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Memórias de um sargento de milícias(1854-1855)

Memórias de um sargento de milícias(1854-1855). Profa Soninha. A estética romântica pregava :. Retrato da alta burguesia; Personagens idealizadas; Sentimentalismo exacerbado; Linguagem educada, polida; Maniqueísmo: bem(herói) X mal(vilão)

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Memórias de um sargento de milícias(1854-1855)

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Presentation Transcript


  1. Memórias de um sargento de milícias(1854-1855) Profa Soninha

  2. A estética romântica pregava: • Retrato da alta burguesia; • Personagens idealizadas; • Sentimentalismo exacerbado; • Linguagem educada, polida; • Maniqueísmo: bem(herói) X mal(vilão) • Estereótipos: figuras sem profundidade psicológica, cristalizadas, símbolos de uma classe; • Final feliz.

  3. mas em Memórias... • Retrato da classe média carioca (1ª vez que tal extrato social é mostrado em um romance) • Personagens sem idealização; • Situações ridículas, engraçadas; • Humor, gozação; • Narrador levemente irônico; • Linguagem simples, marcas de oralidade; • Relativização do Maniqueísmo (todos podem escorregar)

  4. O nascimento do herói Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo na vio, não sei fazer o quê , uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia rechonchuda e bonitona. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal-apessoado, e sobretudo era maganão. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão a ssentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu- se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disf arce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o re sto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisade la e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.

  5. Quando saltaram em terra começou a Maria a sentir certos enojos: foram os dois morar juntos: e daí a um mês manifestaram-se claramente os efeitos da pisadela e do beliscão; sete meses depois teve a Maria um filho, formidável menino de qua se três palmos de comprido, gordo e vermelho, cabeludo, esperneador e chorão; o qual, logo depoi s que nasceu, mamou duas horas seguidas sem largar o peito. E este nascimento é certamente de tudo o que temos dito o que mais nos interessa , porque o menino de quem falamos é o herói desta história.

  6. Nada romântico. “O pequeno quando se achou novato em casa do padrinho, portou-se com toda a sisudez e gravidade; apenas porém foi tomando mais familiaridade, começou a pôr as manguinhas de fora. Apesar disto porém captou do padrinho maior afeição, que se foi aumentando de dia em dia, e que em breve chegou ao extremo da amizade cega e apaixonada. Até nas próprias travessuras do menino, as mais das vezes malignas, achava o bom do homem muita graça; não havia para ele em todo o bairro rapazinho mais bonito, e não se fartava de contar à vizinhança tudo o que ele dizia e fazia; à vezes eram verdadeiras ações de menino malcriado, que ele achava cheias de espírito e de viveza; outras eram ditos que denotavam já muita velhacaria para aquela idade, e que ele julgava os mais ingênuos do mundo.” “ Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar sem uma paixãozinha. “ (...)

  7. “Os leitores devem já estar fatigados de histór ias de travessuras de criança; já conhecem suficientemente o que foi o nosso memorando em sua meninice, as esperanças que deu, e o futuro que prometeu. Agora vamos saltar por c ima de alguns anos, e vamos ver realizadas algumas dessas esperanças. Agora começam histórias, se não mais importantes, pelo menos um pouco mais sisudas. Como sempre acontece a quem tem muito onde escolher, o pequeno, a quem o padrinho queria fazer clérigo mandando-o a Coimbra, a quem a madrinha queria fazer artista metendo-o na Conceição, a quem D. Maria queria fazer rábula arranjando-o em algum cartório, e a quem enfim cada conhecido ou amigo queria dar um de stino que julgava mais conveniente às inclinações que nele de scobria, o pequeno, dizemos, tendo tantas coisas boas, escolheu a pior possível: nem foi para Coimbra, nem para a Conceição, nem para cartório algum; não fez nenhuma destas coisas, nem também outra qualquer: constituiu-se um completo vadio, vadio-mestre, vadio-tipo. .”

  8. Era a sobrinha de D. Maria já mu ito desenvolvida, porém que, tendo perdido as graças de menina, ainda não tinha adquirido a beleza de moça: era alta, magra, pálida: andava com o queixo enterrado no peito, trazia as pálpebras sempre baixas, e olhava a furto; tinha os braços finos e compridos; o cabelo, cortado, dava -lhe apenas até o pescoço, e como andava mal penteada e trazia a cabeça sempre baixa, uma grande porção lhe caía sobre a testa e olhos, como uma viseira. Trajava nesse dia um vestido de chita roxa muito comprido, quase sem roda, e de cintura muito curta; tinha ao pescoço um lenço encarnado de Alcobaça. Por mais que o compadre a questionasse, apenas murmurou algumas frases ininteligíveis com voz rouca e sumida. Mal a deixaram livre, desapareceu sem olhar para ninguém. Vendo-a ir-se, Leonardo tornou a rir-se interiormente.

  9. A bulha dos passos cessou sem que ninguém chegasse à sala; os dois levaram algum tempo naquela mesma posição, até que o Leonardo, por um supremo esforço, rompeu o silêncio, e com voz trêmula e em tom o mais sem graça que se possa imaginar perguntou desenxabidamente: – A senhora… sabe… uma coisa? E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola. Luisinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom: – Então… a senhora… sabe ou… não sabe? E tornou a rir-se do mesmo modo. Luisinha conservou-se muda. – A senhora bem sabe… é porque não quer dizer… Nada de resposta. – Se a senhora não ficasse zangada… eu dizia… Silêncio. – Está bom… eu digo sempre… mas a senhora fica ou não fica zangada? Luisinha fez um gesto de quem estava impacientada. – Pois então eu digo… a senhora não sabe… eu… eu lhe quero… muito bem. Luisinha fez-se cor de uma cereja; e fazendo meia volta à direita, foi dando as costas ao Leonardo e caminhando pelo corredor. Era tempo, pois alguém se aproximava.

  10. O segredo que a Maria-Regalada dissera ao ouvido do major no di a em que fora, acompanhada por D. Maria e a comadre, pedir pelo Leonardo, foi a promessa de que, se fo sse servida, cumpriria o gosto do major. Está pois explicada a benevolência deste para com o Leonardo, que fora ao ponto de não só disfarçar e obter perdão de todas as suas faltas, como de alcançar-lhe aquele rápido acesso de posto. Fica também explicada a presença do major em casa da Maria-Regalada. Depois disto entraram todos em conferência. O major desta vez achou o pedido muito justo, em conseqüência do fim que se tinha em vista. Com a sua influência tudo alcançou; e em uma semana entregou ao Leonardo dois papéis: — um era a sua baixa de tropa de linha; outro, sua nomeação de Sargento de Milícias. Além disto recebeu o Leonardo ao mesmo tempo carta de seu pai, na qual o chamava para fazer-lhe entrega do que lhe deixara seu padrinho, que se achava religiosamente intacto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Passado o tempo indispensável do luto, o Leonardo, em uniforme de Sargento de Milícias, recebeu-se na Sé com Luizinha, assi stindo à cerimônia a família em peso. Daqui em diante aparece o reverso da medalha. Seguiu-se a morte de D. Maria, a do Leonardo-Pataca, e uma enfiada de acontecimentos tristes que pouparemos aos leitores, fazendo aqui ponto final.

  11. Então não é Romantismo? • A trama é simples, inocente, sem complexidade; • Casal de protagonistas ficam juntos no final; • Final com Happy End.

  12. Um livro inclassificável: Romance carnavalesco. Romance picaresco. Comédia de costumes. Novela

  13. Espaço: Rio de Janeiro

  14. Tempo: “Era no tempo do rei...”Início do século XIX

  15. Retrato dos costumes de uma época

  16. Personagens (estereótipos): • Leonardinho Pataca • Luisinha (sobrinha de Dona Maria) • Vidinha (mulata debochada, segunda namorada de Leonardinho) • Leonardo Pataca (pai) • Maria da Hortaliça (mãe) • Padrinho barbeiro • Madrinha parteira

  17. Vizinha (eternamente chata) • Dona Maria (adorava demandas judiciais) • José Manuel (gaiato oportunista) • Mestre de cerimônias (padre safado) • Cigana (amante do padre e de Leonardo) • Sacristão da Sé (amigo de Leonardinho) • Major Vidigal (incansável perseguidor de Leonardinho): representa a “ordem desordenada” do Império • Toma-largura (funcionário da Ucharia) • Chico-Juca (arruaceiro)

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