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ARTIGO DE MONOGRAFIA APRESENTADO COMO CONCLUSÃO DA RESIDÊNCIA MÉDICA EM PEDIATRIA DO HOSPITAL REGIONAL DA ASA SUL(HRAS)/HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA (HMIB). Repercussões endócrino-metabólicas em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional. Ana Catarina Marquim Firmo de Araujo
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ARTIGO DE MONOGRAFIA APRESENTADO COMO CONCLUSÃO DA RESIDÊNCIA MÉDICA EM PEDIATRIA DO HOSPITAL REGIONAL DA ASA SUL(HRAS)/HOSPITAL MATERNO INFANTIL DE BRASÍLIA (HMIB) Repercussões endócrino-metabólicas em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional Ana Catarina Marquim Firmo de Araujo Orientadora: Dra Mariana de Melo Gadelha Brasília, 4 de dezembro de 2012 www.paulomargotto.com.br
Introdução • OMS, 2005 - 8% a 26% das crianças apresentam peso ao nascimento abaixo de 2.500g. • Nos países desenvolvidos, predominam os prematuros. • Nos países em desenvolvimento, os bebês nascidos pequenos para a idade gestacional (PIG). • Estima-se que 2,3% a 10% de todos os recém-nascidos sejam PIG. • Maior morbimortalidadeperinatal. • Maior risco de baixa estatura. • Aumento no risco de desenvolver doença metabólica na vida adulta (obesidade, resistência a insulina, intolerância a carboidratos e dislipidemia). • É importante o acompanhamento regular dessas crianças.
Objetivo • Revisar as possíveis repercussões endócrino-metabólicas das crianças nascidas PIG e, dessa forma, proporcionar um melhor entendimento e manejo por parte dos pediatras.
Metodologia • Estudo de revisão não sistemática da literatura nacional e internacional sobre o tema utilizando-se as bases de dados Lilacs, Scirus, Medline, Scielo, Pubmed, Cochrane, MdConsult. • A pesquisa bibliográfica incluiu artigos originais e artigos de revisão escritos nas línguas inglesa e portuguesa, publicados no período de 1994 a 2012.
Definição de crianças PIG • Diversos critérios: • peso de nascimento < 10º ou 5º percentil para a idade gestacional; • peso abaixo de 2.500 g para a idade gestacional maior ou igual a 37 semanas; • peso e/ou comprimento mais que dois desvios-padrão (DP) abaixo da média para idade gestacional. • Conferência do International Small for Gestational Age AdvisoryBoardde 2001 definiu como PIG: • Crianças nascidas com peso e/ou comprimento 2 ou mais DP abaixo da média para a idade gestacional. • Definição recomendada pelas sociedades internacionais de endocrinologia pediátrica e pela GrowthHormone Research Society durante um encontro em 2006. Clayton et al, 2007.
Definição de crianças PIG • RCIU x PIG • Definir uma criança como PIG necessita: • conhecimento acurado da idade gestacional (baseada idealmente em um exame ultrassonográfico de primeiro trimestre); • medidas precisas ao nascimento do peso, comprimento e perímetro cefálico; • um ponto de corte de referência baseado em estudo populacional relevante e, de preferência, em uma curva de crescimento regional. • No DF - curva de crescimentointrauterino de Margotto. Clayton et al, 2007.
Alterações metabólicas no feto PIG • O tamanho do bebê ao nascimento é determinado por dois importantes fatores: • Função placentária e duração da gestação. • Alterações no primeiro e início do segundo trimestres de gestação: restrição de crescimento simétrico. • Alterações no terceiro trimestre: restrição de crescimento assimétrico (mecanismo adaptativo que poupa o crescimento cerebral em comparação com outros órgãos).
Alterações metabólicas no feto PIG • O comprometimento do crescimento fetal tem múltiplas causas: • Fatores maternos (idade, paridade, morbidades, desnutrição e uso de drogas); • Fatores placentários (alteração na relação perfusão placentária e oxigenação fetal, decorrentes de alterações estruturais da placenta, implantação anômala, descolamento placentário); • Fatores fetais (alterações genéticas como cromossomopatias).
Alterações metabólicas no feto PIG • No período pré-natal, os mecanismos hormonais que regulam o crescimento dependem: • Da disponibilidade de substratos; • Da ação autócrina-parácrina dos fatores de crescimento; • Dos fatores de crescimento placentários, do genoma e da restrição materna ao crescimento no final da gestação.
Alterações metabólicas no feto PIG • O desenvolvimento fetal o prepara para a vida pós-natal por meio de resposta endócrino-metabólica ao meio uterino. • Adaptação: • Déficit prolongado de oxigênio e nutrientes resistência ao hormônio do crescimento (GH), insulina e IGF-1 (insulin-like growth factor-1) alentecimento no crescimento fetal e no uso de nutrientes intra e extrautero. • Na presença de grande quantidade de substratos, predipõe a doenças na vida adulta. Saenger et al, 2007.
Crescimento pós-natal • Catch-up ou recuperação do crescimento: • velocidade de crescimento (cm/ano) está acima da média para idade e sexo. • Nas crianças nascidas PIG, o catch-up do peso ocorre nos primeiros 6 meses de vida, enquanto o catch-up do crescimento pode ocorrer até 2 a 4 anos de idade. • Cerca de 10% das crianças PIG não apresentam catch-up. • Fatores que diminuem a chance da ocorrência de catch-up do crescimento: • Prematuridade extrema, RCIU e muito baixo peso ao nascimento. • A presença de pais altos aumenta a chance de ocorrência de catch-up.
Crescimento pós-natal • Crianças nascidas PIG devem ser acompanhadas com medidas de comprimento, peso e perímetro cefálico a cada 3 meses no primeiro ano de vida e a cada 6 meses posteriormente. • Pediatras precisam estar alertas para crianças que não desenvolvem catch-up nos primeiros 6 meses ou se mantêm pequenas aos 2 anos de idade. • Essas crianças devem ser referenciadas ao endocrinologista pediatra. • A intensidade do estirão do crescimento durante a puberdade é menor nessas crianças, já que a puberdade pode ocorrer mais precocemente.
Puberdade precoce • A pequena população de crianças que tem puberdade precoce também tem uma rápida puberdade, provocando rápida maturação óssea e altura adulta diminuída. • A puberdade precoce é vista em algumas crianças que tiveram rápido ganho de peso na pré-puberdade; entretanto, o efeito do peso no início da puberdade está bem estabelecido. • Há poucos dados sobre a puberdade em meninos PIG, sendo que alguns mostram um leve atraso no início da puberdade, mas sem alteração do tempo. Saenger et al, 2007 Klein et al, 2011
Puberdade precoce • Estudos como o de Ibáñezetal têm demonstrado que meninas nascidas PIG apresentam maior risco de apresentar pubarca precoce consequente à adrenarca precoce, particularmente aquelas que apresentaram recuperação espontânea do crescimento. • O CRH (hormônio liberador do ACTH) está presente em concentrações elevadas na circulação de fetos que sofreram RCIU e parece ser capaz de agir como secretagogo de andrógenos adrenais em humanos, tanto no período pré como no pós-natal.
Repercussões no adulto • Crianças nascidas PIG possuem um risco elevado para alterações metabólicas na idade adulta. • Um rápido ganho de peso na infância tem sido associado a um aumento no risco do desenvolvimento de obesidade na idade adulta. • Programming: um estímulo ou insulto durante um período crítico da vida intrauterina resultaria em alterações na fisiologia e metabolismo também durante a vida adulta.
Repercussões no adulto • Ser PIG confere risco para síndrome metabólica (SM) na vida adulta, especialmente para aquelas crianças que se recuperam rapidamente logo após o nascimento. • Por outro lado, não apresentar o catch-up de crescimento é causa de baixa estatura e conseqüências psicológicas durante a adolescência e a vida adulta.
Repercussões no adulto • O percentual de adiposidade central foi significativamente maior no grupo das crianças nascidas PIG. • O controle do peso corporal durante a infância é defendido como uma ferramenta preventiva para as crianças nascidas PIG. • Evitar nutrição hipercalórica e hiperproteica em crianças nascidas PIG. • Nutrição adequada e aumento da atividade física já na infância são elementos importantes na prevenção da SM e, consequentemente, de doenças cardiovasculares na vida adulta.
Terapêutica e tratamento com GH • Um enfoqueimportante é prevenir o nascimento de umacriança PIG emsuascausasevitáveis. • O uso do hormônio de crescimentofoiaprovadopeloFood and Drug Administration (FDA) e pelaEuropeanAgency for theEvaluationof Medicinal Products (EMEA). • Crianças com idade entre 2 e 4 anos nascidas PIG que não desenvolveram catch-up e têm uma estatura abaixo de 2,5 DP devem ser tratadas com GH. • Se a criança for maior que 4 anos e não mostrou catch-up de crescimento, deve ser usado como ponto de corte a estatura abaixo de 2 DP. • A dose inicial habitual de GH é de 50 µg/Kg/dia, podendo ser ajustada para doses maiores naqueles com maior retardo do crescimento.
Tratamento com GH • Variáveis que influenciam a resposta ao tratamento: • Idade e nível de desvio-padrão da estatura no início do tratamento, média de estatura dos pais e dose de GH influenciam na resposta durante os 2 a 3 primeiros anos. • Crianças com síndromes reconhecidas respondem menos ao GH do que as crianças não-sindrômicas PIG. • Em um estudo retrospectivo, as variáveis que mais influenciaram a resposta ao tratamento foram a idade óssea e o Z-escore do peso ao nascimento. • Resposta positiva: velocidade de crescimento maior que 0,5 DP no primeiro ano de tratamento.
Tratamento com GH • O incremento na altura adulta com o uso do GH ainda não está precisamente definido, mas alguns ensaios demonstram suficiente duração e magnitude do estímulo do crescimento esquelético para recomendação da terapêutica. • Os objetivos do tratamento com GH são catch-up do crescimento na infância precoce e a obtenção de estatura normal na idade adulta.
Conclusão • É importante prevenir o nascimento de uma criança PIG, já que inúmeras causas são evitáveis, como o tabagismo materno, a desnutrição e as doenças infecciosas. • Adequado acompanhamento da gestação durante o pré-natal. • Após o nascimento, classificar corretamente os recém-nascidos, de acordo com os padrões recomendados. • Mais estudos são necessários para melhor definir as alterações hormonais no desenvolvimento pré e pós-natal da criança PIG.
Conclusão • A criança nascida PIG está sujeita a repercussões no decorrer da vida, seja do crescimento ou metabólica na vida adulta. • Acompanhar essas crianças desde o nascimento, a fim de que sejam bem avaliadas e instituída a terapêutica adequada no momento certo, como o uso do GH. • Evitar o ganho rápido de peso dessas crianças é importante. • O tratamento com GH está bem estabelecido, ainda necessitando de acompanhamentos mais longos do seu uso, mas com resultados que justificam a sua utilização.
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