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Jogos e esportes indígenas: processo de mudanças e identidades. Maria Beatriz Rocha Ferreira Lab. Antropologia Bio-cultural DEAFA-FEF-UNICAMP. Resumo.
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Jogos e esportes indígenas: processo de mudanças e identidades Maria Beatriz Rocha Ferreira Lab. Antropologia Bio-cultural DEAFA-FEF-UNICAMP
Resumo A interseção de teorias e métodos de pesquisas antropológicas, sociológicas e da educação física contribuem para se compreender os processos de mudanças e re-significações dos jogos tradicionais e esportes em sociedades indígenas. Neste trabalho, jogos tradicionais e esportes indígenas são tratados dentro dos processos de transformações que perpassam as organizações sociais, fundamentados pelos eixos teóricos da teoria figuracional de Norbet Elias, a saber: balança de poder, comportamento, emoções, saberes/conhecimento e “habitus”.
Breve histórico • Para melhor compreendermos esses processos introduzimos um breve relato dos elementos históricos dos jogos e esportes em geral.
Jogos tradicionais • Eles se inscrevem no escopo do prazer, da sensibilidade e das emoções e congregam valores que asseguram a identidade de grupos.
Jogos tradicionais • Jogos pertencem ao patrimônio material e imaterial da humanidade. • Criados pelos povos, difundidos através do contato e re-significados com as transformações das civilizações e sociedades. • Faculdade mimética – “imitação” – não como cópia do real, mas “reinterpreta” de acordo com a cultura. Capacidade de criar uma “segunda natureza”. Capacidade de perceber, sentir, transformar em imagens mentais, re-interpretar e re-significar favoreceu o aprendizado, a transmissão e criação de novos jogos.
Jogos e brincadeiras • No passado eram praticados em nível local, com um alto nível de violência permissível pela sociedade da época. • A medida que comportamentos violentos na sociedade foram sendo recriminados, os jogos violentos também foram sendo modificados. Jogo de “futebol” - do tempo medieval ao sec. XIX
Pré-condições para mudanças comportamentais em Norbert Elias • Formação do estado inglês • Conseqüentes processos de civilização vivenciados pelos ingleses, acima de tudo, pela autonomia usufruída pelas classes médias e alta em relação ao Estado. • Neste quadro configuracional inicia-se o processo de institucionalização do jogos tradicionais.
Sociedade centrada no “nós” Cultura local Normas orais, legitimadas pela tradição. Variações regionais de normas Tolerância física, emoção e prazer espontâneos. Identidade Grupal Inseridas nos rituais religiosos e mitos Superação de desafio Adaptado de Dunning (1995) Sociedade centrada no “eu” Nacional e internacional Normas formais e escritas, legitimadas por meios locais e burocráticos. Padronização internacional de tamanho de bola, quadra etc. Menos tolerância física, controle das emoções, emoções “controladas”. Alto nível de individualidade Desassociação dos rituais religiosos e mitos. Superação de desafio com alto nível competitivo Do jogo tradicional ao esporte
Processo de mudanças nós-eu na sociedade • O “nós” era a base da sobrevivência (anterior a revolução industrial). • Identidade nós-eu, como parte integrante do habitus social foi se alterando para uma individualização “eu”. • Sociedades industrializadas têm pouco a ver com o sentido de comunidade nas aldeias.
Mudanças de comportamento Inglaterra 1287 – 1881 Jad MacAdam 1848 - único código de regras Conferência em Cambridge
Jogos Tradicionais Indígenas(definição – Atlas Ed Física e Esporte no Brasil, 2005) Atividades com características lúdicas por onde permeiam os mitos, os valores culturais, e portanto congregam em si o mundo material e imaterial de cada etnia. MBRF, Porto Seguro 2004 Requerem um aprendizado específico de habilidades motoras, estratégias ou chances empregadas com objetivo de preparação do jovem à vida adulta, socialização, cooperação, oposição, condicionamento e/ou preparação do guerreiro.
Processo de mudanças configuracionais • Contato inter-étnico (mesmo antes do colonizador) • Colonização européia – a partir do sec. XVI. • Processo de pacificação • Processo de catequização • Recriminação de rituais onde jogos estavam inseridos • Imigração e Migração • Formação do Estado e conseqüências. • Desmatamento • Perdas das terras • Desaldeamento • Proximidade vida urbana, etc Passam por um processo de processo de individualização
Jogos tradicionais tradicionais – identidade nós • Apesar dos processo de mudanças, as sociedades indígenas guardam (em maior ou menor grau) um percepção do “nós”, do coletivo no habitus social e individual, onde as redes de interdependências são formadas por humanos, animais, vegetais, minerais, água, cosmo, entrelaçados. • Esta compreensão se reflete nos jogos tradicionais e também no esporte.
Jogos tradicionais e esportesmudança de comportamento • A longo prazo, os processos de mudanças no país e mundo foram influenciando mudanças de comportamentos do índio e não-índio. • Provocando gradualmente uma mudança na balança de poder da identidade nós-eu, especialmente nas sociedades industrializadas. • Nas sociedades indígenas, apesar das mudanças sociais, há elementos da cultura tradicional indígena no futebol.
Diferentes processos de mudanças sociais 595 Terras Indígenas 217 Etnias 350 mil indígenas • 180 línguas • Troncos: Tupi e Macro-Jê • Famílias e Isoladas
Configurações e mimesis no esporte • Futebol indígena não é uma “cópia” do futebol indígena, mas um mímesis. • Elementos da cultura tradicional, representações cosmológicas estão presentes na organização dos times: equipes, tomadas por laços familiares, relações do gênero, localização dos campos na aldeia, premiações. • Campo – local inter-étnico, construção de identidades, novas competências, saberes / conhecimento, etc. • Percepção que deve ser melhor compreendida pelos diferente profissionais do esporte.
Jogos tradicionais e esportes indígenas"O importante não é competir, e sim, celebrar" C.J.Terena • Dar oportunidade dos indígenas serem os protagonistas de suas trajetórias. • Poderão ter chances de evitar erros cometidos pelos “não índios” – o da alta competitividade, dos massacre psíquico-físico dos jogadores, e da total perda do sentimento do outro, do sentimento de comunidade nós. MBRocha Ferreira . Ywalapiti, 2004