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OLHARES NA ARTE. Como apreciar a arte. Profº Fabio Travassos de Araujo. O conteúdo da obra de arte.
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OLHARES NA ARTE Como apreciar a arte Profº Fabio Travassos de Araujo
O conteúdo da obra de arte A obra de arte, como entidade física é única, entretanto, na mente do observador pode se multiplicar e ser abordada em diferentes pontos de vista. Isso significa que ao restringirmos nosso olhar para apenas alguns deles deixaremos de percebê-la integralmente.
Pontos de vista Existem diversas abordagens para apreciação da arte. Para aprender bem a mensagem em uma obra de arte, o espectador deve esforçar-se por aprimorar sua capacidade de percepção. A completa observação da obra de arte exige enfoques sob, pelo menos, dez pontos de vista: São eles...
PONTO DE VISTA FACTUAL Corresponde àquilo que a obra representa ou exibe objetivamente. Se concretiza pela simples descrição dos elementos que compõem a obra. De fácil identificação pelo observador.
Pierre-Auguste Renoir (French 1841-1919). La Grenouillère, 1869. Oiloncanvas. 26 1/8 x 32 7/8 in. (66.5 x 81 cm). NM 2425. Nationalmuseum, Stockholm.
Outros factuais Em música, o conteúdo factual se compõe dos sons que ela nos faz ouvir. Num bailado, o conteúdo factual é aquilo que se encontra em cena: os corpos dos bailarinos com seus movimentos e a música ouvida. Nas obras não figurativas, a descrição das formas e cores constitui o conteúdo factual. Exemplo das pinturas abstracionista de PietMondrian, que usa as cores e formas em suas obras artísticas.
Piet Mondrian - Broadway Boogie Woogie 1942-43;óleo sobretela, 127 x 127 cm; The Museum of Modern Art, New York
PONTO DE VISTA EXPRESSIONAL Parte constituinte da obra de arte que mexe com o sentimento do observador. O artista consegue induzir no expectador o sentimento escolhido e desencadeado. O conteúdo expressional é atributo da obra, e não do observador porque as reações do observador não são fruto do acaso. As cores, os traços, as linhas e formas, relacionadas entre si são capazes de transmitir sentimentos e absorver o espectador.
CANDIDO PORTINARI, Criança Morta -1944 - Óleo s/ tela, 176 x 190 cm. Col. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand São Paulo, Brasil
Jean-Honoré Fragonard- The Swing 1767 Oil on canvas, 81 x 64 cm Wallace Collection, London
PONTO DE VISTA TÉCNICO É fruto da combinação de elementos materiais e imateriais utilizados pelo artista para a realização da obra. Compreende desde os materiais adotados para a materialização da obra até a competência do artista em utilizá-los. Se a pintura é à óleo ou tempera, se o suporte é papel ou tela, se é a escultura é de madeira ou mármore, se as cores são quentes ou frias... O ponto de vista técnico privilegia o fazer e suas técnicas.
MICHELANGELO Buonarroti. David, 1504 - Marble, height 434 cm - Galleria dell'Accademia, Florence
MICHELANGELO Buonarroti. Detail. David, 1504 - Marble, height 434 cm - Galleria dell'Accademia, Florence
MICHELANGELO Buonarroti. Detail. David, 1504 - Marble, height 434 cm - Galleria dell'Accademia, Florence
MICHELANGELO Buonarroti. Detail. David, 1504 - Marble, height 434 cm - Galleria dell'Accademia, Florence
PONTO DE VISTA CONVENCIONAL Abrange os elementos simbólicos e culturais implícitos no objeto artístico. O que transforma um objeto qualquer em um símbolo é a convenção a ele atribuída, a qual é condicionada a fatos históricos partilhados por certos grupos sociais. Caso a obra de arte não tenha relação cultural, social e histórica com aquele grupo social, pode o objeto artístico não revelar um conteúdo factual, como também, não apresentar um ponto de vista convencional. Contudo, ainda podemos elencar situações em que o conteúdo factual identificado nos objetos em diferentes culturas, pode não representar o mesmo ponto de vista convencional.
Simbolismo Os objetos, portanto, podem exteriorizar objetivamente aquilo que são e para que servem, de tal modo que eu possa fazer deles uma identificação direta, mas também podem representar algo além, assumindo o caráter evocativo de alguma coisa neles identificada de maneira indireta. Quando os objetos deixam de ser apenas aquilo que são e passam a sugerir também alguma outra coisa, eles se tornam símbolos. O conteúdo factual da obra de arte diz respeito aos objetos pelo que eles são, enquanto o conteúdo convencional interessa-se por eles como símbolo. (COSTELLA, 1997, p. 38)
PONTO DE VISTA ESTILÍSTICO A obra de arte está inserida num tempo e lugar definidos historicamente, da mesma forma, é integrante da cultura de um povo. O ponto de vista estilístico supõe uma ligação entre esses aspectos, é o conteúdo coletivo, estilo do momento cultural que influencia a criação de resoluções plásticas diversas. A pluralidade de culturas justifica a pluralidade de estilos artísticos.
Cristo Pantocrator - Detalhe de um mosaico da Igreja de Santa Sofia (Hagia Sophia), Constantinopla, Século XIII.
RAFAEL Sancio - ChristBlessing (PaxVobiscum)1505-06 - Oilonpanel, 32 x 25 cm. Pinacoteca TosioMartinengo, Brescia
Jose Clemente Orozco, Modern Migration of the Spirit - 1932 -1934 Baker Library, Dartmouth College, Hanover, NH, USA
O PONTO DE VISTA ATUALIZADO A obra de arte não se limita apenas àquilo que ela mostra ou simboliza, tampouco ao seu enquadramento estilístico. Muitas vezes, a obra se “completa” com aquilo que nela vemos. A fruição artística pressupõe além da obra, a existência de um observador e o aparato mental desse observador deve ser levado em conta. Deslocada no tempo e no espaço a obra de arte pode acabar sendo vista de uma maneira diversa daquela originalmente pensada no contexto no qual surgiu.
ATUALIZAÇÃO VISUAL Passado o tempo ou mudado o lugar, um novo expectador, pertencente a outro universo cultural, pode fazer ajuizamento diferente da obra e até tirar dela um desfrute insuspeitado. Cada geração, cada ambiente, cada momento cultural, em fim, acrescenta mentalmente à obra algo que não está na obra, mas sim na cabeça dos observadores.
Vista frontal de la máscara funeraria de Tutankhamón. Foto en Tesoros egipcios de la colección del Museo Egipcio de El Cairo
Montaje con un grupo de retratos, todos ellos del PetrieMuseum of EgyptianArchaeology de Londres.
Claude Monet. Impressão, Sol Nascente, 1872. Óleo sobre tela, 48cm x 63cm. Museu Marmottan, Paris, França .
O PONTO DE VISTA INSTITUCIONAL Há pessoas que entram em um museu com o mesmo ar de reverência e contrição com o qual se ajoelham numa igreja. Em qualquer vernissage sempre existe alguém que, de tão intimidado, parece estar pisando em ovos. Mesmo em ambientes musicais, que já conquistaram generosas doses de descontração, veem-se, ao menos em teatros mais solenes, algumas figuras acanhadas a ponto de pedir desculpas quando esbarram numa coluna. (COSTELLA, 1997, p. 57)
O valor da obra Historicamente, a democratização do acesso às obras de arte e o reconhecimento social à figura do artista são fenômenos recentes. Museus, universidades e veículos de comunicação, selecionam, escolhem, rejeitam, louvam, criticam e até, por vezes, sonegam as obras de arte a serem levadas ao público exercendo uma forma de poder. Essas instituições influenciam o público, hierarquizam as obras de arte e lhes atribuem um valor que denominamos institucional. A análise da obra de arte sob o ponto de vista institucional pode ser entendida como uma forma “protocolar”, não espontânea, de atualização da obra.
O PONTO DE VISTA COMERCIAL O valor comercial de uma obra resulta da soma de vários fatores: matéria-prima empregada; mão de obra necessária, características finais do produto, raridade da peça e eventualmente a notoriedade do artista. Desde a mais remota antiguidade até os dias de hoje sempre foi atribuído um valor comercial à obra de arte. Esse preço geralmente tem muito que ver com o enfoque institucional da arte. O enfoque comercial é apenas um entre os vários enfoques sob os quais uma obra de arte pode ser observada. Um só. Nem mais importante nem menos importante que os outros.
(780milhões de dólares) Miguelangelo Bounarroti. The ceiling, 1508-12. Fresco. Cappella Sistina, Vatican
(642 milhões de dólares) Leonardo Da Vinci. Monalisa, 1503-1506. Óleo sobre madeira de álamo. 77 cm x 53 cm. Museu do Louvre
(510 milhões de dólares) Leonardo da Vinci. A Última Ceia, 1495-1497 Mista com predominância da têmpera e óleo sobre duas camadas de preparação de gesso aplicadas sobre reboco (estuque) 460 × 880 cm Refeitório de Santa Maria delleGrazie (Milão)
(480 milhões de dólares) • Rafael Sanzio.A Escola de Atenas,1509 e 1510. tempera sobre madeira 7,7m, na Stanza della Segnatura ,Vaticano
(442 milhões de dólares) EugèneDelacroix. LA LIBERTÉ GUIDANT LE PEUPLE,1830. óleo sobre tela, 260cmx325cm. Museu do Louvre, Paris
(390milhões de dólares) VERMEER, Johannes. Girl with a PearlEarring. c. 1665. Oiloncanvas, 46,5 x 40 cm Mauritshuis, TheHague
(345milhões de dólares) Vincent van Gogh. Noite estrelada, 1889. Tinta a óleo. Saint-Rémy-de-ProvenceMuseu de Arte Moderna
(305 milhões de dólares) Rembrandt . The Nightwatch, 1642 Oil on canvas, 363 x 437 cm Rijksmuseum, Amsterdam
(265milhões de dólares) Claude Monet. Impressão, Sol Nascente, 1872. Óleo sobre tela, 48cm x 63cm. Museu Marmottan, Paris, França .
(215 milhões de dólares) Édouard Manet. Um Bar no Folies-Bergère, 1882. Tinta a óleo.96 cm x 1,30 m. CourtauldInstituteofArt
O PONTO DE VISTA NEOFACTUAL Pelo fato inevitável de que tudo se deteriora, desgasta, transforma. A obra de arte passa pelo mesmo processo. E no ato de recuperá-la, tem-se uma nova visão factual, seja pela mudança de remoção ou acréscimo do original. Quando perceptíveis mudanças materiais são desvendadas pelo objeto artístico denomina-se conteúdo neofactual ou “conteúdo acrescido ou removido”. A obra passa a exibir algo originalmente não previsto pelo artista. Algo diferente do enfoque atualizado no qual a elaboração é toda mental, a obra mesmo sem sofrer alterações físicas é vista de modo diferente pelo observador.
A jovem do Arminho. Leonardo Da Vinci, 1485-1490. Óleo sobre painel, 54,8 cm x 40,3 cm. Museu Czartoryski
Hieronymus Bosch . O Jardim das Delícias Terrenas, 1503–1504 . Tinta a óleo, Carvalho. 2,20 m x 3,9 m. Museu do Prado