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CASO CLÍNICO : Anemia Falciforme Ana Cláudia de Aquino Dantas Anelise Abrahão Salge Prata Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF Coordenação: Luciana Sugai. IDENTIFICAÇÃO : Nome: M.D.C, sexo feminino. Idade: 2 anos e 5 meses. DN: 19.06.2004. Mãe: R.V.S. Pai: J.C.R.C.
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CASO CLÍNICO : Anemia Falciforme Ana Cláudia de Aquino Dantas Anelise Abrahão Salge Prata Escola Superior de Ciências da Saúde/SES/DF Coordenação: Luciana Sugai
IDENTIFICAÇÃO: • Nome: M.D.C, sexo feminino. • Idade: 2 anos e 5 meses. DN: 19.06.2004. • Mãe: R.V.S. • Pai: J.C.R.C. • End: R.33 A Casa 20 Setor Tradicional – São Sebastião - DF. • Naturalidade / Procedência / Residência: São Sebastião – DF. • Informante: mãe. • DATA: 17/05/2007, às 7:30h.
Q.P. : “Dor nas pernas há 4 dias”. • H.D.A. : Criança com Dx prévio de Anemia Falciforme apresentou há 11 dias episódios freqüentes de espirros, rinorréia com secreção amarelada espessa, tosse produtiva predominantemente noturna e febre não-aferida intermitente, com melhora após o uso de 12 gotas de dipirona. Devido à persistência do quadro, procurou serviço médico em cidade de origem há 7 dias, aonde foram prescritos Amoxacilina 4mL VO 8/8h por 7 dias + Prednisolona 4mL VO 3x ao dia. Evoluiu com melhora clínica caracterizada por diminuição da tosse e remissão da febre, rinorréia e espirros. Há 4 dias iniciou-se quadro agudo de dor intensa em regiões dorsal e plantar dos pés e pododáctilos, progredindo para tornozelos, pernas, joelhos e coxas bilateralmente, acompanhada de calor local, sem edema ou eritema locais, com interrupção da deambulação devido algia e limitação das atividades diárias. Diante da sintomatologia, pré-escolar foi internada neste serviço para tratamento.
REVISÃO DE SISTEMAS: ▪ Hiporexia, aceitação parcial da dieta. ▪ Prostração, restrita ao leito, recusa-se a apoiar os pés no chão. ▪ Diurese e evacuações preservadas. ▪ Sem sinais ou sintomas sugestivos de envolvimento: renal, hepatobiliar, pulmonar, cardiovascular, neurológico, ocular ou cutâneo-subcutâneo.
ANTECEDENTES PATOLÓGICOS: • Dx de AF aos 3 meses de vida; • Internações pregressas: ▪ 1 ano de idade, duração de 3 dias, Dx: crise álgica + desidratação por gastroenterite aguda; ▪ 2 anos, duração de 2 dias, Dx: crise álgica; ▪ 2 anos, duração de 1 dia, Dx: crise álgica; ▪ 2 anos, duração de 1 dia, Dx: crise álgica; ▪ 2 anos, duração de 11 dias, Dx: PNM + seqüestro esplênico; ▪ Amigdalite aos 2 anos de idade, tratada com penicilina benzatina; ▪ Transfusão sanguínea em janeiro de 2007 (Dx: seqüestro esplênico); • Uso crônico e regular (desde os 3 meses de vida) de: Penicilina V oral 2x / dia (atualmente, 3mL 12/12h); Ácido fólico 1 cp 3x/semana. ▪ Nega traumas, alergias ou cirurgias prévias. ▪ Pais sem consangüinidade. ▪ Vacinação completa, incluindo pneumococo e meningococo.
ANTECEDENTES FISIOLÓGICOS: ▪ Mãe: gestação sem intercorrências, feito pré-natal (6 consultas). Sorologias negativas durante a gestação. ▪ Criança (paciente): nascida de parto vaginal a termo, sem intercorrências, APGAR 5’: 9. Alta médica em 2 dias. P: 2860g ; E: 49 cm ; PC: 33 cm. ▪ Aleitamento materno exclusivo até 5 meses, desmame com 9 meses. ▪ Dieta atual: habitual da casa. ▪ DNPM normal.
ANTECEDENTES FAMILIARES: ▪ Mãe: 33 anos, raça negra, do lar, 1° grau incompleto, saudável, nega tabagismo / etilismo. ▪ Pai: 34 anos, raça negra, vendedor de produtos de limpeza, 1° grau incompleto, saudável, nega tabagismo / etilismo. ▪ Irmã: 1a e 8m, saudável, com traço falcêmico. ▪ Tia materna: AF. ▪ Avó materna: DM tipo II. ANTECEDENTES SOCIAIS: ▪ Reside em casa de alvenaria, 2 cômodos, 4 pessoas, com saneamento básico, 1 cachorro (não-vacinado) em peridomicílio.
EXAME FÍSICO: P: 12 Kg E: 94 cm FC: 115 bpm FR: 24 irpm Tax: 36,4 °C. Pré-escolar em REG, hipoativa, restrita ao leito, reativa. Hipocorada (+/4+), hidratada, anictérica, acianótica, eupnéica, afebril. ▪ Orofaringe: sem sinais de infecção. ▪ Cadeias ganglionares: ausência de lifonodomegalia palpável. ▪ ACV: RCR 2T BNF, SS +/6+ em FM. ▪ AR: MVF com roncos de transmissão bilateralmente. ▪ ABD: plano, RHA+, timpânico, flácido, indolor, sem massas palpáveis, fígado palpável a 1 cm do RCD e de consistência habitual, baço palpável a 1 cm do RCE, Giordano negativo. ▪ MMII: ausência de edema em dígitos; ausência de edema periarticular periférico; presença de discreto calor local em joelho direito; ausência de eritema em MMII; ossos sensíveis à palpação bilateralmente, movimentação passiva preservada. ▪ EXT: perfusão <= 2’’.
H.D.: ▪ AF ▪ Crises álgicas vasoclusivas: crise óssea + dactilite falcêmica (em pés).
Apresentação: Ana Cláudia de Aquino Dantas – interna (ESCS) Anelise Abrahão Salge Prata – interna (ESCS) Coordenadora: Dra. Luciana Sugai.
O que é Anemia Falciforme • Doença hematológica hereditária mais comum. • Determina, já nos primeiros anos de vida,manifestações clínicas importantes. • Sério problema de saúde pública no Brasil. • Outras: S Talassemia e as duplas heterozigoses Hb SC e Hb SD.
O que é Anemia Falciforme Alteração genética da hemoglobina Hemoglobinopatia Estrutural Hg anormal (Hg S) S = ‘sickle: afoiçamento’ Rara foto de um celula falciforme e uma celula vermellha normal. (Dr Bruce R. Cameron)
Epidemiologia • HbS originou-se no continente Africano, acompanhando a região do cinturão da malária ( maioria tem o traço falcêmico ) PROTEÇÃO ! *Sua introdução no Brasil ocorreu durante o período da escravidão + miscigenação. *Presente em cerca de 20-30 mil brasileiros. *Nascimento anual de 2500 casos novos!
Genética • Hg normal 4 cadeias de globina ( tetrâmero) + radical heme • 97% da Hg duas cadeias alfa duas cadeias beta • 2 genes codificam a formação dessas cadeias Braço curto do cromossoma 11 cadeias não-alfas valina no lugar do ác. Glutâmico, na posição 6 CADEIA BETA S Hb A
Logo, HbS duas cadeias alfa duas cadeias beta S
Genética • Na maioria dos casos, os pais dos pacientes com AF são portadores assintomáticos ( Traço falcêmico ) dessa alteração genética. Então...
Lembrar que... • Na AF os 2 alelos do gene beta são mutantes (betaS) HOMOZIGOTO! • No traço falcêmico apenas um dos alelos é mutante HETEROZIGOTO!
ATENÇÃO!!! • Na AF NÃO há Hb A! • Hb F protege contra a polimerização : quanto maior seu valor, menor e menos graves serão as crises! • Os sintomas ocorrem depois dos 6 meses de vida, quando a Hb F é substituída pela HbS Como resultado, temos uma doença marcada por 2 importantes componentes: AGUDOS CRÔNICOS (crise aguda) (disfunção org) EXTRAVASC INTRAVASC (morre no baço) (pequena) Fenômenos vaso-oclusivos Hemólise
Patogenia • Genética; • Polimerização da HbS; • Fenômenos vasoclusivos; • Hemólise.
Ativação de plaquetas, leucócitos e sistema de coagulação Liberação de mediadores Inflamação aguda Fenômenos Vasoclusivos ↓ negatividade da membrana Aproximação e interação entre as Hm Desidratação eritrocitária aguda ↑ adesividade eritrocitária Liberação do fVW Estímulos auto-oxidativos ↑ estresse oxidativo Liberação de pigmentos férricos que se ligam à membrana eritrocitária Formação de radicais livres Desnaturação da HbS
Hm, leucócitos e plaquetas aderidas ao endotélio Fenômenos Vasoclusivos Lentificação do fluxo sanguíneo na microvasculatura Afoiçamento das Hm Oclusão da microvasculatura FENÔMENOS VASOCLUSIVOS
Fenômenos Vasoclusivos HpS Oxigênio diminuído pH baixo Temperatura aumentada Desoxi-HbS Polimerização Microcirculação Desidratação celular Viscosidade ↑ Deformabilidade ↓ Vasoclusão Hemólise Infarto / Necrose Disfunção de órgãos nobres Crises dolorosas Icterícia + Anemia
Principais Crises Vasoclusivas • Síndrome Mão-Pé; • Crise Óssea; • Crise Abdominal; • Crise Hepática; • Síndrome Torácica Aguda; • Priapismo.
Dactilite Falcêmica Dor intensa + Edema de dígitos • É a primeira manifestação de dor na maioria das crianças (“Síndrome mão-pé”). • Início abrupto, duração: 1-2 semanas, eventualmente febre e leucocitose; • Outras manifestações músculo-esqueléticas podem ser simétricas ou não, ou mesmo migratórias com eventual presença de aumento de volume, febre, eritema e calor local; • Diagnósticos Diferenciais: osteomielite, artrite séptica, sinovite e febre reumática. Isquemia aguda dos ossos da mão e do pé
Crise Óssea • Osso sensível à palpação, porém geralmente sem edema, calor ou rubor; • Radiografia normal durante a dor; • Diagnósticos Diferenciais: FR, Artrite séptica. Dor de grande intensidade Isquemia aguda ou infarto da medula óssea Inflamação óssea Edema periarticular de grandes articulações periféricas
Crise Abdominal Isquemia + microinfartos do território mesentérico Dor abdominal difusa de início súbito + distensão + sinais de irritação peritoneal + peristalse presente • Diagnóstico Diferencial: Abdome Agudo Cirúrgico, infeccioso ou processos ginecológicos; em crianças, as pneumonias, principalmente as de base, podem cursar com dor abdominal.
Crise Hepática Dor súbita em QSD + hepatomegalia + ↑ transaminases + ↑ Bi (icterícia) • Diagnóstico Diferencial: Coledocolitíase por cálculos de bilirrubinato de cálcio. Obstrução dos sinusóides hepáticos Hepatite Isquêmica Aguda
Síndrome Torácica Aguda S. pneumoniae Infecção pulmonar na criança e Infarto pulmonar no adulto STA Embolia gordurosa Infarto ósseo Tromboembolismo pulmonar Infarto costal • Quadro súbito de taquidispnéia, dor torácica, febre alta, leucocitose e infiltrado pulmonar.
Priapismo • Priapismo: ereção prolongada e bastante dolorosa; • Priaspismo puberal: 5-13 anos; pós-puberal: 21-29 anos; • Episódios recorrentes auto-limitados (~3h); • Ereção fisiológica durante o sono REM; • Se não tratado → impotência! Obstrução dos sinusóides do corpo cavernoso por Hm em foice Priapismo
Outras Manifestações Clínicas • Crises Vasoclusivas: • AVE • Disfunção Esplênica: predisposição a infecções principalmente por pneumococo, e também H. influenzae tipo B e Salmonella sp.
Manifestações Clínicas • Anemia hemolítica e Crises anêmicas: • Disfunção orgânica crônica:
Diagnóstico • Laboratório Inespecífico:
Diagnóstico • Teste do afoiçamento: • Eletroforese de Hemoglobina:
Da crise álgica: Reduzir o medo e a ansiedade - suporte psicológico Retirar a causa desencadeante Tratar prontamente a dor Estimular a ingestão oral de líquidos Repouso relativo Evitar mudanças bruscas de temperatura Aquecimento das articulações acometidas Hidratação parenteral se a dor for moderada a severa. Fazer 3 a 5 litros por dia em adultos e 1,5 vezes as necessidades hídricas diárias em crianças Reavaliação periódica Em alguns casos podem estar indicados o uso de narcóticos Se a dor não conseguir ser controlada com analgesia, utilizar anti-inflamatório como: Diclofenaco oral na dose de 1mg/kg/dose 8/8 hs Tratamento
Tratamento • Da dor torácica aguda: • 1: Solicitar os exames • 2: Todos os pacientes com evidência de patologia pulmonar aguda devem ser internados. Deve ser instituída a hidratação parenteral nas necessidades hídricas diárias sem descontar a VO. Não hiperhidratar. • 3: Oxigênio deve ser administrado se o paciente tiver hipóxia ( PaO2 < 80 mm Hg ) demonstrada pela gasometria arterial. • 4: Antibiótico EV - droga de escolha → Ceftriaxone com Oxacilina ou Cefuroxima devem ser iniciados imediatamente. A Eritromicina deve ser associada se houver suspeita de Mycoplasma pneumoniae.
Tratamento • Da dor torácica aguda: • 5 : Toracocentese está indicada se houver derrame pleural ao Raio X, contribuindo para o desconforto respiratório. • 6 : A gasometria arterial deve ser controlada. • 7 : A exsangüíneo transfusão parcial está indicada nas seguintes condições: - PaO2< 70 mm Hg - Queda de 25 % do nível basal de PaO2 do paciente - Insuficiência cardíaca congestiva ou insuficiência cardíaca direita aguda - Pneumonia rapidamente progressiva - Acentuada dispnéia com taquipnéia
Tratamento • Da Febre: • 1: Todos os pacientes com menos de 3 anos de idade e com temperatura superior a 38,3ºC devem ser admitidos ao hospital. Todos os pacientes não hospitalizados deverão ser cuidadosamente seguidos diariamente. • 2: Se a meningite não for suspeita ou foi descartada, iniciar antibioticoterapia para cobrir S. pneumoniae e H. influenzae como Cefuroxima 60mg/kg/dia. Iniciar o antibiótico já na sala de emergência. • 3: Se foi confirmada ou existe suspeita forte de osteomielite fazer esquema de cobertura para Stafilococcus aureus e Salmonella sp. com Oxacilina e Cefalosporina de 3a. geração (Ceftriaxone ).
Tratamento • Da Febre: • 4: Se na avaliação da febre não for detectada nenhuma etiologia, os antibióticos são mantidos por 72 horas com as hemoculturas negativas. • 5: Os pacientes poderão receber alta após 72 horas com antibiótico oral se afebris, sem toxemia e com nível de Hb segura. Durante a hospitalização realizar hemograma com contagem de reticulócitos no mínimo a cada 2 dias. • 6: Todos os pacientes deverão ser revistos dentro de 1 semana após a alta. • 7: Os pacientes esplenectomizados devem ser tratados de acordo com este protocolo independente de sua idade e estado vacinal.
Imunização • Asplenia funcional ↓na capacidade de combater infecções ( máxima +/- com5 anos). • Instalar programa de imunização ANTES!!! 1- Vacina contra Haemophilus influenzae - 3 doses com intervalos mínimos de 2 meses com 1 reforço aos 15 meses. Para as crianças com mais de 15 meses fazer somente uma dose. 2 - Vacina contra a Hepatite B (recombinante ) - 3 doses sendo as 2 primeiras com intervalo mínimo de 1 mês e a terceira 6 meses após a primeira. 3 - Vacina contra o Streptpcoccus pneumoniae - 1 dose após 2 anos de idade com um reforço 5 anos após a primeira dose.
Imunização • 4 - Profilaxia com Penicilina Benzatina ou V oral dos 4 meses até 5 anos de idade conforme o seguinte esquema: - Penicilina V oral: • 4 meses - 2 anos → 125mg 2 x/dia • 2 - 5 anos → 250 mg 2x/dia ( resultados controversos...) - Penicilina Benzatina: • 4 meses - 2 anos → 300.000 UI 28/28 dias • 2 - 5 anos → 600.000 UI 28/28 dias ( resultados controversos...)