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CATÁLOGO DE VERBOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO CLASSIFICAÇÃO VERBAL SEGUNDO A DECOMPOSIÇÃO DE PREDICADOS PARTE I VERBOS DE MUDANÇA. MÁRCIA CANÇADO LUISA GODOY LUANA AMARAL UFMG 2012. Critérios de classificação. O que certos verbos têm em comum de forma a compor uma classe?
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CATÁLOGO DE VERBOS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO CLASSIFICAÇÃO VERBAL SEGUNDO A DECOMPOSIÇÃO DE PREDICADOS PARTE IVERBOS DE MUDANÇA MÁRCIA CANÇADOLUISA GODOYLUANA AMARAL UFMG 2012
Critérios de classificação • O que certos verbos têm em comum de forma a compor uma classe? - Classificar verbos implica agrupá-los por propriedades semânticas que tenham impacto no seu comportamento gramatical. • Por onde começar a análise? - Optamos como ponto de partida a análise dos verbos mais estudados na literatura em semântica lexical: verbos de mudança de estado (quebrar), verbos locativos (enjaular)e verbos de locatum(apimentar); e ainda verbos de mudança de estado locativo (acomodar).
Verbos de Mudança • O sentido comum a todas essas classes é o de mudança: (1) O João quebrou o vaso. (mudança de estado) (2) O marceneiro acomodou a mobília no quarto. (mudança de estado locativo) (3) O domador enjaulou o leão. (mudança de lugar) (4) A cozinheira apimentou a comida. (mudança de posse)
Relevância gramatical • Explicitar esses tipos de mudança é relevante do ponto de vista gramatical. Verbos que denotam mudança de estado participam da alternância causativo-incoativa: (5) O vaso (se) quebrou. (6) *A mobília (se) acomodou no quarto. (7) *O leão (se) enjaulou. (8) *A comida (se) apimentou. • Apontamos as propriedades semânticas e sintáticas relevantes gramaticalmente para a classificação dos verbos de mudança do PB.
Obras de referência • Borba et al. (1990), Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do Brasil. • Levin (1993), EnglishVerb Classes andAlternations. Outros: • VerbNet • Gross (1975, 1981) Léxico Gramática do Francês.
Metodologia • Dados: 861 verbos e 5630 sentenças • 1ª etapa: - levantamento exaustivo de verbos das classes analisadas, seguindo uma ordem alfabética do dicionário Borba. - Essas classes já haviam sido apontadas e tratadas em Cançado (1995, 2005, 2010), Cançado e Franchi (1999), Cançadoe Amaral (2010), Cançado e Godoy (2012) e Godoy (2012).
Metodologia • 2ª Etapa: • Na segunda etapa, construímos, “a seis mãos”, todos os exemplos de sentenças que apresentamos. Julgamento de gramaticalidade pelas três linguistas, checagem do Google, no Borba e em outros trabalhos da literatura. • Também foram elaboradas sentenças agramaticais, para mostrar que determinada propriedade sintática não se manifesta em determinada classe verbal. A etapa da construção e da análise dos dados aqui apresentados durou cerca de dois anos. • Mas muitas das informações são uma síntese da pesquisa sobre léxico verbal do PB, nos últimos 17 anos, de Cançado e orientações (1995 a 2012).
Metodologia • Uso do dicionário de verbos em oposição a dados reais: um levantamento abrangente e exaustivo do léxico verbal. • Uso da intuição: uso de sentenças agramaticais não encontradas em dados reais.
Metodologia • Sentido polissêmico: verbo pertence a duas classes (9) a. O pintor uniformizou a parede. b. A aplicação de massa acrílica uniformizou a parede. c. A parede (se) uniformizou (com a aplicação de massa acrílica). (10) a. O menino uniformizou os soldadinhos de brinquedo. b. *A brincadeira do menino uniformizou os soldadinhos de brinquedo. c. *Os soldadinhos de brinquedo (se) uniformizaram (com a brincadeira do menino).
A decomposição em predicados primitivos • Escolhemos adotar esse tipo de representação por se tratar de uma linguagem semântica mais formalizada e uma maneira mais sistemática de se lidar com o sentido dos verbos e, ainda, porque a partir dessa representação podem ser derivadas outras informações semânticas do tipo aspectual e do tipo temático dos argumentos.
A decomposição em predicados primitivos • Evidências de que a semântica de um verbo não é unitária, mas composta por subpartes e componentes (Wunderlich, 2012): (11) a.O treinador enjaulou o leão. b. O treinador colocou o leão na jaula. (12) a. A cozinheira apimentou a comida. b. A cozinheira proveu a comida com pimenta.
A decomposição em predicados primitivos • O sentido de alguns verbos pode ser decomposto em subunidades menores, que representam subeventos do verbo, e que a composição com o advérbio quase resulta em uma interpretação ambígua (Morgan, 1969; Dowty, 1979): ( 13) a. O João quase persuadiu a Maria a dançar. b. O que o João quase fez foi persuadir a Maria a dançar. c. O que o João fez foi quase persuadir a Maria a dançar.
Classes analisadas • Verbos de mudança de estado (quebrar, estatizar, preocupar, amadurecer) • Verbos de mudança de estado locativo (acomodar) • Verbos de mudança de lugar (enjaular) • Verbos de mudança de posse (apimentar)
Verbos de mudança de estado (Levin e RappaportHovav, 2005) • 685 verbos (maior classe) • Propriedades classificatórias: - acarreta ficar/tornar-se um estado - é bieventivo - aceita a alternância causativo-incoativa • v: [ [ X ] CAUSE [ BECOME Y <ESTADO> ] ] v: [BECOME Y <QUEBRADO>]
Verbos de mudança de estado (14) a. O João quebrou o vaso. b. O vaso ficou quebrado. c. O vaso (se) quebrou. (15) a. O presidente estatizou a empresa. b. A empresa tornou-se estatal. c. A empresa (se) estatizou. (16) a. A arrogância de Rosa preocupou a mãe. b. A mãe ficou preocupada. c. A mãe (se) preocupou. (17) a. O calor amadureceu a banana. b. A banana ficou madura. c. A banana amadureceu.
Subclasses de verbos de mudança de estado • Verbos de mudança de estado volitivos (23 verbos): v: [ [X VOLITION] CAUSE [ BECOME Y < ESTATAL>] ] • Propriedades: (18)a. O presidente estatizou a empresa. b.*A eleição do presidente estatizou a empresa. c. O presidente estatizou a empresa com a nova lei. d. A empresa foi estatizada (pelo presidente).
Subclasses de verbos de mudança de estado (Cançado,2010; Cançado e Godoy, 2012) • Verbos de mudança de estado opcionalmente volitivos (444 verbos): v: [ [X (VOLITION)] CAUSE [BECOME Y <QUEBRADO>] ] • Propriedades: (19) a. O João quebrou o vaso deliberadamente b. A queda quebrou o vaso. c. O vaso (se) quebrou com a queda. c. O João quebrou um vaso com um martelo. d. O vaso foi quebrado (pelo João).
Subclasses de verbos de mudança de estado (Cançado, 1995; Cançado e Franchi, 1999; Cançado e Godoy, 2012) • Verbos de mudança de estado não-volitivos (157 verbos) v: [ [X ] CAUSE [ BECOME Y <PREOCUPADO>] ] • Propriedades: (20)a. A arrogância da Rosa preocupou a Maria. b. A Maria se preocupou (com a arrogância da Rosa). c.* A Rosa preocupou a Maria com uma carta. d. *A Maria foi preocupada (pela Rosa). e. A Rosai preocupou a mãe com suasinotas.
Subclasses de verbos de mudança de estado (Cançado e Amaral, 2010) • Verbos de mudança de estado incoativos (61 verbos) v: [ BECOME Y <MADURA>] • Propriedades: (21) a. A banana amadureceu. b. O calor amadureceu a banana. c. A banana amadureceu com o calor. d. *A cozinheiraamadureceu a banana com o forno. d. *A banana foi amadurecida pela cozinheira. e. *A banana se amadureceu.
Verbos de mudança de estado locativo (68 verbos) (Godoy, 2012) • acomodar: [ [X VOLITION ] CAUSE [ BECOME Y <ACOMODADO> IN Z] ] • Propriedades: ( 16) a. O marceneiro acomodou a mobília no quarto. b *A mobília ficou acomodada. c. *A mobília (se) acomodou. d. A mobília ficou acomodada no quarto. e. *A habilidade do marceneiro acomodou a mobília no quarto. f.? A mobília foi acomodada no quarto pelo marceneiro. g. A mobília foi acomodada no quarto. h. A mobília foi acomodada pelo marceneiro. i. ?O marceneiro acomodou a mobília no quarto com um carrinho de mão.
3 Verbos de mudança de lugar (15 verbos) (Cançado e Godoy, 2012) • enjaular: [ [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y IN <JAULA>] • Propriedades: (22) a. O domador enjaulou o leão. b. *O leão (se) enjaulou. c. O domador enjaulou o leão em uma jaula de ferro. d. O leão ficou na jaula. e. *A coragem do domador enjaulou o leão. f. O leão foi enjaulado pelo domador. g. ? O domador enjaulou o leão com um guindaste
Verbos de mudança de posse (93 verbos) (Cançado e Godoy, 2012) • apimentar>: [ [ X VOLITION ] CAUSE [ BECOME Y WITH <THING> ] ] • Propriedades: (23) a. A cozinheira apimentou a comida. b. A comida ficou com pimenta. (# ficou apimentada). c. *A comida (se) apimentou. d. A cozinheira apimentou a comida com pimenta malagueta. e. *O cozimento apimentou a comida. f. A comida foi apimentada pela cozinheira. g. ?A cozinheira apimentou a comida com uma colher de pau.
Outras propriedades não-classificatórias • Reflexivização (Godoy, 2012) ( 19) O prisioneiro se algemou. • Reflexiva média (Godoy, 2012) (20) As meninas se aproximaram. • Alternância agente beneficiario (Cançado 2010, 2011) (21) a. O cabeleireiro cortou o cabelo doJoão. b. O João cortou o cabelo com o cabelereiro. • Alternância parte-todo ( 22) a. O colega quebrou o braço do João. b. O João quebrou o braço.
Outras informações • Verbos psicológicos: não formam uma classe (23) a. O João acalmou / preocupou a Maria. b. A Maria ficou calma / preocupada. c. A Maria (se) acalmou / (se) preocupou . • Verbos recíprocos: não formam uma classe ( 24) a. A cozinheira misturou os ingredientes. b. Os ingredientes ficaram misturados (um com o outro). c. Os ingredientes (se) misturaram.
Os papéis temáticos derivados da estrutura: (Jackendoff, 1990) v: [ [X (VOLITION)] CAUSE [ BECOME Y <STATE>] ] v: [ [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y <STATE> IN Z ] ] v: [ [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y IN <PLACE>] ] v: [ [X VOLITION] CAUSE [BECOME Y WITH <THING>] ] • agente -> [XVOLITION] - É atribuído ao argumento que é modificado por VOLITION. • causa -> [ X ] – É atribuído ao argumento sem volição que antecede o metapredicado CAUSE. • paciente -> [ BECOME Y ...] ] – É atribuído ao argumento que sucede o metapredicado BECOME. • locativo-> IN Z - É atribuído ao argumento que antecede o metapredicado IN.
Aspecto lexical derivado da estrutura: (Dowty, 1979) • Accomplishment: v: [ [X] CAUSE [ BECOME Y …] ] -> O João quebrou o vaso. • Achievement: v:[ BECOME Y ...] -> O vaso (se) quebrou.
Vantagem da decomposição em predicados primitivos • Além de mostrar que todos os verbos das classes denotam uma mudança e são causativos e bieventivos, a estrutura especifica o tipo de mudança,: • quebrar: {Causa (Agente), Paciente} acomodar: {Agente, Paciente, Locativo} enjaular: {Agente, Paciente} apimentar: {Agente, Paciente} quebrar: [ [X VOLITION] CAUSE [ BECOME Y <STATE>] ] acomodar: [ [X VOLITION ] CAUSE [ BECOME Y <STATE> IN Z] ] enjaular: [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y IN <PLACE>] apimentar: [X VOLITION ] CAUSE [BECOME Y WITH <THING>]
Vantagens da decomposição em predicados primitivos • Podemos da estrutura de predicados derivar os papéis temáticos e o aspecto lexical. • Podemos destacar também que a maior formalização da linguagem nos dá uma descrição mais fina e menos divergente do que a descrição em termos de papéis temáticos. Pode ser usada em PLN. • Além disso, como argumentam Levin e Rappaport (2005), em uma representação por grades temáticas, não podemos fazer a distinção entre raiz (sentido idiossincrático do verbo) e estrutura, o que é uma grande perda em termos analíticos. Exemplos com verbos psicológicos e verbos recíprocos.
Subsídios teóricos: uma introdução a uma análise semântico-lexical • Todas as justificativas para a estrutura das classes e as propriedades classificatórias são desenvolvidas e justificadas. • Todas as propriedades não-classificatórias são explicadas. • As propriedades derivadas da estrutura são justificadas e explicadas.
Instrumento de análise • Um instrumento de análise para todas as propriedades estudadas, além dos verbos específicos, para pesquisadores em linguística. • Será futuramente colocado online, como um banco de dados, para que seja possível também o cruzamento dos dados.
Referências • Borba, F. 1990. Dicionário Gramatical de Verbos do Português Contemporâneo do Brasil.São Paulo: Unesp. • Cançado, M. 1995. Verbos Psicológicos: A Relevância dos Papéis Temáticos vistos sob a ótica de uma Semântica Representacional. Tese de doutorado. UniversidadeEstadual de Campinas at Brazil. • Cançado, M. 2010. Verbal alternations in Brazilian Portuguese: a lexical semantic approach. Studies in Hispanic and Lusophone Linguistics 3 (1): 77-111. • Cançado, M. 2011. Comparando alternâncias verbais no PB: cortar o cabelo e quebrar o braço. Revista Letras, Curitiba, n. 81, p. 33-60. • Cançado, M. & Amaral, L. 2010. Representação lexical de verbos incoativos e causativos do PB. Revista da ABRALIN 9 (2): 123-147. • Cançado, M. & Franchi, C. 1999. Exceptional Binding with Psych-Verbs? LinguisticInquiry 30 (1):133-143. • Cançado, M. e Godoy, C. 2012. Alfa, São Paulo, 56 (1): 109-135. • Cançado, M; Godoy, L.; Amaral, L. 2012. Catálogo de Verbos do Português Brasileiro: classificação verbal segundo a decomposição de predicados. Manuscrito, UFMG. • Dowty, David. 1979. Word Meaning and Montague Grammar. Dordrecht: D. Reidel. • Godoy, L. 2008. Os verbos recíprocos no PB: interface sintaxe-semântica lexical. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. • Godoy, L. 2012. A reflexivização em PB e a decomposição semântica de predicados. Tese de doutorado. UFMG, Brazil. • Gross, Maurice. 1975. Méthodes en syntaxe, Paris: Hermann.
Referências • Jackendoff, Ray. 1990. Semantic structures. Cambridge: MIT Press • Levin, Beth. 1993. English verb classes and alternations. Chicago: The University of Chicago Press. • Levin, Beth. 1999. Objecthood: an event structure perspective. In CLS 35, Part 1: Main Session, Chicago Linguistic Society, Chicago, IL, 223-247. • Levin, Beth. 2009. Further Explorations of the Landscape of Causation: Comments on the Paper by Alexiadou and Anagnostopoulou. In Proceedings of the Workshop on Greek Syntax and Semantics, MIT Working Papers in Linguistics 49: 239-266. Cambridge: MIT Press. • Levin, Beth & Rappaport-Hovav, Malka. 1995. Unaccusativity: at the syntax-lexical semantics interface. Cambridge: MIT Press. • Levin, Beth & Rappaport-Hovav, Malka. 1998. Building verb meanings. In Butt, Miriam & Geuder, Wilhelm (eds.), The projection of arguments: lexical and compositional factors, pp. 21-63. Chicago: CSLI Publications. • Levin, Beth & Rappaport-Hovav, Malka. 2005. Argument Realization. NY: Cambridge University Press. • Morgan, Jerry. 1969. On arguing about semantics. Papers in Linguistics 1: 49-70. • Rappaport, Malka & Levin, Beth. 1988. What to do with theta-roles. In Wilkins, Wendy (ed.) Syntax and Semantics 21, pp. 7-36. San Diego: Academic Press. • Rappaport-Hovav, Malka & Levin, Beth. 2010. Reflections on Manner/Result Complementarity. In Doron, Edit; Rappaport-Hovav, Malka & Sichel, Ivy (eds.) Syntax, Lexical Semantics, and Event Structure, pp. 21-38. Oxford: Oxford University Press. • VerbNethttp://verbs.colorado.edu/verb-index/ • Wunderlich, Dieter (2012) Lexical decomposition. In Werning, Markus et al. (eds.) The Oxford Handbook