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HOJE – SEMANA DE ANIVERSÁRIO JULHO 2009. MORTE CLÍNICA E EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE. Dr. Franklin Antônio Ribeiro Médico Psiquiatra Prof. Psicologia Médica da FMUSP Membro do Conselho - HOJE. INTRODUÇÃO.
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HOJE – SEMANA DE ANIVERSÁRIO JULHO 2009 MORTE CLÍNICA E EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE Dr. Franklin Antônio Ribeiro Médico Psiquiatra Prof. Psicologia Médica da FMUSP Membro do Conselho - HOJE
Quando algumas pessoas vivenciam um estado próximo do da morte, elas referem uma experiência profunda, na qual acreditam deixar seus corpos e ingressar em alguma outra esfera ou dimensão, transcendendo os limites do ego e as fronteiras convencionais do tempo e do espaço. Moody (1975) introduziu o termo Experiências de Quase Morte (EQM) para nomear esse fenômeno, delineando características específicas.
MORTE CEREBRALParada total e irreversível de todas as funções encefálicas
Quatro condições são fundamentais para se atestar morte cerebral: 1) demonstração de uma causa suficiente do extenso dano cerebral 2) exclusão de causas reversíveis do coma 3) confirmação da ausência de condução neuromuscular e 4) confirmação da ausência de reflexos de tronco encefálico.
Causas reversíveis de coma capazes de mimetizar a morte cerebral: 1) hipotermia 2) choque 3) intoxicação por drogas 4) distúrbios metabólicos
EQM EXPERIÊNCIAS DE QUASE MORTE
Experiência claramente identificável, sendo um evento subjetivo profundo vivenciado por pessoas que estiveram próximas da morte, ou que foram dadas como mortas e se recuperaram como conseqüência de uma doença ou acidente grave, ou que confrontaram uma situação potencialmente fatal e escaparam sem ferimentos. • A experiência inclui os seguintes estágios: paz, contentamento, desligamento do corpo físico, entrar numa região transicional de escuridão, ver uma luz brilhante e passar através dela a um outro nível de existência (1/3 das pessoas que tiveram EQM relatam este tipo de experiência)
Problemas psíquicos que podem ocorrer: • raiva ou depressão relacionados a perder o estado de proximidade da morte; • dificuldade em reconciliar a experiência com as crenças e valores religiosos, ou com estilo de vida prévios; • medo que a experiência seja interpretada como instabilidade mental; • dificuldade em reconciliar as mudanças de atitude com as expectativas da família e dos amigos;
sensação de isolamento; • medo do ridículo e da rejeição dos outros; • dificuldade de comunicar o significado e o impacto da experiência; • dificuldade em manter papéis prévios que agora não têm o mesmo significado (GREYSON; HARRIS,1987)
parada cardiorrespiratória • choque hemorrágico • traumatismo cranioencefálico ou hemorragia intracraniana • asfixia e/ou afogamento • acidentes diversos • avalanches de neve • quedas de altura • desequilíbrio hidroeletrolítico grave • câncer terminal • falência cardíaca ou pulmonar
Dentre os pesquisadores sobre EQM, destacam-se Elizabeth Kubler-Ross, Raymond A. Moody Jr., Kenneth Ring, Van Lomel, Karl Jansen, Bruce Greyson, Peter Fenwick e outros, dos quais abordaremos algumas dessas pesquisas e estudos. Peter Fenwick Bruce Greyson Raymond A. Moody Jr. Elizabeth Kubler-Ross Kenneth Ring
Segundo Moody Jr., estes são os estágios mais comuns pelos quais uma pessoa que se aproxima da morte pode passar: 1) inefabilidade: sensações são inexprimíveis em linguagem corrente. 2) ouvindo as notícias: o paciente geralmente ouve a notícia de que está morto, dada pelo médico ou pelas pessoas que o estão socorrendo. 3) sentindo paz e tranqüilidade: sensação de alívio, relaxamento e paz, conforto, bem-estar, calma, ausência de dores. 4) o ruído: sensações auditivas estranhas, algumas desagradáveis, ( toques de sinos, músicas agradáveis, assobios de vento).
5) o túnel escuro: a experiência de estar atravessando ao longo de um túnel (cavernas, poço, buraco, funil, vácuo, vale, cilindro, etc.). 6) fora do corpo: sente-se flutuando livremente no espaço, podendo avistar o próprio corpo no leito (autoscopia), bem como as pessoas ao seu redor. 7) encontrando outras pessoas: passa a ver outras pessoas conhecidas e mesmo desconhecidas em seu ambiente (geralmente de pessoas já falecidas). 8) o ser de luz: encontro com uma “luz muito brilhante”; apesar da manifestação inusitada de luz, ninguém expressou qualquer dúvida de que se tratasse de um ser, um “ser de luz”; embora a descrição desse “ser” seja invariável para todas as pessoas, a sua identificação varia conforme os antecedentes religiosos, a educação ou crença de cada pessoa.
9) a revisão: recapitulação panorâmica de sua vida, esta revisão é rápida, mas apanha todos os detalhes do passado individual. 10) a fronteira ou limite: durante suas EQMs pareciam ter se aproximado do que pode ser chamado barreira, fronteira ou limite. 11) a volta: os sentimentos mais comuns relatados nos primeiros momentos que se seguem à morte são um desejo desesperado de voltar ao corpo e um intenso arrependimento sobre a própria morte. Entretanto, depois de uma certa profundidade na experiência, não quer retornar e pode até resistir à volta ao corpo. Esse é o caso das pessoas que foram até o ponto de encontrar o “ser de luz”. Várias mulheres, apesar de preferirem ficar onde estavam, sentiram obrigação de tentar voltar e educar os filhos
12) contando aos demais: não contam suas experiências como contariam seus sonhos, mas sim como “eventos reais que efetivamente aconteceram com elas”. As pessoas percebem que relatos como esses não são recebidos com simpatia e compreensão. De fato, muitos comentaram que perceberam desde o princípio que os outros os considerariam mentalmente instáveis se fossem relatar suas experiências. Assim, decidiram permanecer em silêncio ou apenas revelar as experiências para algum parente muito próximo. Outros, a princípio, tentaram contar para outra pessoa, mas foram mal recebidos e dali em diante silenciaram. 13) efeitos sobre a vida:as prioridades de suas vidas passam a ser o amor e o conhecimento , tornando-se leitores assíduos, cursando faculdades ou escolas para estudar um campo diferente daquele em que trabalha.
14) novas visões da morte: antes da vivência, a maioria temia a morte, sendo que muitos a negavam, defendendo-se como podiam de entrar em contato com a finitude. Após a experiência, deram-se conta que os momentos terminais da existência não são tão penosos quanto imaginavam ser. Existe um desconforto na fase pré-agônica, porém na transição da vida para a morte vai havendo uma mudança no estado de consciência, início do contato com outro plano existencial e suspensão dos sintomas corporais. Conscientes de que a morte pode ser dolorosa, porém morrer propriamente não é, eliminam a angústia existencial gerada pelo medo da morte e sentem que estão começando uma nova vida. 15) corroboração: a descrição dos eventos testemunhados enquanto fora do corpo conferem muito bem com o que de fato ocorreu. Em vários casos os pacientes surpreenderam seus médicos ou outras pessoas com relatos dos eventos que presenciaram enquanto estavam fora do corpo.
Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Yale, ligados à International Association for Near-Death Studies (IANDS), coligiram outros dados interessantes em casos de EQM, concluindo que 50% deles referem-se também a sensações negativas durante a experiência, classificando-os: Grupo 1: pacientes que parecem perder o controle do episódio, vendo as luzes do túnel como reflexo do fogo dos portões do inferno , em vez da luz radiante do céu; Grupo 2: pacientes que se referem à sensação de estarem presos num vazio horripilante dentro de um nada cósmico que causa intenso desespero; Grupo 3: pacientes que têm visões de um lugar infernal, com pessoas atormentadas e sendo torturadas.
Kenneth Ring(1980), sobre o tipo de sensação experimentada em EQM, constatou que o uso de drogas e outras maneiras de tentar suicídio favorecem sensações negativas enquanto vítimas de acidentes de avalanches de neve ou de doenças, por exemplo, relatam uma revisão panorâmica de suas vidas nos primeiros minutos.
A experiência de morrer para Elizabeth Kübler-Ross: • a maioria virtualmente abandonou seus corpos físicos; • sensação de paz indescritível, sem dor, sem ansiedade; • sentiam-se perfeitos – inteiramente completos; • muitos estavam tão felizes que se ressentiram, às vezes amargamente, das tentativas para trazê-los de volta à vida, porque iam retornar a uma existência horrorosa – corpos cancerosos, membros amputados; • nenhum deles ficou com medo de morrer de novo; • a experiência parece ser a mesma, não importam as origens culturais da pessoa.
GALLUP (1982; N=1500) -“Adventures in Immortality” - Homogeneidade nos fenômenos relatados pelos indivíduos pesquisados - Grande transformação na vida daqueles que experimentaram a EQM • “Renascidos”, buscam valores espirituais como se fossem “iluminados” e perdem o medo da morte • Altruísmo • Sensação permanente da importância de seu destino • Intensificação de antigas crenças religiosas • Reavaliação de prioridades • “Viver o momento presente” • Maior aceitação dos eventos cotidianos
I - Explicações psicológicas 1) Despersonalização; 2) Regressão a serviço do ego; 3) Um estado dependente da reativação de lembranças do nascimento; 4) A EQM como fenômeno de privação sensorial; 5) Teoria dos arquétipos de Jung.
II - Teoria da epilepsia do lobo temporal Afirmou-se que há alguma semelhança entre os fenômenos experimentados na epilepsia do lobo temporal e em EQM. (Persinger e Makarec, 1987; Saavedra-Aguilar e Gomez-Jeria, 1989)
III - Teoria de fluxo de endorfina Karr (1981,1989), sugeriu que EQM poderia resultar de uma liberação maciça de opióides endógenos através do cérebro na hora da morte, embora nenhuma explicação teórica para esta liberação fosse sugerida.
IV - Teoria de gases sangüíneos anormais 1) Hipóxia 2) Hipercarbia
V - Ketamina como indutor de EQM (ketamina) (NMDA)
Anestésico de ação curta, alucinogênico e dissociativo. • Dissociação X Estado Inconsciente. • Excelente analgésico através de outras vias neuronais. • EQM como conseqüências do bloqueio de receptores cerebrais para o glutamato.
Ketamina reproduz a viagem através de um túnel, “a entrada na luz”, a convicção de estar morto, alucinações, experiências extracorpóreas, ruídos no início da experiência e troca telepática com entidade que poderia ser “Deus”. • Nem as experiências de EQM, nem a ketamina mostraram semelhança com os efeitos das drogas psicodélicas tais como dimetiltriptamina (DMT) e dietilamida do ácido lisérgico (LSD).
Espiritismo: tem como princípio as relações do mundo material com os espíritos ou seres do mundo invisível. • Fundamentos da religião espírita: - crença na imortalidade da alma; - concepção dualista espírito/corpo na qual o espírito é independente do corpo, podendo inclusive se desprender; - crença na reencarnação; - capacidade de comunicação com os espíritos através da mediunidade
Projeção da consciência ou desdobramento • LM, capítulo VII, 2.a parte (bicorporeidade e transfiguração) • LE, capítulo VIII, 2.a parte (da emancipação da alma)
Perispírito: substância que envolve o espírito, invólucro semi-material do espírito (LE, questões 93, 94 e 95) • Evolução em Dois Mundos, capítulos II e XVII, 1.a parte • Corpos Sutis do Espírito/Psicossoma • Obreiros da Vida Eterna, págs. 212 e 254: referência à pluralidade de mortes
EQM com recapitulação instantânea dos eventos de vida do paciente, através da observação da seqüência ordenada ou não dos eventos de vida (nos epilépticos há desordenação nos relatos) + EEG + AP + AF • EFC X Alucinações Autoscópicas
EAC e EA recebem pouca atenção da comunidade científica ou são abordados de forma pouco rigorosa; • EAC e EA podem ser estudados sem que se compartilhem as crenças envolvidas, sendo possível investigá-los enquanto experiências subjetivas e, como tais, correlacionados com quaisquer outros dados; • Evitar abordagem preconceituosa e a “patologização” do diferente; • A necessidade de uma teoria e de uma revisão exaustiva da literatura existente; • Utilizar diversos critérios de normalidade e patologia;
Investigar populações clínicas e não clínicas; • Desenvolvimento de instrumentos adequados para avaliação; • Cuidados na escolha dos termos e no estabelecimento de nexos causais; • Distinguir entre a experiência vivenciada e suas interpretações; • Considerar o papel da cultura; • Avaliar a confiabilidade e a validade dos relatos; • Necessidade de criatividade e diversidade na escolha dos métodos.
“ Eu acredito que valeria a pena tentar aprender algo sobre o mundo, mesmo se nessa tentativa nós aprendermos apenas que não sabemos muito. Esse estado de ignorância aprendida pode ser útil em muitos de nossos problemas. Pode servir para que todos nós lembremos que, mesmo diferindo amplamente nas várias pequenas coisas que sabemos, em nossa infinita ignorância nós somos todos iguais ”. (Karl Popper)