódulo subcutâneo em cotovelo
Evolução – Ala A • Durante os 16 dias de internação hospitalar, manteve boa aceitação da dieta e manteve eliminações fisiológicas preservadas.
Exames Complementares • HEMOGRAMA (03/09) • Hc: 4,59 /HGB: 12,2 /HTC: 36,2% • Leuco: 5.000 (Neutr: 55%; Linf: 38%; Mon: 3%; Eos: 4%; Bast: 0%) • Plaquetas: 303.000 • VHS • (20/08)= 51 • (03/09)= 55 • PCR • (20/08) = 7,2 • (03/09) = 5,52 • Anti Estreptolisina O • (23/08): 1.020 • (03/09): 772 • PPD: não reator
Porque foi iniciado benzetacil pela cardiologista? Houve critério para isso? • O que foi pensado no momento da admissão? • Após evolução do quadro, qual o diagnóstico final? • DISCUSSÃO
É uma complicação não supurativas da faringoamigdalite causada por resposta imune tardia ao estreptococo beta-hemolítico do grupo A em populações geneticamente predispostas; Doença inflamatória multissistêmica: acomete articulações, coração, SNC, pele e subcutâneo; Geralmente inicia com 10 a 14 dias após a infecção;
Preferencialmente indivíduos de 5-18 anos • Baixa condição socioeconômica • 80% das faringoamigdalites são virais, 15-20% são por EBGA; • Principal causa de cardiopatia adquirida em crianças e adultos jovens • Principal causa de cirurgias cardíacas na rede pública • Piodermites podem causar GNDA, mas não FR
Febre alta, prostação, poliartrite, cansaço, taquicardia, sopros novos, pericardite, IC, coréia de Sydenham, dor abdominal...
Manifestação mais comum: 75% dos casos, menos específica; Poliartrite aguda de grandes articulações, dolorosa, migratória, fugaz e autolimitada; Dura 2 a 3 dias em cada articulação e menos de um mês no total, regredindo sem sequelas;
Presente em 40-70% dos casos; • Mais grave e única que pode deixar sequelas; • Endocardite: gera as sequelas valvares; • Lesão recente: insuficiência. Pode regredir com o tempo. • Lesão crônica: estenose. • Miocardite; Pericardite; Pancardite; • Triar com ECG e Radiografia de tórax; • Avaliar com ecocardiograma todos os pacientes 4 semanas após primeiro surto; • Observar novos sopros ou agravamento de lesão prévia;
Subclínica:apenas regurgitação mitral e/ou aórtica leve de característica não fisiológica; demais exames cardiológicos normais; • Cardite leve: presença de taquicardia desproporcional à febre, abafamento da primeira bulha, sopro sistólico mitral, prolongamento do intervalo PR; regurgitações leves ou leves/moderadas; • Cardite moderada: taquicardiapersistente, regurgitação moderada, sopros, aumento da área cardíaca, congestão pulmonar, extrassístoles, alterações de ST-T, baixa voltagem, prolongamento dos intervalos do PR e QTc... • Cardite grave: sinais IC, arritmias, sopros e regurgitação importantes, cardiomegalia, sobrecarga esquerda, congestão pulmonar...
Manifestação tardia: até 7 meses após a infecção • Início insidioso, geralmente com labilidade emocional e fraqueza muscular; • Movimentos rápidos, involuntários e incoordenados, que desaparecem durante o sono e são acentuados em situações de estresse e esforço; • Predomina no sexo feminino e é rara após os 20 anos; prevalência varia de 5%-36%; • Dura, em média, de dois a três meses, mas pode prolongar-se por mais de um ano;
Em menos de 3% dos pacientes; Caracteriza-se por eritema com bordas nítidas, centro claro, contornos arredondados ou irregulares; Lesões múltiplas, indolores, não pruriginosas, podendo haver fusão; Aparecem com exposição ao sol; São fugazes, podendo durar minutos ou horas, e mudam frequentemente de forma;
Presentes em 2%-5% dos pacientes e estão fortemente associados à presença de cardite grave; • São múltiplos, arredondados, de 0,5-2 cm, firmes, móveis, indolores e sem características inflamatórias. • Localizam-se sobre proeminências e tendões extensores: cotovelos, punhos, joelhos, tornozelos, região occipital, tendão de Aquiles e coluna vertebral.
Cuidado! Outras doenças podem fechar critério de FR! Excluir outros diagnósticos!
*Artrite + 2 menores = febre reumática provável = profilaxia secundária = avaliações cardiológicas † Endocardite infecciosa deve ser excluída ‡ alguns pacientes com recidivas não preenchem esses critérios § cardiopatia congênita deve ser descartada
Documentar infecção:cultura de orofaringe, teste rápido para EBGA e elevação dos títulos de ASLO; PCR, VHS, alfa-1-glicoproteína ácida, alfa-2-globulina; Radiografia de tórax, ECG; Ecocardiograma; Cintilografia cardíaca com gálio-67 (cardite aguda)
Teste rápido para EBGA: faringite aguda; • Evitar tratar faringite viral e não deixar passar a bacteriana pelo estrepto do grupo A. Até 2/3 das condutas na faringite aguda são equivocadas!!! • ASLO: eleva a partir do 7º dia de infecção e dura até 1 ano. Pico entre 4-6 semanas. • VHS: eleva nas primeiras semanas, pouco específica; • PCR: eleva na fase aguda e cai em 2-3 semanas. Mais específica; • Alfa-1-glicoproteína: elevada durante a fase aguda. Boa para monitorar a atividade da FR; • Alfa-2-globulina: precocemente na fase aguda e pode ser utilizada também para o seguimento da atividade da doença.
Profilaxia primária: erradicação do foco • Penicilina, eritromicina ou azitromicina, com níveis séricos por pelo menos 10 dias iniciado em até 9 dias após quadro infeccioso • Artrite: • AAS: 80-100mg/kg/dia em 4 doses até melhora + 60mg/kg/dia para completar 4 semanas • Cardite (moderada a grave): • prednisona, 1-2 mg/Kg/dia, via oral (máx 80mg/dia) de 4-12 semanas; iniciar redução em 2-3 semanas; • IC: diuréticos e restrição hídrica
Coréia de Sydenham • Haloperidol: 1mg/dia, aumentando 0,5mg/3dias até dose máxima de 5mg/dia; redução gradual após 3 semanas sem sintomas; • Profilaxia secundária: • Penicilina benzatina a cada 21 dias; • Sulfadiazina 1x/dia • Profilaxia de endocardite bacteriana antes de procedimentos: • Atençãopara as mudanças: não é mais recomendado profilaxia para procedimentos de moderado risco! Somente de alto risco! O paciente de febre reumática não precisará, só se desenvolver ou possuir lesões de alto risco...
Apenas condições cardíacas associadas a alto riscode endocardite bacteriana: • Prótese de válvula cardíaca; • Endocartide previa; • Algumas cardiopatias congênitas; • Receptores de transplante cardíaco que desenvolvem valvulopatias; • Qual procedimento? • Todos os procedimentos que manipulem tecido gengival ou de região periapical de dente; • Não há mais recomendações de profilaxia para procedimentos em outro sítio (Ex: urogenital, gastrointestinal)!
Diagnósticos: • Cardite reumática leve prévia; • Novo surto de febre reumática; • Recomendações: • Profilaxia secundária de 21/21 dias até os 25 anos e reavaliar; • Acompanhamento cardiológico;
Diretrizes Brasileiras para o Diagnóstico, Tratamento e Prevenção da Febre Reumática. Arq Bras Cardiol 2009; 93(3 supl.4): 1-18 Prevention of infective endocarditis: guidelines from the American Heart Association. J Am Dent Assoc. 2008 Mar;139(3):253.